quinta-feira, 10 de novembro de 2016

COMO ANDA O SEU CARÁTER?

Missa do 33º. dom. comum. Palavra de Deus: Malaquias 3,19-20a; 2Tessalonicenses 3,7-12; Lucas 21,5-19.

            Você sentiu algum terremoto na última quarta-feira? Pois é. Alguns meios de comunicação escolheram a expressão “terremoto político” para falar da eleição surpresa de Donald Trump, o novo presidente dos Estados Unidos, um “terremoto político” que “abalou o mundo todo”, segundo alguns comentadores. Será mesmo? Confesso a você que sinto raiva quando leio ou escuto esse tipo de comentário, atribuindo ao presidente dos Estados Unidos o poder de, ou salvar, ou destruir o mundo. Ele não tem esse poder. Nenhum homem tem esse poder. Os Estados Unidos não têm o poder que pretendem ter ou que seus subordinados ideológicos lhes atribuem de ‘messias’. Messias e Salvador da humanidade só existe um: Jesus Cristo.
            Quando Pilatos declarou a Jesus, na arrogância do seu poder, “Não sabes que eu tenho poder para te libertar e poder para te crucificar?”, Jesus lhe respondeu: “Não terias poder nenhum sobre mim, se não te fosse dado do alto” (Jo 19,10-11). Era como se Jesus tivesse dito: ‘Você, Pilatos, que se julga acima do bem e do mal, também está debaixo do poder de Deus, e a Ele você também um dia, como qualquer outro ser humano, prestará contas a respeito de como administrou o poder que te foi confiado’.
            No mundo em que vivemos, há muitas pessoas que se julgam poderosas, ou que são tratadas e paparicadas como tais. Até ontem, o Congresso Nacional era comandado por um homem considerado ‘grandemente poderoso’: Eduardo Cunha. Hoje este ‘poderoso’ se encontra atrás das grades (até que algum juiz, igualmente corrupto, ordene que ele seja solto). Ora, quem é Eduardo Cunha? Quem é Renan Calheiros, presidente do Senado, que tem onze processos contra ele no Supremo Tribunal Federal? Quem é Vladimir Putin, presidente da Rússia, reconhecido internacionalmente como assassino de um incontável número pessoas, um dos responsáveis diretos pela guerra na Síria? Quem é Donald Trump? Quem sou eu, que escrevo esta reflexão? Quem é você, que a lê neste momento? Todos nós somos “ca-dá-veres”, carnes dadas aos vermes, seres humanos mortais.
Tudo isso que escrevi acima é para nos situar diante dessas palavras de Jesus: “Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído” (Lc 21,6). Você admira as pessoas que a mídia considera “poderosas?” Você admira a sua beleza física, a sua saúde e o seu vigor sexual? Você admira seu carro novo, seu novo modelo de celular, sua mais nova aquisição? Você admira seu novo cargo na empresa ou na Igreja? Acorde pra vida! “Tudo será destruído”, porque todo o nosso poder, soberba e arrogância serão enterrados conosco, e seremos comidos pelos vermes (leia At 12,21-23); todos, sem exceção. Todos nós estamos debaixo do poder de Deus; todos nós estamos destinados a nos confrontar com o fogo do seu julgamento, com uma diferença: sobreviverão a esse fogo os que procuram ser pessoas justas, ao passo que serão destruídos e não restará nem raiz daqueles que se julgam fortes, poderosos e intocáveis, mas que são, aos olhos de Deus, apenas isso: palhas secas (cf. Ml 3,19-20a).
O fato é que Deus não trouxe você a esta igreja e não está lhe dirigindo a Palavra com o objetivo de ameaçar você. O que Deus está fazendo é um alerta, para que você não se engane em relação aos homens e não coloque a sua segurança e salvação em quem não tem poder para lhe oferecer nem uma coisa nem outra. Como nos ensina o Salmo 146, não deposite sua segurança nas pessoas consideradas fortes, importantes; elas não podem salvar, nem a você, nem a si mesmas. Quando o respiro lhes faltar, elas morrerão, e com elas os seus planos de poder (cf. Sl 146,3-4). Além do mais, lembre-se disso: se Deus permitiu a destruição de Jerusalém e do Templo, é porque Ele não está preso a nenhum lugar, a nenhuma igreja, a nenhuma religião, a nenhum sistema político, a nenhuma filosofia de vida e a nenhuma pessoa, seja ela quem for. Além do mais, Ele quer que você e eu, enquanto Igreja, nos coloquemos junto aos que não têm poder nem importância para a nossa sociedade, junto àqueles que, por causa do abuso de poder de alguns, são sistematicamente expostos ao sofrimento, à violência e à morte no mundo em que vivemos.    
Sim, o nosso mundo passa por mudanças climáticas, políticas, religiosas e culturais. Essas mudanças provocam em nós instabilidade, insegurança, ansiedade, medo, sentimento de ameaça, incertezas etc. Diante da realidade atual, você talvez pudesse cair na tentação de desejar ter vivido numa outra época, quando a realidade parecia bem mais simples, bem menos complicada do que está hoje. Mas, não se iluda, nem seja ingênuo; não fuja do seu compromisso como cristão. Este é o tempo em que Deus te chamou a viver. Como nos disse Jesus, “esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé” (Lc 21,13). Quanto mais as mudanças abalam nossas seguranças e parecem confundir os nossos valores, mais devemos procurar nos manter firmes na fé que professamos e na Palavra do nosso Deus que nos orienta, lembrando o que Jesus disse: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21,19).
  Se você ainda tem tempo e paciência para acompanhar esta reflexão, deixo-lhe um alerta do livro do Apocalipse: “(...) o Tempo está próximo. Que o injusto cometa ainda a injustiça e o sujo continue a sujar-se; que o justo pratique ainda a justiça e que o santo continue a santificar-se” (Ap 22,11). Isto significa que as perturbações dos últimos dias terão a tendência de fixar o caráter de cada indivíduo segundo os hábitos que ele já tenha formado. No momento do julgamento diante de Deus, a mudança do caráter será impossível e não haverá mais possibilidade conversão. Tudo, no mundo, permanecerá como está: o injusto que pratique o mal, e o santo que pratique o bem, pois o injusto não dará importância aos apelos de Deus contidos na Escritura, ao contrário do santo.

                                                                     Pe. Paulo Cezar Mazzi

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