Missa
do 33º. dom. comum. Palavra de Deus: Malaquias 3,19-20a; 2Tessalonicenses 3,7-12;
Lucas 21,5-19.
Você sentiu algum terremoto na
última quarta-feira? Pois é. Alguns meios de comunicação escolheram a expressão
“terremoto político” para falar da eleição surpresa de Donald Trump, o novo
presidente dos Estados Unidos, um “terremoto político” que “abalou o mundo todo”,
segundo alguns comentadores. Será mesmo? Confesso a você que sinto raiva quando
leio ou escuto esse tipo de comentário, atribuindo ao presidente dos Estados Unidos
o poder de, ou salvar, ou destruir o mundo. Ele não tem esse poder. Nenhum
homem tem esse poder. Os Estados Unidos não têm o poder que pretendem ter ou
que seus subordinados ideológicos lhes atribuem de ‘messias’. Messias e
Salvador da humanidade só existe um: Jesus Cristo.
Quando Pilatos declarou a Jesus, na
arrogância do seu poder, “Não sabes que eu tenho poder para te libertar e poder
para te crucificar?”, Jesus lhe respondeu: “Não terias poder nenhum sobre mim,
se não te fosse dado do alto” (Jo 19,10-11). Era como se Jesus tivesse dito: ‘Você,
Pilatos, que se julga acima do bem e do mal, também está debaixo do poder de
Deus, e a Ele você também um dia, como qualquer outro ser humano, prestará
contas a respeito de como administrou o poder que te foi confiado’.
No mundo em que vivemos, há muitas pessoas
que se julgam poderosas, ou que são tratadas e paparicadas como tais. Até
ontem, o Congresso Nacional era comandado por um homem considerado ‘grandemente
poderoso’: Eduardo Cunha. Hoje este ‘poderoso’ se encontra atrás das grades (até
que algum juiz, igualmente corrupto, ordene que ele seja solto). Ora, quem é
Eduardo Cunha? Quem é Renan Calheiros, presidente do
Senado, que tem onze processos contra ele no Supremo Tribunal Federal? Quem é
Vladimir Putin, presidente da Rússia, reconhecido internacionalmente como assassino
de um incontável número pessoas, um dos responsáveis diretos pela guerra na Síria?
Quem é Donald Trump? Quem sou eu, que escrevo esta reflexão? Quem é você, que a
lê neste momento? Todos nós somos “ca-dá-veres”, carnes dadas aos vermes, seres
humanos mortais.
Tudo isso que escrevi acima é para nos
situar diante dessas palavras de Jesus: “Vós admirais estas coisas? Dias virão
em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído” (Lc 21,6). Você
admira as pessoas que a mídia considera “poderosas?” Você admira a sua beleza física,
a sua saúde e o seu vigor sexual? Você admira seu carro novo, seu novo modelo
de celular, sua mais nova aquisição? Você admira seu novo cargo na empresa ou na
Igreja? Acorde pra vida! “Tudo será destruído”, porque todo o nosso poder,
soberba e arrogância serão enterrados conosco, e seremos comidos pelos vermes
(leia At 12,21-23); todos, sem exceção. Todos nós estamos debaixo do poder de
Deus; todos nós estamos destinados a nos confrontar com o fogo do seu
julgamento, com uma diferença: sobreviverão a esse fogo os que procuram ser
pessoas justas, ao passo que serão destruídos e não restará nem raiz daqueles
que se julgam fortes, poderosos e intocáveis, mas que são, aos olhos de Deus,
apenas isso: palhas secas (cf. Ml 3,19-20a).
O fato é que Deus não trouxe você a esta
igreja e não está lhe dirigindo a Palavra com o objetivo de ameaçar você. O que
Deus está fazendo é um alerta, para que você não se engane em relação aos
homens e não coloque a sua segurança e salvação em quem não tem poder para lhe
oferecer nem uma coisa nem outra. Como nos ensina o Salmo 146, não deposite sua segurança nas pessoas consideradas
fortes, importantes; elas não podem salvar, nem a você, nem a si mesmas. Quando
o respiro lhes faltar, elas morrerão, e com elas os seus planos de poder (cf.
Sl 146,3-4). Além do mais, lembre-se disso: se Deus permitiu a destruição de
Jerusalém e do Templo, é porque Ele não está preso a nenhum lugar, a nenhuma
igreja, a nenhuma religião, a nenhum sistema político, a nenhuma filosofia de
vida e a nenhuma pessoa, seja ela quem for. Além do mais, Ele quer que você e
eu, enquanto Igreja, nos coloquemos junto aos que não têm poder nem importância
para a nossa sociedade, junto àqueles que, por causa do abuso de poder de
alguns, são sistematicamente expostos ao sofrimento, à violência e à morte no
mundo em que vivemos.
Sim, o nosso mundo passa por mudanças
climáticas, políticas, religiosas e culturais. Essas mudanças provocam em nós
instabilidade, insegurança, ansiedade, medo, sentimento de ameaça, incertezas
etc. Diante da realidade atual, você talvez pudesse cair na tentação de desejar
ter vivido numa outra época, quando a realidade parecia bem mais simples, bem
menos complicada do que está hoje. Mas, não se iluda, nem seja ingênuo; não
fuja do seu compromisso como cristão. Este
é o tempo em que Deus te chamou a viver. Como nos disse Jesus, “esta será a
ocasião em que testemunhareis a vossa fé” (Lc 21,13). Quanto mais as mudanças
abalam nossas seguranças e parecem confundir os nossos valores, mais devemos
procurar nos manter firmes na fé que professamos e na Palavra do nosso Deus que
nos orienta, lembrando o que Jesus disse: “É permanecendo firmes que ireis
ganhar a vida!” (Lc 21,19).
Se você ainda tem tempo e paciência para
acompanhar esta reflexão, deixo-lhe um alerta do livro do Apocalipse: “(...) o
Tempo está próximo. Que o injusto cometa ainda a injustiça e o sujo continue a
sujar-se; que o justo pratique ainda a justiça e que o santo continue a
santificar-se” (Ap 22,11). Isto significa que as perturbações dos últimos dias
terão a tendência de fixar o caráter de
cada indivíduo segundo os hábitos que ele já tenha formado. No momento do
julgamento diante de Deus, a mudança do caráter será impossível e não haverá
mais possibilidade conversão. Tudo, no mundo, permanecerá como está: o
injusto que pratique o mal, e o santo que pratique o bem, pois o injusto não
dará importância aos apelos de Deus contidos na Escritura, ao contrário do
santo.
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