Missa
de todos os santos. Palavra de Deus: Apocalipse 7,2-4.9-14; 1Jo 3,1-3; Mateus
5,1-12a.
Hoje, dia de todos os Santos, é uma
boa ocasião para nos darmos conta de que, nem o mundo em que vivemos, nem a
igreja da qual participamos se divide unicamente em “santos” e “pecadores”.
Graças ao Papa Francisco, nós pudemos nos dar conta de que, além dessas duas
“categorias” de pessoas, existe uma terceira, cada vez mais comum: os “cristãos
mundanos”. Vamos lembrar: a Sagrada Escritura define Deus como “Santo”, no
sentido de “Sagrado”, “separado” do mundo. Por sua vez, o mundo – não enquanto
humanidade, mas enquanto uma realidade que se opõe a Deus – é entendido como
algo “profano”, oposto ao sagrado.
A oposição entre “sagrado” e
“profano” nos oferece alguns questionamentos: O que é “sagrado” para você? A
família é algo sagrado? O casamento? A consciência? O corpo (seu e do outro)? O
meio ambiente? A honestidade e o comportamento justo são valores sagrados para
você? Se o contrário de “sagrado” é “profano”, o que está sendo profanado hoje
em você ou à sua volta? Você ainda consegue perceber a linha divisória entre
“sagrado” e “profano”, ou essas duas realidades já estão misturadas dentro de
você? Ainda uma outra questão: Para Jesus, aquilo que é sagrado tem de ser
protegido, defendido (cf. Mt 7,6). Você se preocupa em proteger/defender aquilo
que considera sagrado em sua vida?
Voltemos ao assunto do “mundanismo”.
Na sua Exortação “A alegria do Evangelho”, o Papa Francisco enumera seis
atitudes de “mundanismo” dentro da Igreja: 1) A pessoa usa da sua imagem
religiosa e do seu (aparente) amor à Igreja para buscar a sua própria glória e
o seu bem-estar pessoal (EG* 93). 2) A pessoa se sente superiora às outras por
cumprir certas normas ou por ser fiel a um estilo católico próprio do passado
(EG 94). 3) A pessoa exibe-se através da liturgia ou da realização de trabalhos
sociais, mas não se preocupa que o Evangelho tenha uma real inserção na vida do
povo e nas necessidades concretas da história, permanecendo distante dos que
andam perdidos e das imensas multidões sedentas de Cristo (EG 95). 4) A pessoa vive
opinando sobre “o que se deveria fazer” em termos de evangelização, mas
mantém-se distante da realidade sofrida do povo, esquecendo-se de que a nossa
história de Igreja é uma história de sacrifícios, de esperança, de luta diária,
de vida gasta no serviço (EG 96). 5) A pessoa vive escondida atrás de uma
aparência religiosa, mas é vazia de Deus; chega até mesmo a viver uma vida
corrupta, mascarada sob a aparência de ser uma pessoa boa (EG 97). 6) A pessoa
alimenta dentro da Igreja várias formas de ódio, divisão, calúnia, difamação,
vingança, ciúme, e desejo de impor as próprias ideias a todo o custo... E o
Papa Francisco pergunta: “Quem queremos evangelizar com estes comportamentos?”
(EG 100), o que equivale a perguntar também: Quem nós queremos evangelizar, sem
nos preocuparmos em sermos santos, sem nos incomodarmos em sermos “cristãos
mundanos”?
No que diz respeito à santidade dos seus
discípulos de todos os tempos, Jesus fez a seguinte oração ao Pai: “Santifica-os
na verdade; a tua palavra é verdade... Em favor deles eu me santifico, para que
também eles sejam santificados na verdade” (Jo 17,17.19). A “Palavra de Deus”
realiza tanto a separação do discípulo em relação ao mundo (cf. Jo 17,14a)
quanto a sua santificação na verdade (cf. Jo 14,17b). Se os Santos são as
pessoas que na terra têm/tiveram que lidar com grandes tribulações (cf. Ap
7,14), a única forma de estarmos em pé diante dessas tribulações é nos
fortalecendo na “verdade”, que é a Palavra de Deus, nunca nos esquecendo de que
o próprio Jesus se santificou por nós, pela maneira como Ele morreu na cruz (cf. Hb 10,10).
“Em favor deles eu me santifico” (Jo
17,19a). Muito provavelmente você tem pessoas sob a sua responsabilidade na
vida familiar, profissional ou consagrada a Deus. Você se esforça em se
santificar para que essas pessoas também sejam santificadas? Uma vez que não há
santificação sem sacrifício, sem luta, sem derramamento de muito suor, de
muitas lágrimas e até mesmo do próprio sangue (cf. Hb 12,4), qual é a sua vontade
de santificar-se em favor das pessoas que estão sob sua responsabilidade familiar,
profissional ou de vida consagrada?
Santificar-se é um processo que dura a
nossa vida toda e, justamente por isso, deve ser retomado a cada dia. E uma vez
que o mundo em que vivemos promove sistematicamente a profanação de tantas
coisas sagradas, devemos nos lembrar dessas palavras do Pe. Léo: “O cristão não
pode ser uma folha que se joga em um rio e se deixa levar pela água. É preciso
nadar contra a corrente”. Santificar-se significa não se permitir ser arrastado
pela profanação promovida pelo mundo atual, mas deixar-se conduzir pelo
Espírito Santo de Deus, ainda que o Espírito Santo nos obrigue muitas vezes a
andar na contramão, a nadar contra a corrente. Por fim, consideremos essas
palavras do Pe. Alfredo J. Gonçalves: “Antes de crescer para cima, a árvore
necessita crescer para baixo. Depois de nutrir-se com os ingredientes que
encontra no chão, então sim, estará pronta para elevar-se ao alto – forte,
robusta e vigorosa”. Que cada um de nós procure enraizar a sua vida em Jesus
Cristo, que se sacrificou no altar da cruz em favor da nossa santificação. Permitamos
que Ele nos torne cristãos não mundanos...
*EG,
abreviação de Evangelii Gaudium (A alegria do Evangelho)
Para a sua oração pessoal: Em santidade
(Adoração e Vida)
Pe. Paulo Cezar
Mazzi
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