quinta-feira, 3 de novembro de 2016

CRISTÃOS MUNDANOS OU EM PROCESSO DE SANTIFICAÇÃO?

Missa de todos os santos. Palavra de Deus: Apocalipse 7,2-4.9-14; 1Jo 3,1-3; Mateus 5,1-12a.

            Hoje, dia de todos os Santos, é uma boa ocasião para nos darmos conta de que, nem o mundo em que vivemos, nem a igreja da qual participamos se divide unicamente em “santos” e “pecadores”. Graças ao Papa Francisco, nós pudemos nos dar conta de que, além dessas duas “categorias” de pessoas, existe uma terceira, cada vez mais comum: os “cristãos mundanos”. Vamos lembrar: a Sagrada Escritura define Deus como “Santo”, no sentido de “Sagrado”, “separado” do mundo. Por sua vez, o mundo – não enquanto humanidade, mas enquanto uma realidade que se opõe a Deus – é entendido como algo “profano”, oposto ao sagrado.
            A oposição entre “sagrado” e “profano” nos oferece alguns questionamentos: O que é “sagrado” para você? A família é algo sagrado? O casamento? A consciência? O corpo (seu e do outro)? O meio ambiente? A honestidade e o comportamento justo são valores sagrados para você? Se o contrário de “sagrado” é “profano”, o que está sendo profanado hoje em você ou à sua volta? Você ainda consegue perceber a linha divisória entre “sagrado” e “profano”, ou essas duas realidades já estão misturadas dentro de você? Ainda uma outra questão: Para Jesus, aquilo que é sagrado tem de ser protegido, defendido (cf. Mt 7,6). Você se preocupa em proteger/defender aquilo que considera sagrado em sua vida?
            Voltemos ao assunto do “mundanismo”. Na sua Exortação “A alegria do Evangelho”, o Papa Francisco enumera seis atitudes de “mundanismo” dentro da Igreja: 1) A pessoa usa da sua imagem religiosa e do seu (aparente) amor à Igreja para buscar a sua própria glória e o seu bem-estar pessoal (EG* 93). 2) A pessoa se sente superiora às outras por cumprir certas normas ou por ser fiel a um estilo católico próprio do passado (EG 94). 3) A pessoa exibe-se através da liturgia ou da realização de trabalhos sociais, mas não se preocupa que o Evangelho tenha uma real inserção na vida do povo e nas necessidades concretas da história, permanecendo distante dos que andam perdidos e das imensas multidões sedentas de Cristo (EG 95). 4) A pessoa vive opinando sobre “o que se deveria fazer” em termos de evangelização, mas mantém-se distante da realidade sofrida do povo, esquecendo-se de que a nossa história de Igreja é uma história de sacrifícios, de esperança, de luta diária, de vida gasta no serviço (EG 96). 5) A pessoa vive escondida atrás de uma aparência religiosa, mas é vazia de Deus; chega até mesmo a viver uma vida corrupta, mascarada sob a aparência de ser uma pessoa boa (EG 97). 6) A pessoa alimenta dentro da Igreja várias formas de ódio, divisão, calúnia, difamação, vingança, ciúme, e desejo de impor as próprias ideias a todo o custo... E o Papa Francisco pergunta: “Quem queremos evangelizar com estes comportamentos?” (EG 100), o que equivale a perguntar também: Quem nós queremos evangelizar, sem nos preocuparmos em sermos santos, sem nos incomodarmos em sermos “cristãos mundanos”?
No que diz respeito à santidade dos seus discípulos de todos os tempos, Jesus fez a seguinte oração ao Pai: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é verdade... Em favor deles eu me santifico, para que também eles sejam santificados na verdade” (Jo 17,17.19). A “Palavra de Deus” realiza tanto a separação do discípulo em relação ao mundo (cf. Jo 17,14a) quanto a sua santificação na verdade (cf. Jo 17,17b). Se os Santos são as pessoas que na terra têm/tiveram que lidar com grandes tribulações (cf. Ap 7,14), a única forma de estarmos em pé diante dessas tribulações é nos fortalecendo na “verdade”, que é a Palavra de Deus, nunca nos esquecendo de que o próprio Jesus se santificou por nós, pela maneira como Ele morreu na  cruz (cf. Hb 10,10).
“Em favor deles eu me santifico” (Jo 17,19a). Muito provavelmente você tem pessoas sob a sua responsabilidade na vida familiar, profissional ou consagrada a Deus. Você se esforça em se santificar para que essas pessoas também sejam santificadas? Uma vez que não há santificação sem sacrifício, sem luta, sem derramamento de muito suor, de muitas lágrimas e até mesmo do próprio sangue (cf. Hb 12,4), qual é a sua vontade de santificar-se em favor das pessoas que estão sob sua responsabilidade familiar, profissional ou de vida consagrada?
Santificar-se é um processo que dura a nossa vida toda e, justamente por isso, deve ser retomado a cada dia. E uma vez que o mundo em que vivemos promove sistematicamente a profanação de tantas coisas sagradas, devemos nos lembrar dessas palavras do Pe. Léo: “O cristão não pode ser uma folha que se joga em um rio e se deixa levar pela água. É preciso nadar contra a corrente”. Santificar-se significa não se permitir ser arrastado pela profanação promovida pelo mundo atual, mas deixar-se conduzir pelo Espírito Santo de Deus, ainda que o Espírito Santo nos obrigue muitas vezes a andar na contramão, a nadar contra a corrente. Por fim, consideremos essas palavras do Pe. Alfredo J. Gonçalves: “Antes de crescer para cima, a árvore necessita crescer para baixo. Depois de nutrir-se com os ingredientes que encontra no chão, então sim, estará pronta para elevar-se ao alto – forte, robusta e vigorosa”. Que cada um de nós procure enraizar a sua vida em Jesus Cristo, que se sacrificou no altar da cruz em favor da nossa santificação. Permitamos que Ele nos torne cristãos não mundanos...

*EG, abreviação de Evangelii Gaudium (A alegria do Evangelho)

Para a sua oração pessoal: Em santidade (Adoração e Vida)


Pe. Paulo Cezar Mazzi

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