quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

DEUS PROCURA POR "JOSÉS"

Missa do 4º. dom. do advento. Palavra de Deus: Is 7,10-14; Rm 1,1-7; Mt 1,18-24.     

            Sempre que nos preparamos para celebrar o Natal e pensamos em Jesus menino, nós o imaginamos nos braços de Maria, sua Mãe. É como se as luzes dos holofotes se concentrassem unicamente no Menino e na sua Mãe, enquanto José, o pai, permanece na sombra, no escuro, como se não fosse importante. De fato, Deus não precisou de José para trazer Jesus ao mundo. O nascimento de Jesus a partir de Maria, sem a participação de José, se deu dessa forma para entendermos que a origem de Jesus é divina. De fato, o Evangelho de hoje começa com essas palavras: “A origem de Jesus Cristo foi assim...” (Mt 1,18).    
            José não está na origem de Jesus Cristo nascido como nosso Salvador, mas o Evangelho de hoje nos diz algo muito importante: Deus procura pessoas que cuidem de tudo aquilo que Ele, por meio do Espírito Santo, tem gerado no coração da humanidade em vista da sua salvação. Deus procura por “Josés”, por homens e mulheres que protejam a vida, alimentem a esperança e possibilitem o nascimento de um mundo mais justo, de um mundo ajustado ao bem, à felicidade e à salvação que Deus quer para cada ser humano.
            Por não entender o que estava acontecendo, por não querer prejudicar Maria, que poderia ser acusada de adultério e, portanto, apedrejada, José havia decidido fugir, preferindo levar sobre si a acusação de ter sido um homem irresponsável. Mas enquanto ele dormia, Deus falou ao seu inconsciente por meio de um sonho, e lhe mostrou que a sua presença na vida de Jesus e de Maria era extremamente importante: “José, (...) não tenha medo de receber Maria... Ela dará à luz um filho, e você lhe dará o nome de Jesus...” (Mt 1,20.21).
Naquela época, era função do pai dar o nome ao filho, assumindo assim, plenamente, a sua paternidade. Se Deus não precisou de José para gerar Jesus no ventre de Maria, quis precisar dele para que Jesus crescesse como pessoa humana junto de um pai. Essa atitude de Deus, por um lado, mostra que Ele quer que você se torne “pai”, que você assuma como “seu” o sonho de Deus em “salvar o seu povo”, em salvar aquelas pessoas com as quais você convive no seu dia a dia. Por outro lado, essa insistência de Deus na permanência de José junto de Maria e do Menino que vai nascer aponta para essa preocupante “ausência” do pai em nossa sociedade.
Na sua exortação “A alegria do amor”, o Papa Francisco nos lembra que “a ausência do pai penaliza gravemente a vida familiar, a educação dos filhos e a sua integração na sociedade” (n.55). Conforme já mencionamos, por ocasião do dia dos pais, uma reportagem da Folha de São Paulo, publicada em 27 de junho deste ano, constatou que 2 em cada 3 menores infratores não têm pai dentro de casa. Para o Papa Francisco, só um pai com uma clara e feliz identidade masculina pode ajudar o filho “a perceber os limites da realidade, caracterizando-se mais pela orientação, pela saída para o mundo mais amplo e rico de desafios, pelo convite a esforçar-se e lutar” (n.176).
A ausência, física ou afetiva, de José tem colaborado para que muitos filhos cresçam fracos, covardes, acomodados e incapazes de dialogar com a vida olhando-a nos olhos. Por outro lado, é preciso reconhecer e louvar tantos filhos que souberam transformar suas feridas paternas em pérolas, e escolheram dar um sentido à ausência paterna que marcou-lhes a infância ou a adolescência, decidindo responsabilizar-se pela própria vida e abrindo-se a um futuro melhor.  
            O Evangelho de hoje nos convida a orar por algumas situações específicas...

            Pai, hoje Te pedimos por todos os “Josés”, por todos os homens que se sentem desorientados ou angustiados, especialmente pelos que estão ameaçados por algum mal ou alguma injustiça... Fala ao coração deles, como o Senhor falou ao coração de José. Orienta-lhes, dá-lhes discernimento, indica-lhes a direção e o caminho que devem seguir neste momento. Também Te pedimos, Senhor, por todas as “Marias” que foram abandonadas em sua gravidez ou logo que o filho nasceu, para que não lhes faltem recursos materiais, emocionais e espirituais, a fim de que se sintam amparadas por Ti e possam cuidar da vida que delas tanto depende neste momento. Às Tuas mãos confiamos ainda, Pai, cada filho – criança, adolescente ou jovem – que cresceu ou está tendo que crescer sem a presença afetiva de um pai junto de si. Que eles experimentem a verdade do Teu amor e o cuidado da Tua providência em si mesmos e no seio de suas casas. Enfim, Senhor, estende Tua mão paterna sobre a humanidade, que se sente muitas vezes órfã, sem pai, com a vida entregue ao acaso. Torna o nosso coração semelhante ao de José, um coração justo, isto é, uma consciência ajustada à Tua verdade e mãos ajustadas à Tua vontade. Assim, a celebração do Natal que se aproxima possa ser vivida como uma verdadeira experiência de que “Deus está conosco” e continua a cuidar de cada ser humano como o pai que cuida do seu único filho. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

                                                             Pe. Paulo Cezar Mazzi

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