Missa
do 4º. dom. do advento. Palavra de Deus: Is 7,10-14; Rm 1,1-7; Mt 1,18-24.
Sempre que nos preparamos para
celebrar o Natal e pensamos em Jesus menino, nós o imaginamos nos braços de
Maria, sua Mãe. É como se as luzes dos holofotes se concentrassem unicamente no
Menino e na sua Mãe, enquanto José, o pai, permanece na sombra, no escuro, como
se não fosse importante. De fato, Deus não precisou de José para trazer Jesus
ao mundo. O nascimento de Jesus a partir de Maria, sem a participação de José,
se deu dessa forma para entendermos que a origem de Jesus é divina. De fato, o
Evangelho de hoje começa com essas palavras: “A origem de Jesus Cristo foi
assim...” (Mt 1,18).
José não está na origem de Jesus
Cristo nascido como nosso Salvador, mas o Evangelho de hoje nos diz algo muito
importante: Deus procura pessoas que cuidem de tudo aquilo que Ele, por meio do
Espírito Santo, tem gerado no coração da humanidade em vista da sua salvação.
Deus procura por “Josés”, por homens e mulheres que protejam a vida, alimentem
a esperança e possibilitem o nascimento de um mundo mais justo, de um mundo
ajustado ao bem, à felicidade e à salvação que Deus quer para cada ser humano.
Por não entender o que estava
acontecendo, por não querer prejudicar Maria, que poderia ser acusada de adultério
e, portanto, apedrejada, José havia decidido fugir, preferindo levar sobre si a
acusação de ter sido um homem irresponsável. Mas enquanto ele dormia, Deus
falou ao seu inconsciente por meio de um sonho, e lhe mostrou que a sua presença
na vida de Jesus e de Maria era extremamente importante: “José, (...) não tenha
medo de receber Maria... Ela dará à luz um filho, e você lhe dará o nome de
Jesus...” (Mt 1,20.21).
Naquela época, era função do pai dar o
nome ao filho, assumindo assim, plenamente, a sua paternidade. Se Deus não
precisou de José para gerar Jesus no ventre de Maria, quis precisar dele para
que Jesus crescesse como pessoa humana junto de um pai. Essa atitude de Deus,
por um lado, mostra que Ele quer que você se torne “pai”, que você assuma como “seu”
o sonho de Deus em “salvar o seu povo”, em salvar aquelas pessoas com as quais
você convive no seu dia a dia. Por outro lado, essa insistência de Deus na
permanência de José junto de Maria e do Menino que vai nascer aponta para essa preocupante
“ausência” do pai em nossa sociedade.
Na sua exortação “A alegria do amor”, o
Papa Francisco nos lembra que “a ausência do pai penaliza gravemente a vida
familiar, a educação dos filhos e a sua integração na sociedade” (n.55). Conforme
já mencionamos, por ocasião do dia dos pais, uma reportagem da Folha de São
Paulo, publicada em 27 de junho deste ano, constatou que 2 em cada 3 menores
infratores não têm pai dentro de casa. Para o Papa Francisco, só um pai com uma
clara e feliz identidade masculina pode ajudar o filho “a perceber os limites
da realidade, caracterizando-se mais pela orientação, pela saída para o mundo
mais amplo e rico de desafios, pelo convite a esforçar-se e lutar” (n.176).
A ausência, física ou afetiva, de José tem
colaborado para que muitos filhos cresçam fracos, covardes, acomodados e
incapazes de dialogar com a vida olhando-a nos olhos. Por outro lado, é preciso
reconhecer e louvar tantos filhos que souberam transformar suas feridas
paternas em pérolas, e escolheram dar um sentido à ausência paterna que
marcou-lhes a infância ou a adolescência, decidindo responsabilizar-se pela própria
vida e abrindo-se a um futuro melhor.
O Evangelho de hoje nos convida a
orar por algumas situações específicas...
Pai, hoje Te pedimos por todos os “Josés”,
por todos os homens que se sentem desorientados ou angustiados, especialmente
pelos que estão ameaçados por algum mal ou alguma injustiça... Fala ao coração
deles, como o Senhor falou ao coração de José. Orienta-lhes, dá-lhes
discernimento, indica-lhes a direção e o caminho que devem seguir neste
momento. Também Te pedimos, Senhor, por todas as “Marias” que foram abandonadas
em sua gravidez ou logo que o filho nasceu, para que não lhes faltem recursos
materiais, emocionais e espirituais, a fim de que se sintam amparadas por Ti e possam
cuidar da vida que delas tanto depende neste momento. Às Tuas mãos confiamos
ainda, Pai, cada filho – criança, adolescente ou jovem – que cresceu ou está
tendo que crescer sem a presença afetiva de um pai junto de si. Que eles experimentem
a verdade do Teu amor e o cuidado da Tua providência em si mesmos e no seio de
suas casas. Enfim, Senhor, estende Tua mão paterna sobre a humanidade, que se
sente muitas vezes órfã, sem pai, com a vida entregue ao acaso. Torna o nosso
coração semelhante ao de José, um coração justo, isto é, uma consciência
ajustada à Tua verdade e mãos ajustadas à Tua vontade. Assim, a celebração do
Natal que se aproxima possa ser vivida como uma verdadeira experiência de que “Deus
está conosco” e continua a cuidar de cada ser humano como o pai que cuida do
seu único filho. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.
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