sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

O PAI TUDO ASSUMIU EM SEU FILHO, PARA TUDO REDIMIR

Missa do Natal do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 9,1-6; Tt 2,11-14; Lc 2,1-14.

            Certamente, este ano de 2016 colocou muitas perguntas em nosso coração, perguntas que ainda questionam a nossa fé, a nossa alegria, a nossa esperança e até mesmo o sentido da nossa vida. Na verdade, as perguntas são importantes porque nos fazem caminhar, nos fazem ir em busca de respostas. Mas, quantas vezes nós sentimos que o máximo que conseguimos chegar com nossas perguntas é a um muro, a uma parede, a uma espécie de beco sem saída? Quantas vezes o máximo que conseguimos experimentar com nossas buscas é um grande e doloroso silêncio da parte de Deus? 
            Mas a noite (ou o dia) de Natal traz a resposta a toda e qualquer pergunta que o ser humano leva consigo, no coração. Deus escolheu nos responder de uma forma única e surpreendente: “a Palavra (de Deus) se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). “A Palavra se fez carne”, isto é, pessoa humana, sujeita à dor, ao sofrimento, à injustiça e à morte. Esta Palavra é a resposta de Deus às nossas perguntas mais profundas. Para um mundo como o nosso, sempre mais ambicioso, admirador da grandeza e adorador do poder, Deus envia seu Filho como Salvador da humanidade na fragilidade de um menino: “(...) nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho” (Is 9,4-5).
            Deus é assim, sempre surpreendente! Talvez você esperasse que a salvação d’Ele chegasse à situação social do nosso país ou à sua vida particular por meio de um Juiz do Supremo, ou por meio de um Senador ou Deputado de Brasília, por meio de uma pessoa forte, poderosa, influente... Mas Ele convida você a contemplar o menino que nasceu em Belém, o menino que, ao nascer, foi colocado numa manjedoura, “pois não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7).
            O que esse menino pobre, totalmente despojado, sem um lugar digno para nascer, poderia estar dizendo a mim, a você, ao nosso país, à humanidade? O fato do Salvador do mundo ter como seu primeiro berço uma manjedoura, o lugar onde se coloca comida para os animais, nos diz alguma coisa? Você se decepciona ou se encanta pela maneira como Deus escolhe vir até você? Embora não houvesse lugar para eles, a estrebaria foi uma brecha possível para Maria dar à luz o Filho de Deus. Existe alguma brecha na sua vida pela qual Deus possa fazer entrar a Sua luz neste momento?
            Oito séculos antes de Jesus nascer, uma promessa havia sido feita à humanidade: “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu... O amor zeloso do Senhor dos exércitos há de realizar estas coisas” (Is 9,1.6). Segundo o evangelista João, Jesus é “a luz verdadeira que, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano” (Jo 1,9). E o apóstolo Paulo nos deixou claro o sentido do nascimento de Jesus: “A graça de Deus se manifestou trazendo salvação para todos os homens” (Tt 1,11). Aqui temos indicações importantes de como podemos celebrar o Natal...
            Para toda e qualquer pessoa que se encontra na escuridão e na sombra da morte – dependentes químicos, refugiados, perseguidos, injustiçados, desempregados, doentes etc. – cada um de nós é chamado a ser uma presença concreta da luz d’Aquele que, sendo luz, também disse a nosso respeito: “Vocês são a luz do mundo” (Mt 5,14). Em sintonia com a Encarnação de Jesus, a nossa luz deve concretamente ser vista, sentida, experimentada e “apalpada” pelo máximo de pessoas, porque Deus enviou seu Filho como Salvador de toda a humanidade. O anúncio do anjo aos pastores na noite de Natal – “Eu vos anuncio uma grande alegria... Hoje (...) nasceu para vós um Salvador, que é Cristo Senhor” (Lc 2,10.11) – precisa de cada um de nós para se encarnar na realidade de tantas pessoas que necessitam sentir que também para elas existe um Salvador, que é Cristo Senhor!
            O Natal nos revela que Deus escolheu vir nos salvar não na pessoa de um homem adulto, forte e com super poderes, mas na pessoa de um menino recém nascido, pobre, indefeso, frágil e exposto a todo tipo de dor e de riscos. Diante deste mistério cada um de nós é convidado a dobrar seus joelhos, abaixar-se, esvaziar-se de todo tipo de orgulho, soberba ou arrogância, diminuir-se, para então poder aproximar-se deste Menino e ficar sob a Sua luz, luz que veio curar o que estava ferido, corrigir o que estava errado, encontrar o que estava perdido, reconduzir o que estava extraviado, libertar o que estava aprisionado, perdoar o que estava condenado...
            Hoje, ao contemplar o Menino Jesus, lembremos das palavras de São Gregório de Nissa († 394): “O que não foi assumido pelo Verbo, não foi redimido.” Dizendo de outra forma, só o que é assumido pode ser redimido. Jesus, ao se encarnar, assumiu tudo o que em mim, em você, em cada pessoa existe de humano, frágil, passível de erro, de dor e de sofrimento; Ele assumiu a nossa carne, a nossa condição mortal, para nos redimir, nos resgatar, nos salvar. Por isso, podemos acolher na fé esta Palavra que hoje nos é dirigida com toda a sua verdade: “Não tenhais medo... Eu vos anuncio uma grande alegria... Hoje nasceu para vós um Salvador!” Bendito seja Deus, nosso Pai, por ter vindo redimir e salvar a humanidade na pessoa de Seu Filho Jesus Cristo!

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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