Missa
do 3º. dom. do advento. Palavra de Deus: Isaías 35,1-6a.10; Tiago 5,7-10;
Mateus 11,2-11.
No último domingo, milhares de
brasileiros foram às ruas em defesa da Lava Jato e para protestar contra o
Congresso Nacional que, legislando em causa própria, desfigurou o pacote de
medidas contra a corrupção. Ao mesmo tempo em que as multidões defendiam a
atuação do juiz Sérgio Moro, pediam a saída de Renan Calheiros da presidência
do Senado. Para surpresa e alegria quase que geral da nação, na segunda-feira o
juiz Marco Aurélio Mello determinou o afastamento de Renan da presidência do
Senado, mas, na quarta, por 6 votos a 3, os Ministros do Supremo decidiram pela
permanência de Renan no cargo. A alegria durou pouco...
Hoje a Palavra do Senhor nos convida a recuperar os motivos que temos
para sermos cristãos alegres: “Alegre-se a terra que era deserta e
intransitável” (Is 35,1). Todos aqueles que têm o coração como se fosse uma
terra deserta, abandonada à própria solidão, serão visitados pelo Senhor:
“Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus (...), é ele que vem para
vos salvar” (Is 35,4). Portanto, o motivo da alegria do cristão não está nos
ventos que sopram a favor dos seus sonhos, das suas esperanças, mas está
unicamente no Senhor, que hoje nos convida a não nos curvarmos diante dos ventos
contrários, mas a confiar que a história está em Suas mãos e Ele, o Justo Juiz,
restabelecerá a justiça na terra.
Certamente, quando olhamos à nossa
volta, não encontramos muitos motivos para nos alegrar: políticos e juízes que,
na sua maioria, se comportam como caniços que se curvam docilmente diante da
corrupção; crianças e jovens cada vez mais expostos à ação dos traficantes;
famílias sempre mais frágeis, que vão se desestruturando com uma rapidez sempre
maior; o desemprego e a violência, frutos de uma crise econômica que insiste em
ferir o presente e em comprometer o futuro do nosso país; doenças e acidentes
trágicos que parecem nos convencer de que não vale a pena lutar pela vida etc.
Quando consideramos a realidade de
injustiça e de sofrimento à nossa volta, nossa fé pode passar por sérios
questionamentos, exatamente como aconteceu com João Batista, quando estava na
prisão e mandou perguntar a Jesus: “És tu aquele que há de vir, ou devemos
esperar outro?” (Mt 11,3). Nós também perguntamos: “Será que Deus realmente se
importa com a humanidade? Será que ainda vale a pena crer e lutar pela justiça,
pela verdade e pela paz? Ainda tem sentido esperar em Deus e apostar no ser
humano? Não seria o caso de passar a apostar numa outra força, que não a do
bem? Não seria o caso de cada um ir atrás da sua própria sobrevivência e dizer
às questões sociais: ‘Dane-se tudo isso!’”?
Eis o que a Palavra de Deus nos diz,
em meio aos nossos questionamentos de fé: “Fortalecei as mãos enfraquecidas e
firmai os joelhos debilitados” (Is 35,3); “Ficai firmes até a vinda do Senhor...
Ficai firmes e fortalecei vossos
corações, porque a vinda do Senhor está próxima... Tomai por modelo de sofrimento
e firmeza os profetas” (Tg 5,7.8.10). Jesus respeita os questionamentos da sua
fé, assim como respeitou os de João Batista, mas ele te convida a fortalecer-se
e a firmar-se na sua fé e na sua esperança, e a não viver como “um caniço
agitado pelo vento” (Mt 11,7). Sempre que o vento das contrariedades muitas
vezes soprar na sua direção, lembre-se do provérbio chinês: “Pode o vento
soprar o quanto quiser; a montanha jamais se curva diante dele”.
Não se curve diante de políticos e
juízes curvados diante da corrupção; curve-se diante do Justo Juiz, que
retribuirá a cada um segundo a sua conduta (cf. Jó 34,11; Is 59,18; Rm 2,6; Ap
22,12). Não desista de semear justiça, solidariedade e paz na sociedade.
Aprenda com o agricultor: mesmo que não haja uma única nuvem no céu, ele semeia
e “espera o precioso fruto da terra e fica firme até cair a chuva...” (Tg 5,7).
Fique firme na sua alegria, na sua fé, na sua esperança, no seu caráter, sabendo
que “pessoas de caráter fazem a coisa certa não porque elas acham que isso irá
mudar o mundo, mas porque elas se recusam a serem mudadas pelo mundo” (Michael
Josephson). Ontem, João Batista, Jesus e muitos outros se recusaram a serem
mudados pelo mundo. Hoje você pode somar forças todas as pessoas que se recusar a ter a sua consciência corrompida
pelo “sistema” que insiste em ditar as regras na política, na justiça e na
economia do nosso país.
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