sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

NÃO SE CURVE DIANTE DO QUE É INJUSTO

Missa do 3º. dom. do advento. Palavra de Deus: Isaías 35,1-6a.10; Tiago 5,7-10; Mateus 11,2-11. 

            No último domingo, milhares de brasileiros foram às ruas em defesa da Lava Jato e para protestar contra o Congresso Nacional que, legislando em causa própria, desfigurou o pacote de medidas contra a corrupção. Ao mesmo tempo em que as multidões defendiam a atuação do juiz Sérgio Moro, pediam a saída de Renan Calheiros da presidência do Senado. Para surpresa e alegria quase que geral da nação, na segunda-feira o juiz Marco Aurélio Mello determinou o afastamento de Renan da presidência do Senado, mas, na quarta, por 6 votos a 3, os Ministros do Supremo decidiram pela permanência de Renan no cargo. A alegria durou pouco...
              Hoje a Palavra do Senhor nos convida a recuperar os motivos que temos para sermos cristãos alegres: “Alegre-se a terra que era deserta e intransitável” (Is 35,1). Todos aqueles que têm o coração como se fosse uma terra deserta, abandonada à própria solidão, serão visitados pelo Senhor: “Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus (...), é ele que vem para vos salvar” (Is 35,4). Portanto, o motivo da alegria do cristão não está nos ventos que sopram a favor dos seus sonhos, das suas esperanças, mas está unicamente no Senhor, que hoje nos convida a não nos curvarmos diante dos ventos contrários, mas a confiar que a história está em Suas mãos e Ele, o Justo Juiz, restabelecerá a justiça na terra.
            Certamente, quando olhamos à nossa volta, não encontramos muitos motivos para nos alegrar: políticos e juízes que, na sua maioria, se comportam como caniços que se curvam docilmente diante da corrupção; crianças e jovens cada vez mais expostos à ação dos traficantes; famílias sempre mais frágeis, que vão se desestruturando com uma rapidez sempre maior; o desemprego e a violência, frutos de uma crise econômica que insiste em ferir o presente e em comprometer o futuro do nosso país; doenças e acidentes trágicos que parecem nos convencer de que não vale a pena lutar pela vida etc.
            Quando consideramos a realidade de injustiça e de sofrimento à nossa volta, nossa fé pode passar por sérios questionamentos, exatamente como aconteceu com João Batista, quando estava na prisão e mandou perguntar a Jesus: “És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?” (Mt 11,3). Nós também perguntamos: “Será que Deus realmente se importa com a humanidade? Será que ainda vale a pena crer e lutar pela justiça, pela verdade e pela paz? Ainda tem sentido esperar em Deus e apostar no ser humano? Não seria o caso de passar a apostar numa outra força, que não a do bem? Não seria o caso de cada um ir atrás da sua própria sobrevivência e dizer às questões sociais: ‘Dane-se tudo isso!’”?          
            Eis o que a Palavra de Deus nos diz, em meio aos nossos questionamentos de fé: “Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados” (Is 35,3); “Ficai firmes até a vinda do Senhor...  Ficai firmes e fortalecei vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima... Tomai por modelo de sofrimento e firmeza os profetas” (Tg 5,7.8.10). Jesus respeita os questionamentos da sua fé, assim como respeitou os de João Batista, mas ele te convida a fortalecer-se e a firmar-se na sua fé e na sua esperança, e a não viver como “um caniço agitado pelo vento” (Mt 11,7). Sempre que o vento das contrariedades muitas vezes soprar na sua direção, lembre-se do provérbio chinês: “Pode o vento soprar o quanto quiser; a montanha jamais se curva diante dele”.
            Não se curve diante de políticos e juízes curvados diante da corrupção; curve-se diante do Justo Juiz, que retribuirá a cada um segundo a sua conduta (cf. Jó 34,11; Is 59,18; Rm 2,6; Ap 22,12). Não desista de semear justiça, solidariedade e paz na sociedade. Aprenda com o agricultor: mesmo que não haja uma única nuvem no céu, ele semeia e “espera o precioso fruto da terra e fica firme até cair a chuva...” (Tg 5,7). Fique firme na sua alegria, na sua fé, na sua esperança, no seu caráter, sabendo que “pessoas de caráter fazem a coisa certa não porque elas acham que isso irá mudar o mundo, mas porque elas se recusam a serem mudadas pelo mundo” (Michael Josephson). Ontem, João Batista, Jesus e muitos outros se recusaram a serem mudados pelo mundo. Hoje você pode somar forças todas as pessoas que se recusar a ter a sua consciência corrompida pelo “sistema” que insiste em ditar as regras na política, na justiça e na economia do nosso país.

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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