Missa do domingo de Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 10,34a.37-42; Colossenses 3,1-4; João 20,1-9.
Maria Madalena “viu que a pedra
tinha sido retirada do túmulo” (Jo 20,1). O discípulo amado “viu as faixas de
linho no chão, mas não entrou” (Jo 20,5). Pedro “viu as faixas de linho
deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus enrolado num
lugar à parte” (Jo 20,6-7). O discípulo amado “viu e acreditou” (Jo 20,8).
O que você vê hoje em dia? Como você
se vê? O que nós vemos no dia a dia nos faz acreditar na ressurreição, nos faz
acreditar que a vida é capaz de vencer a morte? O que vemos à nossa volta, no
mundo ou em nós mesmos nos faz acreditar na ressurreição? O Evangelho do dia de
Páscoa termina dizendo que os discípulos “ainda não tinham compreendido a
Escritura” (Jo 20,9), que afirma a ressurreição de Jesus. Nós já a
compreendemos?
A
atitude dos discípulos naquele domingo era de desencanto. Nenhum deles esperava
pela ressurreição. Todos tinham abandonado Jesus, no momento da cruz.
Sentiam-se com medo dos judeus e culpados por terem deixado Jesus sozinho, na hora
da cruz. Maria Madalena, livre da culpa e com mais coragem que os discípulos,
vai ao túmulo de Jesus. Mas, quando encontra o túmulo vazio, também não pensa na
ressurreição; pensa, sim, que o corpo de Jesus foi roubado. Assim como os
discípulos, nós só cremos naquilo que conseguimos entender. Mesmo que a vida
nos dê sinais de ressurreição, nossos olhos e nossos pensamentos estão focados
ainda na imagem daquilo que morre a cada dia em nós e no mundo.
A
ideia de que o corpo de Jesus havia sido roubado do túmulo só foi desfeita
quando o próprio Jesus ressuscitado se manifestou a eles (cf. At 10,40-41). E
Jesus mandou que os discípulos, testemunhas da sua ressurreição, anunciassem a
nós que nele temos o perdão dos nossos pecados e, portanto, a nossa própria
ressurreição (cf. At 10,42-43). Por isso, o movimento da nossa vida não é mais
descer até o túmulo, mas subir até onde está Cristo ressuscitado: esforçar-nos por
alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, aspirar às coisas celestes, pois
nossa vida (ressuscitada) está escondida (não pode ser vista aos olhos do
mundo) com Cristo, em Deus (cf. Cl 3,1-4).
Ao
celebramos o domingo de Páscoa, somos convidados pelo apóstolo Paulo a viver
como pessoas ressuscitadas. Viver como ressuscitado significa procurar “as
coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus” (Cl 3,1). Na
prática, isso significa que, diante de cada escolha, de cada decisão, eu devo
me perguntar: a minha escolha, a minha decisão, vai me levar para o alto, para
Deus, ou para baixo, me enterrando numa situação de morte?
“Ele
viu e acreditou” (Jo 20,8). Aquilo que você vê te faz acreditar na vitória da
vida sobre a morte? O discípulo amado não viu Jesus. Viu o túmulo vazio e
intuiu no seu coração que aquilo era um sinal de que existe algo além da morte.
Talvez, a nossa maior dificuldade em acreditar na ressurreição seja o fato de
que continuamos a ver a vida ser vencida pela morte. Mas, o que é ressurreição?
Ressurreição não é não morrer. Nós só podemos experimentar a alegria da
ressurreição depois de experimentarmos a dor da morte! A fé na ressurreição não
anula a morte, mas nos desafia a olhar para além dela.
“Ele
viu e acreditou” (Jo 20,8). O que impede uma pessoa de crer na ressurreição é a
maneira como ela vê sua própria vida. Crer na Ressurreição não significa não
ter que passar pela morte, mas saber que Jesus é aquele que esteve morto, porém
está vivo para sempre e tem consigo as chaves da morte: ela não pode mais nos
manter trancados em nossos túmulos (cf. Ap 1,17-18)!
Hoje,
domingo de Páscoa, é uma boa ocasião para perguntar: Você está verdadeiramente
disposto a fazer a sua páscoa? Páscoa significa passagem. Você só faz a
passagem de uma situação de pecado para a vida de santidade quando se convence
de que, vivendo no pecado, você só encontrará a morte, nunca a vida. Todos querem
passar da morte para a vida, mas nem todos estão dispostos a entrar pela porta
estreita que conduz à verdadeira vida (cf. Mt 7,13-14). Além disso, a primeira
carta de João diz: “Nós sabemos que passamos da morte para a vida porque amamos
os irmãos. Quem não ama permanece na morte” (1Jo 3,14). A maneira como você
trata as pessoas que estão mais próximas de você revela se você já ressuscitou
ou se ainda continua permanecendo na morte.
Pe. Paulo Cezar Mazzi