Missa da Ceia do Senhor. Palavra de Deus: Êxodo 12,1-8.11-14; 1Coríntios 11,23-26; João 13,1-15.
Estamos
aqui para celebrar a última ceia de Jesus, na qual ele se entregou aos
discípulos num pedaço de pão e num pouco de vinho, antes de entregar o seu
Corpo e derramar o seu Sangue na cruz pela salvação da humanidade. Vamos
relembrar algumas imagens de ceia que aparecem no Evangelho para tentar
compreender o significado de estarmos aqui hoje.
Numa ceia para a qual Jesus não foi
convidado decidiu-se a morte de João Batista (Mt 14,3-12). Existem ceias onde
se come e se bebe muito, mas onde o coração se alimenta de ideias e sentimentos
de morte. São ceias onde a alegria provocada pela bebida e pelas músicas não
consegue criar um clima de fraternidade verdadeira entre as pessoas. Existem
ceias que não transformam, mas deformam as pessoas. Mas os evangelhos nos falam
de diversas ceias onde Jesus esteve presente e onde houve uma transformação na
vida de quem delas participou. Na ceia onde Jesus estava presente uma mulher
foi perdoada (cf. Lc 7,36-50 – “Teus pecados estão perdoados”), um homem foi
convertido (cf. Lc 19,1-10 – “O Filho do Homem veio procurar e salvar o que
estava perdido”), os pecadores foram acolhidos e os doentes foram curados (cf.
Mt 9,10-13 – “Quem precisa de médico é quem está doente. Eu não vim chamar os
justos, mas os pecadores”). Nessas ceias houve uma transformação porque as
pessoas que ali estavam não se alimentaram somente de pão, mas das palavras de
Jesus, cuja verdade nos liberta.
A última Ceia de Jesus com seus
discípulos aconteceu “antes da festa da Páscoa” (Jo 13,1). Já havia uma páscoa,
celebrada todos os anos pelos judeus, conforme nos relatou a leitura do livro
do Êxodo. Nessa páscoa, um cordeiro deveria ser sacrificado ao cair da tarde.
Seu sangue marcaria as portas das casas. Sua carne seria comida com pães sem
fermento (lembrança da pressa em fugir do Egito) e ervas amargas (lembrança da
escravidão vivida ali). Ao fazer memória dessa páscoa do Antigo Testamento
podemos nos perguntar: Que praga exterminadora ameaça nossa família hoje? Qual
sinal marca a nossa casa como uma casa cristã? O que é sacrificado pelo bem da
família? Em muitas casas, vivemos uma inversão de valores: filhos são
sacrificados em nome da felicidade dos pais; pais são sacrificados em nome da
felicidade dos filhos. Um outro aspecto: os pães sem fermento são a imagem de
Jesus, homem não inchado de orgulho; assim somos chamados a ser também (cf. 1Cor
5,7). As ervas amargas, por sua vez, nos recordam o amargo da correção, da
frustração, da renúncia, atitudes necessárias para a formação do caráter dos
filhos e para a nossa própria santificação.
Voltemos
ao Evangelho da última Ceia. Jesus tinha consciência de que chegara o momento
de passar deste mundo para o Pai. Ele decidiu amar seus discípulos até o fim. Quando
chegar o momento de passar deste mundo para o Pai nós estaremos amando? Amar é
servir, cuidando daquilo que nos foi confiado. Jesus quis que seus discípulos se
lembrassem dele não como alguém que veio para ser servido, mas como alguém que
veio para servir. Quando a nossa comunhão com Jesus é verdadeira, nós nos dispomos
a servir: “Deveis lavar os pés uns dos outros” (Jo 13,14). Nisto seremos
reconhecidos como seus discípulos: pela decisão de amar até o fim, até o ponto
de nos inclinar sobre aqueles que necessitam da nossa ajuda.
Cada
Eucaristia que celebramos é uma atualização da última Ceia: “Fazei isto em
memória de mim” (1Cor 11,24.25). Cada Eucaristia alcança o nosso passado (Jesus
morreu por nós), o nosso presente (Ele está no meio de nós) e o nosso futuro
(Ele virá para nos introduzir no banquete do Reino de Deus): “Todas as vezes
que comemos deste pão e bebemos deste cálice, estamos proclamando a morte do
Senhor, até que ele venha” (1Cor 11,26). Cada Eucaristia nos recorda o convite
de Jesus: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouve a minha voz e abre a
porta, eu entro, faço a ceia com ele e ele comigo” (Ap 3,21). Nesta noite começa
a nossa páscoa. Abramos a porta para Jesus e deixemos com que ele nos conduza
para fora da escravidão do pecado pessoal e social, e nos faça passar da morte
para a vida.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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