Missa do 5º dom. Quaresma. Palavra de Deus: Jeremias 31,31-34; Hebreus 5,7-9; João 12,20-33.
O
que faz a vida valer a pena? Dinheiro? Sexo? Poder? Fama? Sucesso? Bens
materiais? Segundo Jesus, o que faz a vida valer a pena é dedicá-la a uma causa;
é gastar a vida para deixar o mundo melhor depois de termos passado por ele.
Enquanto
nós entendemos que viver significa preservar-se, poupar-se, Jesus nos faz esse
alerta: “Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua
vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna” (Jo 12,26). Em outras
palavras, enquanto nós entendemos a vida como desfrutar o máximo possível das
coisas deste mundo, já que a nossa existência terrena é muito breve, Jesus nos
fala de uma outra vida, uma vida plena, que não é atingida pela morte, uma vida
verdadeira, mas que só pode ser alcançada quando não nos importamos em
“perder”, em gastar, em dedicar a nossa existência terrena a uma causa maior,
que não é o nosso bem-estar pessoal, e sim a salvação da humanidade.
Para
nos ajudar a compreender o sentido da vida, a razão de ser da nossa existência,
Jesus se utiliza da imagem de um grão de trigo: se ele quiser ser poupado,
guardado, preservado de ser enterrado, permanecerá apenas um grão de trigo. Mas
se ele aceitar ser enterrado e passar pelo processo de “morrer”, produzirá
muito fruto. O que é esse “morrer”? É dedicar a nossa existência a algo que a
própria vida nos chamou a fazer; é deixar vir para fora aquela fecundidade que
está guardada dentro de nós e que nos foi dada por Deus não em função de nós
mesmos, mas em função do bem da Igreja, das pessoas, da sociedade humana. O que
Jesus está nos dizendo é que, quanto mais nos fechamos em nós mesmos, mais
infelizes e vazios nos sentimos. Pelo contrário, quanto mais nos doamos às
pessoas ou a uma causa que precisa de nós, mais nos sentimos felizes e
realizados.
Doar-se,
dedicar-se a uma causa, gastar a vida para tornar a humanidade melhor é um
processo doloroso. Jesus também experimentou repulsa diante da dor e da morte:
“Agora sinto-me angustiado. E que direi? ‘Pai, livra-me desta hora!’? Mas foi
precisamente para esta hora que eu vim. Pai, glorifica o teu nome!” (Jo
12,27-28). Jesus nos encoraja a reconhecer nossos sentimentos e a dialogar com
eles. Apesar de todo ser humano mentalmente saudável desejar viver e não
morrer, sempre em nossa vida chegará a hora da angústia, a hora de submeter o
nosso instinto de sobrevivência à missão ou à causa que abraçamos, a hora de
fazermos não a nossa vontade, mas a vontade do Pai, que é doar aquele momento
da nossa vida para gerar vida em outras pessoas ou em situações que não nos
dizem respeito diretamente, mas que dizem respeito ao bem da humanidade.
“Foi
precisamente para esta hora que eu vim” (Jo 12,27). Na vida de cada um de nós
existe a hora da cruz, a hora do sacrifício, da renúncia, para nos mantermos
fiéis à missão que somos, à tarefa que a vida nos confiou. Por fugir dessa hora,
por não aceitá-la em sua história de vida, muitas pessoas abandonaram o
casamento, a família, os filhos, os pais, a Igreja, o serviço que haviam
abraçado em prol de um mundo melhor. Por não admitirem sofrer, muitas pessoas
decidiram tornar-se indiferentes a tudo e a todos, fechando-se em si mesmas e
tornando-se grãos de trigo guardados numa gaveta. Elas até podem se sentir
“preservadas” da dor de não ter que morrer para gerar vida no mundo ao seu
redor, mas já estão mortas por dentro, porque decidiram sabotar a própria
fecundidade e esvaziar o sentido da sua própria existência.
Jesus
nos propõe viver, e viver em plenitude, mas essa experiência só se dá quando não
fugimos da nossa hora de cruz, de sacrifício, de doação, de renúncia; numa
palavra, de obediência à vontade do Pai. “Mesmo sendo Filho, aprendeu o que
significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu” (Hb 5,8). Ninguém de
nós aprende a obedecer a Deus sem dor, sem sofrimento, não porque Deus deseje
nos ver sofrer, mas porque o nosso ego não aceita se submeter à vontade de
Deus. De uma coisa devemos ter certeza: nós só seremos felizes e nos sentiremos
realizados fazendo a vontade de Deus, isto é, sendo fiéis à tarefa que Ele nos
confiou ao nos chamar à existência, mas viver segundo essa vontade nos custará
muitas vezes lágrimas, muitas lágrimas, exatamente como aconteceu com Jesus.
Contudo são essas mesmas lágrimas que, caindo no solo onde nosso grão de trigo
foi enterrado e aceitou morrer, fará germinar a vida fomos chamados a gerar a
partir da nossa “morte”.
De
novo a pergunta: O que faz a vida valer a pena? A vida vale a pena não pelo
tanto que você vive, mas pelo tanto que você aceitar morrer para gerar vida à
sua volta.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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