quarta-feira, 27 de março de 2024

"ELE VIU E ACREDITOU". O QUE EU VEJO À MINHA VOLTA ME FAZ ACREDITAR NA RESSURREIÇÃO?

 Missa do domingo de Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 10,34a.37-42; Colossenses 3,1-4; João 20,1-9.

 

            Maria Madalena “viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo” (Jo 20,1). O discípulo amado “viu as faixas de linho no chão, mas não entrou” (Jo 20,5). Pedro “viu as faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus enrolado num lugar à parte” (Jo 20,6-7). O discípulo amado “viu e acreditou” (Jo 20,8).

            O que você vê hoje em dia? Como você se vê? O que nós vemos no dia a dia nos faz acreditar na ressurreição, nos faz acreditar que a vida é capaz de vencer a morte? O que vemos à nossa volta, no mundo ou em nós mesmos nos faz acreditar na ressurreição? O Evangelho do dia de Páscoa termina dizendo que os discípulos “ainda não tinham compreendido a Escritura” (Jo 20,9), que afirma a ressurreição de Jesus. Nós já a compreendemos?

A atitude dos discípulos naquele domingo era de desencanto. Nenhum deles esperava pela ressurreição. Todos tinham abandonado Jesus, no momento da cruz. Sentiam-se com medo dos judeus e culpados por terem deixado Jesus sozinho, na hora da cruz. Maria Madalena, livre da culpa e com mais coragem que os discípulos, vai ao túmulo de Jesus. Mas, quando encontra o túmulo vazio, também não pensa na ressurreição; pensa, sim, que o corpo de Jesus foi roubado. Assim como os discípulos, nós só cremos naquilo que conseguimos entender. Mesmo que a vida nos dê sinais de ressurreição, nossos olhos e nossos pensamentos estão focados ainda na imagem daquilo que morre a cada dia em nós e no mundo.

A ideia de que o corpo de Jesus havia sido roubado do túmulo só foi desfeita quando o próprio Jesus ressuscitado se manifestou a eles (cf. At 10,40-41). E Jesus mandou que os discípulos, testemunhas da sua ressurreição, anunciassem a nós que nele temos o perdão dos nossos pecados e, portanto, a nossa própria ressurreição (cf. At 10,42-43). Por isso, o movimento da nossa vida não é mais descer até o túmulo, mas subir até onde está Cristo ressuscitado: esforçar-nos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, aspirar às coisas celestes, pois nossa vida (ressuscitada) está escondida (não pode ser vista aos olhos do mundo) com Cristo, em Deus (cf. Cl 3,1-4).

Ao celebramos o domingo de Páscoa, somos convidados pelo apóstolo Paulo a viver como pessoas ressuscitadas. Viver como ressuscitado significa procurar “as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus” (Cl 3,1). Na prática, isso significa que, diante de cada escolha, de cada decisão, eu devo me perguntar: a minha escolha, a minha decisão, vai me levar para o alto, para Deus, ou para baixo, me enterrando numa situação de morte?

“Ele viu e acreditou” (Jo 20,8). Aquilo que você vê te faz acreditar na vitória da vida sobre a morte? O discípulo amado não viu Jesus. Viu o túmulo vazio e intuiu no seu coração que aquilo era um sinal de que existe algo além da morte. Talvez, a nossa maior dificuldade em acreditar na ressurreição seja o fato de que continuamos a ver a vida ser vencida pela morte. Mas, o que é ressurreição? Ressurreição não é não morrer. Nós só podemos experimentar a alegria da ressurreição depois de experimentarmos a dor da morte! A fé na ressurreição não anula a morte, mas nos desafia a olhar para além dela.

“Ele viu e acreditou” (Jo 20,8). O que impede uma pessoa de crer na ressurreição é a maneira como ela vê sua própria vida. Crer na Ressurreição não significa não ter que passar pela morte, mas saber que Jesus é aquele que esteve morto, porém está vivo para sempre e tem consigo as chaves da morte: ela não pode mais nos manter trancados em nossos túmulos (cf. Ap 1,17-18)!

Hoje, domingo de Páscoa, é uma boa ocasião para perguntar: Você está verdadeiramente disposto a fazer a sua páscoa? Páscoa significa passagem. Você só faz a passagem de uma situação de pecado para a vida de santidade quando se convence de que, vivendo no pecado, você só encontrará a morte, nunca a vida. Todos querem passar da morte para a vida, mas nem todos estão dispostos a entrar pela porta estreita que conduz à verdadeira vida (cf. Mt 7,13-14). Além disso, a primeira carta de João diz: “Nós sabemos que passamos da morte para a vida porque amamos os irmãos. Quem não ama permanece na morte” (1Jo 3,14). A maneira como você trata as pessoas que estão mais próximas de você revela se você já ressuscitou ou se ainda continua permanecendo na morte.

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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