Vigília Pascal. Palavra de Deus: Gênesis 1,26 – 2,2; Êxodo 14,15 – 15,1; Isaías 55,1-11; Romanos 6,3-11; Marcos 16,1-7.
Esta
noite se chama “Vigília Pascal”. Vigília lembra a atitude de quem está
acordado, esperando pelo amanhecer. Nós esperamos pela luz do amanhecer, que é
o Senhor Jesus ressuscitado, chamado no Apocalipse de “Estrela da manhã” (2,28).
A noite escura é símbolo da nossa fé: nós não vemos a Deus, mas cremos na sua
existência e no seu amor por nós. A fé é isso: o que nos faz caminhar, o que
nos mantêm de pé não é o que vemos, mas o que cremos. Mesmo nas nossas noites
escuras, e sobretudo nelas, nossa fé precisa se mover, pois, como diz a
Escritura, “nós caminhamos pela fé, não pela visão clara” (2Cor 5,7).
Na
noite em que foi liberto do Egito, Israel não conseguia enxergar claramente o
que estava acontecendo. Ele só conseguiu atravessar o mar Vermelho porque era
noite e, ao invés de ser amedrontado pelo mar, foi encorajado pela coluna de
fogo, pela nuvem luminosa que o guiava, retirando-o do Egito e conduzindo-o
para a Terra Prometida. Isso significa que só faz Páscoa, só faz a passagem da
morte para a vida, quem aceita caminhar na noite escura da fé. A Páscoa exige
que você caminhe também quando é noite; que você confie e se deixe guiar por
Aquele que vê o caminho que você não consegue ver, pois Ele vê do alto e vê
além!
A
travessia do mar Vermelho nos recorda que todo processo de libertação enfrenta
resistência. A Páscoa, a passagem que desejamos fazer, sempre enfrenta
obstáculos. Mas o Senhor nos faz atravessar os obstáculos e prosseguir em nossa
caminhada de libertação. A obra da salvação é d’Ele e não nossa. É Ele quem faz
sair, faz entrar, faz caminhar e faz passar. Só existe Páscoa (passagem) porque
o Senhor abre uma passagem onde ela não existe, e nos faz passar ali, assim
como também só existe passagem porque nós decidimos confiar no Senhor e passar.
Só existe Páscoa para quem abre mão do controle da sua própria vida e se deixa
guiar e controlar por Alguém maior, Alguém que vê do alto.
O
profeta Isaías nos recorda que a salvação é dom, graça, e não mérito: "Ó
vós todos que estais com sede, vinde às águas; vós que não tendes dinheiro,
apressai-vos, vinde e comei, vinde comprar sem dinheiro, tomar vinho e leite,
sem nenhuma paga” (Is 55,1). Para ser salva, uma pessoa precisa apenas ter
fome; ter sede; ter consciência da necessidade de ser salva. Porém, ninguém é
salvo sem a sua colaboração. É preciso mover-se na direção do Senhor,
afastando-se do pecado: “Buscai o Senhor, enquanto pode ser achado; invocai-o,
enquanto ele está perto. Abandone o ímpio seu caminho, e o homem injusto, suas
maquinações” (Is 55,6-7). É preciso ajustar a nossa conduta de acordo com a
vontade de Deus, pois Ele diz: “Meus pensamentos não são como os vossos
pensamentos, e vossos caminhos não são como os meus caminhos” (Is 55,9).
Em
cada Vigília Pascal acontece a renovação das promessas do nosso Batismo. Batismo
significa mergulho. A água do Batismo nos mergulhou na morte de Cristo para que
com Ele possamos ressurgir para uma vida nova. Renovar as promessas do nosso
batismo significa atualizar a nossa
identificação com Jesus Cristo por uma morte semelhante à sua, para que sejamos
identificados com Ele por uma ressurreição semelhante à sua (cf. Rm 6,5).
Assim, viver como uma pessoa batizada significa fazer um exercício diário de
nos considerar mortos para o pecado, mas vivos para Deus.
A
narrativa da Paixão (ontem) terminou com a menção da grande quantidade de
perfume que Nicodemos comprou para ungir o corpo de Jesus. Naquele momento,
refletíamos que, diante do mau cheiro da morte, precisamos espalhar o perfume
da nossa fé na ressurreição, o perfume da nossa esperança de vida eterna, o
perfume da nossa confiança de que toda situação de cruz se converterá em uma
vida transformada, ressuscitada. Eis porque o Evangelho desta Vigília se inicia
fazendo uma nova referência ao perfume que algumas mulheres levam, enquanto
caminham na direção do túmulo de Jesus.
Se
a imagem do túmulo nos recorda que somos mortais, há um sinal que diz que a
morte não é mais um ponto final na vida humana (a grande pedra que impedia o
acesso ao corpo de Jesus foi retirada!). Aquela pedra não foi retirada por
alguém de fora, mas por Alguém de dentro do túmulo, Alguém que todos pensavam
que estava morto para sempre! A pedra que nos mantinha a todos fechados em
nossos túmulos, aprisionados para sempre na morte, foi retirada! Dentro do
túmulo não há mais uma vida que terminou na morte, um sonho de que desfez para
sempre, uma luz que se apagou definitivamente. Dentro do túmulo há um jovem –
imagem da vida que se renova – dizendo que Jesus de Nazaré, que foi
crucificado, ressuscitou! Portanto, esta noite de Páscoa nos convida a retirar
a pedra do túmulo do nosso desânimo, do nosso abatimento, túmulo que representa
tantas atitudes nossas por meio das quais nos enterramos vivos, morremos antes
da hora, abandonamos os nossos valores, pensando que ficar dentro de um túmulo
seja melhor do que sair e enfrentar a vida e correr o risco de sermos
machucados.
“Vós
procurais Jesus de Nazaré, que foi crucificado? Ele ressuscitou. Não está aqui.
Vede o lugar onde o puseram. Ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele irá
à vossa frente, na Galileia. Lá vós o vereis, como ele mesmo tinha dito” (Mc 16,6-7).
O Evangelho da Vigília Pascal poderia nos colocar em contato com Jesus
Ressuscitado (o que será feito nos dois próximos domingos), mas ele nos coloca,
primeiro, diante de um túmulo vazio, túmulo que nos lembra que crer na
ressurreição não significa crer que não vamos morrer, ou que vamos ser poupados
de sofrimento, mas significa crer que vamos vencer a morte e o sofrimento.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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