Missa da Epifania (manifestação) do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 60,1-6; Efésios 2,2-3a.5-6; Mateus 2,1-12.
Na noite de Natal, um anjo do Senhor
anunciou aos pastores: “Nasceu para vós um Salvador que é o Cristo Senhor” (Lc
2,11). Até então, o nascimento de Jesus tinha sido anunciado como salvação somente
ao povo judeu. Mas hoje, na festa da Epifania, palavra que significa “manifestação”,
Deus se manifesta por meio de uma estrela a alguns magos do Oriente, respondendo
à pergunta que não somente eles, mas que todo ser humano carrega no coração: a
pergunta pela salvação, pelo sentido da vida.
Deus “deseja que todos os homens sejam
salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Por isso, Ele se
manifesta na vida de cada pessoa de uma forma particular, provocando sua consciência,
inquietando seu coração, convidando cada um a fazer uma peregrinação, a iniciar
um caminho em busca da verdade que liberta, em busca da luz que nos tira das
trevas da ignorância, do erro e da falta de sentido de vida: “Levanta-te,
acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória
do Senhor” (Is 60,1). Deus Pai convida cada ser humano a se levantar da sua
prostração, a sair da escuridão em que se encontra, e caminhar na direção de
Seu Filho, luz que “ilumina todo ser humano que vem a este mundo” (Jo 1,9). De
fato, Jesus é o “sol nascente que nos veio visitar, para iluminar a todos os
que se encontram nas trevas e nas sombras da morte” (Lc 1,78-79).
O que foi aquela estrela que guiou
os magos até Jesus? Ela foi a forma particular que Deus usou para falar ao
coração dos magos. Nosso mundo é marcado pela diversidade: diversidade de
pessoas, de povos, de culturas e também de religiões. Deus respeita a
diversidade e sabe dialogar com cada ser humano, com cada povo e com cada
cultura. Porque deseja salvar todos os povos, Ele tem inúmeros caminhos para
falar ao coração humano. Não nos cabe dizer a Deus qual caminho Ele deve usar para
salvar; nos cabe, sim, estar atentos para os pequenos sinais da Sua
manifestação em nossa vida pessoal e social; nos cabe deixar provocar pela ação
do Espírito Santo e nos dispor a fazer um caminho com Deus, que nada mais é do
que seguir os passos de Seu Filho, o Caminho que conduz à luz e à salvação.
A luz da estrela que guiou os magos
até Jesus, reconhecendo-o como Salvador de todos os povos, nos provoca a vivermos
de tal modo que a nossa existência fale de Deus para as pessoas que estão à
nossa volta. Sempre é importante lembrar: eu não posso conduzir alguém para Deus
se eu mesmo não vivo em Deus. Nossa maior tragédia enquanto Igreja, enquanto
cristãos, é quando nossas atitudes ocultam Deus, escondem sua luz, afastando as
pessoas do Seu desejo de salvá-las. Não tanto “apesar” das nossas fraquezas,
mas permitindo que a graça de Deus aja em nossas fraquezas, devemos “falar” de
Deus para as pessoas com a nossa vida, de modo que fique claro para elas que
nós sabemos em quem acreditamos, em quem depositamos a nossa fé e a nossa
esperança.
Nossa tarefa como luz, como manifestação
de Deus para as pessoas do nosso tempo, sempre será vivida em contraste com as
trevas. De fato, a luz só é percebida no contraste com a escuridão. Isso
significa que o cristão deve diferenciar-se do mundo, no sentido de não viver
como uma pessoa “mundana”. Isso também significa que a luz da nossa vivência
cristã deve se manifestar justamente no meio da escuridão do mundo. Quando os
cristãos se distanciam do mundo e se resguardam dentro das igrejas, estão
fazendo o oposto do que a estrela fez, impedindo as pessoas de serem provocadas
e buscar Deus em seu caminho de vida.
Ainda sobre isso, é importante
considerar que muitas pessoas do nosso tempo reagem à luz como se fossem
morcegos. Habituadas à escuridão do individualismo, da indiferença para com as
injustiças à sua volta e da agressividade própria da intolerância dos tempos
atuais, elas não estão abertas à luz, ao menos num primeiro momento. O cristão
não pode pretender ser um holofote que agride com sua luz os olhos das outras
pessoas, impondo-lhes a “verdade” da sua ortodoxia, da sua “rigidez” religiosa.
A luz deve dialogar com quem está habituado a viver na escuridão, convidando a
pessoa a fazer um caminho, a abrir-se a um processo de aproximação gradual da
luz, da verdade, até que ela compreenda que o benefício de viver na luz é
grandemente superior aos ganhos secundários das trevas.
Hoje nossos joelhos se dobram diante
do Pai, agradecendo-O pelo nascimento de Seu Filho, manifestação do Seu amor
pelo ser humano e do Seu desejo de salvá-lo. Agradecemos cada estrela que o Pai
faz brilhar no céu escuro da humanidade, provocando cada ser humano a sair da
escuridão em que se encontra e a fazer um caminho de libertação, de
amadurecimento, de cura, deixando-se iluminar, conduzir e curar por Aquele que
é o Caminho, a resposta à pergunta mais profunda que o ser humano tem de
felicidade, de paz e de sentido para a sua vida. Diante do ouro, do incenso e
da mirra que os magos ofereceram a Jesus, pedimos que o Pai nos ensine a enxergar
em cada ser humano o ouro da sua dignidade e da sua unicidade, o incenso do
sagrado que carrega em si como Seu filho amado e a mirra da sua fragilidade,
espaço por meio do qual a força do Pai se manifesta como amor que redime, como
bálsamo que alivia a dor e como convite ao amadurecimento e à superação dos
seus obstáculos.
Pe. Paulo Cezar
Mazzi
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ResponderExcluirPe. Paulo, eu sou o Pe. Antônio César Seganfredo, scalabriniano. Trabalho em São Paulo, na Paróquia São João Batista do Ipiranga, e ensino NT no Itesp. Somos colegas no Grupo São Jerônimo de reflexão bíblica. Acompanho as suas reflexões semanais há quase dez anos, pelas quais agradeço muito!
ResponderExcluirBom dia, querido irmão! Me desculpe. Não havia te reconhecido! Claro que sim! Estamos no mesmo grupo de reflexão bíblica!!! Gosto muito das suas!!! Deus o abençoe! Tenha um bom ano!
ResponderExcluirGrande abraço!