quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

QUE MINHA VIDA MANIFESTE DEUS ÀS OUTRAS PESSOAS

Missa da Epifania (manifestação) do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 60,1-6; Efésios 2,2-3a.5-6; Mateus 2,1-12.

 

            Na noite de Natal, um anjo do Senhor anunciou aos pastores: “Nasceu para vós um Salvador que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11). Até então, o nascimento de Jesus tinha sido anunciado como salvação somente ao povo judeu. Mas hoje, na festa da Epifania, palavra que significa “manifestação”, Deus se manifesta por meio de uma estrela a alguns magos do Oriente, respondendo à pergunta que não somente eles, mas que todo ser humano carrega no coração: a pergunta pela salvação, pelo sentido da vida.

            Deus “deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Por isso, Ele se manifesta na vida de cada pessoa de uma forma particular, provocando sua consciência, inquietando seu coração, convidando cada um a fazer uma peregrinação, a iniciar um caminho em busca da verdade que liberta, em busca da luz que nos tira das trevas da ignorância, do erro e da falta de sentido de vida: “Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor” (Is 60,1). Deus Pai convida cada ser humano a se levantar da sua prostração, a sair da escuridão em que se encontra, e caminhar na direção de Seu Filho, luz que “ilumina todo ser humano que vem a este mundo” (Jo 1,9). De fato, Jesus é o “sol nascente que nos veio visitar, para iluminar a todos os que se encontram nas trevas e nas sombras da morte” (Lc 1,78-79).

            O que foi aquela estrela que guiou os magos até Jesus? Ela foi a forma particular que Deus usou para falar ao coração dos magos. Nosso mundo é marcado pela diversidade: diversidade de pessoas, de povos, de culturas e também de religiões. Deus respeita a diversidade e sabe dialogar com cada ser humano, com cada povo e com cada cultura. Porque deseja salvar todos os povos, Ele tem inúmeros caminhos para falar ao coração humano. Não nos cabe dizer a Deus qual caminho Ele deve usar para salvar; nos cabe, sim, estar atentos para os pequenos sinais da Sua manifestação em nossa vida pessoal e social; nos cabe deixar provocar pela ação do Espírito Santo e nos dispor a fazer um caminho com Deus, que nada mais é do que seguir os passos de Seu Filho, o Caminho que conduz à luz e à salvação.

            A luz da estrela que guiou os magos até Jesus, reconhecendo-o como Salvador de todos os povos, nos provoca a vivermos de tal modo que a nossa existência fale de Deus para as pessoas que estão à nossa volta. Sempre é importante lembrar: eu não posso conduzir alguém para Deus se eu mesmo não vivo em Deus. Nossa maior tragédia enquanto Igreja, enquanto cristãos, é quando nossas atitudes ocultam Deus, escondem sua luz, afastando as pessoas do Seu desejo de salvá-las. Não tanto “apesar” das nossas fraquezas, mas permitindo que a graça de Deus aja em nossas fraquezas, devemos “falar” de Deus para as pessoas com a nossa vida, de modo que fique claro para elas que nós sabemos em quem acreditamos, em quem depositamos a nossa fé e a nossa esperança.

            Nossa tarefa como luz, como manifestação de Deus para as pessoas do nosso tempo, sempre será vivida em contraste com as trevas. De fato, a luz só é percebida no contraste com a escuridão. Isso significa que o cristão deve diferenciar-se do mundo, no sentido de não viver como uma pessoa “mundana”. Isso também significa que a luz da nossa vivência cristã deve se manifestar justamente no meio da escuridão do mundo. Quando os cristãos se distanciam do mundo e se resguardam dentro das igrejas, estão fazendo o oposto do que a estrela fez, impedindo as pessoas de serem provocadas e buscar Deus em seu caminho de vida.

            Ainda sobre isso, é importante considerar que muitas pessoas do nosso tempo reagem à luz como se fossem morcegos. Habituadas à escuridão do individualismo, da indiferença para com as injustiças à sua volta e da agressividade própria da intolerância dos tempos atuais, elas não estão abertas à luz, ao menos num primeiro momento. O cristão não pode pretender ser um holofote que agride com sua luz os olhos das outras pessoas, impondo-lhes a “verdade” da sua ortodoxia, da sua “rigidez” religiosa. A luz deve dialogar com quem está habituado a viver na escuridão, convidando a pessoa a fazer um caminho, a abrir-se a um processo de aproximação gradual da luz, da verdade, até que ela compreenda que o benefício de viver na luz é grandemente superior aos ganhos secundários das trevas.  

            Hoje nossos joelhos se dobram diante do Pai, agradecendo-O pelo nascimento de Seu Filho, manifestação do Seu amor pelo ser humano e do Seu desejo de salvá-lo. Agradecemos cada estrela que o Pai faz brilhar no céu escuro da humanidade, provocando cada ser humano a sair da escuridão em que se encontra e a fazer um caminho de libertação, de amadurecimento, de cura, deixando-se iluminar, conduzir e curar por Aquele que é o Caminho, a resposta à pergunta mais profunda que o ser humano tem de felicidade, de paz e de sentido para a sua vida. Diante do ouro, do incenso e da mirra que os magos ofereceram a Jesus, pedimos que o Pai nos ensine a enxergar em cada ser humano o ouro da sua dignidade e da sua unicidade, o incenso do sagrado que carrega em si como Seu filho amado e a mirra da sua fragilidade, espaço por meio do qual a força do Pai se manifesta como amor que redime, como bálsamo que alivia a dor e como convite ao amadurecimento e à superação dos seus obstáculos.  

           

Pe. Paulo Cezar Mazzi

 

 

 

4 comentários:

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  3. Pe. Paulo, eu sou o Pe. Antônio César Seganfredo, scalabriniano. Trabalho em São Paulo, na Paróquia São João Batista do Ipiranga, e ensino NT no Itesp. Somos colegas no Grupo São Jerônimo de reflexão bíblica. Acompanho as suas reflexões semanais há quase dez anos, pelas quais agradeço muito!

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  4. Bom dia, querido irmão! Me desculpe. Não havia te reconhecido! Claro que sim! Estamos no mesmo grupo de reflexão bíblica!!! Gosto muito das suas!!! Deus o abençoe! Tenha um bom ano!
    Grande abraço!

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