Missa do 2. dom. advento. Palavra de Deus: Isaías 40,1-5.9-11; 2Pedro 3,8-14; Marcos 1,1-8.
Todos nós percorremos um caminho na
vida. Para muitos, esse caminho é como que imposto a partir de fora, pelo
mundo, pelo mercado, pela propaganda de consumo. Para outros, esse caminho é escolhido
a partir de dentro, a partir da escuta da própria alma.
Quando
começamos a caminhar, não sabemos o que iremos encontrar ao longo do caminho. A
vida é um mistério, e não há como termos todas as perguntas respondidas para,
somente então, nos dispomos a caminhar. O caminho vai se abrindo na medida em
que caminhamos; é enquanto caminhamos que as respostas vão surgindo e a estrada
vai se clareando. O importante é que tenhamos uma orientação, que saibamos o que
estamos buscando, o que estamos procurando, o que desejamos alcançar.
Na vida
espiritual, muitos desejam que Deus caminhe com eles, mas são poucos os que se
dispõem a caminhar com Deus, a viver segundo a vontade de Deus. Por isso, o
profeta tem a missão de gritar à consciência de toda pessoa que deseja encontrar
Deus em seu caminho de vida: “Prepare no deserto o caminho do Senhor, aplaine
na solidão a estrada do nosso Deus” (Is 40,3). Deus deseja consolar o ser
humano, isto é, ampará-lo, reerguê-lo, orientá-lo, fortalecê-lo em seu caminho
de vida. Mas para fazer isso, Ele precisa que o ser humano desobstrua o
caminho: “Nivelem-se todos os vales, rebaixem-se todos os montes e colinas; endireite-se
o que é torto e alisem-se as asperezas” (Is 40,4).
As
mesmas pessoas que reclamam que Deus está longe delas são as que mantém Deus
afastado do seu caminho de vida. A estrada delas está cheia de buracos – falhas
graves na vida moral, erros na forma de lidar com o dinheiro –; nessa estrada,
montes e colinas precisam ser rebaixados – atitudes de soberba, de arrogância,
de pisar nos outros –; nesse caminho há também trechos tortuosos e pedregosos –
uma consciência a ser endireitada, atitudes agressivas e intolerantes a serem modificadas
etc. O mais importante é que o reparo do caminho da vida de cada um de nós deve
ser feito “no deserto”, “na solidão”, o que supõe um olhar para a própria
consciência, para a própria alma, reconhecendo com sinceridade em quais
aspectos da nossa vida estamos caminhando no sentido contrário à vontade de Deus.
Deus se importa com o caminho de
vida de todo ser humano. Ele deseja “que todos os homens vejam” a sua salvação
(cf. Is 40,5). Por isso, todo cristão é chamado a ser um profeta, uma voz que
grita no deserto da consciência das pessoas do seu tempo, para que as desigualdades
sociais sejam enfrentadas com firmeza e possamos construir um mundo sem pessoas
jogadas dentro de buracos, sem pessoas que pensem que seu poder econômico as
coloca sobre montes e colinas, preservadas da violência social e da destruição
do planeta, destruição que elas mesmas ajudam a intensificar com seu consumismo
exagerado. Precisamos enfrentar com coragem a tortuosidade da corrupção e a
aspereza da violência social, se queremos um mundo onde todos vejam a salvação
que vem de Deus.
Por cansarem de esperar por Deus e
por suas promessas, muitas pessoas concluíram que não vale a pena manter seu caminho
de vida preparado para a chegada de Deus. Elas se esqueceram de que “o Senhor
não tarda a cumprir sua promessa, como pensam alguns, achando que demora. Ele
está usando de paciência para convosco. Pois não deseja que alguém se perca. Ao
contrário, quer que todos venham a converter-se” (2Pd 3,8-9). Se Deus não
intervém de maneira “agressiva” na história humana, não é porque não exista ou
porque não se importe com o que acontece com a humanidade, mas porque aposta na
capacidade de cada ser humano repensar suas atitudes e, diante dos sinais de
destruição do mundo, converter-se, mudar suas atitudes.
Uma vez que o advento nos remete não
somente para recordar a primeira vinda de Cristo, mas, sobretudo, para nos
preparar para a sua segunda vinda, São Pedro nos torna conscientes de que há
uma desintegração em curso. Percebemos essa desintegração nas famílias, nas
relações de trabalho, nos valores cristãos, na economia global e, sobretudo, no
meio ambiente – o desmatamento da Amazônia é exemplo vivo disso! O que se pede
de nós, cristãos é que, cientes dessa desintegração, levemos uma “vida santa e
piedosa”, enquanto esperamos “a vinda do Dia de Deus” (2Pd 3,11-12), confiantes
na sua promessa: “O que nós esperamos, de acordo com a sua promessa, são novos
céus e uma nova terra, onde habitará a justiça” (2Pd 3,13). Mesmo sendo
afetados pela desintegração de várias coisas, nossa fé, nossa esperança e nosso
esforço em vivermos segundo a justiça não podem desintegrar-se, mas devem
fortalecer-se, enquanto aguardamos a volta de Jesus Cristo, nosso Salvador.
ORAÇÃO:
Senhor Jesus Cristo, entregamos a ti o caminho de vida de todo ser humano a
quem desejas salvar. Diante da Palavra que ouvimos, nos comprometemos em
colocar em ordem a estrada da nossa vida pessoal e social, tapando seus buracos,
aplainando seus montes, corrigindo o que nela está torto e alisando o que nela
está áspero, a fim de que o Senhor possa ter acesso a cada um de nós e nos dar a
salvação. Diante da desintegração do mundo presente, firma em nosso coração a
esperança nos novos céus e na nova terra onde habitará a justiça. Torna justo o
nosso proceder, fortalecendo a nossa fé e a nossa esperança enquanto aguardamos
confiantes e tua vinda gloriosa. Amém!
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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