Missa do 3. dom. do advento. Palavra de Deus: Isaías 61,1-2a.10-11; 1Tessalonicenses 5,16-24; João 1,6-8.19-28.
Alguém
inspira você a viver? Se você é casado(a), algum casal serve de inspiração para
você para viver seu casamento? Se você é pai ou mãe, seus filhos se espelham em
você para se construírem como pessoas equilibradas, decentes e responsáveis? Se
você é criança, adolescente ou jovem, algum adulto serve de inspiração para a
sua vida? Enfim, para nós que vivemos numa cultura que valoriza só o que é novo
e despreza o que é velho, alguma pessoa idosa nos serve como inspiração de vida?
Inspirar-se
em alguém é importante na medida em que essa pessoa nos convida a crescer, a
não viver uma vida medíocre, a lutar para nos tornarmos melhores, para nos
tornarmos a pessoa que fomos chamados a ser a partir da nossa vocação. Mas
inspirar-se em alguém também comporta o risco da decepção, principalmente
quando idealizamos demais a pessoa e nos esquecemos de que ela não é um ídolo, não
é um mito, mas um ser humano passível de erro, alguém que, ao invés de dar
testemunho, pode um dia vir a dar contratestemunho.
Nosso
mundo não só carece de modelos, não só carece de pessoas que nos inspirem, mas –
o que é mais grave – é um mundo que cultua anti-heróis, antimodelos. Quantos adolescentes
e jovens de classe média e alta se inspiram em youtubers vazios, desprovidos de
ética, de fé e de valores cristãos? Quantas crianças pobres se inspiram em
traficantes ou em milicianos? Quantos homens e mulheres se inspiram em pessoas que
são autênticas “fake news”, imagens falsas de sucesso e de felicidade?
Assim
começa o Evangelho de hoje: “Surgiu um homem enviado por Deus; seu nome era
João. Ele veio como testemunha, para dar testemunho da luz, para que todos
chegassem à fé por meio dele” (Jo 1,6-7). João era uma pessoa diferente das demais.
Ele cresceu no deserto, lugar de anonimato, o que significa dizer que João nunca
foi uma pessoa afetada pela vaidade, uma pessoa fútil que se alimentava do reconhecimento
dos outros. Vivendo no deserto, João aprendeu a cultivar o essencial e não perder
tempo com coisas supérfluas, o contrário do que a cultura moderna faz,
influenciando-nos. João era tão autêntico, que despertava nas pessoas do seu
tempo uma saudável inquietação: no que esse homem crê? O que o sustenta na
vida? O que ele espera? De onde vem sua força para lidar com as adversidades?
Em
nossa preparação para a vinda do Senhor Jesus, a liturgia da Igreja nos coloca
diante de João, aquele que, com sua vida, e não somente com suas palavras, deu testemunho
de Jesus, isto é, preparou o mundo para a primeira vinda de Jesus, uma preparação
tão intensa e tão profunda que o evangelista afirma: “para que todos chegassem
à fé por meio dele” (Jo 1,7). Quem de nós está convencido de que ainda hoje vale
a pena ser bom, justo, correto, honesto? Quem de nós está convencido de que, quando
nos esforçamos por viver segundo a vontade de Deus, podemos conduzir pessoas
para Deus? Quem de nós está convencido de que, quando expressamos a nossa fé e
a nossa esperança na maneira como lidamos com as contrariedades da vida,
podemos, sem perceber, estar conduzindo outras pessoas à fé?
“Ele não era a luz, mas veio para dar
testemunho da luz” (Jo 1,8). Eis o sentido da vida de João Batista; eis também
a inspiração para a nossa vida de cristãos em pleno século XXI: não devemos nos
preocupar em ser a luz, mas em apontar para a luz. João não era a luz, mas a
lâmpada que portava em si a luz, da mesma forma como João não era a Palavra,
mas a voz que fazia ecoar a Palavra. Assim como foi João, a nossa existência é
chamada a ser um testemunho, uma existência que desperte nas pessoas o desejo
de serem melhores, de serem autênticas, de se afastarem do supérfluo e de aproximarem
do essencial. Apesar de todas as nossas falhas e inconsistências, que a nossa
vida aponte para Aquele que é maior do que nós, Aquele que é capaz de “curar as
feridas da alma, anunciar a redenção para os cativos e a liberdade para os que estão
presos” (Is 61,1). E para que isso aconteça, não nos esqueçamos dessa verdade: eu
não posso levar alguém para Deus se eu mesmo não estou n’Ele; eu não posso
conduzir ninguém para a fé se eu mesmo não cultivo em mim a força da fé.
“No
meio de vós está aquele que vós não conheceis” (Jo 1,27). João nos convida a
nos abrir para Jesus, Aquele que está no meio de nós e que talvez, ainda hoje,
não o conheçamos, porque não se trata de conhecimento intelectual, mas
interior; se trata de passar da cabeça para o coração, do ouvir dizer sobre
Jesus para o experimentá-lo vivo, dentro de nós. Como é possível que ainda hoje
Jesus seja desconhecido da maioria das pessoas e de muitos cristãos? Porque o
procuramos fora, quando ele está dentro; porque o procuramos no supérfluo,
quando ele se encontra no essencial; porque o procuramos no barulho do mundo,
quando ele se encontra no silêncio da nossa alma; porque o procuramos nas
pessoas que brilham sob a luz dos holofotes da vaidade e da superficialidade,
quando ele se encontra nos pobres anônimos que cruzam nossas ruas todos os
dias.
Uma última
palavra sobre o nosso testemunho de vida: ele deve ser dado na alegria. “Estai
sempre alegres!” (1Ts 5,16). O cristão é chamado à alegria não porque tudo
esteja bem em sua vida e na vida da humanidade, mas porque ele espera pelo seu
Senhor perseverando na oração, mantendo-se aberto à ação do Espírito Santo,
filtrando tudo aquilo que o mundo lhe oferece e ficando apenas com aquilo que é
bom; acima de tudo, confiando-se às mãos de Deus, que o sustentará na fé, na
esperança e no amor até a vinda de Cristo, como nos garante o apóstolo Paulo.
ORAÇÃO:
Deus Pai, concede-me a graça do conhecimento interno de teu Filho Jesus. Que a
minha existência se torne uma palavra viva do Evangelho para as outras pessoas.
Peço que a graça do Espírito Santo reavive a minha fé, de modo que, com a minha
maneira de viver, eu também possa conduzir muitas outras pessoas à fé.
Enquanto
me preparo para a celebração do Natal, que o Teu Filho possa renascer em mim a
cada dia, curando as feridas da minha alma e libertando-me das prisões dos meus
próprios pecados. Concede-me a graça de estar sempre alegre, fortalecido(a) na
esperança e confiante de que o Senhor guardará meu corpo, minha alma e meu
espírito santificados para o encontro definitivo com teu Filho Jesus. Amém!
Pe. Paulo
Cezar Mazzi
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