Missa do Batismo do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 42,1-4.6-7; Atos dos Apóstolos 10,34-38; Marcos 1,7-11.
Toda pessoa que nasce, nasce para
algo, para realizar uma missão, para abraçar uma tarefa em favor do bem da humanidade.
Sabendo disso, Jesus, por volta dos 30 anos, sai de sua casa, de sua família,
de Nazaré, e dirige-se ao deserto, onde vivia João Batista. Jesus deseja ser
batizado, deseja mergulhar sua vida em Deus e ouvir de Deus qual é o propósito
da sua existência.
Para
ser batizado, Jesus se dirige para o deserto, onde João Batista vivia. O
deserto não é apenas um lugar geográfico, mas “teológico”, isto é, um lugar que
nos “fala” de Deus, porque é um lugar marcado pelo silêncio, lugar onde nos
afastamos de tudo aquilo que é supérfluo, lugar onde nos é possível ouvir a voz
de Deus e compreender qual é o sentido da nossa existência.
De
maneira muito simples e direta, o evangelista Marcos narra o batismo de Jesus: “Jesus
veio de Nazaré da Galileia, e foi batizado por João no rio Jordão. E logo, ao
sair da água, viu o céu se abrindo, e o Espírito, como pomba, descer sobre ele”
(Mc 1,9-10). Embora a água fosse o elemento essencial do batismo, Marcos chama
a nossa atenção para o que acontece no momento em que Jesus sai da água: o céu
se abre! Por muito tempo, o povo de Israel (também a humanidade) experimentou
em sua vida de fé o céu fechado, como se Deus não falasse mais ao ser humano.
Na verdade, o céu estava fechado porque a humanidade havia fechado seu coração
para Deus, não ouvindo mais os seus apelos.
No momento
do batismo de Jesus, o céu se abre, e se abre não somente sobre Jesus, mas sobre
cada ser humano. Em seu Filho Jesus Cristo, o Pai tem algo a dizer à
humanidade. Jesus é o próprio céu aberto, porque veio nos falar e nos revelar o
Pai. É graças a ele que todos nós “podemos nos aproximar de Deus com toda a
confiança” (Ef 3,12). Mais do que tudo, o céu se abriu no momento do batismo de
Jesus para que o Pai derramasse sobre ele o Espírito Santo! Com isso, o
evangelista que nos ensinar que não é a água do batismo que nos dá o Espírito,
mas o Pai. A água é um elemento visível por meio do qual entendemos a absoluta
importância do Espírito Santo em nossa vida. Na água está a vida. Sem água, não
existe vida; sem água, tudo o que está vivo morre. Como a água dá vida a todas
as coisas, assim o Espírito Santo nos vivifica a partir de dentro. E esse
Espírito vem do céu, vem do Pai, e é dado a todos os seus filhos e filhas.
Inúmeras
pessoas foram batizadas e receberam o Espírito Santo, mas são poucas aquelas
que decidiram, após o batismo, conduzir sua vida obedecendo à voz do Espírito Santo
em sua consciência: “Todos os que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são
filhos de Deus” (Rm 8,14). O batismo não é um rito mágico, mas um momento de decisão:
viver verdadeiramente como filho de Deus, obedecendo à sua voz, fazendo a sua
vontade e abraçando a missão para a qual ele chamou cada um de nós à existência.
“Coloquei
sobre ele o meu espírito... Ele... não desanimará nem se deixará abater, enquanto
não estabelecer a justiça na terra... Eu, o Senhor, te chamei para a justiça e
te tomei pela mão... para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão,
livrar do cárcere os que vivem nas trevas” (Is 42,1.4.6.7). Essas palavras nos
tornam conscientes de que o Espírito Santo que recebemos no batismo nos é dado
em função da missão que somos chamados a abraçar. A água do nosso batismo não pode
se transformar numa água parada, estancada, morta, mas pede para fluir, para escorrer,
para levar vida às pessoas com as quais convivemos em nosso dia a dia.
O cristão
batizado é chamado a se tornar uma fonte de água viva para as pessoas que têm
sede de Deus, sede de justiça, de misericórdia, de amor, sede de fé, de
esperança e de sentido. Se “batismo” significa “mergulho”, somos chamados a
viver mergulhados em Deus, para podermos mergulhar outras pessoas n’Ele.
Quantas pessoas hoje estão mergulhadas no desespero? Quantos estão mergulhados
no vício, num comportamento autodestrutivo? Quantos estão mergulhados no vazio
e na falta de sentido? Nosso batismo nos pede para sermos para essas pessoas um
“céu aberto”, debaixo do qual possam voltar a ouvir Deus falando aos seus
corações e convidando-as a mergulhar n’Ele, verdadeira e única fonte de água
vida (cf. Jr 2,13).
Por
fim, a cena do batismo de Jesus se encerra com uma declaração do Pai para o
Filho: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho meu bem-querer” (Mc 1,11). Há
poucos dias atrás, o apóstolo Paulo nos lembrava de que não somos escravos, mas
filhos, porque recebemos o Espírito de Jesus que clama em nós: “Abbá. Papai!”
(Gl 4,6). Esse clamor é, na verdade, uma declaração de fé: não somos órfãos,
nem escravos, mas filhos. O Espírito Santo atesta, comprova, que somos filhos
de Deus (cf. Rm 8,16). Jesus quer nos dar a mesma confiança que ele tinha no
Pai. Nossa vida não está nas mãos do acaso, mas do Pai que nos ama e cuida de
nós, no Pai que declara que cada um de nós é Seu filho amado.
Se é
assim, porque muitas pessoas, apesar de batizadas, não se sentem nem filhas de
Deus, nem amadas por Ele? Porque o batismo nos convida a cultivar um relacionamento
de filhos com o Pai. Depois do batismo, o céu nunca mais se fechou sobre Jesus,
mas se manteve aberto, porque ele procurou manter seu diálogo com o Pai
diariamente, por meio da oração. Jesus quer nos introduzir nessa experiência de
intimidade com o Pai. Ele quer nos fazer sentir não somente filhos, mas filhos
amados. O Pai ama cada um de nós como ama Jesus, como um filho único. A consciência
do nosso batismo deve provocar em nós proximidade e intimidade com o Pai, mergulhados
em seu amor, vivendo da força do seu Espírito e sustentados por suas mãos na
realização da missão que Ele confia a cada um de nós.
Oração:
Amado Pai, mergulha-me no teu amor! Abre novamente os céus e fala ao meu
coração, fortalecendo em mim a consciência de ser também teu filho amado, tua
filha amada. Derrama sobre mim a água viva do teu Espírito, lavando-me,
purificando-me, reavivando-me a partir de dentro. Que eu possa mergulhar todos
os dias em ti, por meio da oração, bebendo da fonte da tua graça. Que a água do
meu batismo flua em mim e escorra por meio de mim, levando amor, fé, esperança
e alegria àqueles que convivem comigo. À semelhança de teu Filho Jesus, quero deixar-me
conduzir pelo teu Espírito e andar por toda a parte fazendo o bem, sendo luz
para quem está na escuridão, libertação para quem está preso e orientação para quem
está perdido. Assim seja!
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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