Missa do 2. dom. comum. Palavra de Deus: 1Samuel 3,3b-10.19; 1Coríntios 6,13c-15a.17-20; João 1,35-42.
As
leituras que ouvimos hoje, sobretudo a do livro de Samuel e do Evangelho, nos
revelam que nossa existência é um chamado. Nós existimos porque Deus nos chamou
à vida. Desde o ventre materno, pronunciou o nosso nome (cf. Is 49,1; Gl 1,15).
Como o Papa Francisco gosta de dizer, “o importante é que cada um” descubra seu
próprio chamado e “traga à luz o melhor de si mesmo” (GE n.11): “Deus permita
que você consiga identificar a palavra, a mensagem de Jesus que Deus quer dizer
ao mundo com a sua vida” (GE n.24).
Esse
é o ponto! A vida de cada um de nós é única. Ela contém uma palavra única de
Deus a ser comunicada ao mundo, uma palavra que traduz em nossa existência a
presença de Jesus junto às pessoas que convivem conosco e que necessitam da Sua
palavra como luz, orientação e salvação. Portanto, nossa existência é uma “pro-vocação”:
em Seu Filho Jesus, o Pai nos “pro-voca”, nos chama a responder à vida, à
tarefa que Ele quis nos confiar ao nos chamar à existência. Se os animais vivem
a partir dos seus próprios instintos, nós, pessoas humanas, somos provocados a viver
a partir da nossa vocação, do chamado que recebemos de Deus; se os animais simplesmente
“reagem” ao que lhes acontece, nós podemos “responder” aos acontecimentos, procurando
nos responsabilizar pela nossa existência, vivendo nossa vida com sentido, e
não apenas sobrevivendo.
Discernir
o chamado de Deus é um processo lento, e às vezes até mesmo doloroso. Ninguém
de nós nasce com uma bola de cristal que esclarece todas as nossas dúvidas. É
ouvindo a vida, ouvindo os acontecimentos e, sobretudo, ouvindo a nossa própria
alma que vamos nos damos conta da “pro-vocação” que está nos sendo feita. Assim
foi com Samuel. Deus poderia ter chamado os filhos do sacerdote Eli para serem
seus profetas, mas eles eram pessoas corrompidas, assim como o pai (cf. 1Sm 2).
Da mesma forma, acontece hoje: numa época em que também nossa Igreja tem sua credibilidade
abalada por escândalos e por uma apática e medíocre atuação pastoral (com
algumas exceções), Deus continua a chamar pessoas para “fazerem a diferença”.
Assim
como fez Samuel, nós também precisamos ter a coragem de nos perguntar pelo
nosso lugar na Igreja e na sociedade, respondendo ao Deus que continuamente nos
chama: “Fala, que teu servo escuta” (1Sm 3,10). Precisamos não fugir das “provocações”
de Deus e ter a coragem de responder ao que a vida está nos pedindo neste
momento. É importante ouvir as inquietações do nosso coração e entender que,
somente quando abraçarmos a nossa vocação e formos fiéis à missão que a vida quer
nos confiar, é que encontraremos paz e nos sentiremos pessoas realizadas. Diariamente,
Deus continuará a “abrir os nossos ouvidos”, falando conosco por meio dos
acontecimentos, esperando de nós a mesma disponibilidade de coração que
encontrou no salmista: “Eis que venho... Com prazer faço a vossa vontade” (Sl
40,8-9).
Algo
nos ajuda a discernir, a perceber as provocações que Deus está nos fazendo
neste momento, em vista da missão que somos chamados a abraçar. É a pergunta
que Jesus faz a dois discípulos de João, que o deixam e passam a seguir Jesus: “Voltando-se
para eles e vendo que o estavam seguindo, Jesus perguntou: ‘O que vocês estão procurando?’”
(Jo 1,38). Nós não gostamos de perguntas, mas de respostas. Nós procuramos por
respostas. Mas, às vezes, a melhor resposta que a vida nos dá é nos questionar,
é nos fazer perguntas novas e profundas que nos obriguem a parar de fugir de
nós mesmos, a ouvir as inquietações do nosso coração e a responder Àquele que
está nos provocando.
Nós fazemos
uma porção de coisas, e a maior parte do tempo, as fazemos no “piloto automático”,
de maneira mecânica, quase que instintiva, sem nos perguntar para onde aquilo
que está nos levando e se aquilo está respondendo à nossa pergunta de fundo,
que é a pergunta pelo sentido da nossa vida. Vivendo assim, muitas pessoas
deixaram de ver sentido nos compromissos que haviam abraçado e “pularam fora do
barco”. As redes sociais estão cheias de pessoas perdidas, que não são capazes
de responder nem para si mesmas o que estão procurando. Para preencherem o
vazio que sentem, muitas delas correm diariamente atrás do vazio e se tornam
ainda mais vazias. Muitas pessoas têm como tarefa principal encheram a própria
vida de bagulho e de barulho, simplesmente para não ouvirem a pergunta que
grita dentro delas: “O que você está procurando?”.
Nós,
seres humanos, não procuramos por alguma coisa, mas por Alguém: “É vossa face
que eu procuro, Senhor. Não me escondas a tua face” (Sl 27,8-9). Nós procuramos
por Aquele que nos procura. Jesus procura o ser humano para salvá-lo da
desorientação e da morte, para salvá-lo de si mesmo. Aquele que nos pergunta
hoje: “O que vocês estão procurando?” é o mesmo que afirmou que “veio procurar
e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10). Resta-nos deixarmos nos encontrar
por Ele. Resta-nos segui-Lo, buscar saber onde Ele mora – Ele quer habitar
dentro de cada um de nós! Resta-nos nos tornar íntimos d’Ele e permitir que que
Ele se torne íntimo de nós.
“Encontramos
o Messias” (Jo 1,41). Jesus é a resposta à nossa busca mais profunda de vida e
de salvação. “Encontrei um homem que me disse tudo o que eu fiz! Encontrei um
homem que me ajudou a compreender a sede que eu trazia dentro de mim. Encontrei
Aquele que é a fonte de água viva para saciar a minha sede de sentido!”
(citação livre de Jo 4,29). Que ao longo deste ano nos deixemos encontrar por
Jesus e pela verdade do seu Evangelho. Que possamos ouvir as inquietações mais
profundas do nosso coração e aprendamos a suportar a inquietante pergunta – “o
que eu estou procurando?”. Que não tenhamos medo de responder a essa pergunta
fundamental para a nossa vida, tanto no plano humano quanto no espiritual e
vocacional.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
Caríssimo a sua homilia deste domingo nos fala ao pé do ouvido, provocante e intigadora. Um alento espiritual. Deus te abençoe e ilumine em sua missão evangelizadora
ResponderExcluirAmém, querido irmão! Deus o abençoe junto à sua família! Forte abraço!
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