quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

CONVERSÃO: PERMITIR QUE A VIDA NOS MUDE NAQUILO QUE PRECISAMOS MUDAR

 Missa do 3. dom. comum. Palavra de Deus: Jonas 3,1-5.10; 1Coríntios 7,29-31; Marcos 1,14-20.

 

                Jonas prega à cidade de Nínive sua necessidade de conversão, se não quiser ser destruída. Paulo nos convida a uma conversão, a uma mudança na maneira de entender a vida, “pois a figura deste mundo passa” (1Cor 7,31). Jesus inicia seu ministério convidando-nos a nos converter e a crer no Evangelho. Portanto, o apelo central da Palavra de Deus para nós neste dia é a conversão.

            No sentido geral, conversão significa mudança. Ela se mostra necessária quando nos damos conta de que tomamos uma direção errada na vida. No sentido bíblico, conversão não é apenas mudança de direção, mas um “voltar-se”: Deus nos convida a nos voltar para Ele, para a sua verdade, para o seu Reino, para a sua salvação. Sempre que o ser humano se afasta de Deus e decide por ele mesmo o que é o bem e o que é o mal, começa a percorrer um caminho de autodestruição. Porque não quer que seus filhos se destruam com as próprias mãos, Deus sempre enviou à humanidade profetas como Jonas, para apelar à consciência das pessoas e questioná-las a respeito da direção de morte que estão dando à própria vida.

Como Jonas, nossa missão é ser, no seio das nossas cidades mergulhadas numa constante cultura de morte, um sinal de vida. A presença profética de Jonas nos convida à fé e à confiança: era preciso que ele gastasse três dias, para percorrer toda cidade de Nínive e atingir os seus habitantes, mas bastou apenas um dia de pregação, e as pessoas convenceram uma às outras da necessidade da mudança de atitudes. Aqui fica claro que a conversão não é provocada por nós, mas pela graça de Deus no coração do ser humano. É Ele quem convence a pessoa da necessidade de mudança. A nós cabe ser fiéis à missão que Deus nos confia, cumprindo-a na alegria e na fé de que o bom senso pode triunfar sobre a insensatez do ser humano.

São Paulo nos fala da necessidade de mudarmos nossa maneira de entender a vida, reavaliando aquilo que consideramos importante. As inúmeras mortes causadas por acidentes e por doenças como AVC, infarto, covid 19 e câncer, deveriam nos tornar conscientes de algo que insistimos em não aceitar como fato real: “o tempo está abreviado” (1Cor 7,29). Nós, seres humanos, gostamos de nos iludir e de nos manter alheios à realidade de que a nossa vida neste mundo é extremamente breve. Gastamos a maior parte do nosso tempo e das nossas energias com coisas supérfluas, vazias e sem sentido, e nos esquecemos de que o sentido da nossa vida não está na sua duração, mas na intensidade com que vivemos o nosso breve tempo neste mundo, cumprindo a missão para a qual nascemos.

As palavras do apóstolo Paulo nos dão um choque de realidade, ao nos lembrar que nenhuma situação será definitiva enquanto estivermos neste mundo. Nossas posses são temporárias – e podemos perdê-las de uma hora para outra; a presença das pessoas que nós amamos é temporária em nossa vida; nenhum estado emocional e nenhuma situação existencial, como alegria e tristeza, vitória e derrota, sucesso e fracasso, são definitivos em nós. E por que? Biblicamente, “porque não temos aqui cidade permanente, mas estamos em busca da cidade futura” (Hb 13,14), que é o Reino de Deus; existencialmente, porque a vida é dinâmica e nos provoca a nos mantermos aberto àquilo que ela quer nos ensinar, em vista do nosso crescimento, do nosso amadurecimento e da nossa humanização.  

Enfim, queremos nos abrir às primeiras palavras de Jesus no Evangelho segundo São Marcos. Elas ecoam no exato no momento em que a voz de João Batista é silenciada. A voz de João foi silenciada, mas o Verbo de Deus (Palavra viva, Palavra feita pessoa humana) não foi silenciado. Sua verdade precisa chegar ao coração de cada ser humano. E sua verdade é: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo” (Mc 1,15). Em meio ao nosso tempo humano, tempo que passa rapidamente e que escapa das nossas mãos (cronos), existe um outro tempo, um tempo que se completa: é o tempo de Deus, tempo em que sua graça age como força de salvação (kairós). Na pessoa de Jesus, o Pai visita os reinos humanos, marcados por violência e injustiças, para oferecer o seu Reino, Reino de justiça e de paz, Reino de vida e de salvação, Reino que acolhe a todos, mas que tem lugar preferencial para aqueles que são ignorados pelos reinos humanos: os pobres, os doentes, os deficientes, as mulheres, os idosos, os fracos, os que não correspondem aos padrões de exigência do Mercado que controla os reinos humanos.   

O “Reino de Deus” foi a paixão de Jesus. Ele falará dele por meio de inúmeras parábolas, e toda cura de enfermos e expulsão de demônios que Jesus realizar serão a prova viva de que “o Reino de Deus já chegou”. O Reino não é uma consolação para a outra vida (eterna), mas a manifestação de Deus nesta vida: em seu Filho Jesus, Ele veio curar o ser humano doente, libertá-lo da sua prisão, redimi-lo da sua culpa, retirá-lo da sua morte.

Para acolher o Reino de Deus na pessoa de Jesus Cristo, é preciso conversão. “Não é possível entrar no reino acolhendo como senhor a Deus, defensor dos pobres, e continuar ao mesmo tempo acumulando riquezas precisamente às custas deles” (Pagola, Jesus, aproximação histórica, p.135). Em Jesus Cristo, o Pai veio oferecer a todos o seu perdão, perdão que nos convida a criar um comportamento social mais fraterno e solidário. É preciso acabar com o ódio entre as pessoas e adotar uma postura mais cristã em relação aos adversários, pois Deus não pode reinar numa sociedade onde as pessoas vivem retribuindo o mal com o mal.

Hoje, ao rezarmos o Pai nosso e ao pedir: “Venha a nós o vosso Reino”, peçamos: “Pai, vem reinar. A injustiça e o sofrimento continuam presentes em toda parte. Ninguém conseguirá extirpá-los definitivamente da face da terra. Revela tua força salvadora de maneira plena. Só tu podes mudas as coisas de uma vez por todas, manifestando-te como Pai de todos e transformando a vida para sempre” (Pagola, Jesus, aproximação histórica, p.139).

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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