sábado, 11 de abril de 2020

VIVER COMO PESSOA RESSUSCITADA!


Missa de Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 10,34a.37-43; Colossenses 3,1-4; João 20,1-9.

Na manhã do domingo de Páscoa, os discípulos de Jesus estavam desencantados. Todos tinham abandonado Jesus no momento da sua Cruz; sentiam-se com medo dos judeus e culpados por terem deixado Jesus sozinho. Além disso, nenhum deles esperava pela Ressurreição. Maria Madalena, livre do sentimento de culpa e com mais coragem que os outros discípulos, foi ao túmulo de Jesus. Mas, quando encontrou o túmulo aberto, também não pensou na Ressurreição; pensou, sim, que o corpo de Jesus havia sido roubado. Assim como os discípulos, nós demoramos a crer. Mesmo que a vida nos dê sinais de Ressurreição, nossos sentidos ainda estão presos na imagem daquilo que morre a cada dia em nós e no mundo.
A pandemia do coronavírus ressuscitou em nós a consciência da morte. As doenças, os acidentes, as guerras e a violência em nosso mundo nos lembram que a morte pode nos atingir de várias maneiras, a partir de fora. Mas o problema principal é quando nós nos deixamos morrer a partir de dentro! Algumas pessoas, depois de serem atingidas por algum tipo de morte, reagiram e decidiram ressuscitar, enquanto outras se entregaram e se deixaram morrer. Nós conhecemos países ou cidades que, depois de serem destruídos por uma catástrofe, conseguiram se levantar e se reconstruir, assim como conhecemos pessoas que, depois de um acidente, depois de uma doença, de uma grande perda, aos poucos foram reagindo, retomando o desejo de viver e hoje estão “ressuscitadas” no meio de nós. Mas também conhecemos pessoas que, por muito ou por pouco, entregaram-se ao desânimo, ao fatalismo, e estão como que mortas no meio de nós.
Como nos sentimos nesta manhã de domingo de Páscoa? Ainda estava escuro, quando Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus e viu que a pedra tinha sido retirada. Ainda está escuro para nós também. Ainda temos que viver em quarentena. Ainda precisamos praticar o isolamento social. Ainda não foi descoberta uma vacina para o novo coronavírus. Ainda nos sentimos ameaçados por ele. Ainda está escuro, mas o Evangelho deste domingo de Páscoa nos lembra que não existe noite escura que possa impedir o sol de nascer. Assim, quando os primeiros raios de sol começam a iluminar o dia, Maria Madalena vê que a pedra que lacrava o túmulo de Jesus havia sido retirada.
Algo surpreendente aconteceu! Antes de Jesus morrer, a morte colocava uma pedra em cima de tudo, um ponto final em nossa existência terrena. Mas a pedra foi removida, o ponto final foi retirado. O túmulo de Jesus não está apenas aberto, mas vazio! Este túmulo vazio é o primeiro sinal da Ressurreição de Jesus. O outro sinal, o mais importante, nos será mostrado nos próximos domingos do Tempo Pascal, quando o próprio Jesus se mostrar Ressuscitado “não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido, isto é, a nós, que comemos e bebemos com ele, após a ressurreição dos mortos” (At 10,40). Portanto, não é o túmulo vazio que fundamenta a nossa fé na Ressurreição, mas é a presença de Jesus Ressuscitado que explica porque o túmulo está vazio! E o Senhor Ressuscitado proclama: “Estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e da região dos mortos” (Ap 1,18). Se Jesus tem consigo as chaves da região dos mortos é porque ele tem poder de fazer sair da morte aqueles que nela entraram, seja os que morreram de fato, seja os que se deixaram morrer em tantos sentidos.
A pandemia do novo coronavírus ainda ferirá de morte inúmeras pessoas, lembrando-nos de que a morte nos iguala a todos, independente da raça, do nível social, da crença; a única coisa que nos diferencia é a nossa fé na Ressurreição. Quem crê na Ressurreição não apenas enxerga a morte de uma outra forma, como também vive sua vida de uma outra forma. A Ressurreição de Cristo não anula a nossa morte, mas nos desafia a enxergar a vida além dela! Crer na Ressurreição não significa crer que não vamos morrer, ou que vamos ser poupados de sofrimento, mas significa crer que vamos vencer a morte e o sofrimento. O nosso sofrer e a nossa morte não são a negação da Ressurreição, mas o lugar existencial onde experimentaremos a sua força (cf. 2Cor 5,2-4)!
Justamente neste domingo da Ressurreição de Jesus, São Paulo nos convida a viver como pessoas ressuscitadas, buscando “as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus” (Cl 3,1). Diante de cada escolha, de cada decisão, devemos nos perguntar: a minha escolha, a minha decisão, vai me levar para o alto, para Deus, ou para baixo, me enterrando na morte? Viver como ressuscitados significa aceitar o fato de que nossa verdadeira vida “está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3). “Vida escondida” significa que, aos olhos do mundo, nós, que cremos na Ressurreição, continuamos a ser simples mortais. Mas a nossa fé nos diz que quando Cristo, nossa vida, aparecer em seu triunfo, seremos revestidos de glória, seremos com Ele ressuscitados (cf. Cl 3,4)! Como diz a antiga canção: “E quando amanhecer o dia eterno, a plena visão, ressurgiremos por crer nesta vida escondida no Pão!”
Da mesma forma como Cristo Ressuscitado mandou os discípulos testemunharem sua Ressurreição ao mundo, Ele nos confia hoje a mesma missão. Diariamente encontramos pessoas que desistiram de buscar as coisas do alto e passaram a viver arrastadas pelas coisas da terra, pessoas que desistiram de crer na força da Páscoa, desistiram de se esforçar em fazer a passagem da morte para a vida porque esta passagem se apresenta, à primeira vista, humanamente impossível. Mas a Ressurreição de Cristo nos ensina que a Páscoa não é obra nossa, e sim obra de Deus em nós! É Ele quem nos faz passar! A fé na Ressurreição nunca é a fé naquilo que nós podemos fazer, mas sempre é a fé naquilo que Deus pode fazer em nós!

Abençoada e Santa Páscoa para você e os seus!

Pe. Paulo Cezar Mazzi

           



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