Missa
de Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 10,34a.37-43; Colossenses 3,1-4;
João 20,1-9.
Na
manhã do domingo de Páscoa, os discípulos de Jesus estavam desencantados. Todos
tinham abandonado Jesus no momento da sua Cruz; sentiam-se com medo dos judeus
e culpados por terem deixado Jesus sozinho. Além disso, nenhum deles esperava
pela Ressurreição. Maria Madalena, livre do sentimento de culpa e com mais
coragem que os outros discípulos, foi ao túmulo de Jesus. Mas, quando encontrou
o túmulo aberto, também não pensou na Ressurreição; pensou, sim, que o corpo de
Jesus havia sido roubado. Assim como os discípulos, nós demoramos a crer. Mesmo
que a vida nos dê sinais de Ressurreição, nossos sentidos ainda estão presos na
imagem daquilo que morre a cada dia em nós e no mundo.
A
pandemia do coronavírus ressuscitou em nós a consciência da morte. As doenças,
os acidentes, as guerras e a violência em nosso mundo nos lembram que a morte pode
nos atingir de várias maneiras, a partir de fora. Mas o problema principal é
quando nós nos deixamos morrer a partir de dentro! Algumas pessoas, depois de
serem atingidas por algum tipo de morte, reagiram e decidiram ressuscitar,
enquanto outras se entregaram e se deixaram morrer. Nós conhecemos países ou
cidades que, depois de serem destruídos por uma catástrofe, conseguiram se
levantar e se reconstruir, assim como conhecemos pessoas que, depois de um
acidente, depois de uma doença, de uma grande perda, aos poucos foram reagindo,
retomando o desejo de viver e hoje estão “ressuscitadas” no meio de nós. Mas
também conhecemos pessoas que, por muito ou por pouco, entregaram-se ao
desânimo, ao fatalismo, e estão como que mortas no meio de nós.
Como
nos sentimos nesta manhã de domingo de Páscoa? Ainda estava escuro, quando
Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus e viu que a pedra tinha sido retirada.
Ainda está escuro para nós também. Ainda temos que viver em quarentena. Ainda
precisamos praticar o isolamento social. Ainda não foi descoberta uma vacina
para o novo coronavírus. Ainda nos sentimos ameaçados por ele. Ainda está
escuro, mas o Evangelho deste domingo de Páscoa nos lembra que não existe noite
escura que possa impedir o sol de nascer. Assim, quando os primeiros raios de
sol começam a iluminar o dia, Maria Madalena vê que a pedra que lacrava o
túmulo de Jesus havia sido retirada.
Algo
surpreendente aconteceu! Antes de Jesus morrer, a morte colocava uma pedra em
cima de tudo, um ponto final em nossa existência terrena. Mas a pedra foi
removida, o ponto final foi retirado. O túmulo de Jesus não está apenas aberto,
mas vazio! Este túmulo vazio é o primeiro sinal da Ressurreição de Jesus. O
outro sinal, o mais importante, nos será mostrado nos próximos domingos do
Tempo Pascal, quando o próprio Jesus se mostrar Ressuscitado “não a todo o
povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido, isto é, a nós, que comemos e
bebemos com ele, após a ressurreição dos mortos” (At 10,40). Portanto, não é o
túmulo vazio que fundamenta a nossa fé na Ressurreição, mas é a presença de
Jesus Ressuscitado que explica porque o túmulo está vazio! E o Senhor
Ressuscitado proclama: “Estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos
séculos, e tenho as chaves da morte e da região dos mortos” (Ap 1,18). Se Jesus
tem consigo as chaves da região dos mortos é porque ele tem poder de fazer sair
da morte aqueles que nela entraram, seja os que morreram de fato, seja os que
se deixaram morrer em tantos sentidos.
A
pandemia do novo coronavírus ainda ferirá de morte inúmeras pessoas, lembrando-nos
de que a morte nos iguala a todos, independente da raça, do nível social, da
crença; a única coisa que nos diferencia é a nossa fé na Ressurreição. Quem crê
na Ressurreição não apenas enxerga a morte de uma outra forma, como também vive
sua vida de uma outra forma. A Ressurreição de Cristo não anula a nossa morte,
mas nos desafia a enxergar a vida além dela! Crer na Ressurreição não significa
crer que não vamos morrer, ou que vamos ser poupados de sofrimento, mas
significa crer que vamos vencer a morte e o sofrimento. O nosso sofrer e a
nossa morte não são a negação da Ressurreição, mas o lugar existencial onde experimentaremos
a sua força (cf. 2Cor 5,2-4)!
Justamente
neste domingo da Ressurreição de Jesus, São Paulo nos convida a viver como
pessoas ressuscitadas, buscando “as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita
de Deus” (Cl 3,1). Diante de cada escolha, de cada decisão, devemos nos perguntar:
a minha escolha, a minha decisão, vai me levar para o alto, para Deus, ou para
baixo, me enterrando na morte? Viver como ressuscitados significa aceitar o
fato de que nossa verdadeira vida “está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3).
“Vida escondida” significa que, aos olhos do mundo, nós, que cremos na Ressurreição,
continuamos a ser simples mortais. Mas a nossa fé nos diz que quando Cristo,
nossa vida, aparecer em seu triunfo, seremos revestidos de glória, seremos com
Ele ressuscitados (cf. Cl 3,4)! Como diz a antiga canção: “E quando amanhecer o
dia eterno, a plena visão, ressurgiremos por crer nesta vida escondida no Pão!”
Da
mesma forma como Cristo Ressuscitado mandou os discípulos testemunharem sua
Ressurreição ao mundo, Ele nos confia hoje a mesma missão. Diariamente
encontramos pessoas que desistiram de buscar as coisas do alto e passaram a
viver arrastadas pelas coisas da terra, pessoas que desistiram de crer na força
da Páscoa, desistiram de se esforçar em fazer a passagem da morte para a vida
porque esta passagem se apresenta, à primeira vista, humanamente impossível.
Mas a Ressurreição de Cristo nos ensina que a Páscoa não é obra nossa, e sim
obra de Deus em nós! É Ele quem nos faz passar! A fé na Ressurreição nunca é a
fé naquilo que nós podemos fazer, mas sempre é a fé naquilo que Deus pode fazer em
nós!
Abençoada
e Santa Páscoa para você e os seus!
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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