quinta-feira, 16 de abril de 2020

ASSIM COMO A FÉ, A RESSURREIÇÃO É FORÇA INTERIOR!


Missa do 2º dom de Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 2,42-47; 1Pedro 1,3-9; João 20,19-31.

            Na noite do domingo de Páscoa, “estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e pondo-se no meio deles, disse: ‘A paz esteja convosco’” (Jo 20,19). Portas fechadas por causa do medo... A pandemia do novo coronavírus nos empurrou para dentro de casa e nos trancou no medo de sermos contaminados e morrermos. O sentimento do medo é hoje certamente o mais comum em nós. Existe também o medo quanto à nossa sobrevivência, uma vez que as previsões econômicas mundiais são sombrias, pessimistas, até mesmo ameaçadoras.
            A boa notícia da Páscoa é que o Senhor Ressuscitado entra e se coloca junto de nós! Ele atravessa nossas portas fechadas e dissipa o medo que nos angustia e nos paralisa, dizendo: “A paz esteja convosco” (Jo 20,19). “Depois destas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor” (Jo 20,20). A paz com a qual Jesus quer encher nosso coração é a paz que traz as marcas da cruz, do sofrimento, de quem lutou com a morte e venceu! Ao mostrar as suas chagas, Jesus quer nos encorajar a não ter medo de lutar em favor da vida, da justiça e da esperança. A paz que o Ressuscitado nos transmite é sinônimo da coragem que afasta o medo, da alegria que supera a tristeza e da esperança que dissipa o desespero.
            Nada mudou da porta para fora. O mundo continua o mesmo. Os problemas e os desafios continuam a existir, mas há uma mudança dentro dos discípulos – a mesma mudança que Jesus quer provocar dentro de cada um de nós! “Como o Pai me enviou, também eu vos envio... Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,21-22). O nosso lugar como discípulos do Senhor Ressuscitado é em meio a um mundo que precisa conhecer a verdade da ressurreição. Jesus não nos quer fechados em nossos próprios problemas, mas abertos à vida, abertos àquilo que a vida está nos pedindo neste momento, e a vida sempre nos pede para cuidar: cuidar dos pequenos, dos fracos, dos injustiçados, dos menos favorecidos; cuidar dos feridos, dos desemparados, dos esquecidos; numa palavra, cuidar daqueles que são as chagas vivas de Jesus em nosso tempo. E podemos abraçar com alegria a missão de cuidar, sabendo que somos cuidados pelo Espírito Santo, que é a própria força do Senhor Ressuscitado em nós!
            Oito dias depois, exatamente num domingo como hoje, Jesus quis voltar a se manifestar aos seus discípulos. Havia alguém que ainda estava fechado em sua falta de fé, alguém para quem não bastou o testemunho daqueles que viram o Senhor Ressuscitado. Tomé estava fechado em seu capricho pessoal: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei” (Jo 20,25). Temos muito de Tomé em nós! Quem de nós não deseja um encontro pessoal com Jesus? Quem de nós não sente falta de uma experiência intensa de fé? Para muitos de nós não basta o testemunho dos apóstolos, não basta a voz da Igreja, não basta a palavra da Escritura, não basta nem mesmo a Eucaristia porque, apesar de tudo isso, não sentimos Jesus vivo em nós...
            Não é errado desejar ter um encontro íntimo com o Senhor, mas é muito perigoso quando nos fechamos nos nossos caprichos de fé e exigimos sinais ou revelações particulares para só então crermos. Eis porque Jesus disse a Tomé: “Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!” (Jo 20,29). Nós imaginamos que os apóstolos que viram o Senhor Ressuscitado eram mais felizes que nós! Mas isso é puro engano. Jesus garantiu que felicidade maior têm aqueles que, não o vendo, creem nele, creem na verdade da sua ressurreição, creem na pregação dos apóstolos, transmitida pela Igreja ao longo dos séculos, creem nas palavras da Escritura que testemunham a sua ressurreição e prometem a nossa futura ressurreição! Felizes os que, diante do Evangelho que a Igreja proclama a cada dia, entendem que tudo o que está escrito nele o foi “para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome” (Jo 20,31).
            O que se pede de nós, cristãos do século XXI, é que resgatemos a atitude da perseverança, à semelhança dos primeiros cristãos: eles “eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações” (At 2,42). O que se pede de nós é que vivamos na alegria do Ressuscitado “embora seja necessário que agora fiqueis por algum tempo aflitos, por causa de várias provações. Deste modo, a vossa fé será provada como sendo verdadeira...” (1Pd 1,7).
            São Pedro nos deixa conscientes de que a nossa fé no Cristo Ressuscitado sempre será uma fé provada, combatida, questionada por um mundo que só crê naquilo que vê, que pode comprovar. Mas nós continuamos a manter no coração as palavras de Jesus: ‘Felizes os que creem em mim mesmo não me vendo! Felizes os que não reduzem sua fé ao que veem, comprovam ou experimentam em sua emoção! Felizes os que me reconhecem as minhas chagas (feridas) em todos aqueles que estão chagados (feridos) à sua volta!’. Se a nossa fé se tornar assim, madura, profunda, perseverante, “isso será para vós fonte de alegria indizível e gloriosa, pois obtereis aquilo em que acreditais: a vossa salvação” (1Pd 1,9).

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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