quinta-feira, 25 de abril de 2019

NÃO SEJA UMA PESSOA INCRÉDULA, MAS TENHA FÉ!


Missa do 2º. dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 5,12-16; Apocalipse 1,9-11a.12-13.17-19; João 20,19-31.

A manhã do domingo de Páscoa nos colocou diante do túmulo vazio de Jesus, o primeiro sinal da sua ressurreição. Já o Evangelho de hoje, nos fala de duas aparições de Jesus ressuscitado aos discípulos: uma, na noite do domingo de Páscoa; outra, oito dias depois, novamente no domingo, “no dia do Senhor” (Ap 1,10). Por duas vezes, o Evangelho menciona que as portas do lugar onde os discípulos se encontravam estavam fechadas (vv.19.26). O Papa Francisco tem insistido que as portas da Igreja devem estar sempre abertas, seja para acolher aqueles que a procuram, seja para ir atrás daqueles que dela se afastaram ou que dela nunca se achegaram. Quando nos fechamos numa atitude defensiva em relação a um mundo que direta ou indiretamente ataca os valores do Evangelho, corremos o risco de falhar em nossa missão: “Sem experimentar o Senhor Ressuscitado entre nós, vivemos como uma igreja fechada, com medo do mundo... Com as ‘portas fechadas’ não se pode ouvir o que acontece lá fora. Não é possível captar a ação do Espírito no mundo... Uma Igreja sem capacidade de dialogar é uma tragédia, porque a missão de todo discípulo de Jesus é realizar o diálogo de Deus com o ser humano” (Pe. J.A. Pagola).
            Mas o foco principal do Evangelho de hoje é o encontro de Jesus com Tomé, o discípulo que impôs uma condição para crer na ressurreição: “Se eu não vir... não acreditarei” (Jo 20,25). Como anda a sua fé? Você também costuma impor condições para crer em Deus, para crer na sua Palavra? Vivemos numa época em que inúmeros acontecimentos vão contra a nossa fé, porque destroem todas as imagens que temos de Deus – o Deus que se revela na Sagrada Escritura como Amor, Misericórdia, Bondade, Compaixão, Justiça, Providência... Muitas pessoas têm desistido de crer, seja por causa de certos acontecimentos dolorosos, sofridos, absurdos, seja pela maneira como Deus é: misterioso, inacessível, não enquadrado nos nossos esquemas, não cabível nas nossas medidas, um Deus a Quem não podemos de forma alguma ver, no sentido de controlar, mas apenas escutar, no sentido de obedecer. É por isso que a fé se apresenta como algo que nos desafia. A fé, quando autêntica, me coloca no espaço correto da relação com Deus, o espaço da obediência, não do controle.
“Se eu não vir... não acreditarei” (Jo 20,25). Assim como Tomé, às vezes nos colocamos nesta atitude: ‘Se Deus não se revelar a mim como eu espero, não terei mais fé n’Ele. Se Deus não remover todas as pedras do meu caminho, se não curar todas as minhas feridas, se não eliminar todos os meus inimigos e se não responder a todas as minhas perguntas, não acreditarei mais n’Ele’. Esse tipo de atitude torna-se uma sabotagem contra nós mesmos, uma vez que, sem a força da fé “a vida facilmente se torna um arco cuja corda está arrebentada e do qual nenhuma flecha pode ser lançada” (Henri Nouwen, O sofrimento que cura, p.25).
Esta imagem do arco que se tornou incapaz de lançar uma flecha – imagem de uma pessoa que decidiu seguir pela vida sem a força da fé – contrasta com a imagem de Moisés, lembrado como exemplo de fé para nós na carta aos Hebreus: “Foi pela fé que (Moisés) deixou o Egito, sem temer o furor do rei (o exército do Faraó que se pôs a persegui-lo), e resistiu, como se visse o Invisível” (Hb 11,27). A fé é isso: você caminha na vida por aquilo que crê, não por aquilo que vê; você caminha na vida como se visse o Invisível, resistindo às pancadas que leva, às ameaças que sofre, não se deixando vencer por aquilo que tenta te convencer de que você está caminhando na direção do nada.
Jesus hoje diz a cada um de nós o que disse a Tomé: “Não sejas incrédulo, mas tenha fé” (Jo 20,27). Mesmo diante de tantos acontecimentos que parecem enterrar na morte tudo o que você faz em favor da vida, Jesus lhe diz: “Não tenhas medo. Estive morto, mas agora estou vivo para sempre. Eu tenho comigo as chaves da morte e da região dos mortos” (Ap 1,17-18). ‘Mesmo se você trancar a porta da sua vida para a fé, mesmo se decidir morrer para a sua fé, Eu tenho as chaves e posso tirar você de dentro da morte da sua fé. Ainda que você não possa Me ver, lembre-se de que “felizes (são) os que creram sem terem visto” (Jo 20,29). Felizes os que, mesmo enfrentando tribulações por causa da Palavra de Deus e do testemunho de fé em Mim, perseveraram na sua fé (cf. Ap 1,9). Felizes os que, meditando a cada dia no Evangelho, acreditaram em Mim e, crendo, receberam uma nova vida em Meu nome (cf. Jo 20,31)’.
Ao encerrarmos esta reflexão, lembremos que a fé vem da pregação da palavra de Cristo (cf. Rm 10,17), isto é, a fé nasce em nós a partir dos ouvidos e não dos olhos. Neste sentido, o próprio João termina seu Evangelho afirmando que tudo aquilo que ele escreveu “foi escrito para que vocês acreditem que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenham a vida em seu nome” (Jo 20,31). Para a nossa geração, habituada com inúmeras imagens, vale o alerta de Jesus a Tomé: “Acreditaste porque me viste? Felizes os que creram sem terem visto!” (Jo 20,29). O que mantém a minha fé viva não é a imagem que eu vejo, mas a Palavra que eu leio, escuto e medito. Além disso, é a Palavra de Deus, lida ou ouvida e meditada, que me ajuda a interpretar aquilo que eu vejo, percebendo a presença escondida de Deus nos acontecimentos do dia a dia.     
Com a nossa Igreja, coloquemo-nos diante de Jesus Misericordioso e clamemos hoje: ‘Senhor Jesus, entra em minha vida, mesmo quando as portas estiverem fechadas pelo meu medo diante do mundo e pela minha descrença na tua ressurreição. Dá-nos a tua paz, que é a vitória sobre o mundo. Segura minhas mãos com as tuas mãos feridas, para que as minhas tenham a coragem de se envolverem e, se preciso for, se machucarem na luta em favor de um mundo mais justo. Infunde em mim a força do teu Espírito diante dos conflitos, para que eu possa experimentar a força da fé que me faz vencer o mundo e não ser vencido(a) por ele. Como o Senhor passou pelo mundo fazendo o bem, que eu possa viver minha vida trabalhando junto com todas as pessoas que, independente de cor, raça ou religião, trabalham pela ressurreição da humanidade. Amém!’ (cantemos) “Creio em Ti, Ressuscitado, mais que São Tomé, mas aumenta na minh’alma o poder da fé! Guarda a minha esperança, cresce o meu amor. Creio em Ti, Ressuscitado, meu Deus e Senhor!”

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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