Missa da Ceia do Senhor. Palavra de Deus: Êxodo
12,1-8.11-14; 1Coríntios 11,23-26; João 13,1-15.
Os
textos bíblicos que ouvimos nesta noite nos falam de duas páscoas: a dos hebreus
e a de Jesus. Meditando sobre essas duas páscoas, somos convidados a fazer a
nossa própria páscoa. Depois de viver
400 anos escravo no Egito, o povo hebreu foi liberto por Moisés, mas essa libertação
não se deu sem luta. Primeiro, foi preciso lutar para vencer as resistências do
faraó (as dez pragas); depois, foi preciso lutar para vencer as resistências do
próprio povo hebreu (o medo). Quando decidimos fazer a passagem da escravidão
para a liberdade, do pecado para a santidade, do egoísmo para a solidariedade,
temos que enfrentar resistências dentro e fora de nós; sem enfrentá-las, não
fazemos a passagem que desejamos, que precisamos.
A passagem dos hebreus da escravidão
para a liberdade foi preparada por meio de um ritual: as famílias se reuniram,
sacrificaram alguns cordeiros, passaram seu sangue nas portas de suas casas,
comeram pães sem fermento e ervas amargas. Isso significa que, se queremos nos
libertar do mal que nos escraviza e faz a nossa vida definhar, precisamos nos
manter unidos (família), estar dispostos a nos sacrificar por aquilo e por
aqueles que amamos (este é o sentido do cordeiro), carregar conosco o sinal da
nossa fé (o sangue que marcou as portas), viver como pães sem fermento, isto é,
como pessoas retas e justas, e nos lembrar do quão amarga se torna a nossa vida
quando nos deixamos escravizar pelo pecado (ervas amargas).
O
relato da páscoa dos hebreus termina com uma ordem de Deus: esta festa deve ser
celebrada de geração em geração (cf. Ex 12,14). E assim foi até a época de
Jesus. Mas justamente na celebração da páscoa dos hebreus Jesus escolheu fazer
a sua Páscoa. “Antes da festa da páscoa”, começa o Evangelho que narra a última
ceia de Jesus. Antes de entregar-se na cruz, Jesus se entregou num pedaço de
pão, dizendo: “Isto é o meu corpo que é dado por vós” (1Cor 11,24) e num pouco
de vinho, dizendo: “Este cálice é a nova aliança em meu sangue” (1Cor 11,25). E
terminou a ceia dizendo: “Fazei isto em memória de mim” (1Cor 11,24.25).
Para
entendermos o significado da palavra “memória”, o apóstolo Paulo nos esclarece:
“Todas as vezes que comerdes desse pão e beberdes desse cálice, estareis
proclamando a morte do Senhor, até que ele venha” (1Cor 11,26).Todas as vezes
que celebramos a Eucaristia, estamos proclamando que Jesus nos amou até o fim,
e por isso se entregou por nós na cruz. Além disso, estamos proclamando que Ele
ressuscitou e que um dia virá para nos conduzir à Páscoa definitiva: a nossa
passagem deste mundo transitório para o Reino eterno do Pai.
Ao nos dar o seu Corpo e o seu Sangue na
Eucaristia, Jesus nos convida a fazer a difícil passagem de quem desistiu de
amar para quem decidiu amar até o fim: “Tendo amado os seus que estavam no
mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Jesus nos convida a ter uma atitude pascal
para com as pessoas, e essa atitude pascal significa amar até o fim aqueles que
Deus confiou aos nossos cuidados. Ao nos fazer assentar à mesa da Eucaristia,
Jesus também nos convida a fazer a difícil passagem de quem espera ser servido
pelos outros para quem decide servir aos outros: “Se eu, o Senhor e Mestre, vos
lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo,
para que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13,14-15).
O que significa, no mundo de hoje, lavar os
pés uns dos outros? Significa perceber que, onde quer que estejamos, existe alguém
que precisa de nós. “Não devemos permitir que alguém saia da nossa presença sem
sentir-se melhor e mais feliz” (Madre Teresa de Calcutá). Lavar os pés uns dos
outros significa ainda ajudar e fazer o bem também às pessoas que não nos são
simpáticas, também àquelas que nos traem ou nos prejudicam, a exemplo de Jesus,
que lavou também os pés de Judas, que o traiu, e de Pedro, que o negou três
vezes...
Enfim, em nosso dia a dia lembremos de que “há
sempre um lar que nos espera, um ambiente carente, um serviço urgente. Há
pessoas que aguardam nossa presença compassiva e servidora, nosso coração
aberto, nossa acolhida e cuidado amoroso... Sempre teremos ‘pés’ para lavar, mãos
estendidas para acolher, irmãos que nos esperam, situações delicadas a serem
enfrentadas com coragem... Isso é viver a Eucaristia no cotidiano da vida”
(Pe. Adroaldo).
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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