terça-feira, 16 de abril de 2019

DA ANTIGA À NOVA PÁSCOA


Missa da Ceia do Senhor. Palavra de Deus: Êxodo 12,1-8.11-14; 1Coríntios 11,23-26; João 13,1-15.

                 Os textos bíblicos que ouvimos nesta noite nos falam de duas páscoas: a dos hebreus e a de Jesus. Meditando sobre essas duas páscoas, somos convidados a fazer a nossa própria páscoa.  Depois de viver 400 anos escravo no Egito, o povo hebreu foi liberto por Moisés, mas essa libertação não se deu sem luta. Primeiro, foi preciso lutar para vencer as resistências do faraó (as dez pragas); depois, foi preciso lutar para vencer as resistências do próprio povo hebreu (o medo). Quando decidimos fazer a passagem da escravidão para a liberdade, do pecado para a santidade, do egoísmo para a solidariedade, temos que enfrentar resistências dentro e fora de nós; sem enfrentá-las, não fazemos a passagem que desejamos, que precisamos.         
                 A passagem dos hebreus da escravidão para a liberdade foi preparada por meio de um ritual: as famílias se reuniram, sacrificaram alguns cordeiros, passaram seu sangue nas portas de suas casas, comeram pães sem fermento e ervas amargas. Isso significa que, se queremos nos libertar do mal que nos escraviza e faz a nossa vida definhar, precisamos nos manter unidos (família), estar dispostos a nos sacrificar por aquilo e por aqueles que amamos (este é o sentido do cordeiro), carregar conosco o sinal da nossa fé (o sangue que marcou as portas), viver como pães sem fermento, isto é, como pessoas retas e justas, e nos lembrar do quão amarga se torna a nossa vida quando nos deixamos escravizar pelo pecado (ervas amargas).
                 O relato da páscoa dos hebreus termina com uma ordem de Deus: esta festa deve ser celebrada de geração em geração (cf. Ex 12,14). E assim foi até a época de Jesus. Mas justamente na celebração da páscoa dos hebreus Jesus escolheu fazer a sua Páscoa. “Antes da festa da páscoa”, começa o Evangelho que narra a última ceia de Jesus. Antes de entregar-se na cruz, Jesus se entregou num pedaço de pão, dizendo: “Isto é o meu corpo que é dado por vós” (1Cor 11,24) e num pouco de vinho, dizendo: “Este cálice é a nova aliança em meu sangue” (1Cor 11,25). E terminou a ceia dizendo: “Fazei isto em memória de mim” (1Cor 11,24.25).
Para entendermos o significado da palavra “memória”, o apóstolo Paulo nos esclarece: “Todas as vezes que comerdes desse pão e beberdes desse cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha” (1Cor 11,26).Todas as vezes que celebramos a Eucaristia, estamos proclamando que Jesus nos amou até o fim, e por isso se entregou por nós na cruz. Além disso, estamos proclamando que Ele ressuscitou e que um dia virá para nos conduzir à Páscoa definitiva: a nossa passagem deste mundo transitório para o Reino eterno do Pai.
Ao nos dar o seu Corpo e o seu Sangue na Eucaristia, Jesus nos convida a fazer a difícil passagem de quem desistiu de amar para quem decidiu amar até o fim: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Jesus nos convida a ter uma atitude pascal para com as pessoas, e essa atitude pascal significa amar até o fim aqueles que Deus confiou aos nossos cuidados. Ao nos fazer assentar à mesa da Eucaristia, Jesus também nos convida a fazer a difícil passagem de quem espera ser servido pelos outros para quem decide servir aos outros: “Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13,14-15). 
O que significa, no mundo de hoje, lavar os pés uns dos outros? Significa perceber que, onde quer que estejamos, existe alguém que precisa de nós. “Não devemos permitir que alguém saia da nossa presença sem sentir-se melhor e mais feliz” (Madre Teresa de Calcutá). Lavar os pés uns dos outros significa ainda ajudar e fazer o bem também às pessoas que não nos são simpáticas, também àquelas que nos traem ou nos prejudicam, a exemplo de Jesus, que lavou também os pés de Judas, que o traiu, e de Pedro, que o negou três vezes...
Enfim, em nosso dia a dia lembremos de que “há sempre um lar que nos espera, um ambiente carente, um serviço urgente. Há pessoas que aguardam nossa presença compassiva e servidora, nosso coração aberto, nossa acolhida e cuidado amoroso... Sempre teremos ‘pés’ para lavar, mãos estendidas para acolher, irmãos que nos esperam, situações delicadas a serem enfrentadas com coragem... Isso é viver a Eucaristia no cotidiano da vida” (Pe. Adroaldo).

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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