sexta-feira, 19 de abril de 2019

SEMEADOS FRACOS E MORTAIS, RESSUSCITAREMOS FORTES E IMORTAIS


Missa da Ressurreição do Senhor. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 10,34a.37-43; Colossenses 3,1-4; João 20,1-9

            Em um momento crítico de sua história, quando o povo de Israel dizia: “a nossa esperança está desfeita. Para nós está tudo acabado” (Ez 37,11), Deus lhe fez uma promessa: “Eis que abrirei vossos túmulos e vos farei sair dos vossos túmulos... Então sabereis que eu sou o Senhor, quando abrir os vossos túmulos e vos fizer subir de dentro deles, ó meu povo” (Ez 37,12-13).
                No dia de Páscoa, dia em que celebramos a ressurreição de nosso Senhor Jesus, o Evangelho não nos coloca, ao menos por enquanto, diante do Cristo ressuscitado, mas apenas diante do seu túmulo vazio. Por que o túmulo está vazio? Porque, como interpretou erroneamente Maria Madalena, “retiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o colocaram” (Jo 20,2)? Não! O túmulo de Jesus está vazio porque nós não podemos procurar entre os mortos Aquele que vive! (cf. Lc 24,5).
            Na verdade, encontrar o túmulo de Jesus vazio no dia de Páscoa é mais importante do que encontrá-lo ressuscitado, porque crer na ressurreição não significa crer que vamos ser poupados de sofrimento ou que não vamos morrer, mas significa crer que vamos vencer o sofrimento e a morte. O nosso sofrer e a nossa morte não devem ser interpretados por nós como negação da ressurreição, mas sim como a situação existencial onde experimentaremos a nossa própria ressurreição, como afirmou o apóstolo Paulo: “Incessantemente e por toda parte trazemos em nosso corpo a agonia de Jesus (sua morte), a fim de que a vida de Jesus (sua ressurreição) seja também manifestada em nosso corpo” (2Cor 4,10).
            A fé no Cristo ressuscitado nunca poderá se transformar em blindagem, isto é, em proteção absoluta contra a dor, o sofrimento e a morte, mas como garantia de vitória contra tudo aquilo que hoje fere a nossa vida e a vida da humanidade. Mais uma vez é o apóstolo Paulo quem nos ajuda a compreender isso: “conhecer o poder da sua ressurreição e a participação nos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte, para ver se alcanço a ressurreição de entre os mortos” (Fl 3,10-11). Assim como a vida que está escondida dentro da semente só desabrocha quando ela morre, ou seja, é enterrada, assim também a nossa ressurreição só se dará a partir da nossa própria morte.
            Por outro lado, a fé no Cristo ressuscitado deve provocar mudanças em nós agora, neste momento: mudanças em nossa maneira de enxergar a vida, de interpretar os acontecimentos, e também mudanças em nossas atitudes, em nossa forma de lidar com os acontecimentos. Eis porque o apóstolo se dirige a nós neste dia de Páscoa com essas palavras: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres” (Cl 3,1-2). Um cristão que crê verdadeiramente que Cristo ressuscitou não anda olhando para baixo, mas para o alto; não caminha na vida vencido pelo peso das preocupações e dos problemas, mas como uma pessoa que confia na presença do Ressuscitado que caminha com ele e o ajuda a enfrentar com coragem as preocupações e os problemas, pois Ele mesmo disse: “No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo!” (Jo 16,33).
            Ao ressuscitar, Cristo venceu o mundo, mas esta vitória não está visível nem explícita em toda parte; ela só pode ser vista na vida de quem crê na ressurreição de Jesus e na sua própria ressurreição. Aliás, o apóstolo Paulo deixa claro como é a vida dos cristãos que creem na ressurreição: “vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória” (Cl 3,3-4). Uma pessoa que crê no Cristo ressuscitado não está revestida de glória aqui e agora; pelo contrário, ela é chamada a não comungar, não compactuar com aquilo que no mundo produz injustiça e cruz, e saber que sua vida de pessoa ressuscitada está escondida com Cristo em Deus, da mesma forma que uma semente carrega escondida dentro de si a vida de uma grande árvore capaz de produzir inúmeros frutos. Como aconteceu com Cristo, assim acontecerá com aqueles que creem na Sua ressurreição: “semeado mortal, o corpo ressuscita imortal; semeado desprezível, ressuscita cheio de glória; semeado na fraqueza, ressuscita cheio de força; semeado corpo psíquico, ressuscita corpo espiritual” (1Cor 15,43-44).
                                  
            Oração: Senhor Jesus, neste dia de Páscoa olho para o teu sepulcro vazio, o primeiro sinal da tua ressurreição. Também eu, muitas vezes, entro e me fecho no sepulcro do medo, do desânimo, da tristeza, da falta de fé e de esperança. Chama-me para fora do meu sepulcro, Senhor, como chamaste Lázaro. Que eu não me escandalize com o sofrimento e a cruz que tenho que lidar neste mundo, sabendo que é a partir dali que nascerá a minha própria ressurreição. Como o apóstolo Paulo, eu também quero entrar em comunhão com os teus sofrimentos na esperança de um dia entrar em comunhão com a tua ressurreição. Sei que a minha vida de pessoa ressuscitada está escondida contigo no céu, da mesma forma que uma semente carrega escondida em si a fecundidade de uma vida que aguarda para nascer. Enquanto caminho neste mundo, quero aprender a olhar para o alto, quero buscar as coisas do alto, procurando florescer aonde a tua mão me plantou, crendo que eu também fui semeado(a) mortal para um dia ressuscitar imortal; fui semeado(a) desprezível para um dia ressuscitar cheio de glória; fui semeado(a) fraco(a) para um dia ressuscitar cheio(a) de força; fui semeado(a) pessoa carnal para um dia ressuscitar pessoa espiritual.   

Cantemos:

Novo dia surgiu e o povo que andava nas trevas viu uma intensa luz, Teu clarão, Tua glória a resplandecer. Novo povo a trilhar um caminho aberto por Tuas mãos. Obra nova, enfim, já podemos ver nova criação. Somos nós este povo alcançado por Tua luz, fruto da Tua obra na cruz. O Senhor nosso Deus que merece o louvor, todo nosso amor, é o Rei que venceu. Ao Cordeiro a vitória, poder, honra e glória! (bis) Ressuscitou! Ressuscitou! Ressuscitou!


Pe. Paulo Cezar Mazzi

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