Missa da
Ressurreição do Senhor. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 10,34a.37-43;
Colossenses 3,1-4; João 20,1-9
Em um momento crítico de sua
história, quando o povo de Israel dizia: “a nossa esperança está desfeita. Para
nós está tudo acabado” (Ez 37,11), Deus lhe fez uma promessa: “Eis que abrirei
vossos túmulos e vos farei sair dos vossos túmulos... Então sabereis que eu sou
o Senhor, quando abrir os vossos túmulos e vos fizer subir de dentro deles, ó meu
povo” (Ez 37,12-13).
No dia de Páscoa, dia em que celebramos
a ressurreição de nosso Senhor Jesus, o Evangelho não nos coloca, ao menos por
enquanto, diante do Cristo ressuscitado, mas apenas diante do seu túmulo vazio.
Por que o túmulo está vazio? Porque, como interpretou erroneamente Maria
Madalena, “retiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o colocaram” (Jo
20,2)? Não! O túmulo de Jesus está vazio porque nós não podemos procurar entre
os mortos Aquele que vive! (cf. Lc 24,5).
Na verdade, encontrar o túmulo de
Jesus vazio no dia de Páscoa é mais importante do que encontrá-lo ressuscitado,
porque crer na ressurreição não significa crer que vamos ser poupados de sofrimento
ou que não vamos morrer, mas significa crer que vamos vencer o sofrimento e a
morte. O nosso sofrer e a nossa morte não devem ser interpretados por nós como
negação da ressurreição, mas sim como a situação existencial onde
experimentaremos a nossa própria ressurreição, como afirmou o apóstolo Paulo: “Incessantemente
e por toda parte trazemos em nosso corpo a agonia de Jesus (sua morte), a fim
de que a vida de Jesus (sua ressurreição) seja também manifestada em nosso
corpo” (2Cor 4,10).
A fé no Cristo ressuscitado nunca
poderá se transformar em blindagem, isto é, em proteção absoluta contra a dor,
o sofrimento e a morte, mas como garantia de vitória contra tudo aquilo que
hoje fere a nossa vida e a vida da humanidade. Mais uma vez é o apóstolo Paulo
quem nos ajuda a compreender isso: “conhecer o poder da sua ressurreição e a
participação nos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte, para
ver se alcanço a ressurreição de entre os mortos” (Fl 3,10-11). Assim como a
vida que está escondida dentro da semente só desabrocha quando ela morre, ou
seja, é enterrada, assim também a nossa ressurreição só se dará a partir da
nossa própria morte.
Por outro lado, a fé no Cristo ressuscitado
deve provocar mudanças em nós agora, neste momento: mudanças em nossa maneira
de enxergar a vida, de interpretar os acontecimentos, e também mudanças em
nossas atitudes, em nossa forma de lidar com os acontecimentos. Eis porque o
apóstolo se dirige a nós neste dia de Páscoa com essas palavras: “Se
ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde
está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às
coisas terrestres” (Cl 3,1-2). Um cristão que crê verdadeiramente que Cristo
ressuscitou não anda olhando para baixo, mas para o alto; não caminha na vida
vencido pelo peso das preocupações e dos problemas, mas como uma pessoa que
confia na presença do Ressuscitado que caminha com ele e o ajuda a enfrentar
com coragem as preocupações e os problemas, pois Ele mesmo disse: “No mundo
tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo!” (Jo 16,33).
Ao ressuscitar, Cristo venceu o
mundo, mas esta vitória não está visível nem explícita em toda parte; ela só
pode ser vista na vida de quem crê na ressurreição de Jesus e na sua própria
ressurreição. Aliás, o apóstolo Paulo deixa claro como é a vida dos cristãos
que creem na ressurreição: “vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com
Cristo, em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós
aparecereis também com ele, revestidos de glória” (Cl 3,3-4). Uma pessoa que
crê no Cristo ressuscitado não está revestida de glória aqui e agora; pelo
contrário, ela é chamada a não comungar, não compactuar com aquilo que no mundo
produz injustiça e cruz, e saber que sua vida de pessoa ressuscitada está
escondida com Cristo em Deus, da mesma forma que uma semente carrega escondida
dentro de si a vida de uma grande árvore capaz de produzir inúmeros frutos. Como
aconteceu com Cristo, assim acontecerá com aqueles que creem na Sua
ressurreição: “semeado mortal, o corpo ressuscita imortal; semeado desprezível,
ressuscita cheio de glória; semeado na fraqueza, ressuscita cheio de força;
semeado corpo psíquico, ressuscita corpo espiritual” (1Cor 15,43-44).
Oração:
Senhor Jesus, neste dia de Páscoa olho para o teu sepulcro vazio, o primeiro
sinal da tua ressurreição. Também eu, muitas vezes, entro e me fecho no
sepulcro do medo, do desânimo, da tristeza, da falta de fé e de esperança.
Chama-me para fora do meu sepulcro, Senhor, como chamaste Lázaro. Que eu não me
escandalize com o sofrimento e a cruz que tenho que lidar neste mundo, sabendo
que é a partir dali que nascerá a minha própria ressurreição. Como o apóstolo
Paulo, eu também quero entrar em comunhão com os teus sofrimentos na esperança
de um dia entrar em comunhão com a tua ressurreição. Sei que a minha vida de
pessoa ressuscitada está escondida contigo no céu, da mesma forma que uma
semente carrega escondida em si a fecundidade de uma vida que aguarda para
nascer. Enquanto caminho neste mundo, quero aprender a olhar para o alto, quero
buscar as coisas do alto, procurando florescer aonde a tua mão me plantou, crendo
que eu também fui semeado(a) mortal para um dia ressuscitar imortal; fui
semeado(a) desprezível para um dia ressuscitar cheio de glória; fui semeado(a)
fraco(a) para um dia ressuscitar cheio(a) de força; fui semeado(a) pessoa
carnal para um dia ressuscitar pessoa espiritual.
Cantemos:
Novo
dia surgiu e o povo que andava nas trevas viu uma intensa luz, Teu clarão, Tua
glória a resplandecer. Novo povo a trilhar um caminho aberto por Tuas mãos.
Obra nova, enfim, já podemos ver nova criação. Somos nós este povo alcançado
por Tua luz, fruto da Tua obra na cruz. O
Senhor nosso Deus que merece o louvor, todo nosso amor, é o Rei que venceu. Ao
Cordeiro a vitória, poder, honra e glória! (bis) Ressuscitou! Ressuscitou! Ressuscitou!
Ressuscitou (Comunidade
Católica Shalom)
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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