sexta-feira, 19 de abril de 2019

SÓ ELE NOS FAZ PASSAR; SÓ ELE NOS FAZ RESSUSCITAR!


Vigília Pascal. Palavra de Deus: Gênesis 1,26-31a; Gênesis 22,1-18; Êxodo 14,15 – 15,1; Isaías 55,1-11; Romanos 6,3-11; Lucas 24,1-12.

“Eu espero, Senhor, eu espero com toda a minha alma, esperando tua palavra; minha alma aguarda o Senhor mais que os guardas pela aurora” (Sl 130,5-6). Estas palavras do salmista revelam o significado desta noite: estamos em Vigília, estamos participando da Mãe de todas as vigílias, esperando pela Palavra da ressurreição; estamos esperando pelo Senhor ressuscitado mais do que os vigias esperam pela aurora, isto é, pelo fim da noite e pelo nascimento do novo dia.
Caminhando em meio a inúmeros túmulos, túmulos onde estão enterradas pessoas mortas pelas guerras, pela fome, pelas doenças, pelos acidentes, pelas tragédias, pela violência das nossas cidades, pelos traficantes, pelos milicianos, pelo suicídio, pela causa do Evangelho etc., além daquelas que morreram na sua fé, na sua alegria ou na sua esperança, estamos como as mulheres do Evangelho que acabamos de ouvir, levando perfumes conosco, na esperança de que o bom cheiro desses perfumes afaste para longe de nós o mau cheiro da morte.
O salmista dizia: “Eu espero, Senhor, eu espero com toda a minha alma, esperando tua palavra” (Sl 130,5). E a Palavra do Senhor vem como luz que aos poucos vai clareando a noite escura da nossa vida, a noite que ficou mais escura ainda porque determinados acontecimentos apagaram em nós a chama da fé, da esperança, da alegria e do amor. E a primeira luz que o Senhor nos acende é a narrativa da criação: homem e mulher criados à imagem e semelhança de Deus, cuidando da Terra como se cuida de um jardim, alimentando-se de sementes, plantas e frutos, sem derramamento de sangue. “E Deus viu tudo quanto havia feito, e eis que tudo era muito bom” (Gn 1,31). A luz desta Palavra está direcionada para o futuro, pois o Senhor diz: “Eu conheço os desígnios que formei a respeito de vocês – desígnios de paz e não de desgraça, para dar-lhes um futuro e uma esperança” (Jr 29,11).
No entanto, os desígnios do Senhor às vezes se tornam incompreensíveis para nós, de modo que Aquele que quer nos dar um futuro e uma esperança pede que Lhe sacrifiquemos justamente aquilo que é a garantia do nosso futuro e da nossa esperança. Desse modo, a segunda luz que se acende nesta noite é a leitura do sacrifício de Isaac. Ela fala da noite escura da provação de Abraão, a mesma provação que passamos quando Deus permite que a vida tire de nós aquilo que mais amamos. É o momento em que a imagem que tínhamos de Deus se quebra, o momento em que Deus parece esconder de nós o Seu rosto e nos abandonar a nós mesmos. Mas essa noite escura é necessária para o amadurecimento da nossa fé, porque cada um de nós precisa responder a si mesmo: Eu confio em Deus apenas por causa das consolações que recebo d’Ele ou continuaria a confiar mesmo que Ele retirasse da minha vida todas as Suas consolações?
A noite da provação é uma noite longa, mas se quisermos fazer a nossa páscoa, a passagem do medo para a fé, da escravidão para a liberdade, da tristeza para a alegria, precisamos nos colocar a caminho, confiando que o Senhor nos conduzirá a um lugar melhor. Esta é a terceira luz que se acende nesta noite. Diante das situações que nos escravizam ou nos adoecem, o Senhor pergunta a cada um de nós: ‘Você quer verdadeiramente se libertar? Eu sou o Senhor que faço você sair da escravidão do Egito, faço você atravessar o mar Vermelho e faço você entrar na Terra Prometida, mas você precisa se dispor a caminhar comigo, você precisa deixar-se conduzir pelo meu Espírito, pois é a força d’Ele que fará você passar em meios aos obstáculos e prosseguir o seu caminho rumo ao futuro e à esperança que preparei para você’.   
Só existe páscoa (passagem) porque o Senhor abre uma passagem onde ela não existe, e nos faz passar ali. Mas também é preciso que se diga que só existe passagem porque nós decidimos confiar no Senhor e passar. É por isso que o Senhor declara: “Ouçam-me e você terão vida” (Is 55,3). ‘Quem está com sede, venha para as águas! Quem está com fome, venha comer! Não é necessário pagar pela bebida, nem pela comida, porque a minha salvação é dom, é graça, e não mérito de alguma pessoa!’ Eis, portanto, a quarta luz desta noite: “Busquem o Senhor, enquanto pode ser achado; invoquem por Ele, enquanto está perto” (Is 55,6). ‘Façam a páscoa, enquanto a passagem está aberta! Se a vida travou e a passagem não está acontecendo, certamente é porque os pensamentos e os caminhos de vocês se desviaram dos pensamentos e dos caminhos do Senhor. Portanto, coloquem em ordem a vida de vocês!’
São Paulo apóstolo nos traz a quinta luz desta noite. Ele nos lembra que nenhum de nós participou da passagem pelo mar Vermelho, mas todos nós passamos por outra água, a água do Batismo. Graças ao Batismo, nós pudemos nos tornar semelhantes a Jesus Cristo na sua morte, para que um dia nos tornemos semelhantes a Ele na sua ressurreição. Contudo, o Batismo não é algo mágico: não basta ter sido batizado; é preciso esforçar-se por viver como uma pessoa batizada, o que significa decidir morrer para o pecado e viver para Deus a cada dia, a exemplo de seu Filho Jesus.  
Por fim, a Palavra do Senhor nos traz luz sobre a passagem mais difícil de todas, aquela que nenhuma pessoa pode fazer por si mesma: a passagem da morte para a vida. Quando nossas esperanças são sepultadas e uma pedra é colocada sobre elas, para dizer que ali se encerra a nossa busca, a nossa luta, a nossa tentativa de passar; quando precisamos admitir que chegou o fim e é o momento de aceitá-lo, a Palavra do Senhor se pronuncia sobre a nossa morte, também sobre a morte da nossa fé, para remover a pedra e dizer que não devemos procurar entre os mortos Aquele que está vivo (cf. Lc 24,5-6), da mesma forma como nunca podemos dar por morta a nossa fé, porque para Deus nenhuma passagem é impossível. Portanto, diante do túmulo vazio de Jesus, cada um de nós pode suplicar ao Deus que abre os mares, que abra-os a cada um de nós também; que o mesmo Deus, que dissipou a morte de seu Filho, dissipe a morte de cada um de nós também; enfim, que o mesmo Deus que ressuscita os mortos, ressuscite a cada um de nós também!

Cantemos:
   
Quando o mar Vermelho em minha vida impedir a travessia, quando a morte ameaçar invadir a Terra Prometida, por Teu Nome eu irei clamar. Quando as portas se fecharem para mim, quando a tranca eu não puder quebrar, gritarei por Teu auxílio, meu Senhor. Tuas mãos irão me sustentar, me sustentar.

Tu que abres as portas, Tu que abres os caminhos, Tu que abres os mares abre também pra mim! Tu que amas os fracos, Tu que encontras os perdidos, Tu que dissipas a morte vem dissipá-la em mim! Vem dissipá-la em mim, Senhor. Vem dissipá-la em mim. Vem dissipá-la em mim, Senhor. Vem dissipá-la em mim.
Ressuscita-me, Senhor. Ressuscita-me, Senhor. Ressuscita-me, Senhor pelo poder do Teu amor! (bis)

Abrindo mares (Pe. Fábio de Melo)

Pe. Paulo Cezar Mazzi


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