Vigília Pascal. Palavra de Deus: Gênesis
1,26-31a; Gênesis 22,1-18; Êxodo 14,15 – 15,1; Isaías 55,1-11; Romanos 6,3-11;
Lucas 24,1-12.
“Eu espero, Senhor, eu espero com toda a
minha alma, esperando tua palavra; minha alma aguarda o Senhor mais que os
guardas pela aurora” (Sl 130,5-6). Estas palavras do salmista revelam o significado
desta noite: estamos em Vigília, estamos participando da Mãe de todas as
vigílias, esperando pela Palavra da ressurreição; estamos esperando pelo Senhor
ressuscitado mais do que os vigias esperam pela aurora, isto é, pelo fim da
noite e pelo nascimento do novo dia.
Caminhando em meio a inúmeros túmulos,
túmulos onde estão enterradas pessoas mortas pelas guerras, pela fome, pelas
doenças, pelos acidentes, pelas tragédias, pela violência das nossas cidades,
pelos traficantes, pelos milicianos, pelo suicídio, pela causa do Evangelho
etc., além daquelas que morreram na sua fé, na sua alegria ou na sua esperança,
estamos como as mulheres do Evangelho que acabamos de ouvir, levando perfumes
conosco, na esperança de que o bom cheiro desses perfumes afaste para longe de
nós o mau cheiro da morte.
O salmista dizia: “Eu espero, Senhor, eu
espero com toda a minha alma, esperando tua palavra” (Sl 130,5). E a Palavra do
Senhor vem como luz que aos poucos vai clareando a noite escura da nossa vida,
a noite que ficou mais escura ainda porque determinados acontecimentos apagaram
em nós a chama da fé, da esperança, da alegria e do amor. E a primeira luz que
o Senhor nos acende é a narrativa da criação: homem e mulher criados à imagem e
semelhança de Deus, cuidando da Terra como se cuida de um jardim,
alimentando-se de sementes, plantas e frutos, sem derramamento de sangue. “E
Deus viu tudo quanto havia feito, e eis que tudo era muito bom” (Gn 1,31). A
luz desta Palavra está direcionada para o futuro, pois o Senhor diz: “Eu
conheço os desígnios que formei a respeito de vocês – desígnios de paz e não de
desgraça, para dar-lhes um futuro e uma esperança” (Jr 29,11).
No entanto, os desígnios do Senhor às vezes
se tornam incompreensíveis para nós, de modo que Aquele que quer nos dar um
futuro e uma esperança pede que Lhe sacrifiquemos justamente aquilo que é a
garantia do nosso futuro e da nossa esperança. Desse modo, a segunda luz que se
acende nesta noite é a leitura do sacrifício de Isaac. Ela fala da noite escura
da provação de Abraão, a mesma provação que passamos quando Deus permite que a
vida tire de nós aquilo que mais amamos. É o momento em que a imagem que
tínhamos de Deus se quebra, o momento em que Deus parece esconder de nós o Seu
rosto e nos abandonar a nós mesmos. Mas essa noite escura é necessária para o
amadurecimento da nossa fé, porque cada um de nós precisa responder a si mesmo:
Eu confio em Deus apenas por causa das consolações que recebo d’Ele ou
continuaria a confiar mesmo que Ele retirasse da minha vida todas as Suas
consolações?
A noite da provação é uma noite longa, mas se
quisermos fazer a nossa páscoa, a passagem do medo para a fé, da escravidão
para a liberdade, da tristeza para a alegria, precisamos nos colocar a caminho,
confiando que o Senhor nos conduzirá a um lugar melhor. Esta é a terceira luz
que se acende nesta noite. Diante das situações que nos escravizam ou nos
adoecem, o Senhor pergunta a cada um de nós: ‘Você quer verdadeiramente se
libertar? Eu sou o Senhor que faço você sair da escravidão do Egito, faço você
atravessar o mar Vermelho e faço você entrar na Terra Prometida, mas você
precisa se dispor a caminhar comigo, você precisa deixar-se conduzir pelo meu
Espírito, pois é a força d’Ele que fará você passar em meios aos obstáculos e
prosseguir o seu caminho rumo ao futuro e à esperança que preparei para
você’.
Só existe páscoa
(passagem) porque o Senhor abre uma passagem onde ela não existe, e nos faz
passar ali. Mas também é preciso que se diga que só existe passagem porque nós
decidimos confiar no Senhor e passar. É por isso que o Senhor declara:
“Ouçam-me e você terão vida” (Is 55,3). ‘Quem está com sede, venha para as
águas! Quem está com fome, venha comer! Não é necessário pagar pela bebida, nem
pela comida, porque a minha salvação é dom, é graça, e não mérito de alguma
pessoa!’ Eis, portanto, a quarta luz desta noite: “Busquem o Senhor, enquanto
pode ser achado; invoquem por Ele, enquanto está perto” (Is 55,6). ‘Façam a
páscoa, enquanto a passagem está aberta! Se a vida travou e a passagem não está
acontecendo, certamente é porque os pensamentos e os caminhos de vocês se
desviaram dos pensamentos e dos caminhos do Senhor. Portanto, coloquem em ordem
a vida de vocês!’
São
Paulo apóstolo nos traz a quinta luz desta noite. Ele nos lembra que nenhum de
nós participou da passagem pelo mar Vermelho, mas todos nós passamos por outra
água, a água do Batismo. Graças ao Batismo, nós pudemos nos tornar semelhantes
a Jesus Cristo na sua morte, para que um dia nos tornemos semelhantes a Ele na
sua ressurreição. Contudo, o Batismo não é algo mágico: não basta ter sido
batizado; é preciso esforçar-se por viver como uma pessoa batizada, o que
significa decidir morrer para o pecado e viver para Deus a cada dia, a exemplo
de seu Filho Jesus.
Por
fim, a Palavra do Senhor nos traz luz sobre a passagem mais difícil de todas,
aquela que nenhuma pessoa pode fazer por si mesma: a passagem da morte para a
vida. Quando nossas esperanças são sepultadas e uma pedra é colocada sobre
elas, para dizer que ali se encerra a nossa busca, a nossa luta, a nossa
tentativa de passar; quando precisamos admitir que chegou o fim e é o momento
de aceitá-lo, a Palavra do Senhor se pronuncia sobre a nossa morte, também
sobre a morte da nossa fé, para remover a pedra e dizer que não devemos
procurar entre os mortos Aquele que está vivo (cf. Lc 24,5-6), da mesma forma
como nunca podemos dar por morta a nossa fé, porque para Deus nenhuma passagem
é impossível. Portanto, diante do túmulo vazio de Jesus, cada um de nós pode suplicar
ao Deus que abre os mares, que abra-os a cada um de nós também; que o mesmo
Deus, que dissipou a morte de seu Filho, dissipe a morte de cada um de nós também;
enfim, que o mesmo Deus que ressuscita os mortos, ressuscite a cada um de nós também!
Cantemos:
Quando o mar Vermelho em minha vida impedir a
travessia, quando a morte ameaçar invadir a Terra Prometida, por Teu Nome eu
irei clamar. Quando as portas se fecharem para mim, quando a tranca eu não
puder quebrar, gritarei por Teu auxílio, meu Senhor. Tuas mãos irão me sustentar,
me sustentar.
Tu
que abres as portas, Tu que abres os caminhos, Tu que abres os mares abre
também pra mim! Tu que amas os fracos, Tu que encontras os perdidos, Tu que
dissipas a morte vem dissipá-la em mim! Vem dissipá-la em mim, Senhor. Vem
dissipá-la em mim. Vem dissipá-la em mim, Senhor. Vem dissipá-la em mim.
Ressuscita-me, Senhor. Ressuscita-me, Senhor.
Ressuscita-me, Senhor pelo poder do Teu amor! (bis)
Abrindo mares (Pe. Fábio de Melo)
Pe. Paulo Cezar
Mazzi
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