Missa do 3º.
dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 5,27b-32.40b-41; Apocalipse
5,11-14; João 21,1-19.
Houve um dia em que você se encantou
por alguém, por algum sonho, por um projeto de vida, por uma vocação ou
profissão, ou, quem sabe, por Deus, por Jesus, pela causa do Evangelho. Mas,
com o passar do tempo, pode ser que inúmeros acontecimentos tenham esfriado seu
amor, seu entusiasmo, de modo que o seu encanto, aos poucos, transformou-se em
desencanto, e hoje você se pergunta: Vale a pena continuar? Por que continuar?
Ainda existe sentido na escolha que eu fiz, na decisão que eu tomei, na
resposta que eu dei ao chamado de Deus?
Algo estranho acontece no Evangelho
de hoje com Pedro e alguns outros discípulos de Jesus. Eles decidem ir pescar, mas,
durante aquela noite, não apanham nenhum peixe. Quando o dia amanhece, Jesus
está “de pé na margem”, e o evangelista indica aqui dois sinais da
ressurreição: o fato de Jesus estar de pé e de o dia ter amanhecido, uma
referência à luz da ressurreição. E Jesus lhes pergunta: “Moços, vocês têm
alguma coisa para comer?” (Jo 21,5). Essa pergunta de Jesus hoje é dirigida a
cada um de nós: ‘Como você tem alimentado sua vocação, seu sonho, seu projeto
de vida, seu relacionamento...?’ Alimentar tem a ver com cuidar, com manter
vivo. Tudo aquilo que não cuidamos, não alimentamos, morre de desnutrição,
morre por descuido; não tem como sobreviver.
Essa cena da terceira aparição de
Jesus ressuscitado aos discípulos nos remete para o início de tudo, para a
vocação dos quatro primeiros discípulos, que também vivenciaram uma situação
semelhante de fracasso, mas que viram tudo mudar ao obedecerem à palavra de
Jesus (cf. Lc 5,5-6). E agora, o Senhor ressuscitado lhes dá novamente uma
palavra que transforma o seu fracasso em sucesso: “Lancem a rede à direita da
barca e vocês encontrarão” (Jo 21,6). Essa pesca fracassada dos discípulos pode
significar duas coisas: ou eles abandonaram o ideal do Evangelho, após a morte
de Jesus na cruz, ou estão fazendo o seu trabalho de evangelização sem
deixar-se orientar pela palavra do Senhor ressuscitado, como se tudo
funcionasse automaticamente: Jesus ressuscitou, nós fomos enviados por ele a
pescar homens (cf. Lc 5,10), isto é, a salvar pessoas da morte, e nossas redes
se encherão de peixes sempre que forem lançadas ao mar.
É verdade que a tecnologia nos
oferece aparelhos que funcionam automaticamente, mas as nossas escolhas, as
nossas decisões, os nossos sonhos, os nossos relacionamentos e, sobretudo, a
nossa fé, não são assim; são valores que pedem para ser atualizados, e se não o
forem, perderão o sentido para nós. Muitas pessoas que ontem estavam casadas,
hoje estão separadas; muitos relacionamentos que pareciam eternos,
dissolveram-se rapidamente; muitas pessoas que ontem professavam uma fé, hoje
estão professando outra; muitas pessoas que ontem tinham fé, hoje não têm mais;
muitas pessoas que ontem escolheram consagrar sua vida a Deus e à causa do
Evangelho, hoje não veem mais sentido em manter essa escolha.
É aí que entra o diálogo de Jesus
ressuscitado com Pedro. O apóstolo Paulo afirma que “os dons e o chamado de
Deus são sem arrependimento” (Rm 11,29). Jesus jamais se arrependeu de escolher
e chamar aqueles discípulos e a cada um de nós. Mas ele, a cada manhã, nos
pergunta o que perguntou a Pedro: “Você me ama?”. Aliás, a primeira ver em que
Jesus pergunta isso, há um detalhe muito importante na pergunta: “Você me ama mais do que estes?” (Jo 21,15). Nós
amamos muitas coisas na vida, e é até possível que também amemos Jesus, mas a
questão que ele nos coloca é a seguinte: ‘Você me ama mais do que qualquer
outra coisa?’. Essa pergunta de Jesus pode nos dar a impressão errada de que
ele tem uma carência de fundo insaciável, e exige que o amemos de maneira a
esgotar todo o nosso amor nele, de modo que nada sobre para os outros. Mas não
é isso...
Quando Pedro responde: “Sim, Senhor,
tu sabes que te amo”, Jesus lhe diz: “Apascenta os meus cordeiros... Apascenta
as minhas ovelhas” (Jo 21,15.16.17). O que Jesus está dizendo a Pedro e a nós
são duas coisas: 1) O nosso amor para com ele não é uma questão meramente
afetiva, sentimental, mas uma atitude, e uma atitude não para com ele,
diretamente, e sim para com aqueles que ele confiou aos nossos cuidados. 2) Nós
só perseveraremos até o fim no cuidado para com aqueles que a vida nos pediu
para cuidar se o motivo principal for o amor, o amor a Deus, o amor ao Senhor
que nos chamou à vida e a uma vocação específica: cuidar de pessoas que só
podem ser cuidadas por nós. Portanto, o abandono do compromisso assumido tem
como causa principal não o cansaço, não a rotina, não o desencanto, mas o
esfriamento e a perda do amor.
Como termina o diálogo entre Jesus e
Pedro? Ele termina falando da velhice e da morte de Pedro. Tudo fica velho, com
o passar do tempo. Tudo se desgasta, enfraquece, perde a beleza externa. O
tempo não perdoa e não poupa ninguém. E se o nosso amor pelas escolhas que
fizemos for meramente superficial, isto é, ficar somente na pele, nós não conseguiremos
amar nada que fique velho, nem a nós mesmos. Falando com Pedro, Jesus nos
ensina que, ao envelhecermos, nosso vigor mudará, nossos sonhos e nossas
esperanças diminuirão, nossas ilusões desaparecerão, e nos daremos conta de que
muito daquilo que pensávamos fazer não o faremos, porque nosso tempo aqui neste
mundo está no fim. Mas, se ao longo da vida conseguimos atualizar o sentido das
escolhas que fizemos, nós também conseguiremos dar sentido ao nosso envelhecer
e ao nosso morrer.
Eis a última palavra de Jesus a Pedro
e a nós: “Siga-me” (Jo 21,19). Siga-me sempre, seja enquanto você é novo(a),
seja quando ficar velho(a). Siga-me sempre, seja quando você está encantado(a),
seja quando se sentir desencantado(a). Siga-me sempre, cuidando daqueles que eu
confiei aos seus cuidados. Siga-me sempre, mesmo quando tantos outros ao
longo do caminho perderem o sentido de me seguir. Siga-me, sem perguntar para onde
estou levando você e o que você encontrará depois da próxima curva. Siga-me,
confiando que, depois de cada noite de fracasso, eu trarei a você um novo
amanhecer e lhe darei uma palavra de orientação, para prosseguir na sua missão. Siga-me, porque, ainda que você não saiba por que está me seguindo, eu sei por
que escolhi você. Siga-me!
Padre suas palavras são encantadoras faz nos reflerir sobre o q é seguir Jesus q Deus o abençoe muito um forte abraço saudades
ResponderExcluirAmém! Deus te abençoe igualmente!!!
ResponderExcluirPalavras de consolo e Fortaleza que lembra sempre a escolha de Deus por nós seu amor incondicional. Eu também te amo Senhor meu Deus.
ResponderExcluirQue Deus nos de a coragem de estar prontos a dizer Sim...para,segui_lo para, testemunha Lo.
ResponderExcluirSuas palavras padre, me toca profundamente. Falar de Cristo ressuscitado q está vivo no meio de nós é preciso muita Fe, esperança e acreditar na vida eterna.
Muito obrigado pela partilha de cada um de vocês! Deus os abençoe e os mantenha sempre mais na graça restauradora do Espírito Santo!
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