Missa do 6º.
dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 15,1-2.22-29; Apocalipse
21,10-14.22-23; João 14,23-29.
O ventre da mãe que ama o filho que
está gerando é um lugar confortável e seguro, mas chega o momento em que o filho
precisa deixar o conforto e a segurança do ventre materno e vir ao mundo, para
percorrer o caminho que foi chamado a percorrer e realizar a missão para a qual
foi chamado à existência. Enquanto a indústria da propaganda e do consumo, associadas
à tecnologia, nos vendem produtos que prometem tornar a nossa vida sempre mais
confortável, os psicólogos e palestrantes sobre motivação e liderança nos
ensinam que, se quisermos crescer, temos que sair da nossa “zona de conforto”,
pois ela é o maior obstáculo ao nosso amadurecimento humano e espiritual.
Jesus está se despedindo dos seus
discípulos. Ele vai voltar ao Pai e de lá enviar o Espírito Santo à sua Igreja.
Justamente por ser um momento difícil para os discípulos, Jesus lhes diz: “Não
se perturbe nem se intimide o vosso coração” (Jo 14,27). É como se Jesus nos
dissesse: ‘Eu escolhi e formei vocês como meus discípulos não para ficarem
perturbados e intimidados pelos conflitos que terão que enfrentar no mundo, mas
justamente para que vocês encarem a realidade e enfrentem os desafios como
pessoas que estão abertas ao crescimento, ao amadurecimento, como pessoas que
desejam viver a vida com realismo, intensidade e profundidade, e não fugir dela’.
O discípulo de Jesus não é alguém alienado, que vive uma espiritualidade que o
afasta da realidade e que o mantém distante do sofrimento das pessoas à sua
volta; pelo contrário, o discípulo de Jesus é alguém que se deixa questionar
pela realidade para perceber nela o que Deus está lhe dizendo e realizar
plenamente a sua missão.
Por mais estranho que pareça, Jesus
está dizendo aos discípulos que chegou a hora de fazer uma inversão. Até agora,
eles estavam sendo gestados no coração do Pai e do Filho, mas a hora do parto
está chegando e ela trará uma mudança importante: o Pai e o Filho passarão a
habitar o coração dos discípulos por meio do Espírito Santo, capacitando-os
assim para a missão. É por isso que Jesus diz: “Se alguém me ama, guardará a
minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”
(Jo 14,23). Deus não quer apenas estar perto de nós ou junto a nós; Ele deseja
habitar em nós, morar em nosso coração, no coração de cada ser humano. E quando
o Pai e o Filho habitam no coração humano, ele se torna pleno de paz.
“Deixo-vos a paz, a minha paz vos
dou; mas não a dou como o mundo” (Jo 14,27). A paz que o mundo nos promete
depende de inúmeras condições externas: se tivermos saúde e dinheiro, se formos
notados e valorizados pelos outros, se não tivermos dificuldades ou obstáculos,
se não houver inimigos a combater e problemas a resolver, só então
experimentaremos paz. Mas a paz de Jesus não depende de nenhuma circunstância
externa; ela é fruto da harmonia interna conosco mesmos, com a nossa verdade e
com a vontade de Deus. Santo Agostinho dizia que o nosso coração foi feito para
Deus e só achará paz quando estiver em Deus. Quando o Pai e o Filho habitam em
nós, nenhum acontecimento externo tira a nossa paz, mesmo porque o Pai e o
Filho nos orientam e nos fortalecem diante dos desafios que a vida nos
apresenta. Além disso, lembremos do discernimento de Santo Inácio de Loyola a
respeito da paz: sempre que alinhamos o nosso coração à vontade de Deus, nos
sentimos em paz; sempre que nos afastamos da vontade de Deus, a paz vai embora
e no lugar dela vêm a perturbação, a inquietação, a ansiedade e o medo.
O Tempo Pascal caminha para o seu
final e se encerrará com a festa de Pentecostes, na qual se deu a vinda do
Espírito Santo. Por isso, hoje acolhemos com alegria esta promessa de Jesus: “o
Defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará
tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (Jo 14,26). Jesus chama o
Espírito Santo de “Defensor”, no sentido de que Ele estará sempre ao nosso lado
nas lutas do dia a dia, orientando-nos, protegendo-nos, fortalecendo-nos. Aqui
é oportuno recordar a palavra do apóstolo Paulo a Timóteo: “Deus não nos deu um
espírito de medo, mas um espírito de força, de amor e de autodomínio” (2Tm 1,7).
Justamente porque não é um espírito de medo, mas de força, o Defensor que Jesus
nos prometeu não nos defenderá daquilo que temos que enfrentar, mas nos encherá
de coragem e nos lançará para frente, para superarmos os obstáculos e
continuarmos em nosso caminho de crescimento, de amadurecimento, de libertação
e de santificação.
Todo
ser humano, mas sobretudo todo cristão, tem um combate a combater, e não se
trata apenas de um combate em vista da sobrevivência neste mundo, mas em vista
do fortalecimento da nossa fé e dos nossos passos no caminho da salvação.
Justamente porque a nossa luta é espiritual, nosso Defensor é o Espírito de
Deus. Ele nos ensinará aquilo que ainda temos que aprender – e nós sempre temos
o que aprender! – e também nos recordará tudo aquilo que Jesus já nos ensinou,
para que em cada situação possamos agir como Jesus agiria se estivesse em nosso
lugar.
Foi
justamente no momento em que nos ensinou a oração do Pai nosso que Jesus
afirmou: “o Pai dará o Espírito Santo aos que o pedirem” (Lc 11,13). Sendo
assim, nós oramos: ‘Pai, em nome de teu Filho Jesus, pedimos a presença do
Espírito Santo junto a nós, junto a todo ser humano, especialmente junto a cada
coração que se encontra perturbado e intimidado diante dos problemas, das
angústias, das incertezas e das ameaças do mundo atual. Confirma a graça do Teu
Espírito em nós! Divino Espírito Santo, vem com a Tua força socorrer a nossa
fraqueza. Tu és o nosso Defensor! Defende-nos do inimigo espiritual, que
combate contra a nossa fé. Defende-nos de nós mesmos, do nosso medo, da nossa
covardia, da nossa indiferença e da nossa acomodação egoísta. Defende-nos do
pecado, da infidelidade, da desonestidade, da corrupção e da perda de sentido
da vida. Defende-nos da violência, das guerras, da fome, do desemprego, das
drogas e das doenças... Em nome de Jesus, que nos prometeu a Tua vinda, amém!
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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