sábado, 31 de março de 2018

SOMOS PESSOAS PORTADORAS DA SEMENTE DA RESSURREIÇÃO

Missa do domingo de Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos apóstolos 10,34a.37-43; Colossenses 3,1-4; João 20,1-9.

            Enquanto existe vida, existe esperança. Enquanto existe vida, é possível lutar: lutar para vencer uma doença, para superar uma dificuldade; lutar para que se faça justiça, para que nos defender de algo que nos ameaça. Enquanto nos sentimos vivos, nós lutamos; enquanto nos sentimos vivos, não perdemos a esperança. Mas quando chega a morte, não há mais esperança. Quando chega a morte, nos sentimos definitivamente vencidos. Não há mais porque lutar. Não há mais pelo quê esperar. 
Aos olhos dos discípulos, Jesus havia sido definitivamente vencido pela morte. Mas dois acontecimentos devolveram vida e esperança aos discípulos: o túmulo vazio e o encontro com Jesus Ressuscitado. Neste domingo de Páscoa, portanto, nós temos duas “palavras” que testemunham que Jesus ressuscitou: a primeira é a “palavra” do túmulo vazio (cf. Jo 20,1-9); a segunda é a palavra daqueles que Deus escolheu para serem testemunhas de seu Filho ressuscitado: os que comeram e beberam com Ele depois que ressuscitou dos mortos (cf. At 10,40-41).
Segundo o apóstolo Paulo, toda a nossa fé se baseia numa única verdade: Cristo ressuscitou! Se Ele não houvesse ressuscitado, nós não teríamos no quê acreditar; nossa fé seria vazia, desprovida de sentido; nós não teríamos onde nos agarrar (cf. 1Cor 15,14). Porém, o apóstolo nos esclarece o que significa crer que Jesus ressuscitou: “Se temos esperança em Cristo (ressuscitado) somente para esta vida, somos os mais dignos de compaixão de todos os homens” (1Cor 15,19). Se a nossa fé no Cristo ressuscitado serve de esperança somente para as coisas presentes, como a superação de uma dificuldade, a solução de um problema, nós não entendemos nada a respeito da ressurreição, uma vez que ela diz respeito à verdadeira Vida, à Vida Eterna.    
            Sim! A fé no Cristo ressuscitado também tem repercussões para esta vida presente. Se a morte nos iguala a todos – no sentido de que todo ser humano morre –, a única coisa que nos diferencia é a nossa fé na ressurreição. Quem crê na ressurreição não apenas enxerga a morte de uma outra forma, como também vive sua vida de uma outra forma. “Porque Ele vive, eu posso crer no amanhã”. Porque Cristo vive, depois de ter enfrentado a morte de cruz, eu posso lidar a minha cruz de uma maneira diferente. Porque Cristo vive, eu posso seguir pela vida sabendo que nada poderá me separar do amor de Deus, manifestado na pessoa de seu Filho Jesus (cf. Rm 8,37-39). Porque Cristo vive, eu posso suportar minhas provações crendo que Deus tem o poder de ressuscitar os mortos, e nessa minha fé Ele me devolve, de maneira transformada, tudo aquilo que eu entreguei em Suas mãos (cf. Hb 11,17-18). Porém, se eu não creio que Cristo ressuscitou, me torno como aquelas pessoas que cedem à injustiça e à maldade do mundo, por não acreditarem que exista um prêmio para a santidade, uma recompensa para quem vive segundo a justiça (cf. Sb 2,22).   
A boa notícia da Páscoa é que “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que adormeceram... Em Cristo todos receberão a vida” (1Cor 15,20.22). “Primícias” significam “os primeiros frutos de uma colheita”. Na ressurreição de seu Filho, o Pai iniciou a grande colheita que nos dá a certeza de que um dia seremos recolhidos por Ele, isto é, que seremos ressuscitados. Por isso, dizemos com o salmista: “Não morrerei, mas, ao contrário, viverei, para contar as grandes obras do Senhor!” (Sl 118,17). E uma vez que cremos na ressurreição de Cristo, devemos nos esforçar “por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus” (Cl 3,1-2). Devemos viver com o coração voltado para o alto, como pessoas que, embora tenham que lidar diariamente com a cruz, são pessoas portadoras da semente da ressurreição.
Toda semente guarda uma vida escondida dentro de si. Desse modo, o apóstolo Paulo afirma que a nossa verdadeira vida “está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3). “Vida escondida” significa que a nossa fé na ressurreição de Cristo e na nossa própria ressurreição não vai retirar do caminho da nossa vida todas as dificuldades, mas vai nos dar a certeza de que nós seremos unidos ao triunfo de Cristo sobre todo tipo de dor, de fracasso e de morte. De fato, nós ainda não nos vemos plenamente ressuscitados, porque diariamente temos que fazer a nossa páscoa, a nossa passagem do pecado para a santidade, das trevas para a luz, da mentira para a verdade, e nem sempre estamos dispostos fazer essa passagem. Isso significa que a Páscoa não é somente um dom do Pai para nós, mas também uma tarefa que temos que realizar todos os dias, até que Cristo, nossa vida, se manifeste e revele plenamente a glória da sua ressurreição em cada um de nós (cf. Cl 3,4).  
No campo do coração de cada pessoa que encontrarmos neste Tempo Pascal, lancemos a semente da ressurreição! Diariamente encontramos pessoas que desistiram de buscar as coisas do alto e passaram a viver arrastadas pelas coisas da terra, pessoas que desistiram de crer na força da Páscoa, desistiram de se esforçar em fazer a passagem da morte para a vida porque esta passagem se apresenta, à primeira vista, humanamente impossível. Mas a Ressurreição de Cristo nos ensina que a Páscoa não é obra nossa, e sim obra de Deus em nós! É Ele quem nos faz passar! A fé na ressurreição nunca é a fé naquilo que você pode fazer, mas sempre é a fé naquilo que Deus pode fazer em você.

Oração: Visita, Senhor, o meu túmulo. Pronuncia sobre o meu vazio a Palavra da ressurreição! Reaviva a minha fé em Teu Filho ressuscitado. Que a minha esperança em teu Filho Jesus não seja somente para esta vida presente, mas, sobretudo, para a Vida Eterna! Devolve-me a fé na ressurreição de Teu Filho e na minha futura ressurreição. Que ao final da minha existência terrena eu seja recolhido(a) junto com teu Filho ressuscitado e possa contemplar-Te face a face na glória do Teu Reino. Ensina-me, Pai, a buscar as coisas do alto; ensina-me a viver com o meu coração voltado para Ti. Enfim, Senhor, onde quer que a Tua mão me coloque neste mundo, que eu germine e frutifique como uma semente portadora de ressurreição. Por teu Filho ressuscitado, Amém!

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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