Missa do 2º. dom
de Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 4,32-35; 1João 5,1-6; João
20,19-31.
No domingo de Páscoa, Jesus
encontrou seus discípulos atrás de portas fechadas, tomados pelo medo. É uma
imagem muito atual e que expressa o estado de espírito de muitos de nós: portas
fechadas, por causa do medo. Sem dúvida, o medo da violência tem nos levado a
fechar as portas das nossas casas. Mas há um outro fator que tem feito muitas
pessoas fecharem a porta do seu coração para Deus: a falta de fé. Por terem
enfrentado uma situação de cruz, ou pelo fato de Deus não intervir para impedir
uma determinada situação de cruz na humanidade, muitas pessoas fecharam a porta
para a fé: para elas, não tem sentido crer num Deus que não impede a cruz na
história humana.
É
possível que muitos de nós também hoje estejamos com nossas portas fechadas,
trancados em nosso medo, cansaço, desgaste, abatimento ou desânimo. Mas é
consolador saber que as nossas portas fechadas não são impedimento para que o
Senhor ressuscitado entre e nos diga: “A paz esteja convosco!” (Jo 20,19). Jesus,
ao dizer isso, mostrou suas mãos e o seu lado, feridos na cruz. Suas mãos e o
seu coração lutaram e se feriram, para devolver ao ser humano a vida, a justiça
e a paz que vêm de Deus. E as nossas mãos, como estão? São mãos que lutam para
que o mundo se torne mais justo? Quem luta em favor da vida, da justiça e da
paz tem sua vida marcada por conflitos...
“A
paz esteja convosco!” (Jo 20,19). O primeiro dom da Páscoa é a paz, a paz
daquele que lutou e venceu o mundo, a paz daquele que tem em seu Corpo
ressuscitado as marcas da cruz, mas esse mesmo Corpo se encontra agora
transfigurado, glorificado, para nos dizer que mesmo quando nos ferimos ao promover
ou defender a vida, essas feridas se converterão em fonte de ressurreição para
a humanidade. O segundo dom da Páscoa é o Espírito Santo: “Recebei o Espírito
Santo” (Jo 20,22). O Espírito Santo é a promessa da nossa ressurreição, a força
do Alto que nos envia para a missão de testemunhar Jesus Cristo ressuscitado e
o seu Evangelho como força de salvação para todo aquele que crê. Jesus
ressuscitado quis que o Espírito Santo se colocasse junto a cada um de nós como
Defensor e Consolador.
Quando o Senhor ressuscitado teve
seu primeiro encontro com os discípulos, Tomé não estava presente, e ao ouvir
falar que Jesus havia ressuscitado, duvidou: “Se eu não vir..., não
acreditarei” (Jo 20,26). Quais são as condições que nós costumamos impor a Deus
para crer? Na verdade, Tomé simboliza a necessidade que cada um de nós tem de
fazer uma experiência pessoal com o Senhor ressuscitado. Sua fé, enfraquecida
pela cruz, é o retrato da nossa fé, muitas vezes cansada, desgastada, uma fé
até mesmo humilhada e ridicularizada pelo mundo atual. Jesus fez questão de
encontrar Tomé oito dias depois da Páscoa, não somente por causa dele, mas por
causa de cada um de nós, que também vacilamos em nossa fé. E foi pensando em
cada um de nós que Jesus disse a Tomé: “Acreditaste, porque me viste? Felizes
os que creram sem terem visto!” (Jo 20,29).
Feliz
aquele que não reduz a sua fé àquilo que pode ver, tocar, sentir e comprovar.
Feliz aquele que não duvida do testemunho daqueles que comeram e beberam com o
Senhor após a sua ressurreição (cf. At 10,40-41). Feliz aquele que escolheu sustentar-se
na vida não a partir das coisas que vê, mas a partir daquilo que crê. Feliz
aquele que, mesmo não tendo todas as perguntas respondidas, continua a
caminhar. Feliz aquele que, mesmo não tendo todos os problemas resolvidos,
continua a confiar. Feliz aquele que acolhe o Evangelho como palavras que foram
escritas na fé do evangelista e para suscitar a fé no coração daquele que lê,
fé na pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus, o único no qual temos Vida (cf.
Jo 19,31).
Segundo
o apóstolo João, nossa vida cristã sempre será vivida dentro de um combate com
o mundo, um combate onde ou vencemos o mundo ou somos vencidos por ele. O
“mundo” é tudo aquilo que trabalha contra a vida, a justiça e a paz que Deus
quer para a humanidade. Em primeiro lugar, precisamos aceitar o fato de que a
nossa fé sempre será uma luta, um combate, e quem trava esse combate sairá
vitorioso, mas também ferido. Em segundo lugar, nossa fé precisa ser defendida
diante de um mundo que a combate e a deseja eliminar. Não nos esqueçamos de que
“a vitória que vence o mundo é a nossa fé” (1Jo 5,4): sem a força da fé, “a
vida facilmente se torna um arco cuja corda está arrebentada e do qual nenhuma
flecha pode ser lançada” (Henri Nouwen).
Por
fim, neste segundo domingo da Páscoa, somos convidados a ter como exemplo a
comunidade dos primeiros cristãos, cujas mãos aprenderam a trabalhar na direção
oposta à do mundo, não acumulando, mas partilhando: “Entre eles ninguém passava
necessidade” (At 4,34). Tudo o que eles possuíam “era distribuído conforme a
necessidade de cada um” (At 4,35). As mãos dos primeiros cristãos estavam
construindo um mundo diferente porque o coração deles era movido pela fé na
ressurreição do Senhor Jesus. Que assim também as nossas mãos testemunhem a
nossa fé no Senhor ressuscitado e nos ajude a viver a vida presente sob a luz
da nossa futura ressurreição.
Oração:
“Senhor Jesus, entra em minha vida, mesmo quando as portas estiverem fechadas
pelo meu medo diante do mundo e pela minha descrença na tua ressurreição.
Dá-nos a tua paz, que é a vitória sobre o mundo. Segura minhas mãos com as tuas
mãos feridas, para que as minhas tenham a coragem de se abrirem para partilhar
e, se preciso for, de se ferirem na luta em favor de um mundo mais justo.
Infunde em mim a força do teu Espírito diante dos conflitos, para que eu possa
experimentar a força da fé que me faz vencer o mundo e não ser vencido(a) por
ele. Quero viver a minha vida como o Senhor viveu a sua, isto é, trabalhando pela
ressurreição da humanidade. Creio em ti,
Ressuscitado, mais que São Tomé, mas aumenta na minh’alma o poder da fé! Guarda
a minha esperança, cresce o meu amor. Creio em ti, Ressuscitado, meu Deus e
Senhor!
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