Missa
do 3º. Dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 3,13-15.17-19; 1João
2,1-5a; Lucas 24,35-48.
Não é uma tarefa fácil devolver vida
a quem desistiu de viver, assim como não é uma tarefa fácil devolver saúde a
quem se habituou a viver como uma pessoa doente – pior ainda, a se identificar
com sua doença. Na verdade, o nosso grande desafio, como testemunhas do Senhor
ressuscitado, é ajudar as pessoas do nosso tempo – muitas delas mortas em sua
fé e em sua esperança – a recuperarem o sentido da própria vida, a desejarem
voltar a viver a partir da sua fé e da sua esperança.
O Evangelho que acabamos de ouvir
nos mostra que Jesus encontrou muita resistência no coração dos discípulos em
relação a crer na Sua ressurreição. Eles estavam tomados pelo medo, pelas
preocupações e pelas dúvidas. Assim como os discípulos, nós vivemos num mundo
onde os sinais da ressurreição, os sinais da vitória da vida sobre a morte, são
muito pequenos – até mesmo insignificantes – diante dos sinais da morte que
parece sempre sobrepor-se à vida. Se a cada domingo nós celebramos a nossa
comunhão com a Palavra e com a Eucaristia do Senhor ressuscitado, durante a
semana temos que lidar com acontecimentos que parecem negar a ressurreição,
como por exemplo uma doença, um problema, um conflito, sem falar das más
notícias como as guerras, os acidentes, as injustiças, a corrupção etc. São
fatos que, se não chegam a diluir a nossa fé na ressurreição de Jesus, parecem diluir
a nossa fé e a nossa esperança em viver como homens e mulheres ressuscitados e
capazes de gerar ressurreição em nossa sociedade.
Mas este terceiro domingo da Páscoa
nos mostra a preocupação e o esforço de Jesus em acordar os discípulos e retirá-los
do sono da morte, do desânimo, da apatia, do pessimismo e do derrotismo, como
se Ele lhes dissesse: ‘É inconcebível um cristão sem fé e sem esperança! É
inconcebível um discípulo meu entregue ao desânimo! “Vede minhas mãos e meus
pés!” (Lc 24,39). Se eu venci o sofrimento e a morte, vocês podem vencê-los
também! Se eu abracei a minha hora de cruz permanecendo fiel à missão que o Pai
havia me confiado, vocês também podem fazer o mesmo! Se eu consegui amar até o
fim, vocês também conseguirão! Não permitam que o mundo enterre a fé e a
esperança de vocês!’
Depois de ter comido um pedaço de
peixe assado com os discípulos, para mostrar-lhes que ele não era um espírito
ou um fantasma, mas um corpo ressuscitado, Jesus lhes disse: “(...) era preciso
que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos
Profetas e nos Salmos” (Lc 24,44). Há uma carga teológica muito grande nessa
expressão de Jesus, tão cara ao evangelista Lucas: “era preciso”. Ela significa
que nada na vida de Jesus foi acidental ou obra do acaso. Tudo o que aconteceu
com Jesus – sobretudo o fato de ele ter sido rejeitado pelos homens e morto
numa cruz – foi previsto pelo Pai. Deus Pai não só previu, mas também permitiu
o sofrimento de seu Filho, revertendo tal sofrimento para a salvação da
humanidade. Mas, sobretudo, o Pai reabilitou seu Filho diante da humanidade, confirmando
cada palavra sua e cada gesto seu ao ressuscitá-lo dos mortos e estabelecê-lo
como Juiz e Senhor de cada ser humano (cf. At 10,42).
Na vida de todo cristão, na vida de
cada um de nós, também existe um “é preciso”. “É preciso passar por muitas
tribulações para entrar no Reino de Deus” (At 14,22). Por quê? Porque mesmo
depois que Jesus venceu a morte e ressuscitou, o mundo continua a ser um lugar
marcado pela cultura de morte, pela violência, pelo descaso para com a vida, um
mundo que prioriza o mercado em detrimento do ser humano, um mundo que ataca a
família, rejeita Deus, opõe-se à Igreja, combate o Evangelho e produz
destruição para si mesmo. Nós, cristãos, precisamos estar conscientes de que
este mesmo mundo que feriu Jesus também nos ferirá, na medida em que
procurarmos viver como Jesus viveu. Portanto, cada um de nós precisa assumir
aquilo que diz respeito ao seu “é preciso”.
Para cada um de nós existe um “é
preciso”: É preciso enfrentar o mal que há no mundo; é preciso combater o bom
combate; é preciso aceitar o fato de que o Reino de Deus ainda está em
processo; é preciso aprender a suportar as dores de parto, até que a
ressurreição de Cristo possa gerar a vida nova em cada pessoa que convive
conosco; é preciso enfrentar o medo, as preocupações e as dúvidas que às vezes
falam mais alto em nós do que a verdade da ressurreição; é preciso testemunhar
Cristo ressuscitado não só para aqueles que O desconhecem, mas também para
aqueles que O rejeitam; é preciso sofrer pela causa do Evangelho, lutar e
sofrer para restabelecer a verdade e a justiça na terra, sabendo em quem depositamos
a nossa fé.
Sofrendo por causa do Evangelho, o
apóstolo Paulo disse: “sei em quem depositei a minha fé” (2Tm 1,12). Nós
devemos saber em quem colocamos a nossa fé: no Senhor ressuscitado, que a cada
domingo se coloca junto a nós, como se colocou junto aos seus discípulos, para
nos falar a partir das Escrituras e partir o pão para nós. Nós colocamos a
nossa fé no Senhor Jesus, que está junto do Pai como nosso Defensor: ainda que
em nossa fraqueza possamos cometer algum pecado, Ele nos liberta da condenação
do pecado e nos concede o Seu perdão (cf. Lc 24,47; 1Jo 2,2). Nós colocamos a
nossa fé no Cristo ressuscitado que hoje abre a nossa inteligência para que
possamos entender as Escrituras (cf. Lc 24,45) e termos a consciência de que o
sofrimento que atinge a nossa fé e a nossa esperança não é um sofrimento inútil,
mas necessário para a ressurreição nossa e de toda a humanidade.
Oração:
Senhor Jesus, seguindo o teu exemplo, quero abraçar o meu “é preciso”. Se for
preciso sofrer pela causa do teu Evangelho, se for preciso sofrer para ajudar as
pessoas à minha volta a ressuscitarem, quero abraçar esse sofrimento com
alegria, na certeza de que ele será acompanhado pela tua graça, pela consolação
do Espírito Santo em mim. Abra a minha inteligência, Senhor! Concede-me o
entendimento da Sagrada Escritura. Faz-me acolher com fé sincera e profunda a
verdade do teu Evangelho, que é força de salvação para todo aquele que crê. Tua
Palavra é espírito e vida, Palavra de vida eterna, portadora de ressurreição, Palavra
que faz passar da morte para a vida aquele que a acolhe na fé. (cantando) Tu que abres as portas, Tu que
abres os caminhos, Tu que abres os mares, abre também pra mim! Tu que amas os
fracos, Tu que encontras os perdidos, Tu que dissipas a morte, vem dissipá-la
em mim! Vem dissipá-la em mim, Senhor. Vem dissipá-la em mim. Vem dissipá-la em
mim, Senhor. Vem dissipá-la em mim... Ressuscita-me, Senhor! Ressuscita-me,
Senhor! Ressuscita-me, Senhor, pelo poder do Teu amor! Ressuscita-me, Senhor!
Ressuscita-me, Senhor! Ressuscita-me! Ressuscita-me, Senhor! (Pe. Fabio de
Melo, Abrindo mares).
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