sexta-feira, 27 de abril de 2018

PERMANECER: UMA RESPONSABILIDADE PESSOAL

Missa do 5º. dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 9,26-31; 1João 3,18-24; João 15,1-8.

Ao começar a preparar a sua despedida, Jesus disse aos discípulos: “Permaneçam em mim e eu permanecerei em vocês. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vocês não poderão dar fruto, se não permanecerem em mim” (Jo 15,4).
Como estão os ramos da nossa vida afetiva e profissional? Como estão os ramos da nossa vida espiritual? Eles estão produzindo frutos? Os frutos que estamos produzindo são saudáveis e saborosos, ou estão doentes, estragados? Como você está se sentindo nesse momento: uma pessoa fecunda, com vitalidade interior, ou uma pessoa sem seiva, sem vitalidade, uma pessoa que, apesar dos seus esforços, não produz aquilo que desejaria produzir?
Estamos no outono, uma estação que nos fala de perda, de adormecimento: muitas árvores perdem suas folhas; ficam, de certa forma, “feias”, parecendo mortas; mas, na verdade, não estão mortas; estão adormecidas. Dentro delas existe seiva, existe vida. Elas despertarão na primavera, voltarão a florescer e produzirão frutos novamente. Da mesma forma, nossa vida é feita de estações: não existe apenas a primavera, existe também o outono. Precisamos acolher as estações, as mudanças, a perda das nossas folhas. O importante é manter nossas raízes em Deus; o importante é manter nosso relacionamento pessoal com Jesus, pois é d’Ele e somente d’Ele que recebemos a seiva do Espírito Santo, que nos devolve fecundidade, que nos faz florescer e frutificar, mesmo quando à nossa volta existe deserto e aridez.
O que nos chama a atenção nessas palavras de Jesus é a sua insistência conosco: “permaneçam”; “permaneçam em mim”. Atitude desafiadora essa de “permanecer”! No mundo do trabalho já não se permanece no mesmo emprego por muito tempo, assim como no campo afetivo muitas pessoas não permanecem por muito tempo no mesmo relacionamento. Até mesmo no campo da fé já não há permanência: muitos não permanecem na mesma igreja, na mesma religião. Desse modo, é muito comum nós vermos muitas pessoas sendo levadas pela vida como folhas secas empurradas pelo vento. São pessoas que não foram habituadas a criar raízes, e pessoas sem raízes tombam com facilidade; pessoas sem raízes são superficiais: vivem uma fé superficial, relacionamentos superficiais e são superficiais inclusive em relação a si mesmas, não cultivando a sua própria interioridade.
            “Permaneçam em mim”, nos diz Jesus. ‘Aprofundem o relacionamento de vocês comigo. Não sejam superficiais na vida espiritual. Direcionem as raízes de vocês para mim. Independente da “estação” em que vocês estão vivendo, mesmo que suas folhas estejam caindo e não seja época de encontrar frutos em seus ramos, permaneçam em mim; confiem na fecundidade do meu Espírito que está escondida dentro de vocês e que fará com que vocês produzam frutos, independente das condições externas! Permaneçam em mim, com a convicção de que Eu sou absolutamente necessário para vocês, independente se vocês estão produzindo frutos ou não. Relacionem-se comigo de maneira profunda e não superficial, pois só quando suas raízes forem profundas é que seus frutos serão abundantes’.
            Quando comparamos a humanidade a uma imensa floresta, ficamos assustados com a quantidade de árvores secas, doentes, estéreis, árvores que se tornaram incapazes de produzir bons frutos, homens e mulheres que “secaram” no amor conjugal, pais que desenvolveram um relacionamento superficial com seus filhos, criando-os também como pessoas superficiais, pessoas sem raízes, adolescentes e jovens que tombam diante do vento de qualquer dificuldade, de qualquer frustração. Neste sentido, vale a pena resgatar a importância da poda: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa (poda), para que dê mais fruto ainda” (Jo 15,1-2). A grande maioria dos pais hoje não tem a coragem de “podar” seus filhos, seja porque não querem ter conflitos com eles, seja porque não querem frustrá-los. Com isso, nós temos uma geração que esbanja beleza e saúde física, mas é totalmente fraca, emocional e espiritualmente, uma geração desprovida de seiva interior, uma geração que quebra diante de qualquer vento que sopre contrário.   
            Mas não só os adolescentes e jovens! Todos nós temos nos tornado avessos às podas. Embora Jesus tenha comparado Deus Pai a um agricultor, nós não admitimos que esse Agricultor interfira na maneira como conduzimos nossa vida afetiva e profissional, na maneira como usamos nossa liberdade e lidamos com nossa sexualidade. E ao rejeitarmos a “interferência” de Deus em nossa vida, nós crescemos de qualquer jeito, como uma árvore selvagem, nunca podada, e que, justamente por falta de poda, produz frutos de baixíssima qualidade, isso quando produz algum fruto...
“Eu sou a videira e vocês são os ramos. Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim vocês não podem fazer nada” (Jo 15,5). Jesus fala do “permanecer” como uma necessidade vital: sem alimentar um relacionamento profundo com Ele, nossa fé morre; se não nos esforçamos para nos manter junto d’Ele e do seu Evangelho, nós murchamos, secamos e morremos, como um ramo que se desprendeu do tronco da videira. “Permanecer” na comunhão com Jesus é responsabilidade nossa. Somos responsáveis por criar um espaço diário em nossa vida onde nos voltamos para as nossas raízes, onde cultivamos a nossa comunhão com o Senhor por meio da oração e da meditação da sua Palavra. A oração raramente nasce em nós como algo espontâneo; nós só encontramos tempo para a oração quando estamos convencidos acerca do que Jesus disse: “Sem mim vocês não podem fazer nada” (Jo 15,5). Se hoje mais do que nunca estamos tendo a sensação de que corremos muito e cada vez mais rápido, mas não chegamos a lugar algum, é hora de nos voltarmos para Jesus como nossa única fonte de vitalidade, de fecundidade. Só d’Ele procede o nosso fruto.          
            Olhemos para as nossas raízes. Perguntemos a nós mesmos se somos pessoas profundas ou superficiais; se buscamos a Deus com profundidade ou de maneira superficial; se O buscamos diariamente, convencidos de que a oração vale por si mesma, independente se “produz” algo em nós ou não. Se porventura nossos ramos estão murchos, secando, perdendo a vitalidade, voltemos a nos enxertar em Jesus; voltemos a nos alimentar da seiva da sua Palavra e da sua Eucaristia. “Permanecer” na comunhão com Jesus não é uma atitude automática em nós, mas uma decisão diária, um desejo da nossa vontade, uma vontade consciente de que, sem Ele, nada podemos, nada construímos, nada alcançamos. Enfim, “permanecer” em Jesus é algo que depende da minha decisão pessoal; sou eu que me empenho em alimentar meu relacionamento com Ele, não mais movido pelo meu cônjuge, por minha mãe ou por qualquer outra pessoa, mas movido pela consciência de que, sem Ele, eu nada posso e nada sou.

Oração
Deus, nosso Pai, Tu és o nosso Agricultor. É de Ti que procede o nosso fruto. Toca nas nossas raízes! Devolve-nos fecundidade! Toca nos nossos ramos e poda aquilo que precisa ser podado em nós, para produzirmos frutos melhores, para nos tornarmos pessoas melhores.
Senhor Jesus Cristo, temos consciência de que, sem Ti, nós nada podemos. Cura os nossos ramos doentes, ensina-nos a ter uma vida de oração profunda. Queremos lançar as nossas raízes em Ti, para não tombarmos diante das dificuldades. Revigora-nos com a seiva do Espírito Santo, para que possamos frutificar também no tempo da dificuldade e da aridez.
Espírito Santo de Deus, precisamos da Tua seiva. Derrama a benção da fecundidade sobre a nossa vida afetiva, familiar, profissional e espiritual. Concede-nos uma fé profunda, uma comunhão profunda com o Pai e o Filho. Fecundados por Tua graça, poderemos produzir o fruto da justiça, da paz e do bem onde quer que a mão do Divino Agricultor nos plante. Amém!  

Pe. Paulo Cezar Mazzi    

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