Missa
do 5º. dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 9,26-31; 1João
3,18-24; João 15,1-8.
Ao
começar a preparar a sua despedida, Jesus disse aos discípulos: “Permaneçam em
mim e eu permanecerei em vocês. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se
não permanecer na videira, assim também vocês não poderão dar fruto, se não
permanecerem em mim” (Jo 15,4).
Como
estão os ramos da nossa vida afetiva e profissional? Como estão os ramos da
nossa vida espiritual? Eles estão produzindo frutos? Os frutos que estamos
produzindo são saudáveis e saborosos, ou estão doentes, estragados? Como você
está se sentindo nesse momento: uma pessoa fecunda, com vitalidade interior, ou
uma pessoa sem seiva, sem vitalidade, uma pessoa que, apesar dos seus esforços,
não produz aquilo que desejaria produzir?
Estamos
no outono, uma estação que nos fala de perda, de adormecimento: muitas árvores
perdem suas folhas; ficam, de certa forma, “feias”, parecendo mortas; mas, na
verdade, não estão mortas; estão adormecidas. Dentro delas existe seiva, existe
vida. Elas despertarão na primavera, voltarão a florescer e produzirão frutos
novamente. Da mesma forma, nossa vida é feita de estações: não existe apenas a
primavera, existe também o outono. Precisamos acolher as estações, as mudanças,
a perda das nossas folhas. O importante é manter nossas raízes em Deus; o
importante é manter nosso relacionamento pessoal com Jesus, pois é d’Ele e
somente d’Ele que recebemos a seiva do Espírito Santo, que nos devolve
fecundidade, que nos faz florescer e frutificar, mesmo quando à nossa volta
existe deserto e aridez.
O
que nos chama a atenção nessas palavras de Jesus é a sua insistência conosco:
“permaneçam”; “permaneçam em mim”. Atitude desafiadora essa de “permanecer”! No
mundo do trabalho já não se permanece no mesmo emprego por muito tempo, assim
como no campo afetivo muitas pessoas não permanecem por muito tempo no mesmo
relacionamento. Até mesmo no campo da fé já não há permanência: muitos não
permanecem na mesma igreja, na mesma religião. Desse modo, é muito comum nós
vermos muitas pessoas sendo levadas pela vida como folhas secas empurradas pelo
vento. São pessoas que não foram habituadas a criar raízes, e pessoas sem raízes
tombam com facilidade; pessoas sem raízes são superficiais: vivem uma fé
superficial, relacionamentos superficiais e são superficiais inclusive em
relação a si mesmas, não cultivando a sua própria interioridade.
“Permaneçam em mim”, nos diz Jesus. ‘Aprofundem
o relacionamento de vocês comigo. Não sejam superficiais na vida espiritual.
Direcionem as raízes de vocês para mim. Independente da “estação” em que vocês
estão vivendo, mesmo que suas folhas estejam caindo e não seja época de
encontrar frutos em seus ramos, permaneçam em mim; confiem na fecundidade do
meu Espírito que está escondida dentro de vocês e que fará com que vocês
produzam frutos, independente das condições externas! Permaneçam em mim, com a
convicção de que Eu sou absolutamente necessário para vocês, independente se
vocês estão produzindo frutos ou não. Relacionem-se comigo de maneira profunda
e não superficial, pois só quando suas raízes forem profundas é que seus frutos
serão abundantes’.
Quando comparamos a humanidade a uma
imensa floresta, ficamos assustados com a quantidade de árvores secas, doentes,
estéreis, árvores que se tornaram incapazes de produzir bons frutos, homens e
mulheres que “secaram” no amor conjugal, pais que desenvolveram um
relacionamento superficial com seus filhos, criando-os também como pessoas
superficiais, pessoas sem raízes, adolescentes e jovens que tombam diante do
vento de qualquer dificuldade, de qualquer frustração. Neste sentido, vale a
pena resgatar a importância da poda: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o
agricultor. Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá
fruto, ele o limpa (poda), para que dê mais fruto ainda” (Jo 15,1-2). A grande
maioria dos pais hoje não tem a coragem de “podar” seus filhos, seja porque não
querem ter conflitos com eles, seja porque não querem frustrá-los. Com isso,
nós temos uma geração que esbanja beleza e saúde física, mas é totalmente fraca,
emocional e espiritualmente, uma geração desprovida de seiva interior, uma
geração que quebra diante de qualquer vento que sopre contrário.
Mas não só os adolescentes e jovens!
Todos nós temos nos tornado avessos às podas. Embora Jesus tenha comparado Deus
Pai a um agricultor, nós não admitimos que esse Agricultor interfira na maneira
como conduzimos nossa vida afetiva e profissional, na maneira como usamos nossa
liberdade e lidamos com nossa sexualidade. E ao rejeitarmos a “interferência”
de Deus em nossa vida, nós crescemos de qualquer jeito, como uma árvore
selvagem, nunca podada, e que, justamente por falta de poda, produz frutos de
baixíssima qualidade, isso quando produz algum fruto...
“Eu
sou a videira e vocês são os ramos. Aquele que permanece em mim, e eu
nele, esse produz muito fruto; porque sem mim vocês não podem fazer nada” (Jo
15,5). Jesus fala do “permanecer” como uma necessidade vital: sem alimentar um
relacionamento profundo com Ele, nossa fé morre; se não nos esforçamos para nos
manter junto d’Ele e do seu Evangelho, nós murchamos, secamos e morremos, como
um ramo que se desprendeu do tronco da videira. “Permanecer” na comunhão com
Jesus é responsabilidade nossa. Somos responsáveis por criar um espaço diário
em nossa vida onde nos voltamos para as nossas raízes, onde cultivamos a nossa
comunhão com o Senhor por meio da oração e da meditação da sua Palavra. A
oração raramente nasce em nós como algo espontâneo; nós só encontramos tempo
para a oração quando estamos convencidos acerca do que Jesus disse: “Sem mim
vocês não podem fazer nada” (Jo 15,5). Se hoje mais do que nunca estamos tendo
a sensação de que corremos muito e cada vez mais rápido, mas não chegamos a
lugar algum, é hora de nos voltarmos para Jesus como nossa única fonte de
vitalidade, de fecundidade. Só d’Ele procede o nosso fruto.
Olhemos para as nossas raízes. Perguntemos
a nós mesmos se somos pessoas profundas ou superficiais; se buscamos a Deus com
profundidade ou de maneira superficial; se O buscamos diariamente, convencidos
de que a oração vale por si mesma, independente se “produz” algo em nós ou não.
Se porventura nossos ramos estão murchos, secando, perdendo a vitalidade,
voltemos a nos enxertar em Jesus; voltemos a nos alimentar da seiva da sua
Palavra e da sua Eucaristia. “Permanecer” na comunhão com Jesus não é uma
atitude automática em nós, mas uma decisão diária, um desejo da nossa vontade,
uma vontade consciente de que, sem Ele, nada podemos, nada construímos, nada
alcançamos. Enfim, “permanecer” em Jesus é algo que depende da minha decisão
pessoal; sou eu que me empenho em alimentar meu relacionamento com Ele, não
mais movido pelo meu cônjuge, por minha mãe ou por qualquer outra pessoa, mas
movido pela consciência de que, sem Ele, eu nada posso e nada sou.
Oração
Deus,
nosso Pai, Tu és o nosso Agricultor. É de Ti que procede o nosso fruto. Toca
nas nossas raízes! Devolve-nos fecundidade! Toca nos nossos ramos e poda aquilo
que precisa ser podado em nós, para produzirmos frutos melhores, para nos
tornarmos pessoas melhores.
Senhor
Jesus Cristo, temos consciência de que, sem Ti, nós nada podemos. Cura os
nossos ramos doentes, ensina-nos a ter uma vida de oração profunda. Queremos
lançar as nossas raízes em Ti, para não tombarmos diante das dificuldades.
Revigora-nos com a seiva do Espírito Santo, para que possamos frutificar também
no tempo da dificuldade e da aridez.
Espírito Santo de Deus, precisamos da Tua seiva. Derrama a benção da fecundidade sobre a nossa vida afetiva, familiar, profissional e espiritual. Concede-nos uma fé profunda, uma comunhão profunda com o Pai e o Filho. Fecundados por Tua graça, poderemos produzir o fruto da justiça, da paz e do bem onde quer que a mão do Divino Agricultor nos plante. Amém!
Espírito Santo de Deus, precisamos da Tua seiva. Derrama a benção da fecundidade sobre a nossa vida afetiva, familiar, profissional e espiritual. Concede-nos uma fé profunda, uma comunhão profunda com o Pai e o Filho. Fecundados por Tua graça, poderemos produzir o fruto da justiça, da paz e do bem onde quer que a mão do Divino Agricultor nos plante. Amém!
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