sexta-feira, 2 de março de 2018

PROTEJA O SAGRADO

Missa do 3º. dom. da quaresma. Palavra de Deus: Êxodo 20,1-17; 1Coríntios 1,22-25; João 2,13-25.

            A cena do Evangelho de hoje é tão impressionante que pode até escandalizar algumas pessoas: Jesus fez “um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas” (Jo 2,15). Há uma palavra da primeira carta do apóstolo Pedro que nos ajuda a entender essa atitude tão drástica de Jesus: “(...) é tempo de começar o julgamento pela casa de Deus” (1Pd 4,17). O que Pedro está afirmando é que, quando Jesus vier para julgar as atitudes de cada ser humano segundo a verdade do Evangelho, os primeiros a serem julgados não serão os pagãos ou os ateus, mas os cristãos, as pessoas que se identificaram com os Seus ensinamentos no Evangelho.
            Essa atitude de Jesus nos lembra a crítica de tantos profetas a uma religião que cultua Deus, mas mantém-se distante do drama da vida humana (cf. Am 5,21-24); uma religião que se preocupa com a beleza dos seus templos, mas não se preocupa com a presença de Cristo naqueles que são injustiçados e atingidos por inúmeros sofrimentos (cf. Mt 25,31-46). E assim como Jesus “expulsou todos do Templo”, ele pergunta a alguns ministros do altar: ‘Quantas pessoas vocês expulsaram da minha Igreja, por se vestirem com paramentos caríssimos e celebrarem liturgias pomposas aos domingos, mas durante a semana se comportarem como homens mundanos, priorizando seu próprio bem estar, roubando suas paróquias ou Dioceses, entregando-se aos seus próprios desejos sexuais e mantendo-se distantes daqueles que sofrem? Quantas pessoas se afastaram da minha Igreja porque alguns de vocês, bispos e padres, afastaram a minha Igreja de mim e do Evangelho?’ E certamente Jesus também pergunta a alguns de nós, cristãos católicos: ‘Quantas pessoas se afastaram da minha Igreja porque você, mesmo vindo à missa aos domingos, continua a viver como um pagão durante a semana, maltratando pessoas, cometendo adultério, sendo ganancioso, desonesto e corrupto quanto ao dinheiro, calando-se diante de uma injustiça, sendo indiferente ao sofrimento do seu semelhante e, quando se depara com uma dor ou um problema, desespera-se como uma pessoa que não tem fé?’           
            Ao mesmo tempo em que Jesus purificou o Templo, nos ajudou a compreender que o verdadeiro Templo, o verdadeiro lugar de encontro do ser humano com Deus, é a Sua própria pessoa. Mas não somente Jesus é o Templo; nosso próprio corpo, nossa consciência, nosso coração é o Templo onde Deus habita, por meio do seu Espírito (cf. 1Cor 3,16-17; 6,19). É para esse templo interior que o evangelista nos remete, ao dizer que Jesus “conhecia o homem por dentro” (Jo 2,25), e só porque Jesus conhece a cada um de nós por dentro é que ele pode hoje gritar à nossa consciência e ao nosso coração: “Tirai isto daqui!”. Portanto, a pergunta que cada um precisa fazer a si mesmo é: “O que precisa ser tirado, o que precisa ser expulso do seu templo interior?”
“Não terás outros deuses diante de mim” (Ex 20,3). Os templos modernos do nosso mundo são as agências bancárias, os escritórios comerciais e os shoppings. Como você se comporta em relação ao dinheiro, o “deus” deste mundo que corrompeu o Evangelho de Jesus Cristo, deformando-o em “evangelho da prosperidade” em muitas igrejas neopentecostais? “Não farás para ti imagem esculpida...” (Ex 20,4). Nós vivemos a era da imagem: TVs cada vez maiores em nossas casas e celulares com imagens cada vez mais definidas, que nos mantém hipnotizados e nos distraem por horas... Quais imagens entram pelos seus olhos diariamente e povoam seus pensamentos? “O que os olhos não veem, o coração não sente”. O que essas imagens provocam e alimentam em você? Em relação a quais imagens Jesus está gritando à sua consciência: ‘Tire isso da sua vida!’?
            “Não matarás” (Ex 20,13). Como você, católico, se comporta diante da violência atual? A Igreja tem pedido que nós, católicos, não compartilhemos palavras ou textos ofensivos nas redes sociais, nem participemos de grupos de watsapp que espalhem fofocas ou façam críticas destrutivas àqueles que pensam diferente de nós, dentro e fora da Igreja. Em relação a quais palavras e atitudes agressivas Jesus está gritando à sua consciência: ‘Tire isso da sua vida!’?
            “Não roubarás” (Ex 20,15). Neste tempo de corrupção generalizada em nosso país, onde “todo mundo” tenta levar algum tipo de vantagem, qual é o seu esforço em manter-se honesto, em comportar-se de maneira justa, mesmo e, sobretudo, quando ninguém está vendo o que você faz? “Não cometerás adultério... Não cobiçarás...” (Ex 20, 14.17). Se é verdade que a emoção substituiu o lugar da consciência na sociedade atual e o “ser feliz” tomou o lugar do “ser fiel”, como você tem lidado com os seus desejos? O quê precisa ser expulso da sua vida, para que seu corpo volte a ser templo do Espírito Santo e para que sua casa e a casa do seu semelhante sejam respeitadas como santuários de Deus?  
            “O zelo por tua casa me consumirá” (Jo 2,17). O que motivou Jesus a agir como agiu no Templo de Jerusalém foi o seu zelo, o seu cuidado com a casa do Pai, o seu cuidado com o sagrado. Desse modo, Jesus nos ensina que o sagrado deve ser protegido. A maneira de lidar com a nossa afetividade e a nossa sexualidade, assim como a maneira como olhamos e tratamos o corpo do nosso semelhante, devem ser iluminadas por este cuidado com o sagrado que o nosso corpo e o corpo do nosso semelhante são aos olhos de Deus. Da mesma forma, quando nos deparamos com o corpo do nosso semelhante, exposto a uma profanação chamada fome, doença, droga, violência, agressão, prostituição etc., precisamos agir como Jesus, no sentido de ajudar a devolver a dignidade, o respeito, o cuidado com o sagrado que é aquele corpo.                Deixemo-nos interpelar pelo corpo do Cristo crucificado. O apóstolo Paulo nos faz este convite hoje: não desviemos os nossos olhos e a nossa consciência dos apelos do Cristo crucificado (cf. 1Cor 1,22-24). Seu corpo foi profanado pela violência dos homens, mas esse mesmo corpo foi ressuscitado pelo poder do Pai e, mesmo após a ressurreição, trazia as marcas da cruz em si (cf. Jo 20,20.27). Assim como Jesus, lutemos para promover a paz; combatamos firmemente toda forma de violência, ainda que isso nos exponha a tantos ataques. Não desistamos de anunciar ao mundo Cristo crucificado, cujo sangue derramado carrega em si a força divina de pacificar todas as realidades (cf. Cl 1,20).
            Oração da Campanha da Fraternidade 2018: Deus e Pai, nós vos louvamos pelo vosso infinito amor e vos agradecemos por ter enviado Jesus, o Filho amado, nosso irmão. Ele veio trazer paz e fraternidade à terra e, cheio de ternura e compaixão, sempre viveu relações repletas de perdão e misericórdia. Derrama sobre nós o Espírito Santo, para que, com o coração convertido, acolhamos o projeto de Jesus e sejamos construtores de uma sociedade justa e sem violência, para que, no mundo inteiro, cresça o vosso Reino de liberdade, verdade e de paz. Amém!

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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