Missa Santa
Maria Mãe de Deus. Palavra de Deus: Números 6,22-27; Gálatas 4,4-7; Lucas
2,16-21.
Estamos diante do começo de um novo
ano, e a vida nos convida a recomeçar. Na verdade, todos nós, todo ser humano,
traz ou deveria trazer consigo o desejo de recomeçar. Deus nos convida a
recomeçar, e recomeçar não significa simplesmente continuar a fazer as coisas
como estamos fazendo; recomeçar significa retomar nossos ideais, reativar
nossos sonhos e recuperar os valores que dão sentido à nossa vida.
Em nome do quê nós vamos recomeçar?
Em nome da mudança de calendário de 2017 para 2018? Para recomeçar é preciso
ter a convicção que um novo começo é possível, e nós, cristãos, sabemos que um
novo começo é sempre possível porque Deus se apresenta na Sagrada Escritura
como Aquele que faz novas todas as coisas
(cf. Ap 21,5). Além disso, o seu Espírito é descrito como Aquele que renova a face da terra (cf. Sl 104,30). Sim. A rotina é
inevitável e ela marca a vida de todo ser humano. Porém nós, cristãos, não nos propomos
a viver a vida como usuários de droga, que vivem buscando sensações novas a
cada instante, e por isso mudam de droga constantemente, porque querem
experimentar sensações diferentes, até morrerem de overdose. Nós, cristãos,
olhamos a vida como Maria, procurando nos perguntar, nos acontecimentos mais
rotineiros e aparentemente banais do nosso dia a dia, o que Deus está querendo
nos dizer, quais os apelos do seu Espírito, para que a nossa vida se abra ao
novo que Deus quer gerar em nós (cf. Lc 2,19).
Certamente cada um de nós deseja e
espera por alguma mudança neste novo ano que nasce. Mas é importante nos dar
conta de que as coisas só mudam quando nós decidimos mudar. A mudança nunca vem de fora; ela sempre vem
de dentro. Por isso, é muito importante estarmos conscientes de que os maiores
obstáculos para a mudança se encontram dentro de nós, e não fora. O maior
inimigo da mudança não é o outro, nem as circunstâncias, mas nós mesmos. Nós
até podemos dizer da boca pra fora que gostaríamos que a nossa vida fosse
diferente em 2018, mas precisamos ter a sinceridade e a humildade de reconhecer
que nós temos muita resistência em mudar. Por mais que reclamemos da
rotina da vida, nós sempre buscamos acomodação, sempre procuramos nos sentir
seguros, agarrando-nos aos nossos velhos hábitos e trabalhando contra as
mudanças que gostaríamos que acontecessem em nossa vida.
Nunca como hoje as pessoas estiveram
tão abertas a mudanças: elas demonstram não ter dificuldade nenhuma em mudar de
religião, de igreja, de parceiro(a), de opinião, de roupa e de corte de cabelo,
mas essas mudanças são “epidérmicas”, superficiais. São mudanças externas; por
dentro, essas pessoas continuam as mesmas: mesquinhas, egoístas, desonestas,
corruptas, imaturas, preguiçosas, chantagistas, sem disposição séria para se
responsabilizarem pela própria vida, desfazer-se de suas máscaras, jogarem fora
suas muletas e pararem de culpar os outros pela vida sem sentido que levam. Por
isso, o apóstolo Paulo nos convida a abandonarmos a nossa postura de adultos acomodados
e infantilizados, e assumirmos com determinação e responsabilidade o nosso
papel diante da vida, como pessoas que carregam dentro de si o Espírito do
próprio Filho de Deus, Espírito que confirma que somos filhos e não escravos
(cf. Gl 4,7), isto é, pessoas capacitadas pelo próprio Deus para se tornarem um
ser humano melhor e a fazer deste mundo um lugar melhor. Se toda mudança dá trabalho e exige determinação e perseverança, nós
temos a graça do Espírito Santo que nos sustenta neste sentido.
O encontro dos pastores com o menino
Jesus nos coloca uma pergunta: para onde estamos olhando nesta virada de ano? Os
pastores nos convidam a olhar para Jesus
Cristo, o mesmo ontem, hoje e sempre (cf. Hb 13,8), Aquele que era, que é e que vem (cf. Ap 1,4.8). Em Suas mãos
depositamos o nosso passado, certos de que Ele nos redime de todos os nossos
pecados; em Suas mãos também depositamos o nosso presente, certos de que Ele
cuida de nós e dirige o nosso caminho; em Suas mãos, enfim, depositamos o nosso
futuro, sabendo que nenhum daqueles que n’Ele espera ficará desapontado. Se
muitas incertezas rondam o nosso coração diante do novo ano que nasce, olhamos
para Jesus e dizemos com a mais profunda convicção do nosso coração: “Sei em quem acreditei” (2Tm 2,12); sei
em quem depositei a minha fé; sei pela Palavra de quem eu oriento a minha
consciência, a minha conduta, a minha vida.
Algumas pessoas dizem que 2017 é um ano
para ser esquecido, por causa do sofrimento que passaram (como se 2018 viesse
com a garantia de que não iremos sofrer!). Ora, as coisas ruins acontecem não
para serem esquecidas, mas para nos ensinar alguma coisa. Politicamente, 2017
foi um ano onde o esgoto de Brasília começou a ser exposto de maneira mais
profunda pela Lava Jato, revelando que a Praça dos Três Poderes (Executivo,
Legislativo e Judiciário) está corrompida, está infestada por ratos que
disseminam a leptospirose da violência, da desigualdade social, da pobreza, do
desemprego, da ruína da saúde e da educação por todo o nosso país. Nunca
como neste ano de 2017 ficamos conscientes de tanto roubo, de tanta corrupção e
assistimos a tanta impunidade, a ponto de termos que admitir que o Brasil hoje é
um país (des)governado por bandidos e assassinos; bandidos, porque roubam desmedida e descaradamente; assassinos, porque o dinheiro que
desviam causa estragos sociais, como a pobreza e a violência. Muitos desses
bandidos e assassinos ainda ocupam a cadeira do Executivo, a maior parte das
cadeiras do Legislativo e uma boa parte das cadeiras do Judiciário. Não nos
esqueçamos que neste ano de 2018 teremos a possibilidade de varrer do cenário
nacional, com o nosso voto, se não todos, pelos menos boa parte deles, caso se
apresentem alternativas para tanto.
Neste início de ano, a Igreja suplica
com o salmista: “Que Deus nos dê a sua
graça e sua bênção, e sua face resplandeça sobre nós! Que na terra se conheça o
seu caminho e a sua salvação por entre os povos” (Sl 67,2-3). Exatamente
hoje, oito dias após o Natal, o Evangelho nos fala que “quando se completaram
os oito dias (...), deram-lhe o nome de Jesus, como fora chamado pelo anjo
antes de ser concebido” (Lc 2,21). O nome “Jesus” significa “Deus salva”, de
modo que Pedro, cheio do Espírito Santo, declarou: “Em nenhum outro existe salvação, pois debaixo do céu não existe outro
nome dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos” (At 4,12). Portanto,
nesta noite de ano novo invocamos o nome de Jesus sobre nós, sobre a nossa
Igreja e sobre a face da terra, lembrando que, em Jesus Cristo, o Pai nos
abençoou do alto do céu com toda a bênção do seu Espírito (cf. Ef 1,3). Assim,
diante do Santíssimo Nome de nosso Senhor Jesus Cristo, nós cantamos:
https://www.youtube.com/watch?v=3Tn8XYWsPx8 (Benedicat)*
* Um dia no
Monte Alverne, Frei Leão se encontrava em um momento de grande aflição e pediu
a Frei Francisco uma palavra sua. Frei Francisco escreveu esta Bênção a próprio
punho (um dos únicos manuscritos de São Francisco). Frei Leão o guardou junto a
seu hábito, em um pequeno bolso junto ao coração, e só foi encontrado pelos
frades no momento de sua morte. Este pequeno manuscrito é hoje guardado no
Sacro Convento de Assis, como uma verdadeira relíquia do amor fraterno que une
os corações no Amor a Cristo.
TEXTO ORIGINAL –
Benedictio Fratri Leoni data
Benedicat tibi
Dominus et custodiat te; ostendat faciem suam tibi et misereatur
tui. Convertat vultum suum ad te et det tibi pacem (Num
6,24-26). Dominus benedicat, frater Leo, te (cfr. Num 6,27).
TEXTO TRADUZIDO
– Bênção dada a Frei Leão
O Senhor te
abençoe e te guarde; mostre sua face para ti e tenha misericórdia de
ti. Volte seu rosto para ti e te dê a paz (Nm 6,24-26). O Senhor te
abençoe, Frei Leão (cfr. Nm 6,27).