Missa do 4o. dom. do advento. Palavra de Deus: 2Samuel 7,1-5.8b-12.14a.16; Romanos 16,25-27; Lucas 1,26-38.
Durante todo o tempo do Advento nós, Igreja, suplicamos: “Que as nuvens se abram e enviem o orvalho reconfortador; que da terra brote já a flor, que venha pra nós o Salvador!” Hoje, às vésperas do Natal, o Evangelho nos mostra o momento em que os céus se abrem e enviam o orvalho da salvação, Jesus Cristo, ao mesmo tempo em que Maria é apresentada como a terra do coração humano que se abre docilmente para acolher o anúncio do Anjo e permitir que no seu ventre comece a germinar Aquele que veio nos trazer a salvação.
Deus
poderia ter enviado seu Filho ao mundo “a partir de cima”, descido como que “pronto”
do céu, isto é, já adulto, formado. Mas Ele escolheu um outro caminho: quis que
Jesus percorresse o mesmo caminho que todo ser humano percorre ao vir ao mundo
– o caminho da fecundação, da gestação, das dores de parto, do nascimento, do
crescimento etc., até se tornar adulto e iniciar a sua missão como Salvador da
humanidade. Além disso, Deus permitiu que seu Filho estivesse sujeito aos
mesmos riscos que a vida de qualquer ser humano enfrenta neste mundo, inclusive
o risco de ser eliminada pela violência e pela maldade dos homens (cf. Mt
2,13-18). Portanto, o caminho que Deus escolheu para nos salvar foi o caminho
da Encarnação: seu Filho Jesus abriu mão da Sua condição divina e se fez pessoa
humana no seio de Maria, estando exposto a tudo aquilo que nós, seres humanos,
estamos expostos (cf. Hb 4,15).
O
Evangelho da Anunciação que hoje ouvimos nos fala não somente do divino que se
faz humano; ele fala também do humano que é chamado a cuidar do divino! Assim
como Maria, cada um de nós é chamado a ser como que uma terra aberta ao orvalho
que o céu quer derramar para gerar a salvação entre os seres humanos. Assim
como Maria foi convidada a assumir o seu lugar na história da salvação, cada um
de nós é convidado a colaborar com Deus, para que a história da salvação tenha
continuidade no hoje da história da humanidade. Assim como o “sim” de Maria foi
fundamental para que Jesus nascesse no meio dos homens, da mesma forma o nosso
“sim” hoje é fundamental para que Jesus possa renascer no coração do nosso
mundo.
O
Natal começa aqui, no exato momento em que Maria diz ao anjo Gabriel: “Faça-se
em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). E estas palavras de Maria nos
questionam: Como ouvimos a Palavra do Senhor? Com que disposição? Até que ponto
permitimos que a sua Palavra penetre e permaneça em nós? Até que ponto temos
paciência e confiança em esperar na Palavra de Deus, até que ela se cumpra em
nós? Assim como Maria, não podemos nos fechar à graça de Deus, como se fôssemos
um terreno cimentado, coberto de concreto, impermeável à fecundidade da Palavra
de Deus. Pelo contrário, precisamos nos tornar sempre mais uma terra boa, onde
a Palavra de Deus possa não somente ser semeada, mas também germinar em nós. Sem
a acolhida humilde e obediente da Palavra, não há como a salvação de Deus
germinar no chão da nossa vida.
“Faça-se
em mim”... Quanto custou a Maria dizer e sustentar essas palavras a Deus! Não
foi apenas no momento da Anunciação que ela disse “Faça-se em mim”. Também no
momento em que não havia lugar para ela dar à luz o seu Filho (cf. Lc 2,7);
também no momento em que precisou fugir com Ele para o Egito, para que Herodes
não O matasse (cf. Mt 2,13); também no momento em que Ele, depois de ser
reencontrado no Templo, lhe deixou claro que devia cuidar das coisas do seu Pai
(cf. Lc 2,49); também no momento em que saiu de Nazaré e iniciou sua missão... Mas
foi, sobretudo, no momento em que comungou do sofrimento de Seu Filho na cruz
que Maria teve que repetir: “Faça-se em mim” (cf. Jo 19,25).
A
exemplo de Maria, nós precisamos aprender a nos abrir aos desígnios de Deus,
aos projetos que Ele tem a nosso respeito e a respeito da humanidade. Nós
precisamos não apenas dizer de coração sincero “faça-se em mim”, como
precisamos também sustentar o nosso “sim” a Deus em toda e qualquer situação,
confiando que tudo concorre para o bem daqueles que se submetem ao querer de
Deus e confiam nos Seus propósitos (cf. Rm 8,28). Deus ainda hoje procura por
homens e mulheres que tenham a disponibilidade de Maria, que aceitem abrir mãos
dos seus projetos pessoais, muitas vezes alimentados por interesses egoístas,
para se abrirem a um horizonte maior, colaborando para que Ele reescreva a
história da salvação no coração da humanidade.
“Eis
que conceberás e darás à luz um filho...” (Lc 1,31). Numa época em que se
espalham no mundo campanhas favoráveis ao aborto, as quais defendem a ideia de que
cabe à mulher decidir sobre o seu corpo, como se o filho que ela está gerando
fosse apenas um “órgão” do seu corpo que ela pode decidir eliminar; numa época
em que muitos filhos são gerados sem alegria, sem amor e sem esperança; numa
época em que muitos casais, por medo da violência e da maldade dos homens,
decidem não ter filhos; numa época em que muitas pessoas, devido a sofrimentos
não superados e a dores não enfrentadas de maneira madura e libertadora,
decidiram se tornar “estéreis”, isto é, pessoas sem alegria, sem fé, sem
esperança e sem amor perante a vida, Deus nos convida a recuperar a confiança em
nossa capacidade de sermos pessoas fecundas, pessoas que se tornem grávidas de
um futuro e de uma esperança para si mesmas e para o nosso mundo.
“O
Espírito Santo virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra”
(Lc 1,35). Coloquemo-nos debaixo da sombra do Altíssimo; deixemo-nos “cobrir”,
isto é, fecundar pelo Espírito Santo de Deus; deixemo-nos conduzir por Ele,
pois somente o Espírito Santo pode gerar Jesus em nós, e somente Ele pode nos
fazer portadores de Jesus para os outros... Alegrando-nos com Maria. Aprendamos
com ela a dizer a cada dia o nosso “Fiat” (Faça-se,
em latim), o nosso “Faça-se” ao que Deus nos propõe na sua Palavra, e que o
nosso “Faça-se” não seja dado somente hoje, mas em toda e qualquer
circunstância, permitindo que Jesus continue a ser gerado em nós e, por meio de
nossas atitudes, nos ambientes em que nos encontramos e no coração daqueles que
convivem conosco.
Oração: Chamas por mim.
Ouço tua voz. Que queres de mim, ó meu Senhor? Estou aqui ao teu dispor, servo
fiel à tua vontade eu serei. Teus planos vão além do que eu possa entender. Quem
sou eu pra merecer tantas graças assim? Meu “sim” eu quero te dizer. Querer o
teu querer, e assim viver. Eu sei: já não posso mais calar a voz que grita em
mim! Fiat, faça-se, faz em mim, quero
que faças sim. Tua vontade sim, faz em mim, quero que faças sim! Simples
mulher, pura e fiel, como tua mãe eu quero ser. Silenciar diante de ti e guardar
tudo dentro do meu coração. Não quero que a embriaguez dos vinhos que bebi me
impeça de provar o sabor do teu vinho novo. Sede nunca mais terei. Contigo eu posso
sempre renascer. Eu sei: já não posso mais calar a voz que grita em mim! Fiat, faça-se, faz em mim, quero que faças
sim. Tua vontade sim, faz em mim, quero que faças sim!
Fiat (Faça-se) Banda Dom.
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