domingo, 24 de dezembro de 2017

QUE HAJA LUGAR PARA ELE RENASCER EM VOCÊ A CADA DIA PELA FÉ

Missa da noite de Natal. Palavra de Deus: Isaías 9,1-6; Tito 2,11-14; Lucas 2,1-14

            Se quisermos compreender o sentido do Natal, precisamos nos lembrar desta Palavra: “Eu, o Senhor, habito num lugar alto e santo, mas estou junto ao abatido e humilhado, a fim de reanimar o espírito abatido, a fim de reerguer o ânimo dos humilhados” (Is 57,15). Jesus nasceu entre nós porque Deus escolheu descer do alto do céu para Se colocar junto a todo ser humano, especialmente junto daquele que se encontra abatido e humilhado. Justamente por isso, na noite em que Jesus nasceu o Anjo do Senhor se dirigiu aos pastores – homens considerados pecadores, perdidos e sem salvação pelas pessoas daquela época – e lhes disse: “Eu vos anuncio a boa notícia, que será uma alegria para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2,10-11).
            “Nasceu para vós um Salvador” (Lc 2,11). Como nos lembra o Pe. José A. Pagola, “Jesus não nasceu para Maria e José; nasceu para nós!”; nasceu, sobretudo, para os pecadores, para as pessoas que se sentem perdidas, ou que são julgadas pelos outros como tais; Jesus nasceu para aqueles que não enxergam nenhuma chance de salvação. Justamente por isso, Ele disse na casa de Zaqueu que veio ao mundo “para procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 10,19). Portanto, ao proclamarmos que o Filho de Deus se fez pessoa humana, devemos proclamar também que nenhum ser humano está abandonado a si mesmo; ninguém está sozinho em sua solidão, porque Jesus é “Deus conosco” (Mt 1,23), e Ele mesmo nos fez esta promessa: “Eu estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Ele nasceu não somente para estar conosco por algum tempo, mas para permanecer conosco todos os dias, em nossa caminhada humana, até que um dia estejamos com Ele na casa do Pai (cf. Jo 14,2-3).
            Natal é a festa da encarnação: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). O Filho de Deus se fez pessoa humana; experimentou em seu próprio corpo tudo o que experimentamos: fome, dor, tristeza, ameaça, desejo, tentação, necessidade, carência etc. Mas Ele experimentou tudo isso em favor de cada um de nós, pois sabia que somente aquilo que é assumido pode ser redimido (São Gregório de Nissa). Jesus assumiu a nossa natureza humana, a nossa carne, aquilo que temos de mais frágil e passível de ser corrompido, para nos redimir, para nos reerguer, para nos retirar do abismo da condenação e nos dar a graça da salvação. Por isso hoje, nesta noite de Natal, cada um de nós pode proclamar com o apóstolo Paulo: “quando sou fraco, é então que sou forte” (2Cor 12,10), pois Cristo nos garantiu: “Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que a minha força se manifesta” (2Cor 12,9).
            O Natal é a manifestação da força de Deus na fraqueza humana. O Natal é a celebração da graça de Deus “que se manifestou trazendo a salvação a todas as pessoas” (Tt 2,11). Portanto, o Natal, embora seja celebrado como festa para os cristãos, é, na verdade, uma festa que deveria ser celebrada por todas as pessoas, pois Jesus nasceu como Salvador de todo ser humano e não somente dos cristãos, não somente dos que nele creem. De fato, o próprio Jesus disse que o Pai lhe confiou o poder de salvar todo ser humano e de lhe dar a vida eterna (cf. Jo 17,2). Cabe a nós, cristãos, recuperar a consciência da nossa salvação em Cristo e de ajudar as pessoas do nosso tempo a se encontrarem com Aquele que nasceu como único e verdadeiro Salvador de cada uma delas.
            “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, e para os que habitavam nas sombras da morte brilhou uma luz... Porque para nós nasceu um menino...” (Is 9,1.5). O profeta Isaías disse essas palavras numa época em que o povo de Israel se sentia engolido pela violência, pela ganância e pela destruição das nações inimigas que o rodeavam. Hoje nós, cristãos, somos chamados a profetizar sobre as sombras escuras do terrorismo, das guerras, da violência urbana, da destruição provocada pela fome, pela corrupção, pelas injustiças, pelo tráfico e pelo consumo de drogas, que “para nós nasceu um menino”. Nossa missão como cristãos, como “sal da terra” e “luz do mundo” (cf. Mt 5,13.14), é nos colocar junto daqueles que estão prostrados nas trevas e sentados na sombra da morte, para anunciar-lhes que nasceu Aquele que é a “luz que brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram apagá-la” (Jo 1,5); nasceu Aquele que é “a luz verdadeira que, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano” (Jo 1,9).
            A narrativa do nascimento de Jesus também nos faz um alerta: “Não havia lugar para eles” (Lc 2,7); por isso, Maria deu à luz o seu Filho numa estrebaria. Hoje, diante de Jesus menino, podemos pensar nas crianças que, como Jesus, também não encontram um lugar digno para nascer, crescer e ser educadas. Não há lugar para elas no que diz respeito à saúde e à educação de qualidade; não há lugar para elas no que diz respeito a uma família estruturada; não há lugar para elas no que diz respeito à formação de uma personalidade saudável e de uma identidade sexual clara e bem definida. Pensemos também nas crianças para as quais não há lugar para a religião nem para a fé, na vida delas: são crianças cujos pais têm a preocupação em levá-las para visitar o Papai Noel e tirar foto com ele nos shoppings ou nas praças da cidade, mas não se preocupam em levá-las para visitar e tirar fotos junto de um presépio; são crianças que crescem desconhecendo que a razão de ser do Natal é justamente acolher o Menino que nasceu como nosso Salvador. 
              Por fim, ao celebrarmos o Natal de nosso Senhor Jesus, tenhamos claro que não estamos aqui para olhar um fato do passado e simplesmente recordar o nascimento do Filho de Deus. Muito mais do que isso, a celebração do Natal é sempre uma oportunidade de reavivar a nossa esperança na gloriosa manifestação “do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (Tt 2,13), cuja volta devemos aguardar procurando nos afastar do paganismo e da corrupção moral em que vive o nosso mundo, ao mesmo tempo em que nos esforçamos por viver a cada dia de maneira equilibrada, justa e piedosa (cf. Tt 2,12).       

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