sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

QUEM É VOCÊ? QUAIS SÃO SEUS SONHOS? NO QUÊ VOCÊ CRÊ? O QUE VOCÊ ESPERA?

Missa do 3º. dom. do Advento. Palavra de Deus: Isaías 61,1-2a.10-11; 1Tessalonicenses 5,16-24; João 1,6-8.19-28.

            Uma vez que nós estamos a menos de dez dias do Natal, o Evangelho nos coloca novamente diante de João Batista, aquele que preparou a humanidade para a primeira vinda de Jesus. E João é descrito como “um homem enviado por Deus” (Jo 1,6). Assim como João, cada um de nós se encontra aqui nesta terra, neste mundo, porque foi enviado por Deus. Mas, enviado por quê? Para que? “Ele veio como testemunha, para dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz” (Jo 1,7-8).
            Diante do testemunho de João, cada um de nós pode dizer: “Eu sou uma missão nesta terra e por isso estou neste mundo” (Papa Francisco, A Alegria do Evangelho n.273). O sentido da nossa existência está na missão que somos, na missão que Deus nos confiou: ajudar as pessoas do nosso tempo a terem um encontro profundo com Aquele que é a luz do mundo, Jesus Cristo (cf. Jo 8,12). Apesar das nossas limitações humanas, precisamos fazer todo o possível para que as pessoas com as quais convivemos cheguem à fé em Jesus Cristo, o único Salvador do mundo. Para isso, nós mesmos precisamos estar na luz, isto é, viver em comunhão com Jesus Cristo e pautar a nossa conduta pela luz do seu Evangelho, pois ninguém pode pretender conduzir alguém para a luz se ele mesmo não está (e nem se esforça para estar) na luz.
            João foi questionado pelas pessoas do seu tempo: “Quem é você?” (Jo 1,19); “O que você diz de si mesmo?” (Jo 1,21). Assim como João Batista, nós, cristãos, somos fortemente questionados pelas pessoas do nosso tempo. Diante das catástrofes e das injustiças sociais, diante da dor e do sofrimento, diante da morte de tantos inocentes, diante de acontecimentos absurdos e totalmente desprovidos de sentido, diante da aparente inexistência de Deus ou da Sua aparente indiferença para com a humanidade, o mundo pergunta a cada um de nós, cristãos: ‘Quem é você? No quê ou em Quem você acredita? Quais são os seus desejos, os seus sonhos, as suas esperanças? O que você pretende fazer da sua existência, da sua breve passagem por este mundo? Por que você ainda reza, ainda lê a Bíblia, ainda vai à Igreja, ainda tem uma religião, ainda tem fé? Que respostas você tem para o absurdo da dor, da maldade, da injustiça e do sofrimento que atingem cegamente inúmeras pessoas do nosso tempo?’
             “Quem é você?” (Jo 1,19); “O que você diz de si mesmo?” (Jo 1,21). Ninguém de nós gosta de ser questionado. Todos nós preferimos encontrar respostas, ao invés de nos deparar com perguntas. As respostas, de certa forma, nos acomodam e nos tranquilizam, enquanto que as perguntas nos incomodam, nos angustiam e nos colocam em “crise”. No entanto, nós não deveríamos ter medo das perguntas, não deveríamos ter medo de ser questionados, mesmo porque os questionamentos nos obrigam a nos desinstalar, a rever a forma como estamos respondendo aos desafios da vida e a nos dar conta de que o Deus em Quem nós cremos jamais aceitou ser transformado em ou tratado como uma resposta fácil para os problemas e questionamentos que o ser humano tem dentro de si.
            “Quem é você?” (Jo 1,19); “O que você diz de si mesmo?” (Jo 1,21). A você, cristão, não cabe responder a todas as perguntas que o mundo lhe faz; ninguém pode ter a pretensão de saber das respostas a tudo, a menos que queira ser enganador e superficial. A você, cristão, cabe ser “uma voz gritando no deserto: coloque em ordem o caminho do Senhor” (Jo 1,23). A você, cristão, cabe não só gritar à consciência do mundo, mas à sua própria esta simples e profunda verdade: “No meio de vocês está alguém que vocês não conhecem” (Jo 1,26). O fato de Jesus Cristo ter nascido há mais de dois mil anos e do seu Evangelho já ter sido anunciado a inúmeras pessoas, não significa que Ele seja hoje (re)conhecido como Salvador por todos aqueles que já entraram em contato com a pregação do Evangelho, assim como não significa que todas as pessoas batizadas e iniciadas na vida cristã tenham tido um verdadeiro encontro com Jesus Cristo ou que ainda estejam percorrendo o caminho da fé.
“No meio de vocês está alguém que vocês não conhecem” (Jo 1,26). Não nos enganemos a respeito de nós mesmos e nem sejamos apressados em aplicar essas palavras àqueles que julgamos ignorantes em termos de fé ou de religião. Deus sempre foi e sempre será Alguém a Quem somos chamados a conhecer melhor e em profundidade. O próprio apóstolo Paulo já deixou claro que o nosso conhecimento a respeito de Deus foi e será sempre limitado, imperfeito: “Agora vemos como que num espelho, de maneira confusa, mas depois veremos face e face. Agora conheço de maneira parcial, mas depois conhecerei como sou plenamente conhecido” (1Cor 13,12). Portanto, as palavras de João Batista não servem como um desestímulo em nossa busca por Deus, mas são um convite a procurá-Lo com humildade, a nos abrir a Ele, permitindo que Ele revele mais de Si mesmo a nós na pessoa de Seu Filho Jesus Cristo, como está escrito: “Ninguém jamais viu a Deus; mas o Filho único, que está voltado para o seio do Pai, este o revelou a nós” (Jo 1,18).
“No meio de vocês está alguém que vocês não conhecem” (Jo 1,26). Muitas pessoas optaram por se tornarem ateias por não entenderem a ausência de Deus na história humana e a Sua omissão em nada fazer para intervir e socorrer uma humanidade cada vez mais ferida pela maldade e pela injustiça dos homens. Talvez essas pessoas desconheçam o que o próprio Deus disse na Escritura: “Meu povo está morrendo por falta de conhecimento... Um povo sem entendimento caminha para a perdição” (Os 4,6.14). O que destrói a humanidade, o que de fato nos machuca, nos adoece e pode nos destruir não é a ausência de Deus, não é a Sua indiferença ou a Sua não existência, mas o fato de nós ignorarmos Deus, o fato de muitos de nós, livre e conscientemente, escolherem viver como se Deus não existisse. Dizendo de outra forma, aquilo que nos adoece e pode nos destruir é desconhecer a verdade de Deus a nosso respeito, e essa verdade só pode ser despertada dentro de nós quando temos a coragem de nos confrontar com uma pergunta: quem sou eu?       
“Quem é você?” (Jo 1,19); “O que você diz de si mesmo?” (Jo 1,21). Ignorar quem você é significa ignorar a sua força, a sua capacidade, as suas dores, as suas feridas, os seus limites, e ignorar essas coisas nos faz muito mal, porque nos adoece e nos mantém presos a situações nocivas e destrutivas. “Quem é você?” (Jo 1,19); “O que você diz de si mesmo?” (Jo 1,21). Nós não somos a roupa de marca que usamos, nem o carro que possuímos, nem os lugares que frequentamos, nem o cargo que ocupamos, nem a função que desempenhamos... Tomar consciência da nossa identidade significa tomar consciência da nossa vocação de homens e mulheres ungidos pelo Espírito de Deus e chamados a anunciar a alegria do Evangelho “aos humildes, curar as feridas da alma, pregar a redenção para os cativos e a liberdade para os que estão presos” (Is 61,1); somos homens e mulheres chamados a aguardar pelo Senhor Jesus na alegria do nosso serviço em favor da salvação da humanidade, cultivando uma vida de oração constante e profunda, agradecendo a Deus a missão que Ele nos confiou, examinando tudo o que o mundo nos apresenta e ficando somente com aquilo que é bom e que convém à nossa salvação, além de procurar nos afastar de toda espécie de maldade, de injustiça e de corrupção (cf. 1Ts 5,16-22). É assim que, segundo apóstolo Paulo, devemos esperar pela volta do Senhor nosso Jesus Cristo.

Oração:

Meu Pai, eu não posso mais caminhar na vida desconhecendo quem Tu és, desconhecendo o Teu amor que pode me curar e a Tua verdade que pode me libertar. Tira o véu dos meus olhos! Que eu conheça mais em profundidade a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Teu Filho Jesus Cristo, o único Salvador da humanidade. Que o meu conhecimento de Ti se traduza na intimidade contigo e na conformação da minha vida à Tua vontade.  
Sim, Pai, quanto mais a humanidade não Te reconhece, quanto mais as pessoas decidem não mais buscar conhecer os Teus caminhos e passarem a viver como se Tu não existisse, mais elas se machucam e adoecem, mais elas se tornam destrutivas em relação a si mesmas, aos outros e ao meio ambiente. Faz de nós testemunhas da luz, como João Batista, testemunhas da Tua presença, da Tua verdade e da Tua salvação, para que mais e mais pessoas se abram à verdadeira fé.
O mundo de hoje coloca sérios questionamentos para a nossa fé. Temos consciência de que não devemos fugir desses questionamentos. Que o Teu Espírito nos ajude a dar respostas sérias e profundas para todos aqueles que precisam reencontrar o caminho para Ti e para Teu Filho Jesus Cristo. Perdoa nossa superficialidade, nossa ignorância, nossa incoerência e nosso contratestemunho. Mesmo sendo falhos e imperfeitos, que a nossa presença cristã se torne cada vez mais alegria para os humildes, força para os fracos, cura para os que estão feridos, visão para os que não mais enxergam e libertação para os que se sentem presos.
Pai Santo, que todos nós possamos esperar por Teu Filho Jesus Cristo na alegria em trabalhar pela salvação da humanidade, aprofundando a cada dia a nossa vida de oração, agradecendo-Te por tudo que Tu permites que nos aconteça, pois confiamos nos Teus propósitos a nosso respeito. Enfim, que aprendamos a examinar tudo o que o mundo nos apresenta e escolher somente aquilo que é bom e que convém à nossa salvação, procurando nos afastar de toda espécie de maldade, injustiça e corrupção, pois é desse modo que estaremos devidamente preparados para a chegada de Vosso Filho Jesus. Amém!

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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