Missa do 3º.
dom. do Advento. Palavra de Deus: Isaías 61,1-2a.10-11; 1Tessalonicenses
5,16-24; João 1,6-8.19-28.
Uma vez que nós estamos a menos de dez
dias do Natal, o Evangelho nos coloca novamente diante de João Batista, aquele
que preparou a humanidade para a primeira vinda de Jesus. E João é descrito
como “um homem enviado por Deus” (Jo 1,6). Assim como João, cada um de nós se
encontra aqui nesta terra, neste mundo, porque foi enviado por Deus. Mas,
enviado por quê? Para que? “Ele veio como testemunha, para dar testemunho da
luz, para que todos chegassem à fé por meio dele. Ele não era a luz, mas veio
para dar testemunho da luz” (Jo 1,7-8).
Diante do testemunho de João, cada
um de nós pode dizer: “Eu sou uma missão nesta terra e por isso estou neste
mundo” (Papa Francisco, A Alegria do
Evangelho n.273). O sentido da nossa existência está na missão que somos,
na missão que Deus nos confiou: ajudar as pessoas do nosso tempo a terem um
encontro profundo com Aquele que é a luz do mundo, Jesus Cristo (cf. Jo 8,12).
Apesar das nossas limitações humanas, precisamos fazer todo o possível para que
as pessoas com as quais convivemos cheguem à fé em Jesus Cristo, o único
Salvador do mundo. Para isso, nós mesmos precisamos estar na luz, isto é, viver
em comunhão com Jesus Cristo e pautar a nossa conduta pela luz do seu Evangelho,
pois ninguém pode pretender conduzir alguém para a luz se ele mesmo não está (e
nem se esforça para estar) na luz.
João foi questionado pelas pessoas
do seu tempo: “Quem é você?” (Jo 1,19); “O que você diz de si mesmo?” (Jo
1,21). Assim como João Batista, nós, cristãos, somos fortemente questionados
pelas pessoas do nosso tempo. Diante das catástrofes e das injustiças sociais,
diante da dor e do sofrimento, diante da morte de tantos inocentes, diante de
acontecimentos absurdos e totalmente desprovidos de sentido, diante da aparente
inexistência de Deus ou da Sua aparente indiferença para com a humanidade, o
mundo pergunta a cada um de nós, cristãos: ‘Quem é você? No quê ou em Quem você
acredita? Quais são os seus desejos, os seus sonhos, as suas esperanças? O que
você pretende fazer da sua existência, da sua breve passagem por este mundo?
Por que você ainda reza, ainda lê a Bíblia, ainda vai à Igreja, ainda tem uma
religião, ainda tem fé? Que respostas você tem para o absurdo da dor, da
maldade, da injustiça e do sofrimento que atingem cegamente inúmeras pessoas do
nosso tempo?’
“Quem é você?” (Jo 1,19); “O que você diz de
si mesmo?” (Jo 1,21). Ninguém de nós gosta de ser questionado. Todos nós
preferimos encontrar respostas, ao invés de nos deparar com perguntas. As
respostas, de certa forma, nos acomodam e nos tranquilizam, enquanto que as
perguntas nos incomodam, nos angustiam e nos colocam em “crise”. No entanto, nós
não deveríamos ter medo das perguntas, não deveríamos ter medo de ser
questionados, mesmo porque os questionamentos nos obrigam a nos desinstalar, a
rever a forma como estamos respondendo aos desafios da vida e a nos dar conta
de que o Deus em Quem nós cremos jamais aceitou ser transformado em ou tratado
como uma resposta fácil para os problemas e questionamentos que o ser
humano tem dentro de si.
“Quem é você?” (Jo 1,19); “O que
você diz de si mesmo?” (Jo 1,21). A você, cristão, não cabe responder a todas
as perguntas que o mundo lhe faz; ninguém pode ter a pretensão de saber das
respostas a tudo, a menos que queira ser enganador e superficial. A você,
cristão, cabe ser “uma voz gritando no deserto: coloque em ordem o caminho do
Senhor” (Jo 1,23). A você, cristão, cabe não só gritar à consciência do mundo,
mas à sua própria esta simples e profunda verdade: “No meio de vocês está
alguém que vocês não conhecem” (Jo 1,26). O fato de Jesus Cristo ter nascido há
mais de dois mil anos e do seu Evangelho já ter sido anunciado a inúmeras
pessoas, não significa que Ele seja hoje (re)conhecido como Salvador por todos
aqueles que já entraram em contato com a pregação do Evangelho, assim como não
significa que todas as pessoas batizadas e iniciadas na vida cristã tenham tido
um verdadeiro encontro com Jesus Cristo ou que ainda estejam percorrendo o
caminho da fé.
“No
meio de vocês está alguém que vocês não conhecem” (Jo 1,26). Não nos enganemos
a respeito de nós mesmos e nem sejamos apressados em aplicar essas palavras
àqueles que julgamos ignorantes em termos de fé ou de religião. Deus sempre foi
e sempre será Alguém a Quem somos chamados a conhecer melhor e em profundidade.
O próprio apóstolo Paulo já deixou claro que o nosso conhecimento a respeito de
Deus foi e será sempre limitado, imperfeito: “Agora vemos como que num espelho,
de maneira confusa, mas depois veremos face e face. Agora conheço de maneira parcial,
mas depois conhecerei como sou plenamente conhecido” (1Cor 13,12). Portanto, as
palavras de João Batista não servem como um desestímulo em nossa busca por
Deus, mas são um convite a procurá-Lo com humildade, a nos abrir a Ele,
permitindo que Ele revele mais de Si mesmo a nós na pessoa de Seu Filho Jesus
Cristo, como está escrito: “Ninguém jamais viu a Deus; mas o Filho único, que
está voltado para o seio do Pai, este o revelou a nós” (Jo 1,18).
“No
meio de vocês está alguém que vocês não conhecem” (Jo 1,26). Muitas pessoas
optaram por se tornarem ateias por não entenderem a ausência de Deus na
história humana e a Sua omissão em nada fazer para intervir e socorrer uma
humanidade cada vez mais ferida pela maldade e pela injustiça dos homens.
Talvez essas pessoas desconheçam o que o próprio Deus disse na Escritura: “Meu
povo está morrendo por falta de conhecimento... Um povo sem entendimento caminha
para a perdição” (Os 4,6.14). O que destrói a humanidade, o que de fato nos
machuca, nos adoece e pode nos destruir não é a ausência de Deus, não é a Sua
indiferença ou a Sua não existência, mas o fato de nós ignorarmos Deus, o fato
de muitos de nós, livre e conscientemente, escolherem viver como se Deus não
existisse. Dizendo de outra forma, aquilo que nos adoece e pode nos destruir é
desconhecer a verdade de Deus a nosso respeito, e essa verdade só pode ser
despertada dentro de nós quando temos a coragem de nos confrontar com uma
pergunta: quem sou eu?
“Quem
é você?” (Jo 1,19); “O que você diz de si mesmo?” (Jo 1,21). Ignorar quem você
é significa ignorar a sua força, a sua capacidade, as suas dores, as suas
feridas, os seus limites, e ignorar essas coisas nos faz muito mal, porque nos
adoece e nos mantém presos a situações nocivas e destrutivas. “Quem é você?”
(Jo 1,19); “O que você diz de si mesmo?” (Jo 1,21). Nós não somos a roupa de
marca que usamos, nem o carro que possuímos, nem os lugares que frequentamos,
nem o cargo que ocupamos, nem a função que desempenhamos... Tomar consciência
da nossa identidade significa tomar consciência da nossa vocação de homens e
mulheres ungidos pelo Espírito de Deus e chamados a anunciar a alegria do
Evangelho “aos humildes, curar as feridas da alma, pregar a redenção para os
cativos e a liberdade para os que estão presos” (Is 61,1); somos homens e
mulheres chamados a aguardar pelo Senhor Jesus na alegria do nosso serviço em
favor da salvação da humanidade, cultivando uma vida de oração constante e
profunda, agradecendo a Deus a missão que Ele nos confiou, examinando tudo o
que o mundo nos apresenta e ficando somente com aquilo que é bom e que convém à
nossa salvação, além de procurar nos afastar de toda espécie de maldade, de
injustiça e de corrupção (cf. 1Ts 5,16-22). É assim que, segundo apóstolo
Paulo, devemos esperar pela volta do Senhor nosso Jesus Cristo.
Oração:
Meu
Pai, eu não posso mais caminhar na vida desconhecendo quem Tu és, desconhecendo
o Teu amor que pode me curar e a Tua verdade que pode me libertar. Tira o véu
dos meus olhos! Que eu conheça mais em profundidade a Ti, o único Deus verdadeiro,
e a Teu Filho Jesus Cristo, o único Salvador da humanidade. Que o meu
conhecimento de Ti se traduza na intimidade contigo e na conformação da minha
vida à Tua vontade.
Sim,
Pai, quanto mais a humanidade não Te reconhece, quanto mais as pessoas decidem
não mais buscar conhecer os Teus caminhos e passarem a viver como se Tu não
existisse, mais elas se machucam e adoecem, mais elas se tornam destrutivas em
relação a si mesmas, aos outros e ao meio ambiente. Faz de nós testemunhas da
luz, como João Batista, testemunhas da Tua presença, da Tua verdade e da Tua
salvação, para que mais e mais pessoas se abram à verdadeira fé.
O
mundo de hoje coloca sérios questionamentos para a nossa fé. Temos consciência
de que não devemos fugir desses questionamentos. Que o Teu Espírito nos ajude a
dar respostas sérias e profundas para todos aqueles que precisam reencontrar o
caminho para Ti e para Teu Filho Jesus Cristo. Perdoa nossa superficialidade,
nossa ignorância, nossa incoerência e nosso contratestemunho. Mesmo sendo
falhos e imperfeitos, que a nossa presença cristã se torne cada vez mais
alegria para os humildes, força para os fracos, cura para os que estão feridos,
visão para os que não mais enxergam e libertação para os que se sentem presos.
Pai
Santo, que todos nós possamos esperar por Teu Filho Jesus Cristo na alegria em trabalhar
pela salvação da humanidade, aprofundando a cada dia a nossa vida de oração, agradecendo-Te
por tudo que Tu permites que nos aconteça, pois confiamos nos Teus propósitos a
nosso respeito. Enfim, que aprendamos a examinar tudo o que o mundo nos
apresenta e escolher somente aquilo que é bom e que convém à nossa salvação, procurando
nos afastar de toda espécie de maldade, injustiça e corrupção, pois é desse
modo que estaremos devidamente preparados para a chegada de Vosso Filho Jesus.
Amém!
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