quinta-feira, 31 de março de 2016

PRECISAMOS REENCONTRAR AS NOSSAS MÃOS

Missa do 2º. dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos 5,12-16; Apocalipse 1,9-11a.12-13.17-19; João 20,19-31.  

A leitura dos Atos dos Apóstolos nos mostrou que a presença de Jesus ressuscitado no meio da sua Igreja fez com que Pedro e os demais apóstolos se tornassem uma presença de cura e de ressurreição junto ao povo. Essa presença de cura nos faz lembrar de uma constatação nada positiva de uma senhora, a respeito de alguns médicos atuais. Ela dizia: “Os médicos perderam as mãos”. Em que sentido? No sentido de que alguns médicos, durante a consulta, não chegam sequer a tocar no paciente (alguns, inclusive, nem olham para o rosto do paciente), seja porque não querem, seja porque estão com pressa – há uma fila enorme de pessoas esperando ser atendida. Portanto, o diagnóstico é dado pelo ouvir e, às vezes, olhar o paciente sem, contudo, tocá-lo.  
Se isso é verdade, tal verdade infelizmente não se aplica somente a alguns médicos. Quantos de nós também perdemos as mãos e não nos demos conta disso? Quando foi a última vez que sua mão tocou em alguém? Em quem? Com qual intenção? Sejamos sinceros! Nossas mãos deslizam frequentemente e com facilidade na tela do nosso celular, mas não encontram jeito para tocar na pessoa que está ao nosso lado, principalmente se a pessoa em questão não tem beleza, não é da nossa cor, nem do nosso sangue, ou está em dificuldade, doente, depressiva, enlutada...
 No domingo de Páscoa, Jesus ressuscitado encontra a sua Igreja de portas fechadas, por medo dos judeus. Seja por medo, seja por individualismo ou por comodismo, nossas portas estão cada vez mais fechadas para o outro. O bom é que essas portas fechadas não impedem Jesus de entrar. Ele entra para nos trazer a sua paz, a alegria da sua vitória sobre a morte. Mas, porque seu corpo está agora glorificado, ele precisa nos mostrar as mãos e o lado, marcados pela cruz, para que possamos reconhecê-lo.
            Jesus foi um homem que nunca perdeu as mãos. Suas mãos perdoaram, curaram, ensinaram, levantaram, encontraram, fortaleceram, redimiram, salvaram. Mesmo agora, após a ressurreição, ele mostra as suas mãos chagadas, feridas, e diz a cada um de nós: “Não tenha medo... Estive morto, mas agora estou vivo para sempre. Eu tenho a chave da morte e da região dos mortos” (Ap 1,17.18). Se temos nos fechado atrás da porta do medo, da indiferença, do desânimo ou da tristeza, Jesus tem a chave para abri tais portas e nos fazer sair para reencontrar a coragem, a solidariedade, o ânimo e a alegria.  
            “(...) Caí como morto a seus pés, mas ele colocou sobre mim a sua mão direita” (Ap 1,17). Quantas pessoas estão caídas à sua volta, sentindo-se mortas na fé e na esperança? Você tem colocado sua mão sobre elas, para que voltem a se sentir vivas? As mãos de Jesus ressuscitado são mãos chagadas, que carregam as marcas de quem se feriu para salvar, de quem foi ferido porque amou até o fim. Só quem se deixa “machucar” pelas exigências do Evangelho pode ser uma presença de cura e de ressurreição junto a quem está ferido ou sentindo-se morto.  
             “Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20,21). Jesus ressuscitado nos envia para as portas fechadas, para encontrar aqueles que estão atrás dessas portas e precisam recobrar o sentido de viver. Jesus ressuscitado também nos envia para os “Tomés” de hoje, para as pessoas que estão descrentes em relação à Igreja, à Justiça, à Política, e até mesmo em relação à Humanidade. Precisamos nos aproximar com humildade das pessoas que estão feridas em sua fé. Muitas delas deixaram de crer porque nós, cristãos, também perdemos as nossas mãos: elas estão frequentemente limpas, hidratadas e perfumadas, e sempre mais distantes da dor alheia. Não é de admirar que, quando falamos de Jesus Cristo, não sejamos levados a sério e nossa pregação não reconduza para a fé tantos “Tomés” de hoje.
            O Evangelho de hoje termina dizendo: “... estes (sinais) foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome” (Jo 20,31). A fé não nasce do ver, nem do tocar, mas do ouvir o anúncio sobre Jesus Cristo (cf. Rm 10,17), o rosto visível da misericórdia do Pai. A nossa missão é justamente esta: ser uma presença viva do Evangelho junto àqueles que não creem ou cuja fé está desfalecida. Na medida em que reencontrarmos as nossas mãos e as reabilitarmos para tocar nas chagas dos crucificados de hoje, nossa presença será como a dos apóstolos no início da Igreja: uma presença de cura e de ressurreição.

                                                           Pe. Paulo Cezar Mazzi

quarta-feira, 23 de março de 2016

DESDE JÁ RESSUSCITADOS, MAS NÃO AINDA TOTALMENTE

Missa do domingo de Páscoa. Palavra de Deus: Atos 10,34a.37-43; Colossenses 3,1-4; João 20,1-9.

            “Povo meu, vocês ficarão sabendo que eu sou o Senhor, quando eu abrir seus túmulos, e de seus túmulos eu tirar vocês. Colocarei em vocês o meu espírito, e vocês reviverão” (Ez 37,13-14). Esta promessa de Deus foi feita aos israelitas enquanto prisioneiros na Babilônia (a partir de 587 a.C.). A prisão daquele povo era comparada a um túmulo, do qual Deus o tirou, permitindo que voltasse ao seu país e reconstruísse a sua vida novamente (a partir de 538 a.C.).
Quando somos tirados, pela graça de Deus, do túmulo do medo, da ameaça, da angústia, do sofrimento, ou mesmo quando ajudamos pessoas a saírem do túmulo do desânimo, da opressão ou de uma determinada injustiça, ali se experimenta uma espécie de ressurreição: volta-se a viver, recupera-se o sentido de viver.
Mas a ressurreição de Jesus, garantia da nossa futura ressurreição, não foi um simples “voltar a viver”. Foi uma vida totalmente nova, onde o corpo está agora glorificado, e Jesus pode estar com os discípulos de uma maneira nova, comunicando-lhes a paz e o dom do Espírito (cf. Jo 20,21-22), deixando-se tocar por eles (cf. Jo 20,27), abrindo-lhes a inteligência para compreenderem melhor as Escrituras (cf. Lc 24,45), fortalecendo-lhes a fé e confirmando-os na missão de levar a alegria do Evangelho a cada ser humano (cf. Mt 28,16-20).
A ressurreição de Jesus é a única razão para termos fé (cf. 1Cor 15,14). Mas não só isso. A nossa esperança em Cristo vai além desta vida terrena e tem por objetivo a vida eterna (cf. 1Cor 15,19). Desde que Cristo ressuscitou, cada um de nós aguarda o momento em que ele virá para transformar o nosso corpo, exposto à dor e à morte, e torná-lo semelhante ao seu corpo glorioso (cf. Fl 3,20-21). O momento da nossa ressurreição será o momento em que o nosso imperfeito será substituído pelo perfeito de Deus, as nossas perguntas mais profundas serão respondidas e nós deixaremos de ver de maneira confusa e passaremos a ver face a face (cf. 1Cor 13,10.12).    
A Escritura nos disse hoje que o mesmo Pai que ressuscitou Jesus “o constituiu juiz dos vivos e dos mortos” (At 10,42), o que significa que todo ser humano, cada um de nós, está destinado a encontrar-se com Cristo no momento da sua própria ressurreição: “os que fizeram o bem, ressuscitarão para a vida; os que fizeram o mal, ressuscitarão para a condenação” (Jo 5,29). Portanto, a fé na ressurreição de Cristo e em nossa própria é a fé na justiça de Deus; é quando o Pai retribuirá a cada pessoa conforme as suas atitudes (cf. 2Cor 5,10).
A ressurreição foi o “Amém” do Pai à vida de Jesus. O “mundo” daquela época disse “não” a Jesus, matando-o numa cruz. Mas o Pai disse “sim” a cada palavra e a cada atitude de Jesus, ressuscitando-o! Da mesma forma, tantas pessoas que foram rejeitadas pelo mundo atual, por denunciarem as injustiças que muitos cometem por causa da ganância em relação ao dinheiro, serão acolhidas por Deus em seu Reino (cf. Mt 5,10). Por isso, não se angustie ou se deprima se as pessoas dizem “não” à sua fé e à sua conduta segundo o Evangelho. Deus lhe dirá “sim”, no momento da sua ressurreição!
Hoje, ao celebrarmos a Páscoa de Jesus, ao proclamarmos que Ele vive e está ressuscitado no meio de nós, somos convidados a nos esforçar “por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus” (Cl 3,1). A ressurreição de Jesus já nos alcançou, e a sua força já atua em nós por meio do Espírito Santo, convidando-nos a sair dos nossos túmulos. No entanto, ela também precisa ser buscada por nós todos os dias, por meio da nossa fé e das nossas atitudes, fazendo com que a alegria do Evangelho chegue às pessoas que, por algum motivo, se encontram dentro de algum túmulo.
Uma última palavra. Todo e qualquer tipo de libertação, todo e qualquer tipo de milagre que Deus possa realizar hoje na vida de alguém é e sempre será temporário. Por mais que creiamos na força da ressurreição, ela começa nesta vida pela fé, mas só nos abraçará totalmente no momento da nossa morte. Qualquer tentativa de “antecipar” a experiência da ressurreição da nossa parte será sempre forçada e artificial. A ressurreição é obra do Pai em Jesus e em cada ser humano que nele crê. Clamemos por Ele, para nós e para toda e qualquer pessoa que necessita ser ressuscitada! Esperemos com toda a confiança pela nossa ressurreição! Preparemo-nos a cada dia para ela! Renovemos a nossa fé em Cristo ressuscitado e em nós como pessoas destinadas à ressurreição, por obra e graça do Pai!


Pe. Paulo Cezar Mazzi

terça-feira, 22 de março de 2016

COLOCAR NA CRUZ DO OLEIRO CADA PEDAÇO DO NOSSO VASO DESPEDAÇADO

Sexta-feira da Paixão do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 52,13 – 53,12; Hebreus 4,14-16; 5,7-9; João 18,1 – 19,42.

            Que o mundo seja mal, disso não temos dúvida; não o mundo enquanto criação de Deus, mas o mundo enquanto ferido pelo pecado do ser humano, sobretudo o pecado da ambição e da intolerância. “Este” mundo é mal. Basta considerarmos o alto nível de violência urbana, os ataques terroristas, a perseguição aos cristãos, a situação dos refugiados que tentam fugir das guerras civis e das perseguições religiosas, o trânsito nas estradas e o tráfico de drogas que, no Brasil, matam mais do que numa guerra.
Que o mundo seja mal, disso não temos dúvida. Mas que Deus seja bom e somente bom, disso nós muitas vezes também chegamos a duvidar. Quem de nós, atingido pelo sofrimento que há no mundo, não questiona Deus? Quanta raiva pode estar guardada dentro de você em relação a Deus, porque Ele “permitiu” que o câncer tirasse alguém de você, que um filho seu sofresse abuso sexual ou que fosse morto por causa de um celular, de um acidente ou de uma bala perdida, porque sua família se desestruturou e seus sonhos se encontram despedaçados?
É verdade que algumas das nossas dores e dos nossos sofrimentos aparecem em nossa vida por causa de determinadas atitudes nossas. Mas toda dor e todo sofrimento que vêm “do nada” e que, sem pedir licença, nos despedaçam como um vaso – “tornei-me como um vaso espedaçado” (Sl 31,13) – quebram não somente a nós, mas também a imagem que até então tínhamos de Deus. E hoje, nesta sexta-feira da paixão do Senhor, precisamos trazer para a cruz de Cristo esses pedaços: os nossos próprios pedaços e também os pedaços que sobraram da nossa fé, da imagem que tínhamos de Deus e que agora não conseguimos mais reconstruí-la.
Quem esteve na cruz ontem? Quem está na cruz hoje? Alguém desfigurado, tão desfigurado “que não parecia ser um homem ou ter um aspecto humano” (Is 52,14). Este homem “não tinha beleza nem atrativo para o olharmos, não tinha aparência que nos agradasse” (Is 53,2). Aqui começa a quebra da nossa imagem de Deus. Nós gostaríamos que Ele sempre se manifestasse em nossa vida na aparência da beleza, da saúde, da alegria, da prosperidade etc. Mas, às vezes, Deus vem a nós na aparência de algo que não nos agrada. Não nos agrada a doença, nem a dificuldade financeira, nem o conflito, nem a crise, nem a dor. Mas Deus pode se manifestar a nós nessas situações. Temos conseguido reconhecê-Lo?
Por trás de algo que não nos agrada existe uma verdade: “A verdade é que ele tomava sobre si as nossas enfermidades e sofria, ele mesmo, nossas dores... Ele foi ferido por causa de nossos pecados, esmagado por causa de nossos crimes” (Is 53,4.5). A verdade é que você e eu, apesar de sermos filhos de Deus, não nascemos blindados contra a dor, nem vamos passar por este mundo sendo constantemente poupados de sofrimento. A verdade é que você e eu também cometemos pecados, e nossos pecados produzem dor e sofrimento na sociedade. A verdade é que a religião existe não para nos manter o mais distante possível da dor, mas para nos capacitar a estar junto de quem se encontra hoje crucificado, seja pelos seus próprios erros, seja pelos erros de outros.
A cruz de Cristo é lugar de redenção: “Ele, na verdade, resgatava o pecado de todos e intercedia em favor dos pecadores” (Is 53,12). Justamente porque temos que lidar com a nossa própria cruz, além de estarmos junto à cruz de nossos irmãos, devemos permanecer firmes na fé que professamos, a fé que nos garante que Jesus é nosso intercessor junto do Pai, capaz de se compadecer de nossas fraquezas. Sua cruz se tornou o “trono da graça”, do qual nos aproximamos especialmente hoje, para alcançarmos a misericórdia e o auxílio do Pai (cf. Hb 4,15.16), para nós e para todos os que se encontram crucificados.  
Sendo um ser humano como nós, Jesus “aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que sofreu” (Hb 5,8). Porque o nosso ego sempre quer se impor, exigindo ser atendido nos seus caprichos, obedecer a Deus sempre nos custará, sempre exigirá de nós algum tipo de sofrimento. Mas este é um sofrimento bom, libertador, redentor, porque nos ajuda a libertar o mundo do egoísmo e da ambição do coração humano.  
Diante da narrativa da Paixão de Jesus que acabamos de ouvir, somos convidados a colocar junto à Sua cruz não somente o nosso, mas todos os vasos espedaçados que conhecemos, tendo nos lábios e no coração as palavras do salmista: “Tornei-me como um vaso espedaçado... A vós, porém, ó meu Senhor, eu me confio e afirmo que só vós sois o meu Deus! Eu entrego em vossas mãos o meu destino; libertai-me do inimigo e do opressor!” (Sl 31,13.15-16).
           
 Para a sua oração pessoal: 
            
            http://letras.kboing.com.br/eros-biondini/todo-teu/

                                                                                                                                                                              Pe. Paulo Cezar Mazzi

segunda-feira, 21 de março de 2016

ASSINALADOS PELO SANGUE: CAPACITADOS PARA A ENTREGA, PARA AMAR ATÉ O FIM!

Missa da Ceia do Senhor. Palavra de Deus: Êxodo 12,1-8.11-14; 1Coríntios 11,23-26; João 13,1-15.

            Nesta noite entramos em contato com duas páscoas: a do povo de Israel e a de Jesus com seus discípulos. Na primeira páscoa, cada família devia imolar (sacrificar) um cordeiro; na segunda páscoa, Jesus, é o próprio cordeiro que, antes de ser sacrificado na cruz, se entrega aos discípulos fazendo do pão o seu corpo e do vinho o seu sangue.
            Nesta noite, Jesus nos convida a nos sentar com ele à mesa e aprender a amar até o fim, como ele nos amou. Nem todos estão aqui. Nem todos sabem que estão sendo constantemente convidados para a Ceia do Senhor. Este convite para a Ceia do Senhor ainda não chegou a todos. Por isso, cabe a cada um de nós sair e se dirigir para as periferias existenciais, como nos pede o Papa Francisco, a fim de trazer para esta Ceia todos aqueles para os quais o Senhor Jesus quer entregar-se como remédio generoso e alimento de salvação.
            A antiga páscoa foi marcada por uma ameaça: cada família deveria sacrificar um cordeiro, tomar um pouco do seu sangue e marcar a porta da casa, para não ser atingida pela praga exterminadora. Sabemos o quanto a nossa casa comum – o planeta Terra – tem sido atingido pela praga exterminadora da ambição do mercado e do egoísmo do coração humano. Parece que nós ainda não nos demos conta de que também com pequenas atitudes cotidianas temos colaborado para exterminar a vida em nossa casa comum.
            Existem muitas outras pragas exterminadoras que ameaçam a família humana, como a violência urbana, as drogas, o desemprego, as doenças, o abuso sexual, as brigas, as inimizades, a separação, o mau uso da TV, do computador, do celular, da internet etc. Jesus hoje pede que nós tomemos um pouco do Seu sangue e marquemos não somente a porta da nossa casa, mas também da nossa consciência e do nosso coração; que também nos esforcemos por visitar alguma família que está sendo atingida por algum tipo de praga exterminadora e levemos a ela a presença de Jesus, vencedor do mal e da morte.
            Quem poderá resistir, se Jesus derramando está seu sangue precioso aqui, neste lugar?! (Vida Reluz)
            O sangue é entrega, é amor que decide amar até o fim. Agora a pouco, Jesus nos disse: “Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo...” (Jo 13,14-15). Cada vez que você e eu nos aproximamos do altar e recebemos a Eucaristia, precisamos nos perguntar: a quem eu devo lavar os pés? A quem eu devo voltar a amar? A quem eu devo amar até o fim? Por quem ou pelo quê eu sou chamado(a) a derramar o meu sangue, isto é, entregar-me, sacrificar-me, para que esta pessoa ou esta situação se abra para a vida plena que Jesus veio nos trazer?
            Todos os anos, nesta noite, o Papa Francisco celebra esta missa numa penitenciária, derramando água e levando os pés dos presos. Aqui nós temos duas indicações importantes do Espírito Santo. Primeira: a Eucaristia, presença real de Jesus vivo e ressuscitado (cf. Lc 24,30-31), precisa ser “levada” para fora da Igreja, para aquelas pessoas que, por tantos motivos, não querem ou se sentem “impedidas” – moral ou socialmente – de virem até nós e de se sentarem à mesa com Jesus. Segunda: a Eucaristia foi querida por Jesus como expressão da sua misericórdia para com todo ser humano, sobretudo para com aquele que se sente condenado a alguma situação de sofrimento ou de injustiça. Jesus nos deu o exemplo. Agora cabe a nós fazer como ele nos ensinou a fazer...   
            Por fim, nesta noite em que começamos a fazer a nossa páscoa com Jesus, o apóstolo Paulo nos recorda o sentido de comungarmos o Corpo e o Sangue do Senhor: “Todas as vezes, de fato, que comerdes esse pão e beberdes desse cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha” (1Cor 11,26). Sempre que você comunga, pode proclamar: Jesus me amou e se entregou por mim! Jesus me ama e continua a se entregar por mim! Jesus ama esta pessoa por quem estou orando e está se entregando por ela! Pelo sangue redentor de Jesus, todos nós “fomos libertos e nele nossas faltas foram perdoadas” (Ef 1,7). Pelo sangue de Jesus, derramado na cruz, o Pai reconciliou “consigo todas as coisas, as da terra e as do céu, estabelecendo a paz” (Cl 1,20). Bendito seja o Senhor, que nesta noite nos faz passar mais uma vez da condenação para a libertação, do isolamento para a comunhão, da morte para a vida!

                                                                  Pe. Paulo Cezar Mazzi

sexta-feira, 18 de março de 2016

CONDENADO, CRUCIFICADO..., MAS TAMBÉM RESSUSCITADO!

Missa do domingo de ramos. Palavra de Deus: Isaías 50,4-7; Filipenses 2,6-11; Lucas 23,1-49.
           
Na missa de hoje, ouvimos dois evangelhos: o primeiro trata da entrada de Jesus em Jerusalém; o segundo, do seu julgamento e da sua morte, ocorridos também naquela cidade. Em Lc 9,51, lemos que Jesus “tomou decididamente o caminho de Jerusalém”. Ele tomou firmemente um caminho que sabia que lhe custaria muito sofrimento e, inclusive, a própria vida. Mas ele foi firme neste caminho; ele estava decidido a levar para esta cidade, centro do poder político, econômico e religioso, a sua presença salvadora.  
            Hoje, onde é a Jerusalém na qual Jesus quer decididamente entrar? Ela pode ser Brasília, o Palácio do Planalto, a Câmara dos Deputados, o Senado Federal, o Supremo Tribunal Federal, o Banco Central etc., lugares onde seus representantes se comportam, muitas vezes, como fantoches do poder econômico, onde a consciência cede lugar ao bolso, onde uns corrompem e outros se deixam corromper, onde as leis são criadas ou sistematicamente não cumpridas para beneficiar interesses particulares, onde palavras como ética e justiça há muito tempo perderam o significado. É desta “Jerusalém” que saem as ramificações da violência, da injustiça social, do descaso com a saúde e a educação, do desemprego e de tantos outros males que ferem a vida na sociedade.
            Mas é bom lembrar que Jesus também quer entrar em nossa “Jerusalém” – nossa casa, nosso ambiente de trabalho, nossa comunidade/igreja, nossa alma, nosso corpo, “locais” onde a indiferença tomou o lugar da compaixão, onde a agressividade e a intolerância expulsaram o amor e o respeito para com o próximo, onde a corrupção passou a ser vista como meio de sobrevivência.
            Assim como ontem Jesus precisou de um jumentinho para entrar em Jerusalém (cf. Lc 19,31.33), hoje ele precisa de mim e de você para entrar em lugares e situações que precisam urgentemente da sua salvação. Em cada experiência de cruz que fazemos, Jesus está abrindo os nossos ouvidos, para que, a exemplo dele, nós aprendamos a “levar uma palavra de consolo à pessoa abatida” (Is 50,4). Esta é, de fato, uma das obras de misericórdia mais necessárias no mundo de hoje! Mas, por que só depois que passamos pela cruz é que podemos consolar os que estão abatidos? Porque só quem já sofreu pode falar a quem está sofrendo. A nossa própria experiência de dor é a melhor escola para aprendermos a falar de maneira significativa a quem está sofrendo.   
            Assim como Jesus “esvaziou-se a si mesmo, (...) humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,7.8), os dias desta semana santa que iniciamos nos convidam a nos esvaziar: nos esvaziar do barulho, da correria, do ativismo; nos esvaziar do egoísmo e do individualismo; nos esvaziar da raiva, da mágoa e do ressentimento; nos esvaziar da indiferença e da superficialidade, para estarmos aos pés da cruz de Jesus e aprender com ele a lidar com a nossa própria cruz; a estarmos também aos pés da cruz de quem sofre à nossa volta, intercedendo por esta pessoa: “Vós, ó meu Senhor, não fiqueis longe, ó minha força, vinde logo em meu socorro!” (Sl 22,20).
            Enquanto Jesus caminhava para o Calvário, “seguia-o uma grande multidão do povo e de mulheres que batiam no peito e choravam por causa dele. Jesus, porém, voltou-se e disse: ‘Filhas de Jerusalém, chorai por vós mesmas e por vossos filhos! (...) Se fazem assim com a árvore verde, o que não farão com a árvore seca?” (Lc 23,28.31). É importante chorar, mas não como vítimas e sim como pessoas que também têm uma parcela de responsabilidade pelo sofrimento social. Que o nosso choro se transforme num protesto diante de tantas situações injustas que levam pessoas à morte. Mas também que o nosso protesto se transforme em atitudes concretas para que as injustiças diminuam à nossa volta.
            Jesus é a “árvore verde”, o Justo que suportou sobre si toda injustiça humana, o Condenado que carregou sobre si a condenação injusta que pesa sobre tantas pessoas. No entanto, nós somos a “árvore seca”, isto é, pessoas que também acabam produzindo sofrimentos e injustiças na sociedade. Nosso choro nesta semana santa seria de hipocrisia, se não reconhecêssemos que nós também produzimos cruzes na vida de algumas pessoas, cruzes desnecessárias. Em relação a isso precisamos nos converter urgentemente.
            No exato momento em que Jesus estava sendo crucificado, ele fez uma oração: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!” (Lc 23,34). Assim como Jesus, você consegue ir além da dor ou da injustiça que sofre, e compreender que a pessoa que te fere é também alguém que foi ferido(a)? Você consegue perceber que aqueles “monstros” que causam tanta violência na sociedade são, muitas vezes, violentos que desde cedo foram violentados, pessoas que ignoram o valor da vida, o amor, o sentido de família porque nunca experimentaram isso? Ainda que você não consiga perdoar, você se lembra de rezar e pedir a Deus que perdoe aquela pessoa que tanto mal lhe tem feito?    
            Um homem, que como Jesus também estava crucificado e condenado à morte, pediu: “Jesus lembra-te de mim quando entrares no teu reinado” (Lc 23,42). E Jesus lhe respondeu: “Em verdade eu te digo, ainda hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43). O dia de hoje é um momento oportuno para rezarmos por todas as pessoas que estão condenadas (ou se sentem como tais), pessoas que carregam culpa, ou que estão gravemente doentes, pessoas desempregadas, ou que não enxergam mais possibilidade de reconciliação em relação à própria família, pessoas juradas de morte pelo tráfico de drogas ou por denunciarem alguma forma “institucionalizada” de injustiça... Que todos possamos proclamar em alta voz: “Não existe mais condenação para aqueles que estão em Jesus Cristo!” (Rm 8,1).    
            Por fim, consideremos a maneira como Jesus morre na cruz: ele “deu um forte grito: ‘Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito’” (Lc 23,46). Que o nosso morrer seja acompanhado desta mesma confiança de Jesus no Pai. Que todo aquele que morre possa sentir-se nessas mãos, que não só acolheram o espírito de Jesus, mas que também o ressuscitaram! Nas mãos do Pai entregamos o nosso espírito, a nossa alma, o nosso corpo, a nossa vida. Nas mãos do Pai entregamos todos os crucificados de hoje, os injustiçados, os violentados. Nas mãos do Pai entregamos a Jerusalém pessoal e social, necessitada de perdão, de redenção e de salvação.

Pe. Paulo Cezar Mazzi

sexta-feira, 11 de março de 2016

IRMÃOS E NÃO JUÍZES

Missa do 5º. dom. da quaresma. Palavra de Deus: Isaías 43,16-21; Filipenses 3,8-14; João 8,1-11.

Por meio do profeta Ezequiel, Deus havia feito uma promessa: “tirarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei coração de carne” (Ez 36,26). O coração de pedra simboliza uma pessoa rígida, sempre pronta a julgar e condenar; uma pessoa indiferente para com a miséria do outro. Já o coração de carne simboliza uma pessoa humana; firme, mas não rígida; uma pessoa que toma muito cuidado ao julgar; uma pessoa que não joga fora o bebê junto com a água do banho. O coração de carne é a pessoa capaz de misericórdia, isto é, capaz de sentir a miséria do outro.
Talvez a pergunta aqui não seja: seu coração é de pedra ou de carne? Talvez a pergunta mais correta seja: o que em seu coração ainda é carne e o que nele já se tornou pedra? O contato diário com a violência, a injustiça, a impunidade, a corrupção tem nos tornado cada vez mais rígidos e intolerantes. A rapidez com que julgamos e condenamos as pessoas é a mesma com que excluímos pessoas dos nossos contatos nas redes sociais. Não dá pra negar que uma boa área do nosso coração já se encontra endurecida como pedra...  
Sim. Nós estamos com as mãos cheias de pedras, prontos para atirá-las no primeiro que errar. A ironia é que, enquanto atiramos pedras naquele que julgamos ser o “diabo”, nos esquecemos de que ele também habita dentro de nós. Justamente por isso, Jesus nos faz este alerta: “Quem dentre vós não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra” (Jo 8,7). É muito bom que você proteste contra a corrupção, mas também é importante que você pare de se corromper nas atitudes do dia a dia. É muito bom que você fique indignado com a pedofilia, mas também é importante que você pare de ver pornografia na internet... É bom nós tomarmos cuidado com as pedras que temos nas mãos, prontas para serem atiradas nos outros. Talvez nós mesmos sejamos o alvo dessas pedras.  
Muitas vezes, nós somos “moles” conosco e “duros” com os outros. Além disso, a rigidez do nosso julgamento às vezes nada mais é do que uma inveja disfarçada ou não reconhecida: a pessoa que pecou teve mais coragem do que nós, de fazer algo que é errado, mas que também gostaríamos de ter feito. Sejamos sinceros! Quantos pecados nós não cometemos não por convicção de que não devemos fazê-lo, mas por falta de coragem em fazê-lo?          Jesus é o único Justo. Somente ele tem autoridade moral para nos julgar e nos condenar. No entanto, ele deixou claro que veio ao mundo não para julgar e condenar, mas para salvar (cf. Jo 3,17). Foi por isso que ele disse àquela mulher, pega em flagrante adultério: “Eu também não te condeno. Podes ir e, de agora em diante, não peques mais” (Jo 8,11). ‘Entendo que você deu uma resposta errada aos seus afetos. Procure compreender melhor aquilo que o seu coração busca. Vire a página. Siga com a sua vida e não peque mais’.  
O que Jesus nos ensina é que ninguém pode ser reduzido aos seus erros. A nossa história de vida não é escrita somente com erros, mas também com acertos e com tentativas de. Porque estamos mais próximos da Páscoa, Deus nos faz esta promessa: “Eis que farei coisas novas... Abrirei uma estrada no deserto e farei correr rios na terra seca” (Is 43,19). E nós, como o salmista, Lhe pedimos: “Mudai a nossa sorte, ó Senhor, como torrentes no deserto” (Sl 126,4). ‘Mudai o nosso coração de pedra em coração de carne. Ajudai-nos a abrir as nossas mãos fechadas e a nos livrar das pedras que ainda carregamos conosco’.     
Sim. Precisamos ter as nossas mãos livres para ajudar a se levantar quem caiu, para ajudar a se encontrar com a salvação de Jesus quem se sente condenado. Neste final de quaresma, todos nós somos convidados a aprofundar o nosso conhecimento de Jesus, da sua misericórdia, a experimentar a força da sua ressurreição. No entanto, todos nós também somos desafiados a ficar em comunhão com os seus sofrimentos, tornando-nos semelhantes a ele na morte, para podermos alcançar a ressurreição dos mortos (cf. Fl 3,10-11).
A presença de Jesus junto daquela mulher, condenada à morte, fez com que ela pudesse voltar a viver. Que assim seja também a nossa presença junto às pessoas que, como nós, também erram, tropeçam, caem e pecam. Todos nós pecamos. Todos nós precisamos do perdão de Deus. Aliás, todos nós já fomos alcançados por este perdão na cruz de Cristo. Que a energia emocional que desperdiçamos em julgar e condenar os outros seja direcionada no sentido de corrermos todos juntos para a meta, rumo ao prêmio que, do alto, Deus nos chama a receber em Cristo Jesus (cf. Fl 3,14).

Pe. Paulo Cezar Mazzi

sexta-feira, 4 de março de 2016

É TEMPO DE VOLTAR A VIVER, DE PERMITIR-SE SER ENCONTRADO!

        A vida tem inúmeros caminhos, e muitos deles nos levam para longe de Deus, para longe da nossa verdade. Não há alguém que já não tenha se enganado e seguido por um caminho errado. Todos nós podemos nos reconhecer nessa atitude do filho mais novo: “juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada” (Lc 15,13). Às vezes queremos dar um tempo, nos distanciar de Deus, da Igreja, daquilo que aprendemos como certo; queremos viver a nossa vida do nosso jeito, a partir da nossa cabeça, uma vida “desenfreada”, isto é, sem o “freio” da religião, da moral, da ética, sem o freio da fidelidade à família ou aos valores do Evangelho.
Nós somos o filho mais novo quando nos relacionamos com Deus na base do interesse imediato. Não queremos o Pai, não queremos estar perto d’Ele, muito menos ser submissos a Ele; queremos apenas aquilo que Ele tem para nos dar: a herança. Conseguida esta, nos afastamos d’Ele e vamos viver a nossa vida do nosso jeito. Mas o resultado de uma vida sem o “freio” da consciência, da disciplina interna, é a autodestruição: nos tornamos uma pessoa fracassada e humilhada...  
            A fome e a humilhação na qual o filho mais novo se encontra, consequências do mau uso da sua liberdade, é o retrato da solidão que muitos de nós já conhecemos. As mesmas pessoas que nos incentivam e nos aplaudem, quando decidimos jogar tudo pro alto e abandonar valores como família, religião, honestidade, fé, responsabilidade etc., sempre nos deixam sozinhos com a nossa dor, depois que fracassamos. Nessas horas, cada um de nós precisa ser sincero consigo mesmo e reconhecer: ‘Eu estou longe da minha verdade. Preciso voltar para o meu Pai! Eu tenho Alguém para quem voltar!’.
            Conhecemos inúmeras pessoas que estão nessa experiência do filho mais novo. O problema é que muitas delas sentem que não têm para onde voltar; não têm – e algumas nunca tiveram – um pai esperando por elas. Nas famílias, é cada vez maior a ausência do pai. Além disso, são muitas as pessoas que nunca tiveram em sua vida a experiência de Deus como Pai. Por isso, neste Ano Santo da Misericórdia, somos chamados a ser misericordiosos como o nosso Pai é misericordioso (cf. Lc 6,36). Num mundo como o nosso, que se sente cada vez mais órfão porque rejeita a interferência de Deus na sua vida prática, nós precisamos ser uns para os outros o abraço misericordioso do Pai...
Estamos próximos da festa da Páscoa, e o Evangelho de hoje nos antecipa a imagem dessa festa: alguém estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado! (cf. Lc 15,24.32). Jesus contou esta parábola justamente porque foi criticado pelos fariseus e pelos mestres da Lei: “Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles” (Lc 15,2). Jesus nos convida a fazer como ele: a nos colocar junto de cada pessoa que, por diversos motivos, decidiu morrer, decidiu deixar-se perder, para dizer-lhe que aquele que está agora morto pode voltar a viver, aquele que está agora perdido pode permitir ser encontrado!
Em um mundo onde tantas pessoas deixaram de crer na possibilidade da volta, da mudança, da conversão, da salvação, Jesus nos diz que a nossa fé deve ser sempre pascal: para quem crê, sempre existe uma páscoa, uma passagem, um caminho de volta. Para quem tem fé, sempre existe uma passagem da morte para a vida, da perda para o reencontro. Toda pessoa pode voltar a viver, toda pessoa pode ser reencontrada sempre que fizer como o filho mais novo: se levantar e decidir voltar ao Pai, voltar para o Deus rico em misericórdia.
O rosto do Pai aparece nos versículos 20.22-24: Ele enxerga de longe o filho que volta, sente compaixão, corre-lhe ao encontro, abraça-o, cobre-o de beijos, devolve-lhe os sinais da sua filiação (túnica, sandálias e anel) e manda preparar uma festa. Deus não precisa das nossas explicações do por que erramos, do por que decidimos nos afastar d’Ele e dos irmãos. Para Ele, basta que tenhamos tomado a decisão de voltar a viver, de nos permitir ser novamente encontrados e salvos.
Jesus nos convida a nos deixar abraçar pelo Pai. É possível que, como o filho mais velho, nós também estejamos longe de Deus por não aceitarmos a forma como Ele acolhe e perdoa quem erra. Como o filho mais velho, nós às vezes sentimos raiva da misericórdia de Deus, e não temos a coragem de reconhecer que essa raiva não é tanto um protesto contra uma injustiça que foi cometida; ela é muito mais uma inveja disfarçada por não termos tido a coragem de nos lançar no pecado como o nosso irmão teve...    
“Filho, (...) era preciso festejar e alegrar-nos, porque esse teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado” (Lc 15,32). É preciso festejar! É preciso que cada celebração da Eucaristia seja verdadeiramente o momento em que todos nós, filhos mais novos e filhos mais velhos, nos deixamos abraçar pelo Pai, cujo nome é Misericórdia! Mas é preciso também que, depois de cada Eucaristia, cada um de nós volte para a sua casa e seja, no dia a dia, o próprio abraço do Pai a comunicar, a cada pessoa que encontramos em nosso caminho, que todo aquele que está morto pode voltar a viver, assim como todo aquele que está perdido pode voltar a ser encontrado, porque nós cremos na Páscoa e caminhamos para ela! 

Pe. Paulo Cezar Mazzi