quarta-feira, 23 de março de 2016

DESDE JÁ RESSUSCITADOS, MAS NÃO AINDA TOTALMENTE

Missa do domingo de Páscoa. Palavra de Deus: Atos 10,34a.37-43; Colossenses 3,1-4; João 20,1-9.

            “Povo meu, vocês ficarão sabendo que eu sou o Senhor, quando eu abrir seus túmulos, e de seus túmulos eu tirar vocês. Colocarei em vocês o meu espírito, e vocês reviverão” (Ez 37,13-14). Esta promessa de Deus foi feita aos israelitas enquanto prisioneiros na Babilônia (a partir de 587 a.C.). A prisão daquele povo era comparada a um túmulo, do qual Deus o tirou, permitindo que voltasse ao seu país e reconstruísse a sua vida novamente (a partir de 538 a.C.).
Quando somos tirados, pela graça de Deus, do túmulo do medo, da ameaça, da angústia, do sofrimento, ou mesmo quando ajudamos pessoas a saírem do túmulo do desânimo, da opressão ou de uma determinada injustiça, ali se experimenta uma espécie de ressurreição: volta-se a viver, recupera-se o sentido de viver.
Mas a ressurreição de Jesus, garantia da nossa futura ressurreição, não foi um simples “voltar a viver”. Foi uma vida totalmente nova, onde o corpo está agora glorificado, e Jesus pode estar com os discípulos de uma maneira nova, comunicando-lhes a paz e o dom do Espírito (cf. Jo 20,21-22), deixando-se tocar por eles (cf. Jo 20,27), abrindo-lhes a inteligência para compreenderem melhor as Escrituras (cf. Lc 24,45), fortalecendo-lhes a fé e confirmando-os na missão de levar a alegria do Evangelho a cada ser humano (cf. Mt 28,16-20).
A ressurreição de Jesus é a única razão para termos fé (cf. 1Cor 15,14). Mas não só isso. A nossa esperança em Cristo vai além desta vida terrena e tem por objetivo a vida eterna (cf. 1Cor 15,19). Desde que Cristo ressuscitou, cada um de nós aguarda o momento em que ele virá para transformar o nosso corpo, exposto à dor e à morte, e torná-lo semelhante ao seu corpo glorioso (cf. Fl 3,20-21). O momento da nossa ressurreição será o momento em que o nosso imperfeito será substituído pelo perfeito de Deus, as nossas perguntas mais profundas serão respondidas e nós deixaremos de ver de maneira confusa e passaremos a ver face a face (cf. 1Cor 13,10.12).    
A Escritura nos disse hoje que o mesmo Pai que ressuscitou Jesus “o constituiu juiz dos vivos e dos mortos” (At 10,42), o que significa que todo ser humano, cada um de nós, está destinado a encontrar-se com Cristo no momento da sua própria ressurreição: “os que fizeram o bem, ressuscitarão para a vida; os que fizeram o mal, ressuscitarão para a condenação” (Jo 5,29). Portanto, a fé na ressurreição de Cristo e em nossa própria é a fé na justiça de Deus; é quando o Pai retribuirá a cada pessoa conforme as suas atitudes (cf. 2Cor 5,10).
A ressurreição foi o “Amém” do Pai à vida de Jesus. O “mundo” daquela época disse “não” a Jesus, matando-o numa cruz. Mas o Pai disse “sim” a cada palavra e a cada atitude de Jesus, ressuscitando-o! Da mesma forma, tantas pessoas que foram rejeitadas pelo mundo atual, por denunciarem as injustiças que muitos cometem por causa da ganância em relação ao dinheiro, serão acolhidas por Deus em seu Reino (cf. Mt 5,10). Por isso, não se angustie ou se deprima se as pessoas dizem “não” à sua fé e à sua conduta segundo o Evangelho. Deus lhe dirá “sim”, no momento da sua ressurreição!
Hoje, ao celebrarmos a Páscoa de Jesus, ao proclamarmos que Ele vive e está ressuscitado no meio de nós, somos convidados a nos esforçar “por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus” (Cl 3,1). A ressurreição de Jesus já nos alcançou, e a sua força já atua em nós por meio do Espírito Santo, convidando-nos a sair dos nossos túmulos. No entanto, ela também precisa ser buscada por nós todos os dias, por meio da nossa fé e das nossas atitudes, fazendo com que a alegria do Evangelho chegue às pessoas que, por algum motivo, se encontram dentro de algum túmulo.
Uma última palavra. Todo e qualquer tipo de libertação, todo e qualquer tipo de milagre que Deus possa realizar hoje na vida de alguém é e sempre será temporário. Por mais que creiamos na força da ressurreição, ela começa nesta vida pela fé, mas só nos abraçará totalmente no momento da nossa morte. Qualquer tentativa de “antecipar” a experiência da ressurreição da nossa parte será sempre forçada e artificial. A ressurreição é obra do Pai em Jesus e em cada ser humano que nele crê. Clamemos por Ele, para nós e para toda e qualquer pessoa que necessita ser ressuscitada! Esperemos com toda a confiança pela nossa ressurreição! Preparemo-nos a cada dia para ela! Renovemos a nossa fé em Cristo ressuscitado e em nós como pessoas destinadas à ressurreição, por obra e graça do Pai!


Pe. Paulo Cezar Mazzi

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