Missa do 2º. dom. da Páscoa. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos
2,42-47; 1Pedro 1,3-9; João 20,19-31.
“Se eu não
vir..., não acreditarei” (Jo 20,25). Essas palavras de Tomé estão cada vez mais
presentes no coração das pessoas. Enquanto elas não enxergarem com seus
próprios olhos alguma evidência sobre a existência de Deus, não acreditarão que
Ele de fato existe. Muitos outros até acreditam na existência de Deus, mas não
acreditam que Ele as ama, que Ele se importa com elas. Neste caso, as palavras
de Tomé: “Se eu não vir..., não acreditarei” (Jo 20,25), podem ser traduzidas
por: “Se eu não experimentar em minha própria vida que Deus me ama, que Ele se
importa comigo, não acreditarei no Seu amor, na Sua misericórdia”.
Sem dúvida
nenhuma, a fé tem um componente pessoal, e não só comunitário. Só pode crer, só
pode ter fé aquele que teve um encontro pessoal e profundo com Deus. Todos nós
precisamos fazer uma experiência de Deus em nossa história de vida. Mas a
questão é como entendemos essa experiência de Deus. Uma vez que vivemos numa
época que supervaloriza o emocional e o imediato, se não nos emocionamos e não
sentimos Deus de maneira imediata, quando O buscamos, acabamos por abandonar a
nossa fé. Porque não O encontramos aqui e agora, deixamos de buscá-Lo.
Como era a
experiência de Deus e de ressurreição que os primeiros cristãos faziam? Eles
“eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos
apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações” (At 2,42). O
que sustentava a fé dos primeiros cristãos era a perseverança, não as emoções,
nem o imediatismo. Sentindo ou não Deus, eles perseveravam na escuta da Palavra
de Deus, na ajuda fraterna, na celebração da Eucaristia e na vida de oração.
Além disso, “todos os que abraçavam a fé viviam unidos e colocavam tudo em
comum” (At 2,44). A fé desses primeiros cristãos não era individualista, mas
preocupada com as necessidades do próximo. Ajudando-se mutuamente, eles sentiam
a presença do Ressuscitado no meio deles.
O apóstolo Pedro acabou de nos afirmar que, por meio da ressurreição de
Seu Filho, o Pai fez nascer em nós uma esperança viva: nós fomos guardados para
a salvação! Isso é – ou deveria ser – motivo de alegria para nós! Mas essa
alegria não é uma alegria alienada, fora da realidade. Pelo contrário, é uma
alegria que precisa subsistir mesmo quando nos sentimos aflitos, “por causa de
várias provações” (1Pd 1,6) que temos que enfrentar, provações que estão aí não
para destruir a nossa fé, mas para comprovar que ela é verdadeira!
Talvez muitos de nós não tenham entendido isso ainda: o fato de Jesus
ter ressuscitado não fez com que o mundo se tornasse um paraíso. O fato de nós
crermos na ressurreição de Jesus não nos livra de determinadas aflições. Nós
devemos enfrentar momentos difíceis e passar por determinados sofrimentos para
que a nossa fé demonstre se é verdadeira ou se é somente uma emoção passageira.
O perigo aqui é o de nos comportarmos como Tomé, colocando a seguinte condição
para crer: “Se essa aflição que eu passo, se essa provação que eu estou tendo
que enfrentar não for removida, eu deixarei de acreditar na misericórdia de
Deus e na ressurreição de Jesus Cristo”.
Jesus disse a Tomé: “Bem-aventurados os que creram sem terem visto!” (Jo
20,29). E o evangelista João complementa que tudo aquilo que ele escreveu no
Evangelho foi escrito “para que acrediteis que Jesus é o Cristo, Filho de Deus,
e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome” (Jo 20,31). Hoje pedimos ao
Senhor nos conceda a graça da perseverança, que sustentava a fé dos primeiros
cristãos, a graça de suportar as aflições e as provações, para que a nossa fé
seja comprovada como verdadeira. Um cristão verdadeiro não vive por aquilo que
vê; ele vive por aquilo que crê. Não são os nossos olhos que precisam se abrir,
mas é o nosso coração que precisa ser tocado pela graça da fé, para que
possamos dizer: “Mesmo se eu não vir, mesmo se eu não sentir, mesmo se eu não
puder tocar, continuarei a acreditar que o meu Senhor e o meu Deus está vivo,
ressuscitado, e que, pela minha fé n’Ele, eu estou guardado(a) para a salvação!”
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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