Missa
da Ceia do Senhor. Palavra de Deus: Êxodo 12,1-8.11-14; 1Coríntios 11,23-26;
João 13,1-15.
Vimos,
na primeira leitura, como as famílias dos hebreus prepararam a ceia do
cordeiro, antes de saírem do Egito. Acabamos de ver, no Evangelho, o que Jesus
fez na sua última ceia, quando, como lembrou a segunda leitura, entregou seu
corpo e seu sangue aos discípulos como alimento. Estes textos bíblicos nos
fazem pensar nas nossas refeições. Como elas acontecem?
Em
muitas famílias não existe uma refeição que seja feita em comum, seja porque os
horários de estudo e de trabalho não permitem, seja porque, quando todos estão
em casa, cada um come num lugar separado, ou se faz a refeição diante do computador
ou diante da televisão. Essa dificuldade em sentar-se juntos ao redor de uma
mesa serve para que a família fuja do diálogo e não tenha que conversar sobre
coisas que exigem serem enfrentadas.
Enquanto
vamos nos distanciando uns dos outros dentro de casa, o espírito exterminador vai
tendo mais espaço para agir em nossa família, às vezes se alojando no coração
do pai; às vezes, no coração da mãe; às vezes, no coração de um dos filhos. O
espírito exterminador é bem concreto. Ele se manifesta na bebida e nas drogas, no abuso
sexual dentro de casa, no suicídio de jovens, nos crimes em família, nas
dívidas, nos desentendimentos, nas separações, no isolamento, na solidão etc.
As
famílias dos hebreus não foram atingidas pelo espírito exterminador porque
marcaram as portas das suas casas com o sangue do cordeiro. Aquele sangue
prefigurava o sangue de Jesus, que seria derramado na cruz. O sangue na porta
não é um sinal mágico. Sangue é sinônimo de sacrifício. Jesus derramou seu
sangue na cruz porque amou até o fim. Nossas casas, nossas famílias podem ser
poupadas do extermínio ser nós nos dispusermos a nos sacrificar por aqueles que
amamos, se nós amarmos até o fim.
Jesus
nos deu o exemplo: “Se eu, o Senhor e mestre, vos lavei os pés uns dos outros,
também vós deveis lavar os pés uns dos outros” (Jo 13,14). Para lavar os pés de
alguém precisamos nos levantar, sair do nosso lugar, da nossa posição de quem
se considera dono da razão, tirar o nosso manto, nos despir do nosso orgulho, colocar
uma toalha em nossa cintura, símbolo de quem se coloca a serviço, derramar água
numa bacia, deixando fluir de dentro de nós a misericórdia, a compreensão, e
lavar os pés daqueles que precisam do nosso amor.
Jesus lavou os pés de todos os seus
discípulos: de Tiago e de João, que discutiam quem se sentaria à direita e à
esquerda de Jesus no Reino de Deus; de Pedro, que negaria Jesus por três vezes;
de Judas, que na última ceia já estava determinado a trair Jesus. Jesus lavou
os pés de todos aqueles homens, mesmo sabendo que, quando chegasse o momento da
sua prisão, eles fugiriam para um para um lado, e o deixariam sozinho para
enfrentar a cruz.
Hoje
somos nós que nos encontramos ao redor da mesa com Jesus. Assim como os
discípulos, somos pessoas que nem sempre conseguem amar até o fim; pessoas que
comungam a oferenda do corpo de Cristo, mas que muitas vezes não se oferecem
para ajudar no trabalho do anúncio do Evangelho; pessoas que comungam do
sacrifício de Cristo, mas que começam a achar que não vale a pena sacrificar-se
pela família, pela verdade e pela justiça. Apesar de tudo isso, Jesus se dá a
nós na Eucaristia porque, como disse o Papa Francisco, a Eucaristia não é prêmio
para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos.
A Eucaristia é a retrato vivo de Jesus. Ele
sempre foi corpo dado e sangue derramado. Assim somos chamados a ser também:
fazer da nossa vida uma oferenda agradável ao Pai; sacrificar parte do nosso
tempo pelo bem da família, da Igreja, da sociedade, da humanidade, sobretudo
pelo bem dos necessitados. Cada vez que comungamos do Corpo e do Sangue de
Jesus, estamos proclamando que Ele nos amou até o fim; estamos pedindo que o
seu Sangue esteja nas portas da nossa casa, para resguardar a nossa família;
estamos assumindo com Ele o serviço em favor dos que necessitam de nós; enfim,
estamos aguardando a sua vinda definitiva, na esperança de sermos introduzidos
no banquete do Reino de Deus.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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