sábado, 19 de abril de 2014

QUANDO TUDO PARECE PERDIDO, DEUS INTERVÉM COM O PODER DA RESSURREIÇÃO

Vigília Pascal. Palavra de Deus: Gênesis 1,26-31a; Êxodo 14,15 – 15,1; Isaías 54,5-14; Romanos 6,3-11; Mateus 28,1-10. 

Por que, nesta noite de Páscoa, nós recordamos fatos tão antigos, como a história da criação do ser humano, a história da libertação de Israel do país do Egito e a promessa da libertação do exílio na Babilônia? Porque, como disse o apóstolo Paulo, “essas coisas aconteceram com o povo de Israel para servir de exemplo e foram escritas para a nossa instrução, nós que fomos atingidos pelo fim dos tempos” (1Cor 10,11).     
Desse modo, a história da criação nos ensina que Deus é a inteligência que está por trás de toda a evolução do universo. E dentre todas as criaturas, Ele fez do ser humano a sua obra mais perfeita. Deus não criou o ser humano como um gênero indefinido, mas os criou homem e mulher; criou o homem com a sua identidade masculina e a mulher com a sua identidade feminina. E os criou capazes de fecundidade. E lhes confiou a tarefa de cuidar (submeter e dominar) do planeta Terra. Para alimentar tanto aos homens como aos animais, Deus criou as plantas que dão semente, as árvores que dão fruto e os vegetais. Portanto, não era necessário derramar de sangue um ser vivo para homens e animais se alimentarem. E Deus viu tudo quando havia feito, e eis que tudo era muito bom.
Hoje, o que vemos é uma humanidade que se afastou do seu Criador; muitas pessoas se sentem órfãs neste mundo, sem Deus, sem um Pai; muitos estão fragilizados na sua identidade; por medo do presente e pelo pessimismo em relação ao futuro, muitos substituíram a fecundidade pela esterilidade; o cuidado pelo Planeta se perverteu em consumismo e em desperdício dos recursos naturais, e o sangue se tornou presente não somente em nossa mesa, mas também na rotina do nosso dia a dia. Devido à ganância e ao egoísmo do ser humano, a terra se tornou um lugar de opressão, de violência e de escravidão.
Por Deus não ter abandonado a criação a si mesma, Ele decidiu intervir e libertar o seu povo, escravo no Egito. E como toda libertação envolve luta, esforço, sacrifício, Deus ofereceu sua ajuda a Israel por meio de uma coluna de nuvem, que se colocou “entre o acampamento dos egípcios e o acampamento dos filhos de Israel. Para aqueles a nuvem era tenebrosa, para estes iluminava a noite. Assim, durante a noite inteira, uns não puderam se aproximar dos outros” (Ex 14,20). Do mesmo modo, nós também clamamos: “Vê, Senhor, meus inimigos que se multiplicam, e o ódio violento com que me odeiam. Guarda-me a vida! Liberta-me!” (Sl 25,19-20). “Livra-me dos meus inimigos, Senhor, pois estou protegido junto a ti” (Sl 143,9). “Que me possa conduzir tua justiça, por causa do inimigo! À minha frente aplainai vosso caminho, e guiai meu caminhar!” (Sl 5,9).
Todo processo de libertação enfrenta resistência. Assim como Israel se deparou com o Mar Vermelho, nós sempre encontramos obstáculos em nosso caminho. Durante toda a noite o Senhor fez soprar um vento muito forte, e as águas se dividiram. Naquele dia, o Senhor livrou Israel da mão dos egípcios. Da mesma forma como é o Senhor quem nos faz sair da escravidão, é Ele quem nos faz atravessar os obstáculos e prosseguir em nossa caminhada de libertação. Senhor, mesmo quando as portas se fecharem para mim, quero continuar a crer em ti, pois em ti existe sempre uma saída. Tu que abres as portas, tu que abres os caminhos, tu que abres os mares, abre também pra mim. Tu que amas os fracos, tu que encontras os perdidos, tu que dissipas a morte, vem dissipá-la em mim.
Passaram-se alguns séculos, e Israel foi retirado da sua terra e levado para o cativeiro na Babilônia, por causa da sua infidelidade a Deus. Nessa experiência de exílio, Israel se sentia como uma mulher abandonada e de alma aflita, o retrato da humanidade hoje. Mas o profeta Isaías diz que o Senhor, Aquele que nos criou, é o nosso Esposo. Ele nos fez uma promessa: “Podem os montes recuar e as colinas abalar-se, mas minha misericórdia não se apartará de ti. Longe da opressão, nada terás a temer; serás livre do terror, porque ele não se aproximará de ti”. Apesar da nossa infidelidade, Deus permanece fiel ao Seu amor por nós.
Nesta noite de Páscoa, o apóstolo Paulo nos convida a fazer morrer em nós o nosso velho homem, aquelas atitudes que nos mantém presos ao nosso pecado. Se queremos ressuscitar com Cristo para uma vida nova, primeiro preciso morrer com Ele, crucificando o nosso pecado. Somente quando aceitamos nos identificar com Cristo por uma morte semelhante à sua é que podemos nos identificar com Ele por uma ressurreição semelhante à Sua. Sem a nossa disposição em fazer morrer o nosso pecado, não podemos experimentar a alegria da ressurreição de Cristo.
Ao anunciar a ressurreição de Cristo, o evangelho falar de dois sentimentos ou de duas atitudes opostas: medo e alegria. Tanto o anjo, que desceu do céu e retirou a pedra do sepulcro onde estava Jesus, como o próprio Jesus ressuscitado dizem às mulheres: “Não tenhais medo!” (Mt 28,5.10). Quais são os nossos medos? Medo de fracassar, medo da solidão, medo de ficar doente, medo de perder alguém, medo da violência, medo de morrer... Nós podemos ter motivos bastante concretos para ter medo, mas, como lembrou o Papa Francisco, “quando tudo parece perdido, quando não resta ninguém... é aí, então, que Deus intervém com o poder da ressurreição. A ressurreição de Jesus é a intervenção de Deus Pai quando a esperança humana estava perdida. No momento em que tudo parece perdido, no momento de dor, no qual muitas pessoas sentem que precisam descer da cruz, é o momento mais próximo da Ressurreição... No momento mais sombrio, Deus intervém e ressuscita”.                                                                                                   Apesar de estarem com medo, as mulheres “correram com grande alegria para dar a notícia aos discípulos. De repente, Jesus foi ao encontro delas e disse: ‘Alegrai-vos!’” (Mt 28,8-9). Alegrem-se, porque eu ressuscitei para estar com vocês todos os dias (cf. Mt 28,20). Alegrem-se, porque a morte foi vencida! Alegrar-se significa que, aconteça o que acontecer, nunca devemos nos dar por mortos! Alegra-se significa ter a certeza de que toda lágrima será enxugada, toda dor será curada, toda ferida aberta será fechada, todo luto será removido, toda morte será transformada. A alegria que Jesus nos traz com a sua ressurreição não tem razões humanas, isto é, ela não depende de condições humanas para surgir em nós. Essa alegria é um dom de Deus e também fruto da nossa fé em Deus, cujo amor se levanta acima de toda esperança humana que se perdeu. Alegria, alegria, irmãos, pois se hoje nos amamos, é porque ressuscitou! Se com Ele morremos, com Ele vivemos, com Ele cantamos, Aleluia! Ressuscitou! Ressuscitou! Ressuscitou! Aleluia! Aleluia! Aleluia! Aleluia! Ressuscitou! 

                                                                       Pe. Paulo Cezar Mazzi

Um comentário:

  1. Deus intervém, é tão somente o recomeço, no qual estará em alta a certeza de um futuro repleto de realizações, esperando que o amor inunde o coração dos seres humanos, pondo fim às guerras e ao egoísmo, permitindo que a paz volte a reinar como um dia o nosso Pai sonhou para nós. É ajudar mais gente a ser gente, é viver em constante libertação, é crer na vida que vence a morte, O poder da ressurreição é recomeço, é uma nova chance para melhorar as coisas que não gostamos em nós. Cristo morreu mas ressuscitou e fez isso somente para nos ensinar a matar nossos piores defeitos e ressuscitar as maiores virtudes, sepultadas no íntimo de nossos corações.Que essa seja a verdade da nossa Páscoa; ser capaz de mudar, partilhar a vida na esperança, lutar para vencer toda sorte de sofrimento, dizer sim ao amor e à vida, investir na fraternidade e lutar por um mundo melhor, enfim que possamos renascer e renovar. Senhor Jesus caminhamos na estrada da vida, Senhor Ressuscitado avançamos no caminho da Páscoa.

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