quinta-feira, 7 de março de 2013

ABRAÇO PASCAL


Missa do 4º. dom. da quaresma. Palavra de Deus: Josué 5,9a.10-12; 2Coríntios 5,17-21; Lucas 15,1-3.11-32.

         A vida tem inúmeros caminhos, e muitos deles nos levam para longe de Deus, para longe da nossa verdade. Não há alguém que já não tenha se enganado e seguido por um caminho errado. Todos nós podemos nos reconhecer nessa atitude do filho mais novo: “juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada” (Lc 15,13). Às vezes queremos dar um tempo, nos distanciar de Deus, da oração, da Igreja, daquilo que aprendemos como certo; queremos viver a nossa vida do nosso jeito, a partir da nossa cabeça, uma vida “desenfreada”, isto é, sem o “freio” da religião, da moral, da ética etc.
        A fome e a humilhação na qual o filho mais novo se encontra, consequências do mau uso da sua liberdade, é o retrato da solidão, uma solidão que você certamente conhece. As mesmas pessoas que incentivam e aplaudem você quando decide jogar tudo pro alto e abandonar valores como família, religião, honestidade, fé, responsabilidade etc., sempre deixam você sozinho com a sua dor, o seu fracasso e o seu arrependimento. Nessas horas, quando os falsos amigos saem de cena, é preciso reconhecer na sua consciência a presença daquele que sempre esperou pelo momento em que caísse em si e reconhecesse: ‘estou longe da minha verdade. Preciso voltar para o meu Pai’.
      Conhecemos inúmeros jovens que estão nessa experiência do filho mais novo. Mas é preciso reconhecer também que inúmeros jovens não têm para onde voltar; não têm – e alguns nunca tiveram – um pai esperando por eles. Nas famílias, é cada vez maior a ausência do pai. Além disso, são muitas as pessoas que nunca tiveram em sua vida a experiência de Deus como Pai. Neste sentido, o Evangelho nos convida a ser uma presença de Deus, uma presença do Pai numa sociedade onde muitos se sentem órfãos, também porque rejeitaram o Pai, rejeitaram Deus.    
Estamos próximos da festa da Páscoa, e o Evangelho nos antecipa a imagem dessa festa: alguém estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado! (cf. Lc 15,24.32). Jesus contou esta parábola justamente porque foi criticado pelos fariseus e pelos mestres da Lei: “Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles” (Lc 15,2). Jesus nos convida a fazer como ele: a nos colocar junto de cada pessoa que, por diversos motivos, decidiu morrer, decidiu se perder, para dizer-lhe que aquele que está agora morto pode voltar a viver, aquele que está agora perdido pode deixar-se encontrar!
Em um mundo onde ninguém se importa com ninguém, onde com muita facilidade deixamos de crer na possibilidade da volta, da mudança, da conversão, Jesus nos diz que a fé é sempre uma fé pascal: para quem crê, sempre existe uma páscoa, uma passagem, um caminho de volta. Para quem tem fé, sempre existe uma passagem da morte para a vida, da perda para o reencontro. Além disso, Jesus também nos lembra que a páscoa, a passagem da morte para a vida, acontece sempre que decidimos nos levantar e voltar ao Pai, assim como também acontece sempre que decidimos perdoar o irmão.
O coração do Evangelho está aqui: “Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos... ‘Vamos fazer um banquete. Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado’” (Lc 15,20.23-24). O retrato mais verdadeiro de Deus está aqui. Somos provocados por esta cena a nos deixar abraçar pelo Pai. É possível que também estejamos longe dele, longe da sua compaixão para com quem erra. Precisamos do seu abraço, para que o nosso coração deixe de se referir ao que erra como “esse teu filho” e passe a reconhecê-lo como “este meu irmão”.  
Enfim, o abraço do Pai precisa chegar, por meio de você, a muitos que ainda estão longe. Erga os seus olhos e você os verá, cruzando o seu caminho todos os dias. Não perca a oportunidade de correr ao encontro deles e, de alguma forma, lhes comunicar o abraço do Pai, devolvendo-lhes a fé pascal de que eles podem voltar a viver, podem deixar-se encontrar novamente pelo Pai. 
Pe. Paulo Cezar Mazzi

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