Missa do 4º. dom. da quaresma. Palavra
de Deus: Josué 5,9a.10-12; 2Coríntios 5,17-21; Lucas 15,1-3.11-32.
A vida tem inúmeros caminhos, e
muitos deles nos levam para longe de Deus, para longe da nossa verdade. Não há
alguém que já não tenha se enganado e seguido por um caminho errado. Todos nós
podemos nos reconhecer nessa atitude do filho mais novo: “juntou o que era seu
e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada” (Lc
15,13). Às vezes queremos dar um tempo, nos distanciar de Deus, da oração, da
Igreja, daquilo que aprendemos como certo; queremos viver a nossa vida do nosso
jeito, a partir da nossa cabeça, uma vida “desenfreada”, isto é, sem o “freio”
da religião, da moral, da ética etc.
A fome e a humilhação na qual o
filho mais novo se encontra, consequências do mau uso da sua liberdade, é o
retrato da solidão, uma solidão que você certamente conhece. As mesmas pessoas
que incentivam e aplaudem você quando decide jogar tudo pro alto e abandonar valores
como família, religião, honestidade, fé, responsabilidade etc., sempre deixam
você sozinho com a sua dor, o seu fracasso e o seu arrependimento. Nessas
horas, quando os falsos amigos saem de cena, é preciso reconhecer na sua
consciência a presença daquele que sempre esperou pelo momento em que caísse em
si e reconhecesse: ‘estou longe da minha verdade. Preciso voltar para o meu Pai’.
Conhecemos inúmeros jovens que estão
nessa experiência do filho mais novo. Mas é preciso reconhecer também que
inúmeros jovens não têm para onde voltar; não têm – e alguns nunca tiveram – um
pai esperando por eles. Nas famílias, é cada vez maior a ausência do pai. Além
disso, são muitas as pessoas que nunca tiveram em sua vida a experiência de
Deus como Pai. Neste sentido, o Evangelho nos convida a ser uma presença de
Deus, uma presença do Pai numa sociedade onde muitos se sentem órfãos, também
porque rejeitaram o Pai, rejeitaram Deus.
Estamos próximos da festa da Páscoa, e o
Evangelho nos antecipa a imagem dessa festa: alguém estava morto e tornou a
viver; estava perdido, e foi encontrado! (cf. Lc 15,24.32). Jesus contou esta
parábola justamente porque foi criticado pelos fariseus e pelos mestres da Lei:
“Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles” (Lc 15,2). Jesus nos
convida a fazer como ele: a nos colocar junto de cada pessoa que, por diversos motivos,
decidiu morrer, decidiu se perder, para dizer-lhe que aquele que está agora
morto pode voltar a viver, aquele que está agora perdido pode deixar-se
encontrar!
Em um mundo onde ninguém se importa com
ninguém, onde com muita facilidade deixamos de crer na possibilidade da volta,
da mudança, da conversão, Jesus nos diz que a fé é sempre uma fé pascal: para
quem crê, sempre existe uma páscoa, uma passagem, um caminho de volta. Para
quem tem fé, sempre existe uma passagem da morte para a vida, da perda para o
reencontro. Além disso, Jesus também nos lembra que a páscoa, a passagem da
morte para a vida, acontece sempre que decidimos nos levantar e voltar ao Pai,
assim como também acontece sempre que decidimos perdoar o irmão.
O coração do Evangelho está aqui: “Quando
ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao
encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos... ‘Vamos fazer um banquete. Porque
este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado’”
(Lc 15,20.23-24). O retrato mais verdadeiro de Deus está aqui. Somos provocados
por esta cena a nos deixar abraçar pelo Pai. É possível que também estejamos longe
dele, longe da sua compaixão para com quem erra. Precisamos do seu abraço, para
que o nosso coração deixe de se referir ao que erra como “esse teu filho” e
passe a reconhecê-lo como “este meu irmão”.
Enfim, o abraço do Pai precisa chegar, por meio
de você, a muitos que ainda estão longe. Erga os seus olhos e você os verá,
cruzando o seu caminho todos os dias. Não perca a oportunidade de correr ao
encontro deles e, de alguma forma, lhes comunicar o abraço do Pai, devolvendo-lhes
a fé pascal de que eles podem voltar a viver, podem deixar-se encontrar novamente
pelo Pai.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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