Missa do 5º. dom. da quaresma. Palavra
de Deus: Isaías 43,16-21; Filipenses 3,8-14; João 8,1-11.
Uma frase do cardeal Van Thuan nos
ajuda a compreender a mensagem do Evangelho que acabamos de ouvir: “Não há santos
sem passado, nem pecadores sem futuro”. Todos nós temos um passado, e pode ser
que neste passado tenhamos dito ou feito algo do qual nos arrependemos hoje.
Mas todos nós também temos um futuro, e o nosso futuro depende da forma como
lidamos com o nosso passado e também das atitudes que estamos tendo no presente.
Chegamos à última semana da
quaresma. Iniciamos este tempo vendo que Jesus foi tentado durante os quarenta
dias em que ficou no deserto (cf. Lc 4,2), uma indicação de que cada um de nós
foi e continua sendo tentado a abandonar os seus propósitos quaresmais. Como
você chega a esta última semana da quaresma? Sofreu quedas ao longo do caminho?
Abandonou seu propósito de conversão? Há, na sua consciência, vozes acusando você
de ter pecado neste período, vozes convencendo você de que esta quaresma foi
mais uma tentativa inútil de mudança de vida? Ainda que você se acuse e se
condene por algum erro cometido, Jesus lhe diz: “Eu não te condeno. Vai, e de
agora em diante não peque mais”.
A mulher que foi surpreendida em flagrante
adultério estava condenada pela Lei a morrer apedrejada (cf. Dt 22,23-24). Quantas
pessoas não frequentam mais uma igreja, uma religião, porque se sentem
condenadas por Deus? Quantas pessoas se sentem interiormente condenadas pela
culpa? Quantos jovens se sentem condenados pelo próprio vício ou já foram
sentenciados de morte pelos traficantes? Quantas das nossas palavras são duras
como pedras, pedras que atiramos nas outras pessoas ao julgá-las, ao criticá-las,
ao comentar sobre elas?
A atitude de Jesus para com a mulher
condenada nos diz que a religião deve funcionar como um espaço onde a pessoa
reconheça o seu erro, a sua culpa, mas tome consciência de que não precisa mais
viver em função disso, em função do seu passado, como testemunha o apóstolo: “Esquecendo-me
do que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente. Corro para a
meta, rumo ao prêmio, que, do alto, Deus me chama a receber em Cristo Jesus”
(Fl 3,13-14).
Em Jesus Cristo, o Pai abriu para todo
ser humano um caminho novo (cf. Is 43,18-19). Por meio desse caminho podemos
fazer a nossa páscoa, a passagem de uma vida vivida em função de um passado que
nos condena para uma vida aberta a um futuro novo, porque “não existe mais
condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus” (Rm 8,1).
“Não peques mais”. Jesus não veio ao
mundo para dizer que não existe pecado ou que ‘pecado’ é uma invenção de
algumas religiões para manter as pessoas aprisionadas no sentimento de culpa.
Ele veio revelar que o pecado é uma forma errada de administrarmos a nossa
vida, de lidarmos com os nossos sentimentos, de buscarmos a nossa felicidade. Ao
dizer a cada um de nós “Não peques mais” Jesus está dizendo: ‘Você pode lidar
de uma outra forma consigo mesmo, com as pessoas, com a vida e com o mundo à
sua volta’.
“Quem dentre vós não tiver pecado, seja
o primeiro a atirar-lhe uma pedra”... Ouvindo o que Jesus falou, foram saindo
um a um, a começar pelos mais velhos” (Jo 8,7.9). Quando permitimos que o nosso
encontro com Jesus seja profundo, verdadeiro, nós nos desarmamos, nos
convencemos de que não precisamos mais caminhar pela vida munidos de pedras,
pedras com as quais ferimos os outros e nos ferimos a nós mesmos. Podemos
caminhar na vida com o coração mais humanizado, olhando para nós mesmos e para
os outros com um olhar de misericórdia e de esperança, porque aprendemos com Jesus
que na vida “não há santos sem passado, nem pecadores sem futuro” (Cardeal Van
Thuan).
Pe. Paulo Cezar Mazzi
Que texto incrível. Realmente maravilhoso! Benção e luz para nós!!
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