quinta-feira, 21 de março de 2013

POSICIONAR-SE DIANTE DO SOFRIMENTO


Missa do Domingo de Ramos – Palavra de Deus: Isaías 50,4-7; Filipenses 2,6-11; Lucas 23,1-49.

        Assim como as multidões, “que tinham acorrido para assistir” (Lc 23,48), nós acabamos de “assistir” ao julgamento e à morte de Jesus; acabamos de ver como terminou a vida de Jesus. Como você acha que vai terminar a sua vida? Como você espera concluir a sua vida? Será o momento em que o mundo reconhecerá seus esforços, ou será o momento em que o mundo vai ignorar tudo o que você tentou fazer de bom? Como você acha que será lembrado: como um santo, um herói ou como um bandido, um malfeitor?
Jesus andou pelo mundo fazendo o bem, curando os doentes e libertando os que estavam dominados pelo mal (cf. At 10,38). Diante desse fato, talvez você se pergunte: ‘Como ele pôde ter um fim tão humilhante, sofrido e injusto?’ Mas Jesus te faz uma outra pergunta: “Se fizeram assim com a árvore verde, o que não farão com a árvore seca?” (Lc 23,31). Se, diante da proposta de Pilatos em castigar Jesus e depois soltá-lo, por não ter encontrado nada nele que merecesse a morte, as pessoas simplesmente ignoraram tudo o que Jesus fez de bom e gritaram a Pilatos: “Fora com ele!” (cf. Lc 23,14-18), o que não farão com você, uma pessoa tão menos santa, tão menos justa, tão menos coerente, em comparação com Jesus?
O Evangelho nos coloca hoje diante da paixão e morte de Jesus não para nos encher de indignação, nem para nos compadecer piedosamente de Jesus, mas para nos tornar conscientes de que, ao longo da vida, teremos que lidar com a cruz: cruz que pode chegar a nós na forma de uma perseguição ou de um julgamento injusto; cruz que pode nos atingir na forma da indiferença em relação ao nosso sofrimento, por parte de todos aqueles que nos cercam; cruz que pode ser simplesmente o ódio do mundo, a violência cega da sociedade ou a atitude de tantas pessoas que descarregam em nós as suas próprias feridas.
O que podemos aprender com Jesus, na forma como ele lidou com a sua cruz? Antes de mais nada, Jesus nos ensina a não fechar os ouvidos ao que Deus quer nos ensinar com a nossa experiência de cruz ou com a experiência de cruz daqueles que nos cercam: “O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhe resisti nem voltei atrás... não desviei o rosto das agressões... Precisei aprender a ouvir como um discípulo, para poder levar uma palavra de conforto à pessoa abatida” (citação livre de Is 50,4-6). Somente quem já se confrontou com sua própria cruz tem algo de significativo e de redentor a dizer a quem sofre.
No momento em que estava sendo crucificado, Jesus orou: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!” (Lc 23,34). Esta atitude de Jesus nos ensina que nós não podemos escolher o tipo de sofrimento que nos atingirá, mas sempre podemos escolher a maneira como lidar com ele. Diante das injustiças sofridas por parte de determinadas pessoas, podemos nos tornar amargos e revoltados, ou podemos compreender que essas pessoas não tinham plena consciência do mal que estavam nos fazendo. Elas nos feriram porque já haviam sido feridas antes por alguém.  
Por fim, no momento de sua morte, Jesus expressa uma outra oração: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). Assim como Jesus, você também pode suportar um julgamento injusto; pode suportar ver todo o bem que fez durante sua vida ser ignorado pelos outros; pode, inclusive, suportar morrer como um bandido, um malfeitor, se souber a cada dia colocar sua vida nas mãos do Pai, e esperar dele a palavra final sobre sua vida, como dizia o profeta: “o Senhor Deus é meu auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo,... porque sei que não sairei humilhado” (Is 50,7). Esta Semana Santa quer nos associar pela graça à cruz de nosso Senhor Jesus, para que participemos também de sua ressurreição e de sua vida. 
                Durante esta Semana, não dobramos os joelhos diante de um deus morto; dobramos os joelhos diante d’Aquele que, tendo esvaziado-se de si mesmo, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz, para depois ser exaltado pelo Pai acima de tudo e tornar-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem (cf. Fl 2,7-9; Hb 5,9).

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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