quarta-feira, 27 de março de 2013

PASSAGENS NECESSÁRIAS


Missa da 5a. feira santa. Palavra de Deus: Êxodo 12,1-8..11-14; 1Coríntios 11,23-26; João 13,1-15.

     A nossa vida é feita de passagens. Passamos da infância para a adolescência, da adolescência para a juventude, da juventude para a idade adulta, da idade adulta para a velhice, e um dia, como aconteceu com Jesus, chegará o momento de passarmos deste mundo para o Pai. Algumas passagens são difíceis: passar numa prova, num exame, num concurso, num vestibular. Algumas passagens são ainda mais difíceis: passar da doença para a saúde, do desemprego para o emprego, da solidão para a comunhão, da mágoa para o perdão, da tristeza para a alegria, da morte para a vida – não só no sentido físico, mas também no sentido psicológico e espiritual.
     A noite de hoje nos coloca dentro do mistério pascal de Jesus. Antes de mais nada, ela nos recorda a primeira páscoa, a páscoa dos hebreus, quando o Senhor passou pela terra do Egito, fazendo justiça e libertando seu povo do sofrimento e da escravidão. Nós não estávamos lá, mas esta primeira páscoa também diz respeito a nós. Assim como o povo de Israel, nós também necessitamos ser libertos, necessitamos passar da escravidão, seja do nosso pecado, seja de algo que nos prende à injustiça e ao sofrimento, para a liberdade de sermos filhos de Deus.
        Há um símbolo da primeira páscoa que nos fala da importância de Jesus em nossa vida e em nossa casa: o cordeiro. Assim como o sangue do cordeiro assinalava as casas dos hebreus, poupando-as de serem atingidas pela praga exterminadora, assim invocamos nesta noite o sangue de Jesus, o Cordeiro de Deus, para que nossa família não seja atingida pelo espírito do mal, que age no mundo. “Quem poderá resistir, se Jesus derramando está seu sangue precioso aqui, neste lugar?!” (Vida Reluz, Quem poderá?).
        As famílias dos hebreus precisavam fazer a difícil passagem da escravidão para a liberdade. Qual passagem precisa acontecer na sua família? Deus quis que a festa da Páscoa fosse celebrada todos os anos, de geração em geração, para nos lembrar de que somos um povo pascal: por mais que tenhamos de enfrentar passagens difíceis, Deus nos ajuda a enfrentá-las, nos ajuda a fazer a passagem necessária. Para isso, ele nos alimenta com o Corpo e o Sangue do Cordeiro, seu Filho Jesus.
Nesta noite, em que recordamos a páscoa dos hebreus e o início da passagem de Jesus deste mundo para o Pai, onde ele celebrou a última ceia com seus discípulos, a Eucaristia que estamos celebrando nos recorda que somos um povo pascal. Como São Paulo apóstolo acabou de dizer, todas as vezes que comemos do Corpo e bebemos do Sangue do Cordeiro, estamos proclamando que Jesus morreu por nós, que venceu a morte em nosso lugar: nele nós podemos fazer a mais difícil de todas as passagens, que é passar da morte para a vida, em todos os sentidos. Ao mesmo tempo, fazemos isso até que ele venha, ou seja, vivemos a nossa fé na certeza de que Jesus virá para salvar definitivamente aqueles que nele esperam.                     
Ao nos dar o seu Corpo e o seu Sangue na Eucaristia, Jesus nos convida a fazer a difícil passagem de quem desistiu de amar para quem decidiu amar até o fim: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Jesus nos diz que precisamos ter uma atitude pascal para com as pessoas, e essa atitude pascal significa amar até o fim aqueles que Deus confiou aos nossos cuidados. Ao nos fazer assentar à mesa da Eucaristia, Jesus nos convida a fazer também a difícil passagem de quem espera ser servido pelos outros para quem decide servir aos outros: “Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13,14-15).  
O que significa, no mundo de hoje, lavar os pés uns dos outros? Significa estar sempre atento e perceber que, onde quer que estejamos, existe alguém que precisa de nós. “Não devemos permitir que alguém saia da nossa presença sem sentir-se melhor e mais feliz” (Madre Teresa de Calcutá). Lavar os pés uns dos outros significa ainda ajudar e fazer o bem também às pessoas que não nos são simpáticas, também àquelas que nos traem ou nos prejudicam, a exemplo de Jesus, que lavou também os pés de Judas, que o traiu, e de Pedro, que o negou três vezes...
Como diz Pe. Adroaldo, “há sempre um lar que nos espera, um ambiente carente, um serviço urgente. Há pessoas que aguardam nossa presença compassiva e servidora, nosso coração aberto, nossa acolhida e cuidado amoroso... Sempre teremos “pés” para lavar, mãos estendidas para acolher, irmãos que nos esperam, situações delicadas a serem enfrentadas com coragem... Isso é viver a Eucaristia no cotidiano da vida”. 

Pe. Paulo Cezar Mazzi 

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