“Não te impressione a sua aparência
nem a sua elevada estatura: eu o rejeitei. Não se trata daquilo que veem os
homens, pois eles veem apenas com os olhos, mas o Senhor olha o coração” (1Sm
16,7). Essas palavras foram dirigidas por Deus à consciência do profeta Samuel,
no momento em que ele estava diante dos filhos de Jessé, para escolher aquele
que seria o novo rei de Israel.
Foi também assim, com uma incrível
surpresa, que o mundo testemunhou, na tarde de 13 de março pp., a escolha do
cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio para ser o novo Papa da nossa Igreja,
um sinal claro de que Deus rejeita os nossos critérios de escolha, para
estabelecer o Seu: enquanto nós olhamos a aparência, a idade, a influência, o
lugar de origem, a capacidade intelectual, o poder, Deus olha o coração. Assim,
acolhemos com imensa alegria e gratidão o Papa Francisco, na esperança de que
ele seja um Papa segundo o coração de Deus!
Ficará para sempre registrado em
nossa mente e em nosso coração seu gesto de inclinar-se perante aquela multidão
que estava na Praça de São Pedro, para pedir que rezasse por ele, um gesto que
não nasceu de uma jogada de marketing, mas daquilo que é próprio dele: a
humildade, uma humildade que tem devolvido a inúmeros católicos a simpatia pela
Igreja e a credibilidade nela como esposa daquele que disse: “Aprendam que mim,
porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29).
A escolha do nome Francisco se deve
à forte sensibilidade que o nosso novo Papa sempre teve para com os pobres.
Numa época em que a Igreja havia se afastado dos pobres e se identificado com os
poderosos, corrompendo-se como eles, o Espírito de Deus suscitou a figura de Francisco
de Assis, a quem Jesus disse: “Reconstrói a minha Igreja”. Hoje, como
católicos, sentimos essa mesma necessidade de ter a nossa Igreja reconstruída,
reconstruída não enquanto Instituição, mas enquanto sinal do Reino de Deus,
sinal vivo do Evangelho de nosso Senhor Jesus para o mundo. Por isso, a escolha
do nome Francisco pelo novo Papa se reveste de um significado muito profundo
para nós.
Temos esperança em Francisco não por
causa dele, mas por causa de Deus, que o escolheu e o colocou em nossa Igreja
como Papa. Mas, o que esperar do novo Papa? O que esperar de Francisco? A lista
de expectativas e de cobranças é enorme, e esperar que ele corresponda a todas
elas, resolvendo todos os problemas da Igreja e do mundo, é humanamente injusto
e impossível. Nem Jesus aceitou corresponder a todas as expectativas ou se
mover segundo as cobranças das pessoas. O que esperamos de Francisco é que ele
seja um instrumento de Deus para reconduzir à fé os que dela se extraviaram e
para confirmar na fé os que nela têm procurado se manter até agora.
Francisco precisará muito da nossa
oração. Ele tem sinalizado mudanças, e toda mudança incomoda e encontra
resistência, tanto dentro como fora da Igreja. Sem dúvida nenhuma, Francisco
precisará de cada um de nós, católicos, para reconstruir a Igreja de Jesus
Cristo, uma reconstrução que passa não só por mudanças na forma da Igreja se
estruturar e dialogar com o mundo moderno, mas também pela revisão da nossa
postura enquanto católicos no seio da sociedade em que vivemos.
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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