Missa
de São Pedro e São Paulo. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 12,1-11; 2Timóteo
4,6-8.17-18; Mateus 16,13-19.
“Tu
és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja” (Mt 16,18). Essas
palavras fundamentam a afirmação de que Jesus Cristo é o fundador da Igreja
Católica Apostólica Romana. No entanto, a maioria das pessoas hoje em dia não vai
a uma igreja por considerá-la fundada por Jesus, e sim porque lá se sente bem. O
que leva uma pessoa a escolher frequentar uma igreja ou religião não é a
verdade do seu fundador, mas o seu bem-estar pessoal. Em outras palavras, mais
importante do que seguir a Verdade é sentir emoção, “ser tocado” (supostamente
por Deus) durante o culto, o ritual ou a celebração. A emoção tornou-se hoje
mais importante do que a inteligência (ou consciência).
A
celebração de São Pedro e São Paulo, considerados duas colunas mestras da nossa
Igreja, não deveria nos manter numa zona de conforto – a existência da nossa
Igreja está garantida pelo seu Fundador, Jesus Cristo –, mas nos fazer
questionar: Por que a nossa Igreja torna-se cada vez mais irrelevante para as
pessoas do nosso tempo, principalmente os jovens, para cuja maioria ela, a Igreja,
não significa absolutamente nada? Sem negar a força da secularização, a perda
do sentido do sagrado e as inúmeras formas atrativas de distração, um fator explica,
em grande parte, a insignificância da nossa Igreja para o mundo atual: a falta
de testemunho – nossas atitudes cotidianas muitas vezes contradizem o Evangelho
no qual dizemos crer, mesmo porque, viver segundo o Evangelho é uma exigência
(a “porta estreita”, o “caminho apertado” – Mt 7,14) que vai na contramão da nossa
busca por bem-estar.
Em
nossa profissão de fé, dizemos: “Creio na Santa Igreja Católica”. Santa???
Nossa Igreja nunca foi e nunca será santa por suas próprias atitudes. A santidade
dela não provém de si mesma, mas do seu Fundador, seu Esposo: “Cristo amou a
Igreja e se entregou (se sacrificou) por ela (na cruz), a fim de purificá-la
com o banho da água (batismo) e santificá-la pela Palavra (cf. Jo 15,3), para
apresentar a si mesmo a Igreja... santa e irrepreensível” (Ef 5,25-27).
Qualquer que seja o pecado que nós, “pessoas de Igreja”, cometamos, ele não é
maior do que o sacrifício redentor do Esposo da nossa Igreja, “o Santo de Deus”
(Jo 6,69).
Seria a Igreja uma mera instituição
humana, que manipula o nome de Deus para – cada vez mais a muito custo – manter
algum tipo de “domínio” sobre a consciência das pessoas? Consideremos essas
palavras do apóstolo Paulo, ao despedir-se dos presbíteros da Igreja na cidade
de Éfeso: “Estejam atentos a vocês mesmos e a todo o rebanho: nele o Espírito
Santo os constituiu guardiães, para apascentar a Igreja de Deus, que ele adquiriu
para si pelo sangue do seu próprio Filho” (At 20,28). A nossa Igreja pertence a
Deus. Cada um de nós, que somos essa Igreja hoje, custa para Deus nada menos do
que o sangue do seu Filho único! Além disso, o Espírito Santo governa a Igreja
por meio de líderes religiosos que têm a função de cuidar das ovelhas do
rebanho de Deus. Portanto, a nossa Igreja nasceu na vontade do Pai, do
sacrifício do Filho e da ação do Espírito Santo.
Como Jesus vê a Igreja? Como um lugar onde é impossível não haver escândalo (cf. Mt 18,7). Onde quer que exista o ser humano, lá haverá a possibilidade do pecado, da falha, da infidelidade, do erro, lembrando que, para Jesus, escândalo é toda atitude nossa que leve uma pessoa a perder a fé. Quem procura por uma igreja ou religião onde não haja escândalo, desistirá de ambas. Jesus deseja que a Igreja seja uma comunidade sensível a quem se afasta dela: “Não é da vontade do Pai de vocês, que está no céu, que um desses pequeninos (pessoas de fé imatura) se perca” (Mt 18,14). Jesus não quer sua Igreja como lugar de disputa pelo poder: “Entre vocês não deverá ser assim” (Mt 20,26). Jesus quer sua Igreja como lugar onde um irmão corrija o outro irmão: “Se o seu irmão pecar, vá corrigi-lo a sós” (Mt 18,15). No entanto, a grande chaga das nossas comunidades é a fofoca, a crítica, o falar mal do outro, ao invés de corrigi-lo pessoalmente. Se o esforço (que tipo de “esforço”?) que fazemos por mudar os outros fosse direcionado para mudar a nós mesmos, haveria menos joio em nossa Igreja e mais trigo (cf. Mt 13,24-30.36-43). A esse propósito, o Papa Francisco nos dá um conselho: Cuide do trigo e não perca a paz por causa do joio (EG 24).
“Tu és Pedro, e sobre esta pedra
construirei a minha Igreja” (Mt 16,18). Jesus foi um construtor. Ele construiu inúmeras
pontes que religaram pessoas a Deus e pessoas entre si. Nossa Igreja é chamada
a fazer a mesma coisa. No entanto, nenhuma ponte pode ser construída quando faltam
construtores. Este Ano Vocacional nos recorda que a nossa Igreja vive uma
escassez de mão de obra. A grande maioria dos católicos que ainda frequentam
nossas celebrações – 8% da população – se comportam como consumidores, não como
construtores: consomem a Palavra, consomem sacramentos, consomem bênçãos, mas
não têm tempo, nem disposição, nem interesse em se tornarem construtores da
Igreja. Isso faz com que nossa Igreja não consiga se fazer presente em muitos ambientes
como presídios, asilos, pessoas idosas que sofrem de solidão, casais em
dificuldade conjugal, famílias desestruturadas, jovens desempregados, crianças
desorientadas e sem referência religiosa alguma, empresas, empresários,
empregados, pessoas enlutadas ou enfermas etc.
A
insignificância da nossa Igreja é fruto da sua ausência na vida cotidiana das
pessoas, ausência causada, em grande parte, pela falta de comprometimento da
maioria de nós, católicos, com o serviço do Evangelho. Nós somos rápidos em
criticar nossa própria Igreja, mas muito lentos em fazermos uma boa e
necessária autocrítica, ignorando propositalmente essa verdade: “A Igreja que
vai impactar mundo não é a que você está indo, é a que você está sendo!” (autor
desconhecido). Dizendo de outra forma, a ausência da nossa Igreja junto de
inúmeras pessoas do nosso tempo é a sua ausência como Igreja junto delas.
“A
Igreja Católica precisa mudar!”. Quantas vezes você ouviu ou afirmou isso? O
que você tem feito para que essa mudança aconteça? Ghandi dizia: “Seja a
mudança que você quer ver no mundo”. Portanto, seja a mudança que você quer ver
na Igreja! Assuma o seu lugar dentro dela como “pedra viva” (1Pd 2,5). Afinal
de contas, não é a sua saliva – suas críticas, fofocas, exigências ou reclamações
– que constrói a Igreja, mas as suas atitudes; concretamente, a doação do seu
trabalho voluntário e a fidelidade ao seu dízimo. Seja Igreja, e não apenas
frequente-a!
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
Nenhum comentário:
Postar um comentário