quinta-feira, 29 de junho de 2023

A AUSÊNCIA DA IGREJA NAS DIVERSAS SITUAÇÕES É A SUA AUSÊNCIA COMO CRISTÃO CATÓLICO JUNTO ÀS PESSOAS

Missa de São Pedro e São Paulo. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 12,1-11; 2Timóteo 4,6-8.17-18; Mateus 16,13-19.

 

“Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja” (Mt 16,18). Essas palavras fundamentam a afirmação de que Jesus Cristo é o fundador da Igreja Católica Apostólica Romana. No entanto, a maioria das pessoas hoje em dia não vai a uma igreja por considerá-la fundada por Jesus, e sim porque lá se sente bem. O que leva uma pessoa a escolher frequentar uma igreja ou religião não é a verdade do seu fundador, mas o seu bem-estar pessoal. Em outras palavras, mais importante do que seguir a Verdade é sentir emoção, “ser tocado” (supostamente por Deus) durante o culto, o ritual ou a celebração. A emoção tornou-se hoje mais importante do que a inteligência (ou consciência).

A celebração de São Pedro e São Paulo, considerados duas colunas mestras da nossa Igreja, não deveria nos manter numa zona de conforto – a existência da nossa Igreja está garantida pelo seu Fundador, Jesus Cristo –, mas nos fazer questionar: Por que a nossa Igreja torna-se cada vez mais irrelevante para as pessoas do nosso tempo, principalmente os jovens, para cuja maioria ela, a Igreja, não significa absolutamente nada? Sem negar a força da secularização, a perda do sentido do sagrado e as inúmeras formas atrativas de distração, um fator explica, em grande parte, a insignificância da nossa Igreja para o mundo atual: a falta de testemunho – nossas atitudes cotidianas muitas vezes contradizem o Evangelho no qual dizemos crer, mesmo porque, viver segundo o Evangelho é uma exigência (a “porta estreita”, o “caminho apertado” – Mt 7,14) que vai na contramão da nossa busca por bem-estar.

Em nossa profissão de fé, dizemos: “Creio na Santa Igreja Católica”. Santa??? Nossa Igreja nunca foi e nunca será santa por suas próprias atitudes. A santidade dela não provém de si mesma, mas do seu Fundador, seu Esposo: “Cristo amou a Igreja e se entregou (se sacrificou) por ela (na cruz), a fim de purificá-la com o banho da água (batismo) e santificá-la pela Palavra (cf. Jo 15,3), para apresentar a si mesmo a Igreja... santa e irrepreensível” (Ef 5,25-27). Qualquer que seja o pecado que nós, “pessoas de Igreja”, cometamos, ele não é maior do que o sacrifício redentor do Esposo da nossa Igreja, “o Santo de Deus” (Jo 6,69).

            Seria a Igreja uma mera instituição humana, que manipula o nome de Deus para – cada vez mais a muito custo – manter algum tipo de “domínio” sobre a consciência das pessoas? Consideremos essas palavras do apóstolo Paulo, ao despedir-se dos presbíteros da Igreja na cidade de Éfeso: “Estejam atentos a vocês mesmos e a todo o rebanho: nele o Espírito Santo os constituiu guardiães, para apascentar a Igreja de Deus, que ele adquiriu para si pelo sangue do seu próprio Filho” (At 20,28). A nossa Igreja pertence a Deus. Cada um de nós, que somos essa Igreja hoje, custa para Deus nada menos do que o sangue do seu Filho único! Além disso, o Espírito Santo governa a Igreja por meio de líderes religiosos que têm a função de cuidar das ovelhas do rebanho de Deus. Portanto, a nossa Igreja nasceu na vontade do Pai, do sacrifício do Filho e da ação do Espírito Santo.

            Como Jesus vê a Igreja? Como um lugar onde é impossível não haver escândalo (cf. Mt 18,7). Onde quer que exista o ser humano, lá haverá a possibilidade do pecado, da falha, da infidelidade, do erro, lembrando que, para Jesus, escândalo é toda atitude nossa que leve uma pessoa a perder a fé. Quem procura por uma igreja ou religião onde não haja escândalo, desistirá de ambas. Jesus deseja que a Igreja seja uma comunidade sensível a quem se afasta dela: “Não é da vontade do Pai de vocês, que está no céu, que um desses pequeninos (pessoas de fé imatura) se perca” (Mt 18,14). Jesus não quer sua Igreja como lugar de disputa pelo poder: “Entre vocês não deverá ser assim” (Mt 20,26). Jesus quer sua Igreja como lugar onde um irmão corrija o outro irmão: “Se o seu irmão pecar, vá corrigi-lo a sós” (Mt 18,15). No entanto, a grande chaga das nossas comunidades é a fofoca, a crítica, o falar mal do outro, ao invés de corrigi-lo pessoalmente. Se o esforço (que tipo de “esforço”?) que fazemos por mudar os outros fosse direcionado para mudar a nós mesmos, haveria menos joio em nossa Igreja e mais trigo (cf. Mt 13,24-30.36-43). A esse propósito, o Papa Francisco nos dá um conselho: Cuide do trigo e não perca a paz por causa do joio (EG 24).

            “Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja” (Mt 16,18). Jesus foi um construtor. Ele construiu inúmeras pontes que religaram pessoas a Deus e pessoas entre si. Nossa Igreja é chamada a fazer a mesma coisa. No entanto, nenhuma ponte pode ser construída quando faltam construtores. Este Ano Vocacional nos recorda que a nossa Igreja vive uma escassez de mão de obra. A grande maioria dos católicos que ainda frequentam nossas celebrações – 8% da população – se comportam como consumidores, não como construtores: consomem a Palavra, consomem sacramentos, consomem bênçãos, mas não têm tempo, nem disposição, nem interesse em se tornarem construtores da Igreja. Isso faz com que nossa Igreja não consiga se fazer presente em muitos ambientes como presídios, asilos, pessoas idosas que sofrem de solidão, casais em dificuldade conjugal, famílias desestruturadas, jovens desempregados, crianças desorientadas e sem referência religiosa alguma, empresas, empresários, empregados, pessoas enlutadas ou enfermas etc.

A insignificância da nossa Igreja é fruto da sua ausência na vida cotidiana das pessoas, ausência causada, em grande parte, pela falta de comprometimento da maioria de nós, católicos, com o serviço do Evangelho. Nós somos rápidos em criticar nossa própria Igreja, mas muito lentos em fazermos uma boa e necessária autocrítica, ignorando propositalmente essa verdade: “A Igreja que vai impactar mundo não é a que você está indo, é a que você está sendo!” (autor desconhecido). Dizendo de outra forma, a ausência da nossa Igreja junto de inúmeras pessoas do nosso tempo é a sua ausência como Igreja junto delas.  

“A Igreja Católica precisa mudar!”. Quantas vezes você ouviu ou afirmou isso? O que você tem feito para que essa mudança aconteça? Ghandi dizia: “Seja a mudança que você quer ver no mundo”. Portanto, seja a mudança que você quer ver na Igreja! Assuma o seu lugar dentro dela como “pedra viva” (1Pd 2,5). Afinal de contas, não é a sua saliva – suas críticas, fofocas, exigências ou reclamações – que constrói a Igreja, mas as suas atitudes; concretamente, a doação do seu trabalho voluntário e a fidelidade ao seu dízimo. Seja Igreja, e não apenas frequente-a!

 

Pe. Paulo Cezar Mazzi


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