Missa do Corpo e Sangue do Senhor. Palavra de Deus: Deuteronômio 8,2-3.14b-16a; 1Coríntios 10,16-17; João 6,51-58.
O
pão é o símbolo da nossa insuficiência como criaturas. Nenhuma criatura vive
sem se alimentar. Nenhuma criatura é autossuficiente. Na Bíblia, o pão se
tornou símbolo da nossa dependência de Deus, pois o filho vive do pão que o pai
lhe dá. Essa dependência está expressa em salmos como esses: “Se o Senhor não
constrói a nossa casa, em vão trabalham seus construtores” (Sl 127,1); “Todos
os olhos, ó Senhor, em vós esperam, o no tempo certo vós lhes dais o
alimento...” (Sl 145,15); “Os olhos do Senhor estão sobre aqueles que esperam
em seu amor, para da morte libertar as suas vidas e no tempo da fome fazê-los
viver” (Sl 33,18-19).
Antes
de entrar na Terra Prometida, lugar onde Israel teria fartura, o mesmo foi
convidado por Moisés a não se esquecer da fome que passou no deserto: “Lembra-te de todo o caminho por onde o
Senhor teu Deus te conduziu, esses quarenta anos, no
deserto... Ele te humilhou, fazendo-te passar fome e alimentando-te com o maná que nem tu nem
teus pais conhecíeis,
para te mostrar que nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor” (Dt 8,2.3). Em qual
momento da vida nós buscamos Deus: na fartura ou na fome? Na alegria ou na dor?
Nós temos a tendência a apagar da nossa memória os momentos difíceis da vida.
No entanto, são eles que nos recordam coisas que não deveríamos esquecer. Na
fartura, na riqueza, no sucesso, Deus é rapidamente posto de lado, e nós nos
enchemos de orgulho por aquilo que a nossa mão conquistou; nos esquecemos de
que foi a mão do Pai que nos sustentou; nos esquecemos de que nenhuma situação
é definitiva e que a nossa “Terra Prometida” pode se tornar um “deserto”,
devido ao nosso orgulho, à nossa arrogância, à nossa prepotência.
Voltemos à simbologia do pão. Nós temos pão? Ótimo,
mas nem só de pão vive o homem! Nós temos dinheiro, bens materiais, um corpo
sedutor etc.? Mas nada disso nos garante que a nossa vida tenha um sentido.
“Cada vez mais as pessoas têm condições materiais para viver, mas elas não têm
um sentido para viver!” (parafraseando Victor Frankl). Casas caras, carros
caros, geladeiras repletas, estômagos saciados... No entanto, a alma está vazia,
porque não há afeto, nem comunicação, nem comunhão. Determinadas casas estão cheias
de bens materiais, mas habitadas por uma solidão insuportável...
A
partir de Jesus Cristo, o pão se tornou uma Pessoa! Ele é o Pão vivo descido do
céu. Por quem razão? Porque há em nós uma fome, uma sede, uma busca, uma
necessidade que se chama vida eterna, e somente Jesus pode saciá-la. Semelhante
ao que pedido da Samaritana, nós hoje pedimos a Jesus: “Senhor, dá-me desse
pão!” (parafraseando Jo 4,15), ao que Jesus responderia: “Vá buscar o seu
marido e volte aqui!” (Jo 4,16). Em outras palavras, Jesus quer que
reconheçamos as mentiras da nossa vida que estão nos afastando da sua Verdade. Nada
pode preencher o nosso vazio enquanto não formos verdadeiros conosco mesmos e
com a nossa consciência. Nada pode apaziguar o nosso coração enquanto ele não
se encontrar com o Deus da Verdade. Neste sentido, o apóstolo Paulo nos recorda:
“Cristo, nossa Páscoa, foi imolado. Celebremos a festa não com o velho
fermento, mas com pães sem fermento, na sinceridade e na verdade” (citação
livre de 1Cor 5,7). Qual fermento precisa ser banido da sua casa, da sua vida? A
Eucaristia, pão sem fermento, nos convida a cuidar do essencial e não nos
perder atrás do supérfluo.
O
apóstolo Paulo afirma que a Eucaristia é “comunhão”: “(...) o pão que partimos,
não é comunhão com o corpo de Cristo? Porque há um só pão, nós todos somos um só
corpo,
pois todos participamos desse único pão” (1Cor 10,16-17).
Quem pode comungar? Quem se esforça em criar comunhão. Existem casais casados
na Igreja, mas que vivem sem comunhão, assim como existem casais não casados na
Igreja que vivem numa profunda comunhão. Quem pode comungar? Nossa mão se
estende para receber a comunhão. Ela também se estende para a pessoa da qual
estamos distantes? Nossa língua e nossa boca recebem o Corpo de Cristo. Da
nossa boca sai alguma palavra de perdão, de diálogo, de reconciliação, uma
palavra que ajuda a quebrar o silêncio que está matando dia a dia o
relacionamento? A comunhão alimenta a vida; o isolamento, a morte. Neste
sentido, quando nos aproximamos da “Comunhão”, Deus nos faz a mesma pergunta
que fez a Caim: “Onde está o teu irmão?” (Gn 4,9). Onde está o seu marido/a sua
esposa? Onde está o seu pai/o seu filho? Onde está a sua nora/a sua sogra? Onde
está a pessoa da sua família em relação a quem você não faz esforço em retomar
a comunhão?
“Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes
a carne do Filho do Homem
e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a
minha carne
e bebe o meu sangue tem a
vida eterna,
e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,53-54). Estamos
vivendo o Ano Vocacional. Quantos não têm acesso à Eucaristia, por falta de
padres? Faltam padres, muitos, sobretudo na região Norte e Nordeste do nosso
País, mas falta também a coragem de se criar um ministério ordenado para homens
casados em nossa Igreja. O fato de 70% das comunidades católicas no Brasil não
terem a Eucaristia dominical semanal, por falta de padres, precisa fazer a
nossa Igreja repensar o modelo de presbítero que ela exige, obrigatoriamente
celibatário.
Nesse dia, rezemos especialmente pelos desempregados.
Não esqueçamos da Campanha da Fraternidade desse ano, que nos recordou da nossa
responsabilidade cristã perante a fome. O mesmo Jesus que se fez pão descido do
céu sempre foi sensível à fome das pessoas e ordenou aos seus discípulos: “Dai-lhes
vós mesmos de comer” (Mt 14,16).
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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