quarta-feira, 7 de junho de 2023

SÓ DEVE COMUNGAR QUEM SE ESFORÇA EM RESTABELECER A COMUNHÃO

 Missa do Corpo e Sangue do Senhor. Palavra de Deus: Deuteronômio 8,2-3.14b-16a; 1Coríntios 10,16-17; João 6,51-58.

 

O pão é o símbolo da nossa insuficiência como criaturas. Nenhuma criatura vive sem se alimentar. Nenhuma criatura é autossuficiente. Na Bíblia, o pão se tornou símbolo da nossa dependência de Deus, pois o filho vive do pão que o pai lhe dá. Essa dependência está expressa em salmos como esses: “Se o Senhor não constrói a nossa casa, em vão trabalham seus construtores” (Sl 127,1); “Todos os olhos, ó Senhor, em vós esperam, o no tempo certo vós lhes dais o alimento...” (Sl 145,15); “Os olhos do Senhor estão sobre aqueles que esperam em seu amor, para da morte libertar as suas vidas e no tempo da fome fazê-los viver” (Sl 33,18-19).

Antes de entrar na Terra Prometida, lugar onde Israel teria fartura, o mesmo foi convidado por Moisés a não se esquecer da fome que passou no deserto: “Lembra-te de todo o caminho por onde o Senhor teu Deus te conduziu, esses quarenta anos, no deserto... Ele te humilhou, fazendo-te passar fome e alimentando-te com o maná que nem tu nem teus pais conhecíeis, para te mostrar que nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor” (Dt 8,2.3). Em qual momento da vida nós buscamos Deus: na fartura ou na fome? Na alegria ou na dor? Nós temos a tendência a apagar da nossa memória os momentos difíceis da vida. No entanto, são eles que nos recordam coisas que não deveríamos esquecer. Na fartura, na riqueza, no sucesso, Deus é rapidamente posto de lado, e nós nos enchemos de orgulho por aquilo que a nossa mão conquistou; nos esquecemos de que foi a mão do Pai que nos sustentou; nos esquecemos de que nenhuma situação é definitiva e que a nossa “Terra Prometida” pode se tornar um “deserto”, devido ao nosso orgulho, à nossa arrogância, à nossa prepotência.

Voltemos à simbologia do pão. Nós temos pão? Ótimo, mas nem só de pão vive o homem! Nós temos dinheiro, bens materiais, um corpo sedutor etc.? Mas nada disso nos garante que a nossa vida tenha um sentido. “Cada vez mais as pessoas têm condições materiais para viver, mas elas não têm um sentido para viver!” (parafraseando Victor Frankl). Casas caras, carros caros, geladeiras repletas, estômagos saciados... No entanto, a alma está vazia, porque não há afeto, nem comunicação, nem comunhão. Determinadas casas estão cheias de bens materiais, mas habitadas por uma solidão insuportável...

A partir de Jesus Cristo, o pão se tornou uma Pessoa! Ele é o Pão vivo descido do céu. Por quem razão? Porque há em nós uma fome, uma sede, uma busca, uma necessidade que se chama vida eterna, e somente Jesus pode saciá-la. Semelhante ao que pedido da Samaritana, nós hoje pedimos a Jesus: “Senhor, dá-me desse pão!” (parafraseando Jo 4,15), ao que Jesus responderia: “Vá buscar o seu marido e volte aqui!” (Jo 4,16). Em outras palavras, Jesus quer que reconheçamos as mentiras da nossa vida que estão nos afastando da sua Verdade. Nada pode preencher o nosso vazio enquanto não formos verdadeiros conosco mesmos e com a nossa consciência. Nada pode apaziguar o nosso coração enquanto ele não se encontrar com o Deus da Verdade. Neste sentido, o apóstolo Paulo nos recorda: “Cristo, nossa Páscoa, foi imolado. Celebremos a festa não com o velho fermento, mas com pães sem fermento, na sinceridade e na verdade” (citação livre de 1Cor 5,7). Qual fermento precisa ser banido da sua casa, da sua vida? A Eucaristia, pão sem fermento, nos convida a cuidar do essencial e não nos perder atrás do supérfluo.

O apóstolo Paulo afirma que a Eucaristia é “comunhão”: “(...) o pão que partimos, não é comunhão com o corpo de Cristo? Porque há um só pão, nós todos somos um só corpo, pois todos participamos desse único pão” (1Cor 10,16-17). Quem pode comungar? Quem se esforça em criar comunhão. Existem casais casados na Igreja, mas que vivem sem comunhão, assim como existem casais não casados na Igreja que vivem numa profunda comunhão. Quem pode comungar? Nossa mão se estende para receber a comunhão. Ela também se estende para a pessoa da qual estamos distantes? Nossa língua e nossa boca recebem o Corpo de Cristo. Da nossa boca sai alguma palavra de perdão, de diálogo, de reconciliação, uma palavra que ajuda a quebrar o silêncio que está matando dia a dia o relacionamento? A comunhão alimenta a vida; o isolamento, a morte. Neste sentido, quando nos aproximamos da “Comunhão”, Deus nos faz a mesma pergunta que fez a Caim: “Onde está o teu irmão?” (Gn 4,9). Onde está o seu marido/a sua esposa? Onde está o seu pai/o seu filho? Onde está a sua nora/a sua sogra? Onde está a pessoa da sua família em relação a quem você não faz esforço em retomar a comunhão?

 

“Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,53-54). Estamos vivendo o Ano Vocacional. Quantos não têm acesso à Eucaristia, por falta de padres? Faltam padres, muitos, sobretudo na região Norte e Nordeste do nosso País, mas falta também a coragem de se criar um ministério ordenado para homens casados em nossa Igreja. O fato de 70% das comunidades católicas no Brasil não terem a Eucaristia dominical semanal, por falta de padres, precisa fazer a nossa Igreja repensar o modelo de presbítero que ela exige, obrigatoriamente celibatário.  

Nesse dia, rezemos especialmente pelos desempregados. Não esqueçamos da Campanha da Fraternidade desse ano, que nos recordou da nossa responsabilidade cristã perante a fome. O mesmo Jesus que se fez pão descido do céu sempre foi sensível à fome das pessoas e ordenou aos seus discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16).

Pe. Paulo Cezar Mazzi

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