quinta-feira, 22 de junho de 2023

VALE À PENA SOFRER POR CAUSA DE DEUS?

 Missa do 12. dom. comum. Palavra de Deus: Jeremias 20,10-13; Romanos 5,12-15; Mateus 10,26-33.

 

            Ser uma pessoa de Deus é vantajoso ou prejudicial, aos olhos humanos? Procurar viver segundo a vontade de Deus nos traz críticas ou elogios? Quando tomamos a decisão de seguir Jesus e de viver segundo seu Evangelho, as portas se abrem ou se fecham para nós? O caminho se torna espaçoso e coberto de flores, ou estreito e cheio de espinhos? A resposta está no comentário do Missal Dominical: “Comprometer-se a viver no caminho de Deus significa encontrar no próprio caminho dificuldades sempre novas e cada vez maiores. Num mundo dominado pelo egoísmo e pela busca do próprio interesse, quem prega o amor, a pobreza e o perdão será inevitavelmente perseguido” (pp.723-724).

            Na sua travessia pelo mundo, todo ser humano sofre algum tipo de dor. Ninguém atravessa a vida sem lidar com algum sofrimento. O problema é que, para o cristão, para quem escolhe caminhar com Deus, as dores e os sofrimentos serão maiores. Por qual motivo? Por causa da inversão de valores do nosso mundo, o qual considera bom e vantajoso aquilo que é mal aos olhos de Deus, ao mesmo tempo em que despreza e rejeita aquilo que é bom aos Seus olhos.

            Consideremos o desabafo do salmista: “Por vossa causa é que sofri tantos insultos” (Sl 69,8). A mesma experiência fez o profeta Jeremias: sofrer fortes ataques por falar o que Deus lhe mandou falar. Quando o sofrimento é consequência de algo errado que fizemos, o mesmo deveria ser aceito com naturalidade e realismo. O problema é quando sofremos exatamente porque queremos viver segundo a verdade e a justiça: “A perseguição atinge os justos precisamente porque justos” (Missal Dominical, p.723). Em outras palavras, se você quiser viver segundo a vontade de Deus, prepare-se para sofrer críticas, rejeição, ataques até mesmo violentos, por parte de pessoas que se sentirão incomodadas com o seu comportamento.

            Toda pessoa que sofre por querer ser de Deus corre o risco de abandonar o seu caminho de fé. Para evitar esse abandono, duas palavras vêm nos convidar à perseverança: “O Senhor está ao meu lado, como forte guerreiro; por isso, os que me perseguem cairão vencidos” (Jr 20,11); “Nosso Deus atende à prece dos seus pobres, e não despreza o clamor de seus cativos” (Sl 69,34). Deus não nos joga numa arena em meio aos leões e fica assistindo à nossa tentativa sofrida de sobrevivência. Ele se coloca junto a nós, fortalecendo-nos por meio do Espírito Santo, para que possamos resistir aos ataques que sofremos e prosseguir fiéis em nossa missão.

            Ninguém mais do que Jesus experimentou sobre si o ódio do mundo. Ele mesmo nos deixou conscientes disso: “Se o mundo odeia vocês, saibam que, primeiro, odiou a mim... Se eles me perseguiram, também perseguirão a vocês” (Jo 16,18.20). Quando Jesus fala do “mundo”, não se refere aqui à humanidade, mas às pessoas que se recusam a crer no Evangelho. O mesmo sistema político e religioso que se opôs a Jesus se oporá a todo cristão que, em nome do Evangelho, questionar as injustiças que causam sofrimento a uma grande parcela da humanidade. Exemplo concreto: as críticas que o Papa Francisco recebe de setores conservadores da Igreja e da grande mídia, ao se colocar na defesa dos pobres e do meio ambiente, e ao propor uma economia mais humana, justa e solidária ao mundo.

            Jesus nos propõe três atitudes, no confronto com aqueles que poderão vir a nos agredir e nos causar sofrimento por causa do Evangelho: a certeza de que a verdade prevalecerá sobre a mentira – “Não tenhais medo dos homens, pois nada há de encoberto que não seja revelado, e nada há de escondido que não seja conhecido” (Mt 10,26); a consciência de que é melhor sofrer fazendo o bem do que fazendo o mal – “Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma! Pelo contrário, temei aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno!” (Mt 10,28); a confiança de que nada de mal nos acontecerá sem o consentimento do Pai: “Não se vendem dois pardais por algumas moedas? No entanto, nenhum deles cai no chão sem o consentimento do vosso Pai. Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais” (Mt 10,29-31).

            A Palavra nos tornou conscientes de que caminhar com Deus nos trará mais críticas do que elogios, mais sofrimento do que alegria, mais desprezo do que consideração por parte do mundo pagão em que vivemos. Agora, cada um precisa se posicionar: ou suportar o desprezo das pessoas e viver unicamente do apoio d’Aquele que também sofreu o ódio do mundo, ou abandonar o seguimento de Jesus em troca do ser amado e aceito pelos “cristãos paganizados” do nosso tempo. Cada um precisa se perguntar: vale à pena apostar minha vida nas promessas de um Deus que, mesmo sendo Pai, consentirá às vezes que eu sofra, precisamente por causa da minha fé n’Ele? Minha fé na vida eterna é maior do que o meu instinto de sobrevivência, ou eu também sou adepto da teoria de que “é melhor ser um covarde vivo do que um herói morto”?

 

            Pe. Paulo Cezar Mazzi

 

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