Missa do 12. dom. comum. Palavra de Deus: Jeremias 20,10-13; Romanos 5,12-15; Mateus 10,26-33.
Ser uma pessoa de Deus é vantajoso
ou prejudicial, aos olhos humanos? Procurar viver segundo a vontade de Deus nos
traz críticas ou elogios? Quando tomamos a decisão de seguir Jesus e de viver
segundo seu Evangelho, as portas se abrem ou se fecham para nós? O caminho se
torna espaçoso e coberto de flores, ou estreito e cheio de espinhos? A resposta
está no comentário do Missal Dominical: “Comprometer-se a viver no caminho de
Deus significa encontrar no próprio caminho dificuldades sempre novas e cada
vez maiores. Num mundo dominado pelo egoísmo e pela busca do próprio interesse,
quem prega o amor, a pobreza e o perdão será inevitavelmente perseguido” (pp.723-724).
Na sua travessia pelo mundo, todo
ser humano sofre algum tipo de dor. Ninguém atravessa a vida sem lidar com
algum sofrimento. O problema é que, para o cristão, para quem escolhe caminhar
com Deus, as dores e os sofrimentos serão maiores. Por qual motivo? Por causa
da inversão de valores do nosso mundo, o qual considera bom e vantajoso aquilo
que é mal aos olhos de Deus, ao mesmo tempo em que despreza e rejeita aquilo que
é bom aos Seus olhos.
Consideremos o desabafo do salmista:
“Por vossa causa é que sofri tantos insultos” (Sl
69,8). A mesma experiência fez o profeta Jeremias: sofrer fortes ataques por
falar o que Deus lhe mandou falar. Quando o sofrimento é consequência de algo
errado que fizemos, o mesmo deveria ser aceito com naturalidade e realismo. O problema
é quando sofremos exatamente porque queremos viver segundo a verdade e a
justiça: “A
perseguição atinge os justos precisamente porque justos” (Missal Dominical,
p.723). Em outras palavras, se você quiser viver segundo a vontade de Deus, prepare-se
para sofrer críticas, rejeição, ataques até mesmo violentos, por parte de
pessoas que se sentirão incomodadas com o seu comportamento.
Toda pessoa que sofre por querer ser
de Deus corre o risco de abandonar o seu caminho de fé. Para evitar esse
abandono, duas palavras vêm nos convidar à perseverança: “O Senhor está ao meu lado, como forte guerreiro; por isso, os que me perseguem cairão vencidos”
(Jr 20,11); “Nosso Deus atende à prece dos seus pobres, e não despreza o clamor de seus cativos” (Sl 69,34). Deus não nos joga
numa arena em meio aos leões e fica assistindo à nossa tentativa sofrida de
sobrevivência. Ele se coloca junto a nós, fortalecendo-nos por meio do Espírito
Santo, para que possamos resistir aos ataques que sofremos e prosseguir fiéis
em nossa missão.
Ninguém mais do que Jesus
experimentou sobre si o ódio do mundo. Ele mesmo nos deixou conscientes disso: “Se
o mundo odeia vocês, saibam que, primeiro, odiou a mim... Se eles me
perseguiram, também perseguirão a vocês” (Jo 16,18.20). Quando Jesus fala do “mundo”,
não se refere aqui à humanidade, mas às pessoas que se recusam a crer no
Evangelho. O mesmo sistema político e religioso que se opôs a Jesus se oporá a
todo cristão que, em nome do Evangelho, questionar as injustiças que causam
sofrimento a uma grande parcela da humanidade. Exemplo concreto: as críticas
que o Papa Francisco recebe de setores conservadores da Igreja e da grande
mídia, ao se colocar na defesa dos pobres e do meio ambiente, e ao propor uma
economia mais humana, justa e solidária ao mundo.
Jesus nos propõe três atitudes, no
confronto com aqueles que poderão vir a nos agredir e nos causar sofrimento por
causa do Evangelho: a certeza de que a verdade prevalecerá sobre a mentira – “Não tenhais medo dos homens, pois nada há de
encoberto que não seja revelado, e nada há de
escondido que não seja conhecido” (Mt 10,26); a consciência de que é melhor
sofrer fazendo o bem do que fazendo o mal – “Não tenhais
medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma! Pelo contrário, temei aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno!” (Mt 10,28); a confiança de que nada de mal
nos acontecerá sem o consentimento do Pai: “Não se vendem
dois pardais por algumas moedas? No entanto,
nenhum deles cai no chão
sem o consentimento do vosso Pai. Quanto a vós,
até os cabelos da vossa cabeça estão todos
contados.
Não tenhais medo! Vós valeis mais do que
muitos pardais” (Mt 10,29-31).
A
Palavra nos tornou conscientes de que caminhar com Deus nos trará mais críticas
do que elogios, mais sofrimento do que alegria, mais desprezo do que
consideração por parte do mundo pagão em que vivemos. Agora, cada um precisa se
posicionar: ou suportar o desprezo das pessoas e viver unicamente do apoio d’Aquele
que também sofreu o ódio do mundo, ou abandonar o seguimento de Jesus em troca
do ser amado e aceito pelos “cristãos paganizados” do nosso tempo. Cada um
precisa se perguntar: vale à pena apostar minha vida nas promessas de um Deus
que, mesmo sendo Pai, consentirá às vezes que eu sofra, precisamente por causa
da minha fé n’Ele? Minha fé na vida eterna é maior do que o meu instinto de sobrevivência,
ou eu também sou adepto da teoria de que “é melhor ser um covarde vivo do que
um herói morto”?
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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