Missa do 11º dom. comum. Palavra de Deus: Êxodo 19,2-6a; Romanos 5,6-11; Mateus 9,36 – 10,8.
“Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque
estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9,36). O que
você vê à sua volta? Você ainda consegue enxergar as pessoas nas ruas ou no
local onde você mora, estuda, trabalha ou frequenta, no seu dia a dia, ou o
individualismo fechou você em si mesmo, tornando-o indiferente às pessoas à sua
volta? A indiferença tornou-se uma defesa nossa: ela nos impede de nos
compadecer das pessoas à nossa volta. Compadecer-se significa sofrer com a
pessoa que está sofrendo. Na medida em que sou indiferente ao que se passa com o
outro, não preciso me comprometer em ajudá-lo; posso continuar girando apenas em
torno dos meus interesses.
Jesus enxergou as multidões do seu tempo como “ovelhas
que não têm pastor”. Quem são as pessoas próximas a nós que não têm ninguém por
elas? Um dos exemplos mais concretos são os idosos. Nossas cidades estão cheias
de pessoas idosas morando sozinhas, sendo que muitas delas não são visitadas
por ninguém. Pior do que envelhecer, é sentir-se ignorado pelos outros. Pior do
que a dor do corpo que envelhece é a dor da solidão: ninguém com quem a pessoa
possa conversar. No fundo, nós evitamos o contato com os idosos porque não
queremos ver o que nos aguarda; queremos nos manter distantes da verdade de que
um dia seremos velhos e deveremos enfrentar a dureza da solidão.
A compaixão de Jesus pelas multidões o fez tomar
duas atitudes. Primeiro, ele nos incentivou a pedir ao Pai que envie mais
trabalhadores, mais pessoas que se tornem cuidadoras de ovelhas sem pastor. A
grande carência de vocações sacerdotais e religiosas em nossa Igreja também é fruto
da falta da nossa oração por essas vocações. A segunda atitude de Jesus foi
escolher doze discípulos do meio daqueles que o seguiam e enviá-los em missão. Hoje,
Jesus olha para nós e procura por aqueles que queiram ajudá-lo na missão de
salvar as ovelhas perdidas do nosso tempo.
“Um dia escutei teu chamado,
divino recado batendo no coração. Deixei deste mundo as promessas e fui bem
depressa no rumo da tua mão.
Tu és a razão da jornada. Tu és minha estrada, meu guia, meu fim. No grito
que vem do teu povo
te escuto de novo, chamando por mim!” (Tu és a razão
da jornada).
Ao enviar os Doze em missão, a recomendação
principal de Jesus foi esta: “Dirijam-se às ovelhas perdidas!”. Para nos dirigir
às ovelhas perdidas, temos que sair e ir aonde elas se encontram. Jesus nunca ficou
esperando que as pessoas fossem até ele, mas sempre tomou a iniciativa de ir
até as pessoas. A insistência do Papa Francisco em sermos uma “Igreja em saída”
se tornou, para alguns católicos, algo repetitivo e irritante. No entanto, é
exatamente isso que Jesus nos pede no Evangelho: sair e nos dirigir aonde se
encontram os perdidos. Nós conseguiremos atingir a todos? Obviamente que não. Por
isso, é bom lembrar as palavras de Santa Teresa de Calcutá: “O que eu faço é
uma gota no meio de um oceano. Mas sem ela, o oceano será menor”.
“Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai
os demônios” (Mt 10,8). A sua presença, as suas palavras, os seus ouvidos
abertos para escutar podem curar aqueles que adoeceram por não se sentirem amados,
por serem ignorados ou descartados como “coisa” que não presta para mais nada. O
seu interesse, a sua visita, o seu conselho ou a sua oração podem fazer a
pessoa que está morta por dentro desejar voltar a viver. A mesma coisa vale
para os leprosos do nosso tempo, isto é, as pessoas que estão apodrecendo em
algum pecado, em algum vício... Enfim, isso vale também para as pessoas que
estão atormentada pelo mal: assim como a luz espanta os morcegos, você é
discípulo daquele que, como o sol, veio visitar e iluminar os que estão sentados
na escuridão e na sombra da morte (cf. Lc 1,78-79).
“Embora tão fraco e pequeno, caminho sereno
com a força que vem de Ti.
A cada momento que passa revivo esta graça
de ser teu sinal aqui. Tu és a razão da jornada. Tu és minha estrada, meu
guia, meu fim.
No grito que vem do teu povo te escuto de novo, chamando por mim!” (Tu és a razão da jornada).
Nós somos parte do povo de Deus, povo que Ele designou como “reino de sacerdotes” (Ex 19,6). A função do sacerdote é ser uma ponte entre o céu e a terra, entre Deus e todo ser humano que se separou – ou se sente separado, distante – de Deus, devido ao abismo do pecado pessoal e/ou social. Viva o seu sacerdócio, no seu dia a dia! Onde quer que você se encontre, seja uma ponte que ligue as pessoas a Deus. Anuncie às pessoas que elas não são pecadoras condenadas por Deus, mas filhos que foram justificados, reconciliados com o Pai por meio do Filho Jesus. Ajude com que cada ser humano deixe de vagar pela vida como uma ovelha que não tem pastor, mas sinta-se como ovelha que pertence ao rebanho do Senhor, cuja bondade e amor são para sempre (cf. Sl 99).
Pe. Paulo Cezar Mazzi
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