Missa da Ressurreição do Senhor. Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 10,34a.37-43; Colossenses 3,1-4; João 20,1-9.
“Por
que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui.
Ressuscitou!” (Lc 24,5-6). Essas palavras nos foram ditas ontem, na Vigília
Pascal. Jesus não se encontra num sepulcro, não está enterrado. O seu túmulo
está vazio! Este é o primeiro sinal de que Ele ressuscitou.
Existe
hoje uma constante negação da morte. A grande maioria das pessoas vive como se
nunca fosse morrer. Mas o pior não é isso; o mais triste é morrer como se nunca
tivesse vivido. Jesus viveu sua vida intensamente. “Ele andou por toda a parte,
fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio” (At
10,38). O sentido da sua vida estava em fazer voltar à vida aqueles que haviam
morrido em sua saúde, em sua liberdade, em sua fé, em sua esperança. Mas, como
disse Tim Keller, “Jesus não foi apenas um cara legal que fez o bem no mundo.
Você não crucifica caras legais; você crucifica ameaças”. A vida de Jesus foi
uma ameaça ao sistema religioso e político da época, sistemas que geravam morte
e de alimentavam da morte. E por isso, Ele foi morto.
Após
o sepultamento de Jesus, uma grande pedra foi colocada para lacrar o seu túmulo.
Essa pedra era como que um ponto final que os inimigos de Jesus tiveram a
pretensão de colocar na história da sua vida. Mas o Pai fez rolar a pedra do túmulo
de seu Filho. Ao ressuscitar Jesus, o Pai disse “sim” à vida e às atitudes de
seu Filho. Ao ressuscitar Jesus, o Pai revelou ao mundo aquilo que o próprio
Jesus havia dito aos saduceus, que não acreditavam na ressurreição: “Ele é o Deus
dos vivos e não dos mortos; pois para Ele todos vivem” (Lc 20,38).
Para
Deus, todos vivem! O nosso lugar, após a morte, não é dentro de um túmulo, mas
na casa do Pai, onde há muitas moradas, onde Jesus prepara o lugar para cada um
de nós, porque Ele quer que estejamos onde Ele mesmo está (cf. Jo 14,2-3). A garantia
de que nós estamos destinados à ressurreição é o Espírito Santo, “penhor da
nossa herança” (Ef 1,14); Ele nos marcou com um selo – sinal de pertença a Deus
– “para o dia da redenção” (Ef 4,30). O Espírito Santo “geme” dentro de nós, “suspirando
pela redenção do nosso corpo” (Rm 8,23). Deus Pai, “que ressuscitou Cristo Jesus
dentre os mortos dará vida também aos vossos corpos mortais, mediante o seu
Espírito que habita em vós” (Rm 8,11).
Nossa
fé na ressurreição de Jesus depende diretamente dos apóstolos, pois eles
comeram e beberam com Jesus após a ressurreição (cf. At 10,41). Ainda que
alguns de nós desejassem ver pessoalmente o Senhor ressuscitado, para somente
então crer, é preciso nos lembrar da advertência que Ele fez a Tomé: “Você
acreditou porque me viu. Felizes aqueles que creram sem me ter visto!” (Jo 20,29).
Felizes aqueles que creem na ressurreição de Jesus testemunhada nos Evangelhos
pelos discípulos, aos quais Jesus apareceu após a ressurreição. Além disso,
lembremos de que a única pessoa a quem Jesus apareceu após sua Ascenção ao céu
foi ao apóstolo Paulo, no caminho de Damasco (cf. At 9,5), e ainda assim, não
visível corporalmente, mas por meio de uma forte luz.
Não
pretendamos ter visões ou revelações particulares para somente então crer que
Jesus ressuscitou. Aos discípulos de Emaús Jesus deixou claro que está vivo e
ressuscitado caminhando com seus discípulos de todos os tempos, fazendo-se
presente na palavra da Escritura e no partir o pão (Eucaristia – cf. Lc 24,13-35).
Lembremos também do que o apóstolo Paulo nos disse: nossa vida de pessoas
ressuscitadas está escondida com Cristo em Deus. Nós somos como que uma
semente: dentro dela há uma vida escondida, que só se manifestará ao ser “sepultada”.
Mesmo sendo pessoas habitadas pelo Espírito Santo e, por isso mesmo, destinadas
à ressurreição, nosso corpo permanece fisicamente mortal. Somente quando Cristo
ressuscitado se manifestar a cada um de nós é que seremos revestidos da sua
glória e receberemos dele um corpo glorioso (cf. Cl 3,4; Fl 3,20-21).
A
nós, que cremos na ressurreição de Jesus e em nossa futura ressurreição, é
pedido que busquemos “as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de
Deus” (Cl 3,1-2). Por acreditarem firmemente na ressurreição, os primeiros
cristãos vendiam seus bens e davam aos pobres, de modo que “não havia necessitado
entre eles” (cf. At 2,44-45; 4,32-33). Lamentavelmente, muitos cristãos comportam-se
como pessoas mundanas, cujo deus é o estômago e cujo sentido da vida é
erroneamente buscado nos bens materiais. São pessoas que usam o Evangelho como livro
de autoajuda, não se comprometem com nenhum trabalho na Igreja e preferem se
manter distantes dos problemas sociais, com uma fé fortemente individualista.
Buscar
as coisas do alto significa colocar Deus verdadeiramente no centro da nossa
vida e orientarmos a nossa conduta segundo a sua Palavra, vivendo uma vida simples,
socorrendo os necessitados e tendo consciência crítica diante deste mundo
materialista, no qual grande parte das pessoas “vive como se nunca fosse morrer
e morre como se nunca tivesse vivido” (Dalai Lama). Buscar as coisas do alto
significa “buscar o Reino de Deus e a sua justiça” (Mt 6,33), conforme o
próprio Jesus nos ensinou. Buscar as coisas do alto significa ouvir o apelo do
Espírito, que geme em nós, desejando a nossa união definitiva com Cristo em
Deus.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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