Missa
da Epifania (Manifestação) do Senhor. Palavra de Deus: Isaías 60,1-6; Efésios
2-3a.5-6; Mateus 2,1-12.
No
dia de Natal, Jesus foi descrito como “a vida que é a luz dos homens. E a
luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la” (Jo 1,5). “Ele é
a luz de verdade, que, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano” (Jo 1,9). E
hoje a liturgia centra-se mais uma vez no tema da luz: “Levanta-te, acende as
luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor”
(Is 61,1).
Nós,
cristãos, somos chamados a viver como “filhos da luz”, procedendo retamente,
segundo a verdade e a justiça, conforme Jesus procedeu. No entanto, a luz só é
percebida no contraste com as trevas, com a escuridão. É justamente quando o
céu fica escuro, quando anoitece, que a luz das estrelas é percebida com maior
nitidez: “Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os
povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti.
Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua aurora” (Is 61,2-3).
As
palavras do profeta Isaías não falam de um privilégio, mas de uma missão. Todo
cristão deveria ser uma luz que contrasta com a escuridão do mundo, de modo que
as pessoas possam encontrar direção a partir da luz daqueles que vivem segundo
o Evangelho, seguindo os passos Jesus, que se definiu como “Luz do mundo” (Jo
8,12). Mas, de novo, é preciso lembrar que ser luz, viver como filhos da luz,
exige suportar o contraste com as trevas. Assim como os morcegos se sentem
incomodados com a luz, assim aqueles que vivem segundo os contravalores do
mundo se sentem incomodados com aqueles que procuram viver segundo os valores
do Evangelho.
“Eis
que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos” (Is
61,2). As trevas e as nuvens escuras podem ser vistas na desigualdade social
que gera violência, injustiça e morte; na disseminação de fake news e na
política de desinformação; na desorientação das redes sociais; no mercado que
visa o lucro desmedido em detrimento da vida do ser humano; na guerra diária
entre traficantes e milicianos pelo controle das favelas; na vivência intimista
da fé e da religião, onde não se dá testemunho explícito de Jesus Cristo nem se
defende a vida, mas apenas a moral individual; no individualismo que gera
indiferença para com o sofrimento alheio etc. Justamente dentro desse contexto
é que Jesus desafia cada um de nós: “Seja a minha luz”.
O
apóstolo Paulo, que compreendeu a sua vocação como luz que deve brilhar no meio
das trevas (cf. At 13,47), entendeu que sua missão principal era levar a luz do
Evangelho ao mundo pagão. O motivo está no que ele acabou de nos dizer: “os
pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do corpo, são associados à
mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho” (Ef 3,6). Isso significa
que é missão de cada um de nós incluir os que estão excluídos, seja porque o
Evangelho nunca chegou a eles, seja porque a prática pastoral da nossa Igreja
ainda está engessada na “manutenção”, sem coragem para lançar-se na missão. Não
podemos nos esquecer de que o nosso mundo está muito mais pagão do que na época
de Paulo.
“Onde
há trevas, que eu leve a luz!” Idosos solitários precisam da nossa luz, assim
como crianças expostas à pobreza, à violência e à ausência de referência
religiosa dentro de casa. Famílias desestruturadas precisam da nossa luz, assim
como famílias onde os bens materiais não conseguem responder à fome de fé, de
esperança e de sentido de vida. Inúmeros jovens atingidos pelo desemprego,
viciados nas redes sociais, desprovidos de horizonte de vida, anestesiados pela
tecnologia, desorientados na própria sexualidade e escravizados pelo consumismo
precisam de nossa luz. Cada vez mais pessoas em nosso ambiente de trabalho, não
vinculadas a qualquer igreja ou religião, precisam da nossa luz.
Diante
de Jesus, o verdadeiro presente de Deus para a humanidade, os magos “abriram
seus cofres e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra” (Mt 2,11). Todo
cristão é convidado a oferecer hoje à Igreja e à sociedade humana o seu ouro,
isto é, a preciosidade da sua retidão, da sua honestidade, da sua fé e do seu
trabalho voluntário. Todo cristão também é convidado a oferecer o seu incenso,
isto é, a sua presença sagrada, a força da sua espiritualidade, o perfume que
emana da luta pela sua santificação diária. Enfim, todo cristão é convidado a
oferecer a sua mirra, o seu dispor-se a estar junto das pessoas que sofrem, colaborando
para aliviá-las e consolá-las.
Oração:
Meu Deus, eu procuro a Tua face; procuro a Tua verdade. Concede-me uma fé
simples e sincera, pois o Senhor sempre se deixa encontrar por quem O procura
de coração sincero. Por mais que a minha busca por Ti seja às vezes sofrida,
que eu nunca me esqueça de que o Senhor não apenas existe, mas também nunca
deixa sem resposta quem Te busca na oração sincera.
Quero
acolher a luz do Teu Filho, acolher o presente que o Senhor oferece a toda a
humanidade: a salvação em Teu Filho Jesus. Diante dele dobro meus joelhos, abro
o cofre do meu coração e ofereço-me como ouro, incenso e mirra. Ofereço a
preciosidade da retidão do meu caráter e do meu serviço, para o bem da Igreja e
da sociedade; ofereço a força da minha espiritualidade e o perfume que emana da
minha luta em me santificar; enfim, ofereço ao Teu Filho o meu esforço em me
colocar como presença cristã junto daqueles que sofrem, para confortá-los e
reanimá-los. Amém.
Pe.
Paulo Cezar Mazzi
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